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Estado de Minas

Coronav�rus: pandemia deixa prostitutas de BH sem renda e moradia

Distanciamento social imposto pela COVID-19 e fechamento de hot�is do baixo Centro pode expor categoria � extrema precariedade; prefeitura ainda n�o sabe como vai lidar com a quest�o


postado em 20/03/2020 15:19 / atualizado em 22/03/2020 10:54

(foto: Thiago Fonseca /EM/D.A Press)
(foto: Thiago Fonseca /EM/D.A Press)


M�e de dois filhos - ambos residentes em Angicos, no interior do Rio Grande do Norte -, a  prostituta Gabriela*, de 40 anos, n�o manda mais dinheiro para a fam�lia desde a semana passada. Sua renda foi reduzida a praticamente zero desde o estouro da pandemia de coronav�rus em Belo Horizonte, onde ela vive h� cinco anos.

Nesta sexta-feira (18), Gabriela perdeu tamb�m a moradia, j� que o hotel em que ela residia e trabalhava, situado na rua Guaicurus, Centro de BH, fechou as portas por tempo indeterminado. A profissional foi acolhida por um coletivo de profissionais do sexo, que lhe ofereceu abrigo e alimenta��o durante a quarentena. “Foi um al�vio, pois voltar � minha cidade n�o � uma op��o”, relata a profissional. 

Centenas de trabalhadoras sexuais da capital mineira podem n�o ter a mesma sorte. A Associa��o das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig), que estima haver duas mil garotas de programa atuando em 28 hoteis da Regi�o Central, teme que, com o distanciamento social imposto pela COVID-19, o destino de muitas dessas mulheres seja a rua

Sem amparo do munic�pio, que ainda n�o sabe como vai lidar com a situa��o, resta a elas, at� o momento, algum aux�lio vindo de ONGS, coletivos e pastorais, que alertam: a precariedade imposta ao baixo meretr�cio de BH pode contribuir para o agravamento do surto viral. 



Imigrantes

"O que agrava a situa��o � que 90% da nossa categoria v�m de outras cidades. Com o sumi�o dos clientes e o fechamento de hot�is, muitas ficaram sem dinheiro sequer para pagar a passagem de volta �s casas de suas fam�lias. As que n�o t�m para onde voltar e permanecem nos hot�is ainda em funcionamento, j� n�o tem como continuar pagando as di�rias. At� o agora, estamos praticamente abandonadas � nossa pr�pria sorte, ou � caridade”, relata Cida Vieira, presidente da Aprosmig.

Sem obriga��o de paralisar as atividades - j� que n�o foram contempladas pelo Decreto 17.304/2020, do prefeito Alexandre Kalil, muitas hospedarias reduziram o valor das di�rias. Segundo a profissional do sexo e fundadora do Coletivo Cl� das Lobas, F�tima Muniz, o pre�o m�dio baixou de R$ 100 para R$ 50. 

"De qualquer forma, n�s precisamos e queremos parar. Primeiro, porque � uma quest�o de sa�de p�blica. Depois, porque continuar trabalhando tamb�m aumenta o estigma que existe sobre n�s. J� somos vistas como ve�culos de doen�as. N�o queremos refor�ar essa marca" afirma F�tima.

F�tima Muniz, fundadora do Coletivo Cl� das Lobas.



O Coletivo Cl� das Lobas � voltado � promo��o de a��es culturais, de sa�de, al�m de assessoria jur�dica para trabalhadoras sexuais da capital. A entidade conseguiu uma casa para alojar prostitutas que porventura perderem a vaga em quartos alugados. A lota��o m�xima da resid�ncia, no entanto, � de apenas 40 mulheres. 

Hot�is

Propriet�rio do Magn�fico Hotel, tradicional da rua Guaicurus, Fl�vio Dornas diz que contribui para mobiliar o local. Fez tamb�m doa��es de mantimentos e produtos de higiene para a casa. Ele optou por fechar os 52 apartamentos de seu estabelecimento e afirma que n�o vai dispensar funcion�rios, nem reduzir sal�rios. 

(foto: Fernando Badharo/EM/D.A Press)
(foto: Fernando Badharo/EM/D.A Press)


“Nosso plano de fechar o hotel j� est� em execu��o desde domingo. A ideia � garantir a seguran�a das meninas (para quem os quartos s�o alugados), dos meus funcion�rios e das pessoas que frequentam o hotel. Ainda h� seis garotas aqui. Duas est�o voltando para o interior. As outras quatro que n�o t�m para onde ir est�o sendo encaminhadas para a casa do Cl� das Lobas. Se elas ficassem, nossa dificuldade de controlar o isolamento seria muito grande. O momento � de nos resguardarmos. Minha maior preocupa��o, agora, � zelar pela vida de todos n�s. Dinheiro, a gente ganha depois”, pondera o empres�rio.

