O plano de BH para evitar trag�dias em chuvas: mapa mostra �reas de risco

Com Belo Horizonte ainda sujeita ao regime de cheias causadas por tempestades, devido � falta de grandes obras estruturais de drenagem, a aposta em 27 planos de conting�ncia mobiliza os �rg�os de Defesa Civil para evitar mais mortes, como as quatro ocorridas na temporada chuvosa de 2018. Quando acionados os gatilhos que p�em esse planejamento em pr�tica em �reas como as avenidas Vilarinho, Prudente de Morais, Francisco S� e Tereza Cristina, a estrat�gia ser� retirar todas as pessoas que est�o dentro das �reas de risco e n�o deixar ningu�m entrar.

O Estado de Minas teve acesso exclusivo a tr�s desses planos em algumas das principais vias sujeitas a alagamento e mostra como ruas seriam bloqueadas, desvios abertos e equipes de socorro posicionadas. Contudo, a comunidade teme que o in�cio da temporada de chuvas, que tradicionalmente come�a neste m�s, e a implanta��o dos protocolos criem zonas de exclus�o onde ningu�m entra, mas nas quais quem est� dentro n�o saiba quando nem por onde sair.

O mais complexo dos planos a que o EM teve acesso � o da regi�o da Avenida Vilarinho, em Venda Nova, onde o mais recente protocolo de conting�ncia prev� oito bloqueios e a abertura de quatro �reas de refer�ncia para o posicionamento de equipes de atendimento e socorro, abertas pela Pol�cia Militar, e que servir�o tamb�m aos bombeiros, Defesa Civil e demais equipes do sistema.

�rea bloqueada � do tamanho de um est�dio

Os bloqueios feitos pela BHTrans seriam posicionados nas avenidas Cristiano Machado e Dom Pedro I. Caberia � Guarda Municipal fechar as ruas Padre Pedro Pinto, Doutor �lvaro Camargos, Ant�nio Ferreira da Cruz e Bernardo Ferreira da Cruz. A �rea bloqueada teria cerca de 190 mil metros quadrados (19 hectares), do tamanho estimado para o novo est�dio para 47 mil torcedores do Atl�tico, no Bairro Calif�rnia.

A oficina de dire��o hidr�ulica e alinhamento onde trabalha Amanda Caroline Zimmerer, de 27 anos, j� sofreu com as inunda��es da Vilarinho. Elevadores que servem para erguer ve�culos e estruturas hidr�ulicas montadas foram perdidos por ficar submersos durante a tempestade de 15 novembro de 2018.

Naquela oportunidade, al�m dos preju�zos, a 100 metros do estabelecimento morreram Cristina Pereira Matos, de 40, e sua filha, Sofia Pereira, de 6. Elas foram encontradas abra�adas dentro de um Palio. A m�e tinha um ter�o nas m�os. Quando a �gua baixou, o carro estava capotado entre outros ve�culos que foram arrastados.

“Vimos a BHTrans fazendo alguns bloqueios perto das ruas que descem da Avenida Dom Pedro I, mas foi s� isso. Ningu�m nos falou nada ou explicou nada. Acho que uma das primeiras coisas que deviam fazer seria avisar para quem vai ficar numa �rea fechada que isso vai acontecer”, comentou Amanda.

Entenda por que h� tantas enchentes na Vilarinho

A conviv�ncia com as chuvas j� mudou a rotina dos trabalhadores da oficina, que ao menor sinal de chuvas ficam a postos para se proteger, resguardar os equipamentos e bens do estabelecimento, al�m de evadir do local caso seja necess�rio. “Quando chove muito, os clientes entram em contato conosco perguntando se � seguro retirar seus carros. Fazemos contatos quando o n�vel das �guas baixa para que tenham seguran�a”, explicou.

Tens�o constante no Prado

Na Avenida Francisco S�, Bairro Prado, Regi�o Oeste de BH, n�o sa�ram as solu��es de engenharia que j� previram bacias de deten��o, alargamento e at� constru��o de drenagem paralela � do C�rrego dos Pintos, respons�vel pelos alagamentos que trazem preju�zos.

No local, o plano de conting�ncia que a reportagem teve acesso prev� sete pontos de controle de acesso, na Avenida Francisco S�, e ruas Er�, dos Pampas e Ituiutaba. “N�o teremos obras, ent�o ser� mais transtorno. Mais preju�zos e vamos ter de passar a �poca das chuvas sob tens�o, sem poder bobear com as chuvas”, lamentou o aposentado Carlos Roberto Papa, de 66.

"A gente at� ajuda as pessoas, indo para a rua e indicando que desviem da �rea alagada, colocando os cones no meio da rua. Mas, ainda assim, tem gente que insiste em tentar atravessar"

Joaquim Dimas Gon�alves, comerciante na Prudente de Morais

A casa onde nasceu fica na Rua Jaceguara, uma das mais atingidas pelas enchentes da �ltima d�cada. “Para a gente que mora aqui, ficar preso j� � uma constante, mesmo sem fechar as ruas, o que pode ainda mais confundir, j� que n�o explicaram nada, ainda. Pode ver que todos os com�rcios t�m comportas de a�o para a �gua n�o entrar. Ningu�m mais horroriza de ver carros sendo arrastados, mesas passando boiando e ca�ambas descendo como se estivessem navegando. Quem fica de fora, tamb�m est� preso, pois n�o pode voltar para casa pelo risco das enxurradas”, afirmou.

