Laborat�rio clandestino expunha vizinhos ao risco de explos�o em �rea nobre de BH
Fabricante de lan�a-perfume preso pela pol�cia produzia a droga em instala��es prec�rias, sem qualquer seguran�a, e a vendia em festas e boates da capital
postado em 25/09/2019 06:00 / atualizado em 25/09/2019 08:57
Tubos de lan�a-perfume com desenhos da personagem Barbie e mat�rias-primas explosivas foram apreendidos no apartamento do suspeito (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press
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Crian�as brincando nas �reas comuns, estudantes chegando de suas aulas, idosos aproveitando o sol da manh�. Num ambiente de tranquilidade, descrito pela Pol�cia Civil, um laborat�rio clandestino com instala��es prec�rias utilizava g�s explosivo para fabricar lan�a-perfumes que abasteciam baladas de classe m�dia sem que ningu�m desconfiasse. At� que a pol�cia prendesse o casal que vivia nesse im�vel, na segunda-feira, a vida seguia normal no edif�cio antigo, pr�ximo � Avenida Prudente de Morais, num dos acessos mais importantes entre os bairros Santo Ant�nio e Cidade Jardim, uma �rea residencial da Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte. Os componentes utilizados para injetar o g�s butano sob press�o nos cilindros borrifadores cheios de entorpecente � base de clorof�rmio, �ter e ess�ncias foram encontrados largados a esmo em v�rios c�modos do apartamento, na sala, cozinha e nos quartos, demonstrando pouca preocupa��o com a seguran�a no processo clandestino.
“� impressionante ver a ousadia dos criminosos de fabricar, dentro de Belo Horizonte, entorpecentes como os lan�a-perfumes. N�o � algo f�cil de se fazer. � um processo complexo e extremamente perigoso, por envolver o uso de produtos inflam�veis que poderiam explodir e causar uma trag�dia”, destaca o chefe do Departamento Estadual de Combate ao Narcotr�fico (Denarc) da Pol�cia Civil de Minas Gerais, delegado J�lio Wilke. De acordo com o policial, o respons�vel pela produ��o da droga n�o era nenhum qu�mico experiente, mas o ex-aluno do curso de engenharia aeron�utica de Sabar�, na Grande BH, Junio Vinicius Ferreira Guimar�es, de 26 anos, que morava no pr�dio havia tr�s meses com a companheira e dona do im�vel, C�ntia Martha Minguta Accioly, de 37.
V�rios produtos usados na fabrica��o do entorpecente s�o perigosos. O �ter � utilizado regularmente como solvente org�nico, extrator de ess�ncias de flores, madeira e outros produtos, al�m de remover �leos e gorduras. Os vapores dessa subst�ncia formam mistura explosiva com oxig�nio, em contato com o ar e � combust�vel (inflam�vel). Quando respirado, age como anest�sico. O clorof�rmio foi utilizado por d�cadas com essa fun��o, mas esse uso foi suspenso devido a efeitos colaterais no f�gado e art�rias coron�rias. O g�s butano serve como combust�vel para recarga de isqueiros e botij�es, pequenos fog�es e fogareiros, tendo caracter�sticas explosivas.
(foto: Arte EM)
O homem detido disse que a companheira n�o sabia de nada e que ela era prim�ria, enquanto ele j� cumpriu seis meses de pris�o depois de ter sido detido com 18 vidros de lan�a-perfumes, em 2016. A pris�o de Junio acabou por desencadear a��o contra um outro homem tamb�m de Sabar�, que, como ele, � suspeito de distribuir drogas para festas e boates, a partir de um apartamento no Bairro Buritis, na Regi�o Oeste de BH.
Esse suspeito � M�rcio Gustavo Dias Naves, conhecido como Magu, de 40. Ele tinha 1.600 comprimidos de ecstasy no im�vel, droga provavelmente importada, mas agia como mula – transportador. O principal traficante foi identificado, mas ainda n�o p�de ser detido. “N�o podemos, ainda, afirmar se os dois presos t�m alguma liga��o, mas achou-se por bem fazer a segunda opera��o ap�s a primeira ter ocorrido. � um movimento diferente, j� que a maioria dos traficantes que produzem drogas costuma se instalar na Grande BH e n�o vir de l� para a capital. Talvez seja uma quest�o de disputa de mercados que acabou levando-os a migrar para a capital”, disse um dos delegados respons�veis pelas opera��es, Windsor de Mattos Pereira.
No apartamento do Santo Ant�nio, al�m dos recipientes inflam�veis, chamou a aten��o da pol�cia os apetrechos que decoravam os tubos do lan�a-perfume fabricado por Junio. Um dos modelos, por exemplo, era cor-de-rosa e trazia desenhos da personagem Barbie. No fundo do tubo, luzes de LED cintilantes dariam um toque moderno e psicod�lico ao produto quando fosse consumido nas pistas de dan�a de boates e festas, geralmente eletr�nicas ou de funk. “Os pre�os variavam muito conforme a modalidade, podendo ser em m�dia de R$ 30 para mais. Se o traficante atuasse como atacadista e repassasse para distribuidores, o pre�o era um. Se vendesse em atacado, numa festa, poderia multiplicar o lucro por quatro. Al�m de produzir, ele tamb�m trazia do Rio de Janeiro mais de 120 unidades por remessa”, estima o chefe do Denarc.
Segundo o subinspetor Gabriel Bacelette, da 1ª delegacia do Denarc, a preocupa��o do fabricante de entorpecentes era com o status da droga e n�o com a seguran�a no preparo. “Mais do que o lucro, esses traficantes buscam a fama. Querem que seu produto se destaque, que tenha estilo e por isso ganhe mercado. Isso era mais importante do que ter seguran�a ao manusear subst�ncias perigosas e trazer riscos � vizinhan�a”, disse. De acordo com o policial, todas as transa��es eram feitas via aplicativos de smartphones. “Atualmente n�o se utiliza mais registros. Tudo � feito por meio de aplicativos e redes sociais. Das vendas �s transa��es, cerca de 90% do tr�fico de drogas atual ocorre por essas vias”, afirma Bacelette. As investiga��es sobre as quadrilhas continuam.