Moradores do Ribeiro de Abreu est�o com medo de serem as pr�ximas v�timas da chuva
A Urbel realizou a retirada de 374 pessoas, mas ao todo s�o previstas 1.539. Ainda h� pessoas que n�o est�o em �reas consideradas de risco, mas desejam sair de perto do C�rrego do On�a
postado em 06/03/2020 19:00 / atualizado em 06/03/2020 21:21
Local pr�ximo do C�rrego do On�a abriga v�rias casas com risco de desabamento (foto: Leandro Couri/EM/D.A. Press)
Em meio �s fortes chuvas que afetam quase todas as regi�es de Minas, moradores do Bairro Ribeiro de Abreu, na Regi�o Nordeste de Belo Horizonte, dormem com medo de serem as pr�ximas v�timas dos temporais. Na �ltima quinta-feira, vereadores e representantes da Sudecap, Urbel e Regional Nordeste visitaram o local para averiguar a situa��o.
Na ocasi�o, moradores reivindicaram indeniza��es pelas perdas provocadas pelo grande volume de �gua que caiu na capital nas �ltimas semanas. Enquanto isso, h� moradores que continuam vivendo em regi�es, nitidamente, de risco e outros que, mesmo em lugares considerados mais tranquilos, pedem para ser retirados.
“Disseram que n�o corre risco. Que n�o tem nenhuma vis�o de cair, que d� pra eu ficar aqui e que eles v�o indenizar s� quem perdeu tudo. Eu fico ilhada quando chove, n�o posso nem passar mal porque o Samu n�o entra”, conta a t�cnica de enfermagem Maria de Lourdes Diniz, que mora junto com o filho no bairro, pr�ximo ao C�rrego do On�a.
Apontando com o dedo, ela mostra as rachaduras das casas localizadas � frente de sua resid�ncia. “Elas est�o todas rachadas. Se rachou a primeira, rachou a segunda, a terceira vai rachar e a quarta tamb�m; eu estou no caminho”, reclama.
No entanto, a Defesa Civil afirma que a respons�vel pelo local � a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel) e que s� foi chamada para atender tr�s ocorr�ncias no bairro em 2020, duas envolvendo trincas e outra para risco de destrui��o de muro.
Durante as �ltimas chuvas, algumas casas das ruas S�o Judas Tadeu, Rua Etil�ndia e Rua Juazeiro do Norte, todas localizadas no cruzamento com Rua Ant�nio Ribeiro de Abreu, a �gua chegou a atingir 1,70m de altura, espantando moradores do bairro, que alegam ter vivido dias sombrios ao longo dos temporais.
Maria das Lourdes est� com medo e quer sair da regi�o (foto: Leandro Couri/EM/D.A. Press)
“Na �ltima chuva que jogou todo mundo pra rua e invadiu todas as casas, eu n�o consegui entrar em casa. Eu fiquei t�o desesperada e decidi n�o arriscar porque, se eu arriscasse, eu ia morrer. Ent�o, eu voltei atr�s e fui dormir l� em cima na casa dos meus irm�os”, relembra Maria de Lourdes.
De acordo com os moradores, h� cerca de um ano, funcion�rios da Urbel foram ao local e retiraram as pessoas que moravam nas proximidade do leito do c�rrego, na parte mais baixa. No entanto, os outros que viviam em uma parte mais alta continuaram na regi�o e foram fortemente afetados pelas chuvas dos �ltimos dias. Desde ent�o, eles reivindicam indeniza��es da prefeitura e a apresenta��o de um cronograma e plano de a��o para esvaziamento do local.
Ainda segundo os moradores, h� aproximadamente seis anos, foi realizada visita t�cnica da prefeitura �s resid�ncias, quando lhes foi informado de que a desapropria��o seria efetivada, mas at� o momento, n�o se obteve nenhum retorno. Jackson Maia, do Departamento de Projetos de Grande Porte da Sudecap, informou que o projeto mencionado sofreu altera��es e que um novo j� foi apresentado ao Conselho Comunit�rio Unidos pelo Ribeiro de Abreu (Comupra). Com isso, outras casas ser�o inclu�das na lista de estruturas localizadas na �rea de risco.
Por meio da assessoria de imprensa da Prefeitura de Belo Horizonte, a Urbel, �rg�o respons�vel pelo trabalho social e remo��o das fam�lias de �reas de risco geol�gico, informou que, ao todo s�o previstas 1.539 remo��es, sendo que 374 j� foram conclu�das. Outras 639 remo��es estariam em processo de negocia��o. “Algumas fam�lias optaram por indeniza��o e outras ser�o reassentadas em unidades habitacionais constru�das pelo munic�pio”, concluiu.
Mesmo com a a��o, h� moradores que continuam vivendo em �reas de risco. � o caso de Glaucia Junqueira da Silva, que vive do lado do leito do rio e j� apresenta rachaduras enormes em suas casas. “Falaram que eu tenho que ir cadastrar na prefeitura, na ter�a-feira, para me tirarem daqui. Mas n�o tenho para onde ir e n�o tenho perspectiva do que fazer, quando chove, aqui fica cheio de lama. Na �ltima enchente, entrou �gua no banheiro, no quarto e na cozinha; um vizinho nosso teve que ser socorrido pela janela”, conta a mulher que vive sozinha com o marido.
Apesar de sua estar bem pr�xima ao c�rrego, Gl�ucia continua morando no local (Reportagem continua abaixo) (foto: Leandro Couri/EM/D.A. Press)
Obras
Conforme dito por Maia durante a visita ao local, a Sudecap est� iniciando o trabalho de topografia e cadastramento da regi�o. Uma das diretrizes em an�lise � a abertura da Rua Ribeiro de Abreu at� a Rua Escorpi�o, possibilitando, assim, que a primeira fique num ponto mais alto da regi�o. Segundo ele, at� o final de novembro, o projeto ser� finalizado.
J� na regi�o da Areia Branca, local com maior vulnerabilidade em rela��o � parte baixa do C�rrego do On�a, a previs�o � de que a topografia seja iniciada em mar�o deste ano. A �rea tamb�m faz parte do Bairro Ribeiro de Abreu.
A prefeitura tamb�m informou que um parque est� sendo implantado na regi�o, como parte de obras voltadas para a “otimiza��o do sistema de macrodrenagem das Bacias dos Ribeir�es da Pampulha e do On�a”. No local, est�o sendo investidos aproximadamente R$ 35,9 milh�es, com recursos provenientes do Fundo Municipal de Saneamento e do financiamento junto ao Governo Federal.
Enquanto o novo estudo n�o seja aprovado e as obras n�o comecem, Maria de Lourdes teria que continuar em sua casa. No entanto, a t�cnica de enfermagem pretende sair da comunidade o mais breve poss�vel. Desempregada e sem direito � indeniza��o, ela come�a a procurar um outro local para morar.
“Eu vou embora, mas acho que vou ter que bancar com meu dinheiro. Eu estou desempregada, assim como meu filho. Vamos ter que correr atr�s de alguma outra coisa pra gente conseguir dinheiro e alugar outro lugar pra morar. Aqui, vamos ficar s� vigiando”, afirma.
* Estagi�rio sob supervis�o da subeditora Ellen Cristie