Cerveja contaminada: an�lise da Backer confirma presen�a de subst�ncia t�xica
Contraprova encomendada pela cervejaria confirma presen�a de subst�ncia t�xica em garrafas do r�tulo em investiga��o. Pol�cia volta � f�brica para novas per�cias
postado em 15/01/2020 06:00 / atualizado em 15/01/2020 07:46
Policiais civis e agentes do Mapa estiveram na f�brica ontem: dessa vez, os trabalham focaram an�lises qu�micas e de engenharia (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
An�lises feitas pela pr�pria cervejaria Backeratestam a presen�a do dietilenoglicol (DEG) em garrafas da cerveja Belorizontina, um dos 22 r�tulos da marca. Pela primeira vez, a cervejaria se pronunciou ontem recomendando expressamente que consumidores n�o bebam a Belorizontina. O tanque em que os lotes contaminados foram produzidos est� lacrado. N�o se sabe se os outros 69 tamb�m t�m problemas. No ano passado, a empresa comprou 20 novos tanques, o que representou um crescimento de 40% na capacidade de produ��o. Orienta��o do Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento (Mapa) � de que nenhuma cerveja das marcas da Backer seja comercializada.
O consumo da Belorizontina est� associado a pelo menos 17 casos de intoxica��o notificados em Minas Gerais. A morte de uma mulher em Pompeu, ocorrida em 28 de dezembro, pode ser o segundo �bito relacionado ao caso, mas ainda n�o entrou nas estat�sticas oficiais da Secretaria de Estado de Sa�de (SES). A empresa, que reitera n�o usar o DEG na f�brica, chegou a contestar o laudo da Pol�cia Civil (PC) que identificou a subst�ncia t�xica na cerveja Belorizontina. Mas a contraprova da cervejaria confirmou o resultado.
As an�lises foram feitas pelo professor do Departamento de Qu�mica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Bruno Botelho. “A Backer, tomando iniciativas junto com o professor Bruno, achou sim essa subst�ncia que n�o � utilizada e nunca foi utilizada aqui dentro da cervejaria. Encontramos dentro da cerveja Belorizontina do mesmo lote que as autoridades analisaram”, disse a diretora de marketing da Backer, Paula Lebbos.
Ela pediu, de forma reiterada, que a popula��o n�o consuma a marca Belorizontina em nenhuma hip�tese. "O que � preciso agora � que n�o bebam a Belorizontina, qualquer que sejam os lotes, por favor. Quero que meu cliente seja protegido. N�o beba Belorizontina. N�o sei o que est� acontecendo", disse. Ela estende a orienta��o para a Capixaba, que � o nome que a Belorizontina recebe para ser vendida no Esp�rito Santo.
De acordo com a diretora, o tanque de n�mero 10 foi lacrado pela for�a-tarefa que investiga a contamina��o e est� sendo examinado. A produ��o dos lotes com problema, entre a segunda quinzena de novembro e a primeira quinzena de dezembro do ano passado, ocorreu no tanque 10, que tem sido usado para a fabrica��o desse r�tulo espec�fico desde ent�o, segundo a diretora. Em coletiva no dia 10, entretanto, o mestre cervejeiro da empresa, Sandro Duarte, afirmou que os tanques da ind�stria tamb�m s�o usados na fabrica��o de outros r�tulos, e n�o somente a Belorizontina.
Tanques
Paula Lebbos, diretora de marketing da Backer: " A prioridade da Backer � verificar processo por processo, tanque por tanque, envase por envase, toda a mat�ria-prima que tem. O que a gente quer � esclarecimento" (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Perguntada sobre a presen�a de subst�ncia t�xica nos demais equipamentos Paula respondeu: “N�o se sabe ainda nada. Estamos abertos para que sejam feitas as avalia��es. A Backer n�o pode tomar iniciativas sem antes haver autoriza��o”. Ela explica que foi contratada per�cia t�cnica para avaliar os processos, mas � necess�rio autoriza��o dos �rg�os p�blicos que investigam o caso. “A prioridade da Backer � verificar processo por processo, tanque por tanque, envase por envase, toda mat�ria-prima que tem. O que a gente quer � esclarecimento”.
A ind�stria da Backer conta com 70 tanques, sendo que 20 deles foram comprados em 2019, o que representou aumento de 40% da capacidade produtiva. A empresa n�o informou se o tanque 10 faz parte da nova leva. Cada um dos recipientes tem capacidade para 18 mil litros de cerveja, o equivalente a 33 mil garrafas. A Backer usa a subst�ncia monoetilenoglicol no sistema de serpentina que circunda o tanque. A subst�ncia, que n�o deveria ter contato com a bebida, � capaz de resfriar o l�quido, sem provocar o congelamento.
Laudo da PC encontrou monoetilenoglicol e dietilenoglicol em garrafas de Belorizontina e em equipamentos da cervejaria (confira o quadro). "Aqui na Backer nunca foi utilizado o DEG. Isso � um mist�rio para n�s e para as autoridades", afirmou Paula, que reconheceu a presen�a da subst�ncia no tanque 10, sem saber informar o motivo. "No ano passado, recebemos o Minist�rio da Agricultura, todos os �rg�os que fiscalizam uma empresa desse porte. Nada foi constatado", disse.
Per�cia
A Pol�cia Civil e o Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento (Mapa) voltaram ontem � f�brica da cervejaria, no Bairro Olhos D'�gua, na Regi�o Oeste de Belo Horizonte, para complementar per�cias feitas na semana passada. Dessa vez, os trabalhos estavam focados em an�lises qu�micas e de engenharia. A contamina��o da cerveja � apontada como uma das poss�veis causas para o quadro cl�nico das v�timas com a s�ndrome nefroneural. Exames de sangue de quatro v�timas que consumiram a Belorizontina deram positivo para o dietilenoglicol.
At� ontem, a Secretaria Municipal de Sa�de recebeu da popula��o 568 garrafas da marca Backer, sendo 29 Belorizontinas dos lotes L1 1348 e L2 1348, aqueles em que inicialmente houve a identifica��o do dietilenoglicol. A PC tamb�m encontrou o agente qu�mico no lote L2 1354. Os produtos est�o sob cust�dia da secretaria, � disposi��o da for�a-tarefa que investiga o caso. As garrafas podem ser entregues nas sedes das regionais da capital.
V�timas
A Backer informou que ainda n�o entrou em contato com as v�timas da s�ndrome nefroneural. "Estamos muito tristes. N�o entramos em contato com as fam�lias, anteriormente a isso, at� mesmo para resguard�-las. A gente n�o sabia o que estava acontecendo. A partir de hoje (ontem), j� estruturamos pessoas para entrar em contato com as fam�lias e nos oferecer para qualquer tipo de ajuda", disse Paula.
A preocupa��o dela � com os consumidores e que o problema seja associado ao mercado cervejeiro em geral. "N�o queremos que nosso cliente e quem gosta da Backer sejam prejudicados", concluiu. A f�brica emprega 600 funcion�rios. A empresa informa que acionou a Justi�a em rela��o ao recolhimento de todos os produtos da marca, determina��o do Mapa, “porque precisa de mais tempo para se programar para atender, da melhor maneira poss�vel, a medida de recall solicitada”.