V�deo: o que mostra a experi�ncia de testar os 90km de ciclovias de BH

Na Semana Nacional da Mobilidade, fomos �s ruas para conferir de perto a situa��o de cada metro das ciclovias de BH. A reportagem percorreu 89,93 quil�metros de todas as pistas em oito regi�es de Belo Horizonte em busca da situa��o desses caminhos e das hist�rias de quem usa as bikes no dia a dia, seja onde existe estrutura exclusiva, seja em meio ao tr�fego motorizado. Entre os principais desafios da quest�o estrutural est� a falta de manuten��o, que j� provoca at� a perda do espa�o exclusivo em alguns lugares e representa uma regress�o no est�gio que se alcan�ou em 2017, quando a cidade chegou aos quase 90 quil�metros de ciclovias.

 

Problemas encontrados nas ciclovias de BH

• Asfalto sem manuten��o
• Sinaliza��o vandalizada ou apagada
• Carros parados nas ciclovias
• Trajetos que n�o se conectam
• "Ciclovias fantasmas" 

Depois de oito anos seguidos de constru��o de ciclovias em BH, a uma m�dia de 9,44 quil�metros por ano, a capital mineira est� a tr�s meses de completar o segundo ano sem nem um metro constru�do exclusivamente para bicicletas e ainda sem perspectivas para quebrar esse jejum de obras. Ao mesmo tempo, o principal plano norteador do desenvolvimento das condi��es discutidas pelo poder p�blico e ciclistas para aumentar em cinco vezes as viagens de bikes na cidade n�o engrenou.

Dezenas de a��es para os quatro anos da atual gest�o municipal (2017 a 2020) do chamado Plano de Mobilidade Urbana por Bicicleta de Belo Horizonte (PlanBici), um desdobramento do Plano de Mobilidade (PlanMob), n�o viraram realidade nos prazos, � espera de recursos financeiros.

Uma das principais � chegar � meta de 411 quil�metros constru�dos at� o fim do ano que vem, objetivo praticamente inalcan��vel nesse horizonte. A BHTrans sustenta que avan�ou em planejamento de a��es e est� conseguindo se mobilizar para garantir um estoque importante de projetos de mais de 100 quil�metros at� 2020. Essa seria uma base para contratar uma s�rie de obras quando houver disponibilidade or�ament�ria.

A falta de infraestrutura tamb�m se estende �s esta��es de integra��o de �nibus da cidade, que, sem condi��es seguras para abrigar as magrelas em biciclet�rios, n�o conseguem emplacar o uso das magrelas como complemento aos �nibus ou ao metr�, e n�o cumprem o importante papel do chamado intermodal. A aus�ncia de conex�es entre ciclovias pr�ximas, que poderiam trazer um benef�cio muito grande em termos de deslocamentos ativos, tamb�m � um problema que muitas vezes deixa o ciclista sem alternativas. 

O teste por todas as ciclovias de BH constatou que seguran�a � a palavra-chave que deve nortear a evolu��o em rela��o ao uso de bicicletas se a capital quiser sair dos atuais 0,4% para chegar a 2% das viagens com o uso das bikes sem a necessidade de constru��o de mais ciclovias at� 2020, �ltimo ano das metas do PlanBici, ou at� 2022, quando deve ser realizada nova pesquisa Origem e Destino, principal retrato da mobilidade na capital.

A falta de consci�ncia de motoristas se imp�e como uma barreira dif�cil de ser derrubada, especialmente na figura do excesso de velocidade praticado pelos ve�culos movidos a combust�o. Situa��o que imp�e o maior risco para quem transita em meio ao tr�fego de uma frota de mais de 2 milh�es de ve�culos da capital mineira e acaba gerando um gargalo na sa�de, com gasto de recursos do Sistema �nico de Sa�de (SUS) para atender ciclistas acidentados nas ruas, avenidas e rodovias que cortam a capital mineira.

Seguran�a que tamb�m deve ser a palavra de ordem para os pr�prios ciclistas. Muitos deles encontrados nas ruas de BH ainda insistem em andar sem capacete. E tamb�m h� imprud�ncias cometidas pelos pr�prios ciclistas, que muitas vezes usam a agilidade que t�m para transitar nas ruas ou nas cal�adas, cometendo infra��es e encurtando as dist�ncias.

