
Um sobrado colonial localizado bem diante da Igreja S�o Francisco de Assis, no Centro Hist�rico, guarda acervo pioneiro no Brasil e fundamental para a hist�ria da cidade que, em 2020, vai festejar 40 anos como Patrim�nio da Humanidade. Com cerca de 2 mil livros, o Arquivo Hist�rico do Munic�pio de Ouro Preto re�ne documentos de meados do s�culo 18 aos dias atuais, com movimento crescente de interessados em pesquisas e consultas, conta a diretora do setor vinculado � Secretaria de Cultura e Patrim�nio, K�tia Maria Nunes Campos.
Foi num livro de ac�rd�os (leis locais) da antiga C�mara, contendo manuscritos do s�culo 18, que K�tia e sua equipe encontraram a “certid�o de nascimento” da institui��o dedicada exclusivamente � administra��o municipal: em 11 de agosto de 1751, os vereadores aprovaram a proposta “para organizar, manter e conservar a documenta��o produzida”, informa K�tia ao lado da coordenadora do setor, Helenice Afonso de Oliveira. A equipe se completa com a especialista em arquivologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Polyana Renata de Oliveira.
O secret�rio municipal de Cultura e Patrim�nio, Zaqueu Astoni Moreira, planeja a moderniza��o do arquivo, de forma especial a digitaliza��o dos documentos. Para tanto, ser� feita a capta��o de recursos. Outra iniciativa se refere � climatiza��o do acervo, para melhores condi��es dos livros, mapas, atas plantas e outros, al�m do desenvolvimento de programa de educa��o patrimonial, dando condi��es �s escolas de conhecer parte da hist�ria e visitar a institui��o muito mais antiga do que o Arquivo Nacional, de 1838, criado como Arquivo P�blico do Imp�rio.

Detalhes sobre a cidade
Na sala envidra�ada da chamada Casa de Gonzaga – refer�ncia a Tomas Antonio Gonzaga (1744-1810), que foi ouvidor de Vila Rica antes de se tornar inconfidente –, K�tia e Helenice mostram os documentos atraentes tanto pelas informa��es preciosas para pesquisadores como pela beleza pl�stica, com riqueza de detalhes, que n�o deixam ningu�m indiferente.Exemplos est�o na planta topogr�fica de Vila Rica (1808), em tom s�pia; no Plano de Melhoramentos da Cidade de Ouro Preto (1892), que tra�a a reurbaniza��o de Vila Rica na tentativa de se manter como capital de Minas (em 1897, o “posto” foi ocupado por Belo Horizonte); e at� a planta de esgoto sanit�rio, com esta��o de tratamento que ficava na localidade de Barra e da qual h� resqu�cios.

Assim, o “corpo documental colonial da cidade” teve grande parte transferida para o Arquivo P�blico Mineiro (APM), em BH, vinculado � Secretaria de Estado da Cultura e Turismo. Entre a paisagem colonial, vista da janela do sobrado, e os documentos hist�ricos sobre a mesa, K�tia destaca a s�rie de tombos que atestam, passo a passo, o crescimento e a forma��o do casario e o tra�ado atual do Centro Hist�rico. “Dessa forma, � poss�vel acompanhar todas as pol�ticas urbanas e a evolu��o da regi�o, desde uma simples abertura de rua � urbaniza��o e desenho da Pra�a Tiradentes, ocorrida na d�cada de 1740.”
Sistema eleitoral do Imp�rio
“Em oposi��o � lacuna deixada pela documenta��o do s�culo 18, custodiada pelo APM, nosso acervo provincial do s�culo 19 � um tesouro de informa��es na administra��o dos conceitos de modernidade e ci�ncia, sendo not�veis as quest�es referentes a educa��o, industrializa��o, sanitarismo e sa�de”, explica a diretora, enquanto Helenice, graduada em hist�ria pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), ressalta outra s�rie importante e fartamente documentada referente ao sistema eleitoral e eleitores do per�odo imperial.
Por meio do acervo, o interessado vai saber que Ouro Preto foi cidade pioneira em vacina��o, na cria��o de cavalos e oferta de touros selecionados, introdu��o de sementes melhoradas e rent�veis, abastecimento privado de �gua encanada, tratamento de esgoto (1860-1870), ilumina��o el�trica dom�stica e p�blica (a partir da cria��o da Escola de Minas, em 1876), sendo parcialmente instalada na d�cada de 1880 e urbanismo, com altera��o de leis construtivas e de retifica��o de ruas."Talvez o zelo dos primeiros tempos explique porque Ouro Preto seja a �nica cidade brasileira a poder acompanhar todas as sess�es j� realizadas, desde a primeira delas, em 1711"
K�tia Maria Nunes Campos, diretora do arquivo
Os documentos atestam a modernidade. “Em 1897, j� se encontram refer�ncias de liga��es telef�nicas em uma min�scula rede restrita � c�pula governamental. O mundo do trabalho e servi�os � revelado pelas s�ries fiscais que abrangem as atividades econ�micas desde doutores aos mais simples vendedores de capim e linha, livres e escravos”, afirma K�tia.
40 anos de Patrim�nio da Humanidade
No ano quem vem, Ouro Preto, na Regi�o Central, vai comemorar os 40 anos do t�tulo de Patrim�nio da Humanidade – foi a primeira cidade do pa�s a receber a chancela, para um bem cultural, da Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e Cultura (Unesco) – e lembrar os 300 anos da Sedi��o de Vila Rica, que marca o nascimento de Minas Gerais, com a cria��o a Capitania de Minas e teve como expoente Filipe dos Santos (1680-1720). Lendas e fatos hist�ricos povoam a hist�ria de Filipe dos Santos e em seu livro Ouro Preto – um novo olhar, o professor de hist�ria da arte Alex Bohrer explica os acontecimentos.

O autor explica que “ao contr�rio do que diz a hist�ria oficial, a tradi��o local conta que Filipe foi arrastado por cavalos pela Ladeira (atual Rua Padre Afonso de Lemos), onde foi esquartejado sem julgamento pr�vio. De qualquer forma, a pra�a principal de Cachoeira (local da pris�o e onde ficou exposta uma parte do corpo do condenado) hoje leva o nome de Filipe dos Santos”. E mais: “O Conde de Assumar, ap�s esse epis�dio, sugeriu ao Rei de Portugal a separa��o das Minas e S�o Paulo (que at� ent�o formavam uma s� capitania). Era o nascimento de Minas Gerais.