Comit�

Questionado pelo Estado de Minas, o munic�pio informou que ainda n�o tem um plano tra�ado para assistir as prostitutas em situa��o de vulnerabilidade por conta do surto global. Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Assist�ncia Social, Seguran�a Alimentar e Cidadania de Belo Horizonte relata que iniciou "um processo de escuta das lideran�as da categoria a fim de compreender suas necessidades". 

"Algumas demandas, como acesso � alimenta��o e emiss�o de passagens, j� s�o atendidas pela Prefeitura no caso de popula��es vulner�veis e, por seu car�ter essencial, ser�o mantidas mesmo no contexto do COVID-19", diz o texto enviado pelo �rg�o. 

De acordo com Cida Vieira, esse di�logo corresponde ao estabelecimento de um comit� de combate ao coronav�rus na zona de prostitui��o de Belo Horizonte. O grupo re�ne membros da Aprosmig, da Associa��o dos Amigos da Rua Guaicurus, Secretaria de Estado de Sa�de de Minas Gerais (SES/MG), Pol�cia Militar (PMMG), al�m de donos de hot�is que funcionam na regi�o. 

Entre as reivindica��es do movimento, est� o repasse de parte dos impostos recolhidos na Rua Guaicurus � manuten��o da popula��o vulner�vel da regi�o, o que inclui as prostitutas.

"N�s apoiamos as medidas de conten��o do coronav�rus. Mas precisamos responder a uma quest�o: como essas mulheres v�o se manter na quarentena? Porque n�s existimos, embora o governo e a sociedade ainda insistam em negar isso. Inclusive, pagamos impostos", reflete Cida.

Cida Vieira, presidente da Aprosmig

 

Garotas trans

Travestis e transexuais que exercem a atividade sexual na capital mineira poder�o contar ,em breve, com uma renda m�nima, al�m de atendimento psicol�gico gratuito. A iniciativa � da ONG Transvest, coordenada pela ativista Duda Salabert. 

O aux�lio financeiro, no valor de R$ 100 mensais, ser� disponibilizado a 90 prostitutas trans da capital mineira. �s idosas, o valor repassado ser� de R$ 200. Por enquanto, a bolsa est� garantida para os meses de mar�o e abril. O aux�lio psicol�gico ser� prestado de forma virtual. 

(foto: Elas Festival/Divulgacao )
(foto: Elas Festival/Divulgacao )

"No atual momento do coronav�rus, � indicado o distanciamento social. Essa medida, apesar de ser extremamente importante, traz in�meros impactos para n�s, travestis e transexuais. � importante lembrar que, no Brasil, 90% dessas pessoas est� na prostitui��o, pois h� uma transfobia odiosa que nos expulsa do mercado de trabalho. Nesse sentido, o distanciamento social pode significar o fim da �nica renda das pessoas trans no pa�s. N�s, da ONG Transvest, queremos minimizar esse cen�rio em Belo Horizonte", afirmou Duda em em v�deo publicado no Instagram

As trabalhadoras interessadas em usufruir dos benef�cios devem entrar em contato via via WhatsApp pelo n�mero (31) 99398-3571.


"Home office"

Na seara da prostitui��o de luxo, o cen�rio diante da pandemia de coronav�rus soa um tanto mais confort�vel. A garota de programa Amanda Amorim, de 26 anos, diz que n�o vai continuar atendendo durante o surto. “Eu e muitas meninas nos isolamos nos nossos apartamentos e cortamos o contato com a fam�lia at� esse caos passar. Mas conhe�o meninas que continuam trabalhando. O movimento caiu. De seis clientes di�rios, diria que elas passaram a atender um ou dois”, conta a mo�a, que cobra a partir de R$ 650 por hora de atendimento. 

Segundo a profissional, os sites em que ela anuncia seus servi�os buscam inova��es para manter os ganhos em tempos de pandemia. “Recebemos mensagens oferecendo a ades�o a servi�os virtuais, por meio de v�deo, por exemplo. Eu n�o vou aderir, tenho pregui�a de sexo virtual. Mas muitas garotas certamente v�o”, avalia a mo�a. 


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