Problemas em todas as regionais

A principal marca dos quase 90 quil�metros exclusivos de ciclovias � o surgimento de defeitos como buracos, ondula��es, trincas, placas depredadas, entre outros problemas. Mas a situa��o mais comum em praticamente todos os trechos e que prejudica muito o conforto do ciclista � o sumi�o da sinaliza��o horizontal, a pintura que normalmente orienta o caminho quando n�o h� uma canaleta exclusiva. O desgaste das faixas pintadas no ch�o muitas vezes deixa quem pedala confuso, sem saber para onde ir, como ocorre em diferentes pontos da cidade.

A falta de corre��o dessa sinaliza��o chega, inclusive, a praticamente eliminar ciclovias contabilizadas pela prefeitura, como em um trecho na Avenida Waldyr Soeiro Enrich, popularmente conhecida como Via do Min�rio, um dos acessos ao Barreiro. A falta de sinaliza��o tamb�m deixa ciclistas sem saber se a Avenida Vilarinho tem uma ciclovia ou uma pista de caminhada, situa��o que se repete em praticamente todas as regi�es da cidade. Na Centro-Sul, ciclistas constantemente ficam perdidos na hora de sair da Andradas e subir a Piau�, na esquina com a Contorno.

A falta de manuten��o � um entrave para o projeto de expans�o das ciclovias, segundo o consultor em transporte e tr�nsito Silvestre de Andrade. "� uma proposta correta, mas ao mesmo tempo em que a prefeitura n�o transforma isso numa pr�tica e deixa que o sistema se deteriore, ela est� mandando uma mensagem em oposto � sua meta. Virou discurso, mas n�o virou pr�tica. Fica uma meta de papel e n�o meta concreta", afirmou.

Na Avenida Senador Levindo Coelho, na Regi�o do Barreiro, a ciclovia fica junto ao canteiro central e por isso � mais estreita. Em um dos pontos entre a Via do Min�rio e a Rua Djalma Cristo, um buraco de grandes propor��es desafia quem passa pelo local.

Outro problema de manuten��o muito frequente � a perda dos delimitadores f�sicos, que separam o espa�o da ciclovia do asfalto destinado ao tr�fego motorizado. Seja com blocos de concreto, seja com taxas refletivas. Em v�rios pontos da cidade esses objetos est�o quebrados ou foram arrancados, o que abre espa�o para a entrada de carros e diminui, consideravelmente, a seguran�a do ciclista. Na Lagoa da Pampulha, essa situa��o � bem vis�vel, assim como em outros pontos da cidade.

Na Avenida Tereza Cristina, toda a ciclovia est� deteriorada entre a Rua Itamar Teixeira, no Salgado Filho, e a Via 210, no Vista Alegre. No local, � muito comum ver ciclistas usando o asfalto. Quem acaba tomando conta da �rea de bicicletas, que � bem segregada em compara��o ao restante da cidade, s�o os pedestres e tamb�m empres�rios e comerciantes da avenida, que usam o espa�o para descarregar mercadorias, estacionar ve�culos e entulhar qualquer tipo de material.


Um dos pontos de "ciclovia fantasma" em BH est� na Avenida V�rzea da Palma, no Bairro Jardim Leblon, em Venda Nova. A planilha da prefeitura mostra que existe uma ciclovia que vai at� a Avenida Deputado Anuar Menhem, mas esse cruzamento n�o existe e a �rea exclusiva da V�rzea da Palma tem apenas cerca de 350 metros, at� a canaleta separada com delimitadores de concreto acabar.

Falta de verba afeta servi�o na capital

"Hoje eu n�o tenho disponibilidade de recursos. Todo ano quando a gente faz a nossa programa��o or�ament�ria a gente sempre solicita que seja disponibilizado recurso para manuten��o. E o que acontece � que est� sendo negado"

Eveline Trevisan, coordenadora de Sustentabilidade e Meio Ambiente da BHTrans

O problema � admitido pela coordenadora de Sustentabilidade e Meio Ambiente da BHTrans, Eveline Trevisan, que reconhece que se n�o houver uma revis�o da infraestrutura, as perdas v�o aumentar. "Hoje, eu n�o tenho disponibilidade de recursos. Todo ano, quando a gente faz a nossa programa��o or�ament�ria, a gente sempre solicita que seja disponibilizado recurso para manuten��o. E o que acontece � que est� sendo negado", disse.

Ela diz que a PBH j� pensa o tema bicicleta de uma forma mais integrada, com outros �rg�os entendendo a import�ncia do assunto e n�o s� a BHTrans. "Se a gente olha o balan�o do plano, a gente fica muito frustrado, � verdade. Mas do ponto de vista de amadurecimento interno, a gente teve grandes avan�os. Hoje temos uma interface muito boa com os �rg�os que trabalham a infraestrutura na cidade, de modo que n�o sejamos desrespeitados no programa ciclovi�rio. Acho que isso � um grande avan�o", afirmou.

