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Estado de Minas MEM�RIA VIVA

Abrigo das fam�lias que ergueram BH, Lagoinha fervilha em m�ltipla produ��o cultural

Boemia, arte, religi�o, velhos of�cios. Tudo se mistura no bairro e seu entorno, que ainda guardam surpresas 122 anos depois da funda��o da cidade. � um 'estado de esp�rito', diz morador da regi�o


14/12/2019 04:00 - atualizado 14/12/2019 08:55

Vista da Lagoinha a partir do pouco conhecido Mirante da Pedreira, com acesso pela íngreme Rua Pedro Lessa
Vista da Lagoinha a partir do pouco conhecido Mirante da Pedreira, com acesso pela �ngreme Rua Pedro Lessa (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

A cidade guarda muitas surpresas para os moradores – e olha que a descoberta, mesmo num dia de chuva, pode ser emocionante – e, mais do que isso, reveladora. Ber�o do samba, canto da boemia e pleno de hist�rias boas de ouvir, o Bairro da Lagoinha , na Regi�o Noroeste de Belo Horizonte, tem tamb�m um mirante pouco conhecido, aonde se chega subindo “a vida inteira” a Rua Pedro Lessa e cruzando vias. Para ir l�, e n�o se perder, melhor mesmo � ser guiado por algu�m conhecedor da �rea, e, nesse caso, a equipe do Estado de Minas tem a companhia do presidente da Associa��o dos Moradores do Bairro Santo Andr� e do bloco carnavalesco Le�o da Lagoinha . Na conversa com Jairo Nascimento Moreira, de 56 anos, quatro filhos e oito netos, v�-se, de imediato, que a Lagoinha traduz um “estado de esp�rito” e representa um grande territ�rio, formado tamb�m pela Pedreira Prado Lopes, Santo Andr�, S�o Crist�v�o, Bonfim, o complexo vi�rio e adjac�ncias tradicionais da capital.

No alto do Mirante da Pedreira , ainda sem estrutura para receber as pessoas, a cidade se abre como um leque diante dos olhos. Ao lado da filha Rafaela, de 9, aluna da Escola Estadual Santos Anjos, Jairo aponta a Serra do Curral em toda a extens�o, o campo do Pitangui, pr�dios na Avenida Ant�nio Carlos, a imensid�o do casario, o conjunto habitacional IAPI, inaugurado em 1948, as interven��es art�sticas do Circuito Urbano de Arte (Cura), e, ao longe, a Serra da Piedade, em Caet�, na Regi�o Metropolitana de BH. Al�m de guardar a mem�ria de tempos bem animados e abrigar �reas de alta vulnerabilidade social , a Lagoinha consiste tamb�m num polo de peregrina��o religiosa , com o Santu�rio Arquidiocesano Nossa Senhora da Concei��o dos Pobres, na Rua Al�m Para�ba, batizado assim pelo arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo.

Os olhos de Jairo brilham ao falar sobre a regi�o onde nasceu e criou fam�lia. “Joguei muita bola na inf�ncia e adolesc�ncia nos campos de v�rzea do Pitangui, Gr�mio e Terrestre. E sempre teve a paix�o pelo carnaval ”, diz o sambista, enaltecendo os 73 anos de trajet�ria do bloco, a serem celebrados em 2020. “A Lagoinha respira e inspira cultura”, resume. Ao lado, Rafaela tamb�m manifesta seu amor pela cidade e pela regi�o, o gosto pelos estudos e, como “filha de peixe, peixinha �”, avisa que j� cantou no bloco ao lado do pai. Na avalia��o do morador, s�o outros tempos: “J� tivemos muita viol�ncia, hoje quase n�o se ouve mais barulho de tiro”.

Na Rua Itapecerica , velhos of�cios e com�rcio que atravessa d�cadas d� outro d�o outro tom � Lagoinha. Propriet�rio da loja M�veis Cupim, em atividade desde 1981, Manoel Almeida, de 68, fala com gosto e carinho sobre o bairro e a cidade onde chegou no in�cio dos anos 1970 e se casou, h� 38 anos, com a belo-horizontina Erenice. Natural do distrito de Santa Isabel do Rio Preto, em Valen�a (RJ) – “Sou papa-goiaba”, brinca Manoel sobre o apelido de quem nasce no estado do Rio de Janeiro –, o comerciante ressalta que na Lagoinha tem muita gente boa, e a atividade “ m�veis antigos ” sempre atraiu arquitetos, decoradores, lojistas e moradores da Zona Sul de BH.

