
Tr�s crian�as e dois adultos morreram soterrados no Bairro Jardim Alvorada, na Regi�o Noroeste, depois que uma encosta desabou sobre duas casas na noite de sexta-feira. Maria Estela e seus tr�s filhos, de 6, 8 e 10 anos, tinham deixado o barrac�o – que estava em �rea de risco – na sexta-feira, mas voltaram horas depois para buscar seus pertences. Outro homem, de 48 anos, que morava no barrac�o ao lado tamb�m morreu soterrado.
“As mochilas j� estavam prontas para irmos embora de vez. Mas a Estela queria fazer a janta antes. N�o queria ir para outro lugar com fome. Os meninos estavam no quarto, brincando. De repente, de uma vez s�, a lama derrubou o quarto. Quando vi, estava com a boca cheia de terra, os olhos n�o abriam, tamb�m estavam cheios de terra. Os vizinhos me puxaram. N�o teve tempo para nada”, contou o marido de Maria Estela, Anselmo Pereira, de 55 anos, que estava na casa na hora do soterramento.
A fam�lia morava no Jardim Alvorada h� cinco anos e estava entre as 35 pessoas que ficaram desabrigadas na sexta-feira, quando 12 casas ficaram em estado de alerta ap�s o desabamento de um muro. Horas antes de morrer, Maria Estela deu entrevistas e contou para vizinhos que ela e seus filhos deixaram a casa apenas com a roupa do corpo, na sexta-feira.
Ontem, moradores do Bairro Jardim Alvorada acompanharam os trabalhos de bombeiros na busca dos corpos em clima de consterna��o e com medo de novos deslizamentos de terras. Houve desabamentos em pelo menos quatro pontos do bairro. No pior deles, onde cinco pessoas foram soterradas, os militares chegaram ainda na madrugada de s�bado e s� encontraram os corpos na noite de ontem. Ao longo do dia, dezenas de moradores estavam deixando o local, carregando malas e mochilas, com medo de novas chuvas e desabamentos.
“N�o temos mais condi��o de morar aqui, de viver um desespero desse”, dizia Daiane Souza, que mora no bairro h� mais de 30 anos e deixou ontem sua casa, a poucos metros de um ponto de desabamento. “O barranco desabou inteiro. A chuva come�ou por volta de 20h. Pouco tempo depois, come�ou a cair tudo. Eu, meu marido e meus filhos tivemos que sair pela janela, porque, quando abrimos a porta, j� n�o tinha mais ch�o em frente � casa. Desceu tudo de uma s� vez. Deu tempo s� de pegar a mamadeira da nen�m, arremessei o meu filho para o outro quarto. Vamos procurar um abrigo por enquanto, n�o temos onde ficar”, contou Daiane.
"As mochilas j� estavam prontas para irmos embora de vez. Mas a Estela queria fazer a janta antes. N�o queria ir para outro lugar com fome"
Anselmo Pereira, de 55 anos, que perdeu a mulher e os tr�s filhos no soterramento e foi salvo por vizinhos
MEDO
"As mochilas j� estavam prontas para irmos embora de vez. Mas a Estela queria fazer a janta antes. N�o queria ir para outro lugar com fome"
Anselmo Pereira, de 55 anos, que perdeu a mulher e os tr�s filhos no soterramento e foi salvo por vizinhos
Muitos moradores se preocupam com rachaduras e trincas que surgiram em v�rios muros e paredes de casas ap�s as fortes chuvas dos �ltimos dias. “Estamos assutados com o alto risco de novos desabamentos. Tive que deixar minha casa e estou morando de favores, porque n�o quero ser uma das v�timas. Mas a situa��o � muito complicada e muita gente n�o tem para onde ir”, disse Cl�udia Reis, que mora no Jardim Alvorada h� 19 anos. “Nunca t�nhamos tido tantos problemas como neste ano. A situa��o do bairro ficou completamente ca�tica”, diz.
Vizinho de uma casa em situa��o de risco, Ant�nio da Costa, de 64 anos, n�o consegue dormir h� dias por causa da preocupa��o com deslizamentos de terra. “Estamos vendo a situa��o desses muros e peda�os de terra se soltarem. Aqui, o medo � que, se uma casa desabar l� em cima, tudo vem abaixo na mesma hora”, contou Ant�nio, mostrando as paredes trincadas de uma das casas vizinhas. Ele conta que, pouco depois de 20h, come�aram a ouvir seguidos estrondos e muitas pessoas gritando.