Caso Backer: '� de invejar quem morreu', diz mulher sobre quadro de intoxica��o do marido
Familiares de pacientes com s�ndrome nefroneural ligada ao consumo de cerveja
cobram ajuda da empresa. Diretora alega que bloqueio de bens impede ajuda �s v�timas
postado em 05/03/2020 06:00 / atualizado em 05/03/2020 11:01
Eliana Faria, ao falar sobre a situa��o do marido intoxicado h� um ano: '� de invejar quem morreu' (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
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Em uma agenda antiga, Eliana Reis Faria, mulher de Jos� Osvaldo de Faria, de 66 anos, anota o acompanhamento do quadro cl�nico do marido. O empres�rio come�ou a sentir os sintomas de intoxica��o por dietilenoglicol em fevereiro de 2019. Somente em janeiro deste ano o caso foi considerado suspeito e integrou o balan�o que hoje chega a 31 v�timas. Quatro casos foram confirmados por meio de exames e 27 continuam sob investiga��o. A fam�lia n�o recebe suporte da cervejaria Backer. Cen�rio que se repete com outros pacientes e foi tema de debate em audi�ncia p�blica ontem, na C�mara Municipal de Belo Horizonte, uma briga entre assumir responsabilidade e se isentar da culpa, que envolve parentes das v�timas e representantes da empresa.
Jos� Osvaldo est� internado desde 20 de fevereiro do ano passado. Segundo sua esposa, ele era amante das cervejas Backer, consumia cerca de nove garrafas por dia. No dia 18, teve dificuldades para urinar. Dois dias depois apresentou diarreia e foi para o pronto-atendimento do Hospital Madre Teresa. Foi internado com diagn�stico de gastroenterite. A partir do dia 21, come�ou a sentir calor intenso nos olhos e corpo. No dia 23, paralisia nos ombros e pesco�o. Na manh� seguinte, n�o consegue mais fechar os olhos. Em 1º de mar�o entra em coma e fica nessa situa��o durante 21 dias. No dia 6, mesmo em coma – sedado –, ele convulsiona. Os m�dicos fizeram exames e n�o detectaram infec��o por bact�rias, v�rus nem fungos. Foi ent�o que descobriram que a infec��o n�o era biol�gica, mas qu�mica.
A mulher come�ou a estudar o quadro mas s� o associou � cerveja em janeiro, quando vieram � tona casos semelhantes envolvendo uma s�rie de pacientes. Desde ent�o ela espera suporte da cervejaria. “Fui atr�s da Backer, mostrei o quanto ele � f�. Tenho foto dele fazendo propaganda de gra�a. Eu disse aos advogados deles que seria bacana que a cervejaria tivesse a sensibilidade de ajudar com enfermeiros 24 horas. 'Seria bacana porque ele � f� de voc�s. Ele vai melhorar e agradecer', eu disse. Mas a resposta que recebi h� dois dias foi 'n�o'. Eu n�o quero nem saber o que aconteceu, s� sei que a pr�pria Backer est� se sabotando”, afirmou Eliana. Ao mostrar fotos da situa��o cl�nica do marido para os relatores da Comiss�o de Sa�de e Saneamento, ela chorou e disse aos representantes da empresa: “Ponham seus filhos para tomarem a cerveja. Olhem isso. N�o � brincadeira. � de invejar quem morreu.”
Camila Demartini, que perdeu o pai e acompanha marido internado, aponta 'falta total de aux�lio da Backer' (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Ao lado de Eliana estava Cristiane Neves, enteada de Maria Augusta, que morreu em Pomp�u ap�s 38 horas de interna��o. Sem plano de sa�de, ela foi atendida em hospital p�blico e n�o passou por di�lise. “At� agora n�o houve um contato. Perco minha m�e e eu que tenho que ligar para a Backer?”, questionou. Ela tamb�m direcionou a palavra aos representantes da empresa. “Ainda temos duas garrafas em casa para a fam�lia Backer. Voc�s est�o convidados a tomar. Qualquer pessoa da fam�lia da empresa que quiser ficar nos hospitais por 24 horas tamb�m ser� muito bem-vindo”, ironizou.
Hoje completa 90 dias de interna��o de outra v�tima, Luciano de Barros, de 56, no Mater Dei. C�lio Guilherme Barros continua lutando pela vida do irm�o, que passou 65 dias no CTI e, apesar dos percal�os e sem possibilidade de alta, tem apresentado melhora no quadro cl�nico. “Meu irm�o era apreciador de cerveja artesanal e da pr�pria Belorizontina, que, vamos ser bem claros, era gostosa, n�?”, disse. Somente nesta semana Luciano ficou sabendo sobre a suspeita de intoxica��o. “Ele est� muito chateado porque bebe cerveja em casa, n�o � de ir a bar, � o hobby dele. Ainda tenta entender o que est� acontecendo. Sempre cuidou muito da sa�de dele, � regrado. Alguns dias antes ele tinha feito um check-up no pr�prio Mater Dei e estava tudo ok”, contou C�lio.
A filha de Pascoal Demartini Filho, de 55,que morreu em 7 de janeiro, tamb�m comp�s a mesa. A farmac�utica Camila Macarti Demartini perdeu o pai e ainda vive o drama com o marido Lu�s Felipe Teles Ribeiro, de 37, que est� internado h� 70 dias na UTI do Hospital da Unimed. “A gente est� aqui para ter uma voz, uma visibilidade e mostrar toda a nossa indigna��o. A gente quer que as pessoas em geral vejam a real situa��o, que � a falta total de aux�lio por parte da Backer”, disse.
Paula Lebbos, diretora da cervejaria: 'Preciso que as contas sejam desbloqueadas para que a Backer possa ajudar' (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Ap�s ouvir as v�timas, a s�cia e diretora de marketing da Cervejaria Backer, Ana Paula Lebbos, reafirmou que n�o tem dinheiro para arcar com os custos das v�timas pois todas as contas foram bloqueadas. “Hora nenhuma a Backer est� aqui para se eximir. Desde o princ�pio, a gente est� de peito aberto para receber as informa��es. O que eu preciso � que as contas sejam desbloqueados para chegar a um valor que a Backer possa ajudar”, sustenta. A s�cia disse que n�o est� dormindo e tentou comparar seu sofrimento com o dos familiares, que rapidamente a interromperam. “Hoje foi a �nica chance que eu pude ter de conversar com voc�s. Juridicamente n�o posso dizer nada, estou aqui apenas para ouvir”, disse.