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Estado de Minas TRAG�DIA DE BRUMADINHO

Funda��o percorre Paraopeba e constata alta concentra��o de metais pesados um ano depois da trag�dia

Relat�rio da Funda��o SOS Mata Atl�ntica encontra ac�mulo de ferro, mangan�s e cobre em n�veis muito acima dos limites m�ximos permitidos


postado em 24/01/2020 06:00 / atualizado em 24/01/2020 08:44

(foto: Divulgação/SOS Mata Atlântica)
(foto: Divulga��o/SOS Mata Atl�ntica)
 

 

Quase um ano ap�s o rompimento da Barragem de rejeitos da Mina do C�rrego do Feij�o, da Vale, em Brumadinho, as marcas da destrui��o de uma das maiores trag�dias ambientais do pa�s persistem no Rio Paraopeba, afluente do Rio S�o Francisco. Devido aos danos causados pela lama de rejeitos miner�rios, a �gua do manancial continua impr�pria para o consumo, contaminada por metais pesados e, ao longo da bacia, h� um ambiente desolador, com muitas propriedades abandonadas por conta da inviabilidade de atividades econ�micas.


Este cen�rio � descrito pela equipe t�cnica da Expedi��o da Funda��o SOS Mata Atl�ntica, que percorreu o trecho ao longo do Paraopeba, entre Brumadinho e Felixl�ndia, com o objetivo de analisar a qualidade da �gua nos 365 quil�metros do rio afetados pelo rompimento da barragem da Vale, de onde vazaram 12,7 milh�es de metros c�bicos de rejeitos, deixando 259 mortos, sendo que 11 pessoas ainda est�o desaparecidas. O relat�rio da expedi��o foi divulgado nessa quinta-feira (23). Entre os dias 8 e 17 de janeiro, a equipe percorreu 2 mil quil�metros de estradas, passando por 21 cidades.


O objetivo da viagem, batizada de “Expedi��o Rio Paraopeba/Alto S�o Francisco”, foi “levantar dados independentes sobre a condi��o da qualidade da �gua na regi�o e avaliar os impactos dos danos aos ecossistemas, � geografia, paisagem e cobertura florestal nativa da Mata Atl�ntica”. Em fevereiro de 2019, logo ap�s a trag�dia, a SOS Mata Atl�ntica tamb�m realizou uma expedi��o ao longo do Paraopeba para avaliar os dados da lama de rejeitos de min�rio no rio, que des�gua no lago da Usina Hidrel�trica de Tr�s Marias, constru�da no Rio S�o Francisco.


De acordo com o relat�rio, os indicadores obtidos apontam que a �gua n�o pode ser utilizada em toda extens�o monitorada. Dos 23 pontos analisados, em nove os �ndices aferidos foram p�ssimos, em 11 ruim e em apenas um foi regular. Nenhum apresentou qualidade boa ou �tima.


“Em 11 pontos de coleta, os rejeitos e contaminantes estavam presentes na �gua. N�o permitem sequer a presen�a de vida aqu�tica”, destaca o relat�rio. “O n�mero de col�nias de bact�rias, que t�m capacidade de decompor mat�ria org�nica, diminuiu consideravelmente com a mudan�a dr�stica dos ecossistemas”, completa o documento.


A equipe t�cnica registra que somente em alguns trechos no Baixo Paraopeba e no in�cio do lago de Tr�s Marias, onde h� corredeiras e maior volume de �gua com contribui��o de afluentes de melhor qualidade, o rio apresenta condi��es de vida aqu�tica.

 

(foto: Divulgação/SOS Mata Atlântica)
(foto: Divulga��o/SOS Mata Atl�ntica)
 

 

A coordenadora da expedi��o, Malu Ribeiro, disse que constatou uma s�rie de dificuldades enfrentadas pelos ribeirinhos diante dos efeitos devastadores da lama de rejeitos. “Na medida em que desc�amos o rio, isolado de suas comunidades por cercas instaladas pela Vale, percebemos que muito pouco vem sendo feito. A �gua chega �s propriedades rurais, ilhas e comunidades ribeirinhas por caminh�es-pipa e grandes cargas de �gua mineral envasada”, disse.


“Pelo rio, o que chega � a polui��o que vai aumentando gradativamente com o per�odo chuvoso por conta do carreamento dos rejeitos e contaminantes que v�o impactando a regi�o para �reas distantes do n�cleo da trag�dia”, declarou Malu. “Falta informa��o para os ribeirinhos e os sentimentos de impunidade e dor imperam se somam a inseguran�a h�drica“, completou.


Por outro lado, a Funda��o SOS Mata Atl�ntica, ressalta que durante a expedi��o tamb�m foi poss�vel verificar “o trabalho de remedia��o e redesenho da paisagem que a empresa Vale vem fazendo nas microbacias do C�rrego Ferro Carv�o e do C�rrego Casa Branca, em Brumadinho, e um sistema de tratamento da �gua desses afluentes do rio Paraopeba, na �rea diretamente impactada”.


No munic�pio de Brumadinho, por exemplo, lembra a entidade, foi constada intensa movimenta��o de m�quinas, obras de reconstru��o de estradas e pontes para acessos a bairros que estavam bloqueados por rejeitos. “� um ambiente ainda bastante hostil e desolador, com muitas propriedades que foram desocupadas, atividades econ�micas cessadas para dar lugar �s a��es de redesenho da paisagem”, relata a equipe t�cnica.