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)


''A Lagoinha respira e inspira cultura''

Jairo Nascimento Moreira, presidente da Associa��o dos Moradores do Bairro Santo Andr� e do bloco carnavalesco Le�o da Lagoinha


�CONE

Depois da conversa agrad�vel, vamos caminhar pela Itapecerica, que j� teve �ureos tempos como polo de antiqu�rios e venda de mobili�rio de �poca, mas ainda pode ser considerada um dos �cones da regi�o. Andando pela via p�blica, veem-se vest�gios da passagem dos italianos pelo bairro. Para homenagear o pa�s natal, em 1930, foi constru�da, com projeto dos arquitetos Otaviano Lapertosa e Jo�o Abramo, uma imponente resid�ncia, que ficou conhecida como Casa da Loba por ostentar o animal bem no alto da fachada. O bicho sumiu e, segundo vizinhos, duas �guias decorativas bateram asas; o projeto original foi todo desfigurado e o interior do pr�dio perdeu a forma.

Que tal, ent�o, saber mais sobre a rica hist�ria da Lagoinha? Vamos l�: os primeiros a chegar foram pessoas do interior do estado, ex-escravizados de fazendas mineiras e imigrantes italianos. Enquanto trabalhavam na constru��o da nova capital , e mesmo depois de v�-la inaugurada em 12 de dezembro de 1897, as fam�lias foram se estabelecendo no Bairro Lagoinha. No in�cio da ocupa��o, dois rios, hoje canalizados, se encontravam nessa �rea e formavam uma lagoa , vindo da� o nome que fez hist�ria e se tornou lenda na cidade, principalmente entre as d�cadas de 1930 e 1960, quando a zona bo�mia se instalou. Anos se passaram, o complexo de viadutos mudou a paisagem, casar�es perderam o vi�o e a viol�ncia sentou pra�a, mas o local, resistente, guardou s�mbolos que ajudam a recompor a mem�ria e a compreender melhor as nuances do tempo.

A Lagoinha � o mais emblem�tico e antigo dos bairros “pericentrais” de Belo Horizonte – aqueles que surgiram fora da Avenida do Contorno, na ent�o �rea suburbana da cidade, conforme o projeto da comiss�o construtora chefiada pelo engenheiro Aar�o Reis (1833-1936). Em mais de 100 anos, a regi�o atravessou tr�s momentos bem distintos e marcantes: familiar, zona bo�mia e comercial . Conforme os especialistas, os pioneiros n�o podiam arcar com o pre�o das moradias no per�metro da Contorno, como faziam os funcion�rios p�blicos, ent�o a solu��o foi viver do outro lado do Ribeir�o Arrudas. Os primeiros tempos n�o foram nada f�ceis. Para se ter uma ideia, o sistema de abastecimento de �gua s� entrou em opera��o em 1910 , um contrassenso para uma regi�o de nome t�o simb�lico.

Na d�cada de 1930, mudan�as na paisagem. A regi�o se torna palco da zona bo�mia, atraindo prost�bulos, bares, bebedeiras sem fim, porres hom�ricos – vem dessa �poca o nome do famoso “ copo lagoinha ” –, cantores com seus viol�es e muito folclore que atravessou o s�culo. Contam que at� a d�cada de 1960, quando vigoraram as leis muito pr�prias do desejo, as meninas de sociedade nem podiam passar pela regi�o, ent�o marcada pela vida airada. Na Pra�a Vaz de Melo, por exemplo, gente de fam�lia s� circulava � luz do dia, pois, � noite, imperava a “perdi��o”. No fim das contas, essa fonte de cultura e comportamentos irrigou a cultura da cidade e deixou um manancial de casos e lembran�as.

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)


''Gosto muito da Lagoinha. Tem muita gente boa, tem hist�ria''

Manoel Almeida, comerciante que est� desde 1971 em BH


 


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