 

Associa��o apura desenvolvimento ciclovi�rio

As constata��es da falta de manuten��o na estrutura ciclovi�ria da capital mineira feitas pelo Estado de Minas tamb�m foram observadas pela Associa��o dos Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte (BH em Ciclo). O grupo, que construiu o Plano de Mobilidade por Bicicletas (PlanBici) em parceria com a BHTrans, pretende divulgar ainda neste m�s os resultados do �ndice de Desenvolvimento Ciclovi�rio de BH, o ID Ciclo.

Segundo Carlos Edward Campos, que � um dos integrantes da BH em Ciclo, h� exemplos em que a falta de manuten��o praticamente eliminou a ciclovia, como � o caso da Avenida Vilarinho, na Regi�o de Venda Nova. Apesar de existir um espa�o no canteiro central da avenida que serpenteia as esta��es do Move, praticamente n�o existe mais sinaliza��o indicando que ali � um espa�o exclusivo para bicicletas. "A gente pode perceber que a estrutura ciclovi�ria est� se deteriorando, como j� era esperado. J� tem alguns anos que a prefeitura faz zero manuten��o, ent�o os poucos quil�metros que a gente tem de ciclovia a gente vai chegar � conclus�o de que eles diminu�ram", diz.

Ciclovia ligar� Savassi ao Bairro S�o Paulo

BH tem nove regi�es, sendo que os 90 quil�metros de ciclovias se dividem por oito. A Regi�o Nordeste n�o tem nem um quil�metro de ciclovia, situa��o que mudar� assim que for inaugurada a Via 710, obra vi�ria de grande porte prevista para estar 100% conclu�da at� dezembro de 2020. Quando isso ocorrer, cinco quil�metros incluindo estrutura de ciclovia estar�o dispon�veis ligando o Minas Shopping, no Bairro S�o Paulo, � Avenida dos Andradas, no S�o Geraldo, Leste de BH.

Esse trecho permitir� a liga��o at� a Savassi por um caminho 100% com ciclovias, usando as pistas exclusivas da Via 710, Andradas e a rota Piau�, Caranda�, Bernardo Monteiro e Professor Moraes.

A previs�o do Plano de Mobilidade por Bicicleta de Belo Horizonte (PlanBici) era de que a capital mineira alcan�asse at� 2020 a marca de 411 quil�metros de ciclovias. Por�m, neste momento, a BHTrans trabalha na articula��o para projetos que somam pouco mais de 100 quil�metros, o que levaria a cidade para cerca de 190 caso todos que est�o no horizonte do projeto fossem constru�dos.

Entenda o PlanBici

O Plano de Mobilidade por Bicicleta de Belo Horizonte (PlanBici) surgiu em 2017, a partir de uma demanda do prefeito Alexandre Kalil durante reuni�o com a Associa��o dos Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte (BH em Ciclo). Antes disso, em 2015, a BH em Ciclo participou de um laborat�rio de a��o pol�tica pela mobilidade, que gerou uma campanha por a��es do Executivo ligadas � mobilidade sustent�vel durante a campanha para as elei��es municipais de 2016.

"A gente pode perceber que a estrutura ciclovi�ria est� se deteriorando, como j� era esperado. J� tem alguns anos que a prefeitura faz zero manuten��o"

Carlos Edward Campos, integrante da BH em Ciclo

O documento cont�m 132 a��es que foram distribu�das em seis eixos: infraestrutura e circula��o; integra��o modal e bicicletas compartilhadas; comunica��o, educa��o e mobiliza��o; governan�a, produ��o de dados e transpar�ncia; legisla��o; e financiamento. Foram necess�rias seis reuni�es conjuntas antes da apresenta��o do documento.

Dois anos depois da cria��o do plano, o site criado para o acompanhamento aponta que seis a��es foram conclu�das, quando a previs�o era de que 70 metas tivessem sido alcan�adas no terceiro trimestre de 2019.

Essa discuss�o se d� em um contexto em que 71% da emiss�o de gases do efeito estufa na capital mineira � originada pelo setor de transporte. S� a gasolina automotiva � respons�vel por 54% das emiss�es da cidade, segundo o 3º Invent�rio de Emiss�o de Gases de Efeito Estufa, produzido pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

Veja o mapa das ciclovias de BH