Simulados com moradores

As implementa��es dos bloqueios e mobiliza��es dos 27 planos de conting�ncia para �reas de risco no per�odo chuvoso contam com uma s�rie de mecanismos para prever a chegada de tempestades e permitir a��es imediatas. Nesse universo, Belo Horizonte recebe informa��es de sat�lites clim�ticos, radares meteorol�gicos e 52 esta��es hidrometeorol�gicas para acompanhar o n�vel dos c�rregos que podem inundar.

Mas, sem um treinamento afinado das equipes que comp�em o sistema de Defesa Civil (BHTrans, Bombeiros, Defesa Civil municipal e estadual, Guarda Municipal, pol�cias Militar e Civil, entre outros) e o envolvimento da comunidade, por mais que se antecipe um problema o seu combate poderia n�o ser efetivo.

"Por isso realizamos simulados e treinamentos nas �reas de maior risco. � a repeti��o dos procedimentos, a sua pr�tica e consci�ncia que permitem uma melhor efetividade para evitar que tenhamos v�timas, preju�zos e transtornos como os que BH j� enfrentou", afirmou o subsecret�rio municipal de Prote��o e Defesa Civil, coronel Waldir Figueiredo Vieira.

Dois locais onde os simulados j� ocorrem, segundo o subsecret�rio, s�o as �reas das avenidas Vilarinho e Tereza Cristina, que j� apresentaram resposta satisfat�ria das equipes de bloqueio, desvio e atendimento.

Treinamentos recorrentes na Tereza Cristina

A que mais se destaca, por enquanto, � a regi�o da Avenida Tereza Cristina, na Regi�o Oeste de BH. Essa importante liga��o entre o Anel Rodovi�rio e a Via Expressa segue ao longo do leito do Ribeir�o Arrudas e apresenta diversos pontos de alagamento, como na sua conflu�ncia com o C�rrego Ferrugem (Contagem) e o C�rrego Bonsucesso (Oeste de BH).

"Para a gente que mora aqui, ficar preso j� � uma constante, mesmo sem fechar as ruas"

Carlos Roberto Papa, morador de rua atingida por enchentes no Prado

"A Tereza Cristina passa por treinamento pelo quarto ano consecutivo. � um processo gradativo e de evolu��o constante. Temos uma participa��o muito ativa da comunidade. Uma percep��o de todos os �rg�os envolvidos, de BH e de Contagem, que possibilitou uma automatiza��o dos processos. A cada ano se faz e se repete esse treinamento. Com isso as pessoas v�o amadurecendo sobre os bloqueios que devem ser feitos, os procedimentos e os recursos empregados", afirmou o coronel Vieira.

Com a morte de um casal de idosos de 86 anos, h� 10 anos, a regi�o da Avenida Prudente de Morais, sobretudo o acesso pela Rua Joaquim Murtinho, no Santo Ant�nio, Regi�o Centro-Sul, entrou para o mapa das armadilhas fatais em dias de tempestade. No local, est�o planejados bloqueios na Avenida do Contorno e Rua Paulo Afonso, segundo o planejamento a que a reportagem teve acesso. S�o locais onde, segundo comerciantes e moradores, a BHTrans j� posiciona cones de interdi��o.

"A gente at� ajuda as pessoas, indo para a rua e indicando que desviem da �rea alagada, colocando os cones no meio da rua. Mas, ainda assim, tem gente que insiste em tentar atravessar e acaba tendo de abandonar o carro boiando”, comentou o comerciante Joaquim Dimas Gon�alves, de 40, dono de uma lanchonete na Rua Joaquim Murtinho com Rua Paulo Afonso.

J� a regi�o do entorno da Avenida Vilarinho contou apenas com um simulado, em 21 de setembro. “Na Vilarinho, foram cerca de 100 pessoas dos �rg�os participantes. Preferimos n�o envolver ainda a comunidade em raz�o de as vias serem de tr�nsito r�pido, o que exige um conhecimento e uma autoridade para essas interven��es serem efetivas e seguras. Mas, isso pode ocorrer no futuro, a cada ano aprendemos mais e buscamos aperfei�oar o trabalho com os parceiros”, disse o subsecret�rio.

Sobre as obras de drenagem que n�o est�o prontas e obrigaram as equipes de defesa civil a tra�ar planos de conting�ncia, o secret�rio municipal de Obras e Infraestrutura, Josu� Valad�o, afirma que a previs�o � de que a maioria seja de m�dio prazo. “A obra na Vilarinho prev� duas bacias de conten��o no C�rrego Lareira. Essa �gua toda se juntaria com a Vilarinho e t�m conclus�o prevista para um ano. Alguns pontos precisam de desapropria��es. Em vez de escoar mais rapidamente a �gua, nossa op��o, agora, � conter essa �gua em bacias na Vilarinho”, disse o secret�rio.

Valad�o indica que os projetos de obras de drenagem para as avenidas Prudente de Morais e Francisco S� j� est�o em elabora��o na Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap).