Bicicletas, carros, pedestres: por que maior ciclovia de BH � tamb�m zona de conflito
Quarta reportagem da s�rie mostra que BHTrans tem projeto para retirar totalmente bicicletas do n�vel dos carros na Pampulha, mas a� disputa ser� com pedestres
postado em 18/09/2019 06:00 / atualizado em 30/09/2019 11:19
Pistas em que o tr�fego de ciclistas ocorre no mesmo n�vel do tr�nsito de carros ser�o elevadas. Para evitar problemas com caminhantes, aposta � a sinaliza��o (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Manter o equil�brio entre escapar de carros e desviar de pedestres. O intermin�vel desafio de ciclistas que pedalam no dia a dia pelas ruas de Belo Horizonte fica mais evidente que nunca em uma das mais emblem�ticas �reas de lazer da cidade: a orla da Lagoa da Pampulha. Para tentar mediar essa disputa, a maior �rea cont�nua da capital dedicada aos f�s do pedal vai passar por mudan�as. Hoje, 7,5 quil�metros das pistas exclusivas para bikes est�o no asfalto, apenas com uma delimita��o, ora por blocos de concreto, ora por taxa refletivas, separando quem pedala e os autom�veis. Segundo a BHTrans, est� sendo desenvolvido um projeto para elevar esses trechos ao mesmo n�vel do passeio, onde est� o restante dos 11,5 quil�metros dedicados �s bicicletas �s margens da represa.
A medida tem como meta diminuir o conflito entre bikes e carros no asfalto, protegendo os adeptos das pedaladas. Mas, ao erguer a ciclovia, existe a possibilidade de que o alto fluxo de pessoas, principalmente nos fins de semana, crie uma disputa por espa�o entre bikes e caminhantes. Por isso, a empresa que gerencia o tr�nsito na cidade promete refor�ar a sinaliza��o, garantindo a demarca��o das �reas para ciclistas e para pedestres. � mais uma media��o em uma rela��o que envolve batalha por espa�o inclusive entre os pr�prios f�s das bikes.
A coordenadora de Sustentabilidade e Meio Ambiente da BHTrans, Eveline Trevisan, admite que o uso de bicicletas na orla da Pampulha � conflitante. Antes da implanta��o dos 7,5 quil�metros de pistas que ainda est�o no mesmo n�vel do asfalto – trecho que faltava para que todo o contorno da lagoa fosse coberto por espa�o para bikes –, havia um conflito grande entre ciclistas de velocidade, que treinam em volta da lagoa, e aqueles de lazer, ou quem usa bicicleta eventualmente como transporte.
A instala��o da ciclovia no asfalto foi uma das estruturas para bicicleta que renderam mais pol�mica na cidade, devido � rea��o que partiu principalmente dos ciclistas de velocidade. “A gente entendeu que eles nunca v�o usar ciclovia, porque n�o � o objetivo deles. Andam mais velozmente e precisariam que algo fosse feito para que o motorista de autom�vel entendesse a presen�a deles ali, ao lado da ciclovia e junto dos carros, na pista de rolamento. Ent�o a gente sinalizou no piso e temos algumas placas, informando o motorista da presen�a de ciclistas”, afirma Eveline.
Ver galeria . 8 FotosUma das principais �reas de lazer voltadas ao uso de bicicletas em BH, o circuito na orla da Lagoa da Pampulha tem promessa de melhorias para aumentar a seguran�a
(foto: Leandro Couri/EM/DA Press )
Agora, com o objetivo de elevar esse trecho para diminuir o conflito entre carros e ciclistas, a disputa muda de patamar. “Ao colocar bicicletas no mesmo n�vel dos pedestres, damos mais seguran�a para o ciclista, que sai da pista de rolamento. Mas temos outra quest�o, que � a seguran�a de quem caminha. O que pretendemos � que a sinaliza��o do lugar de cada um esteja bastante n�tida, para que pedestres e ciclistas entendam qual � o seu espa�o”, acrescenta a coordenadora.
O advogado Igor Magno, de 24 anos, pedala com frequ�ncia na orla da Pampulha. Ele come�ou a andar de bike em 2012, quando tinha foco mais em velocidade. “Desse ponto de vista, preferia quando n�o tinha a ciclovia, porque andava em grupo e o grupo n�o cabe na ciclovia. Mas, para quem anda sozinho, o melhor � o espa�o exclusivo”, reconhece.
Igor observa que elevar a ciclovia significa reduzir o espa�o de conflito, com carros, por exemplo, mas avalia que uma solu��o que atenda a todos os interesses � complicada. “Sempre vai ter alguma quest�o a ser discutida. A solu��o para a Pampulha n�o � t�o simples”, diz ele.
Desastre no asfalto
Tamb�m advogado, Jos� Cust�dio Pires Ramos Neto, de 29, sofreu um grave acidente enquanto pedalava na orla, em 2013, justamente pela proximidade com carros. Ele seguia pela ciclovia no asfalto, delimitada por blocos de concreto. Na altura do Iate T�nis Clube, precisou ir para a rua, pois a pista para bikes estava bloqueada por tapumes.
A motorista que passava deu um golpe de volante e o acertou com o carro. O resultado foi uma queda feia. “Fui de cara naqueles blocos enormes. Bati de frente e capotei com a bicicleta. Cortei o bra�o e saiu muito sangue. Foi assustador. Bati a cabe�a e o capacete me salvou, mas fiquei com um hematoma gigante no pesco�o. No Hospital Jo�o XXIII, inicialmente os m�dicos n�o queriam me liberar, porque n�o sabiam direito a origem da mancha”, contou.
(foto: Arte EM)
Depois disso, ele praticamente n�o voltou mais � Pampulha. “Fiquei com trauma ap�s o acidente. O C�digo de Tr�nsito Brasileiro e a Lei de Mobilidade Urbana d�o prefer�ncia para os pedestres e os ciclistas, mas os carros agem como se tivessem toda a prefer�ncia do mundo”, afirma. Ele diz que acha muito dif�cil uma solu��o para todos os conflitos da Pampulha, e duvida que erguer os sete quil�metros de ciclovias ao n�vel do passeio v� resolver a situa��o. “Mesmo tendo sinaliza��o bem chamativa, n�o sei se vai ser t�o interessante. Acho que a ciclovia vai virar uma extens�o do passeio”, diz ele, destacando que o risco de acidentes com pedestres vai aumentar.
S�o esses conflitos que levaram o arquiteto Breno Bizinoto – um dos ciclistas que participaram da elabora��o do Plano de Mobilidade por Bicicleta de Belo Horizonte (PlanBici) – a defender que a cria��o de ciclovias n�o � a solu��o para lugares como a Pampulha, onde j� n�o h� espa�o para tantos pedestres, ciclistas, crian�as, animais e carros. Ele entende que nesses casos o ideal � a conviv�ncia das bicicletas com o tr�nsito de forma harm�nica. “O ideal seria que carros e ciclistas pudessem compartilhar o espa�o. E na maioria dos casos eles podem. � insustent�vel achar que cada modal vai ter seu espa�o exclusivo, sem dividi-lo com mais ningu�m”, afirma.
BHTrans chega a beco sem sa�da
A pr�tica de esportes na orla da Lagoa da Pampulha atrai milhares de pessoas, especialmente nos fins de semana, tornando os conflitos um desafio que a BHTrans n�o consegue resolver. Pensando em minimizar essa disputa e em aumentar o espa�o de quem pratica esportes, a empresa municipal de transporte informa que j� estudou v�rias situa��es para diminuir o espa�o dos ve�culos, mas sem sucesso.
“Fizemos todos os estudos poss�veis, entre eles a ado��o de m�o �nica na orla. Todos indicaram que se prejudicaria muito o interior dos bairros. H� um espa�o de circula��o muito grande que seria jogado para as �reas residenciais da Pampulha. Ent�o, ao colocar isso na balan�a, prejudica-se muito o morador”, diz Eveline Trevisan, coordenador de Sustentabilidade e Mobilidade da BHTrans.
Eveline diz que o maior sonho que tem com rela��o � orla da lagoa � poder tratar toda a Avenida Otac�lio Negr�o de Lima com velocidade m�xima de 30km/h. A partir desse tratamento, naturalmente a conviv�ncia entre carros, bicicletas e pedestres seria facilitada, com a possibilidade de as bikes transitarem no pr�prio asfalto com seguran�a. “� algo que precisamos amadurecer. No dia a dia, os carros j� transitam em velocidade mais baixa, o problema � durante as madrugadas e noites”, acrescenta.