Metais pesados

(foto: Divulgação/SOS Mata Atlântica)
(foto: Divulga��o/SOS Mata Atl�ntica)
 

 

As an�lises da �gua apontaram a presen�a de metais pesados, como  ferro, mangan�s e cobre em n�veis muito acima dos limites m�ximos permitidos. Esses elementos acarretam danos � sa�de humana e ao meio ambiente. 


A concentra��o de cobre verificada foi de 44 vezes acima da permitida, enquanto o mangan�s encontrado foi 14 vezes o permitido. A quantidade de ferro chegou a 15 vezes superior ao n�vel m�ximo estabelecido.
O consumo de �gua contaminada com cobre pode provocar n�useas e v�mitos. A ingest�o de mangan�s representa riscos de sintomas como rigidez muscular, tremores nas m�os e fraqueza. A concentra��o elevada de ferro e mangan�s provoca a colora��o avermelhada do rio.


A professora Marta Marcondes, coordenadora do Laborat�rio de An�lise Ambiental do Projeto �ndice de Poluentes H�dricos (IPH), da Universidade Municipal de S�o Caetano do Sul (USCS), que tamb�m integrou a expedi��o, alerta que os dados sobre os metais pesados e micro-organismos do Rio Paraopeba mostram a diminui��o dos organismos da microbiota do rio, o que representa um fator preocupante para a recupera��o do manancial ap�s ser duramente atingido pela lama de rejeitos que vazou da barragem em Brumadinho.


“Isso impacta na capacidade do Paraopeba em se recuperar. Infelizmente, as bact�rias encontradas at� o momento s�o causadoras de doen�as e n�o aquelas que tem capacidade de degradar mat�ria org�nica. Apesar de a quantidade ser muito menor do que foi encontrado em 2019, � importante salientar que os valores obtidos nas an�lises ainda se encontram muito acima da capacidade que um sistema biol�gico tem de metabolizar e excretar esses metais. Todos os metais encontrados t�m capacidade, se ingeridos, de se acumularem nos sistemas biol�gicos humanos e da fauna, e trazer s�rios problemas, renais, hep�ticos, neurol�gicos e mesmo de esterilidade“, assegura a especialista.

 

Cobertura Florestal

 


Em 2019, dados da SOS Mata Atl�ntica, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do projeto MapBiomas constataram o desmatamento de 112 hectares de florestas nativas por conta do dano ambiental da Vale. Destes, 55 hectares eram �reas bem preservadas.


“Em 2020, a cicatriz continua aberta e h� ind�cios de �reas em processo de regenera��o. Verificou-se tamb�m, por imagens de sat�lite, uma nova supress�o de vegeta��o nativa de 1,8 hectare para abertura de uma estrada, mas a raz�o e impactos de tal mudan�a da paisagem ainda precisam ser averiguadas em campo”, informa a funda��o.

Anseio por mudan�as

(foto: Divulgação/SOS Mata Atlântica)
(foto: Divulga��o/SOS Mata Atl�ntica)
 


Na conclus�o do relat�rio da Expedi��o Rio S�o Francisco/Alto Paraopeba, a equipe t�cnica respons�vel pelo trabalho lembra que o rompimento da Barragem da Mina do C�rrego do Feij�o em Brumadinho foi apontado pelo Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG), na �ltima segunda-feira (20), como “crime ambiental doloso”. Os integrantes da expedi��o lembram da extens�o dos danos causados e solicitam pol�ticas p�blicas “urgentes” para prevenir as trag�dias ambientais.


“Ouvindo as vozes do rio, ou seja, os anseios das comunidades ribeirinhas, de propriet�rios de terras, pescadores e familiares das v�timas que tiveram o futuro interrompido ou alterado, contata-se mais uma vez a urgente necessidade do Brasil implementar pol�ticas p�blicas e instrumentos eficazes de gest�o ambiental, que sejam capazes de promover a��es preventivas”, conclama os participantes da expedi��o.


A equipe t�cnica tamb�m ressalta as “li��es” que podem ser retiradas da trag�dia de Brumadinho e do rompimento da Barragem do Fund�o (ocorrida em 5 de novembro de 2015), da Samarco, em Mariana.


“Os danos ambientais que resultaram em trag�dias descomunais aos ecossistemas e �s pessoas que vivem e trabalham nas bacias dos rios Paraopeba e Doce deixaram uma enorme ferida aberta, mas tamb�m muitas li��es. A primeira delas � a de que � infinitamente mais dif�cil e mais caro – sob todos os aspectos, imateriais e materiais – recuperar do que prevenir. A segunda li��o � ainda mais dura: n�o ser� poss�vel restabelecer as vidas ceifadas e devolver aos rios a sua geografia e cursos originais”, diz o relat�rio da Funda��o SOS Mata Atl�ntica.


Por outro lado, eles chamam aten��o para as a��es voltadas para recuperar o ecossistema. “Para a recupera��o da qualidade da �gua na bacia do Paraopeba e seguran�a h�drica da regi�o, � essencial que sejam adotadas medidas efetivas de remedia��o e recupera��o dos danos ambientais em todo o trecho afetado, especialmente nas regi�es do Baixo Paraopeba e Alto S�o Francisco”, destacam os t�cnicos da funda��o.


“At� o presente momento as a��es e obras de remedia��o est�o concentradas de forma expressiva na chamada zona quente do dano ambiental, em Brumadinho. E o ressarcimento �s comunidades, �s fam�lias das v�timas e �s diversas atividades econ�micas afetadas em toda a bacia hidrogr�fica precisam ser ampliados, para que cheguem de fato a todos”, concluem.



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