
A assistente em administra��o Cynthia Santos Menezes, de 30 anos, � filha de Maria Elizabeth Santos Menezes, de 65 anos, portadora de lupus - uma doen�a autoimune que pode afetar a pele, os rins, o c�rebro e outros �rg�os - e usa do medicamento com sulfato de hidroxicloroquina diariamente, sendo cinco comprimidos por semana. Ontem, se surpreendeu quando buscou pelo medicamento em diversas farm�cias e se deparou com a informa��o: produto esgotado."Minha m�e me procurou muito feliz contando que o medicamento que ela usa poderia curar o coronavirus. Na hora que ouvi isso j� senti um frio na espinha. N�s, que somos de uma gera��o mais nova, j� estamos mais acostumados com os efeitos de not�cias falsas pela rede. Na hora imaginei que haveria uma corrida �s farm�cias pelo medicamento! Quando ligamos para as farm�cias que estamos acostumadas a compr�-lo, j� foi tarde", contou
Foi quando ela divulgou um �udio por Whatsapp e recebeu retorno de v�rias pessoas informando que estavam na mesma situa��o. Tanto pessoas com l�pus como pacientes com outras doen�as cr�nicas, como artrite. Pelo Instagram, a engenheira ambiental Cec�lia Abreu, de 30, tamb�m se manifestou sobre o esgotamento do rem�dio que tamb�m � indispens�vel para ela: "galera, o medicamento que 't� rolando' que trata o coronav�rus � o mesmo medicamento que eu tomo para minha doen�a autoimune L�pus. Quando recebi a not�cia, j� era tarde. Compraram todos os rem�dios de todas as farm�cias", lamentou. A jovem pediu ajuda para algu�m que comprou pudesse vende-lo. "Tenho rem�dio at� domingo. N�o posso ficar sem tomar."
Ela conta que faz o uso desde os 18 anos diariamente. "Recebi a not�cia logo que o medicamento tinha sido aprovado como cura e tratamento da pandemia. Pesquisei e percebi que n�o tinha nada conclusivo. Sabia que o rem�dio seria varrido das prateleiras das farm�cias ent�o logo corri, mas j� era tarde. Os estoques zerados em toda a capital." Ela conta que tenta criar uma rede de apoio de pessoas que precisam da medica��o. "Recebi pedido de uma senhora com artrite reumatoide, uma gravida portadora de lupus. Muitas pessoas desesperadas sem medica��o, como eu, pegas desprevenidas", complementou.
Cynthia explica que o l�pus � uma doen�a que precisa ser muito bem controlada, pois pode atingir formas muito agressivas. "� uma doen�a que pode deixar a pessoa cega, com insufici�ncia renal aguda ou cr�nica, problemas hep�ticos (no f�gado), nos ossos, na pele, nos pulm�es, enfim, � uma doen�a que ataca de forma sist�mica. Isso, por si s� j� � extremamente problem�tico, mas em um contexto de pandemia por covid-19 torna-se mais um fator de risco. Basicamente uma pessoa sem tratamento nesse contexto pode piorar muito r�pido", informou ela.
M�dicos infectologistas ouvidos pela reportagem do Estado de Minas foram un�nimes em afirmar que n�o existe no mundo nenhum estudo cient�fico comprovando a efic�cia do uso do medicamento Hidroxicloroquina para combater o coronav�rus. Os especialistas afirmaram ainda que o medicamento tem efeitos colaterais severos - hepatite, pancreatite e altera��es da pigmenta��o da pele, entre os mais comuns-, e s� pode ser usado, portanto, com aprova��o m�dica.
O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Una� Tupinamb�s, infectologista e integrante da frente de combate ao coronav�rus criada pelas Secretarias de Minas e de Belo Horizonte da Sa�de (SEEs), juntamente com a UFMG, disse ainda que a popula��o deve evitar comprar o rem�dio tendo em vista tamb�m que a droga ser� objeto de pesquisa, na capital, por essa for�a-tarefa de especialistas da universidade e SEEs."N�o pode ficar em falta nas farm�cias para a pesquisa", advertiu o m�dico.
Ontem, o Conselho Federal de Medicina (CFM) airmou querer que a venda de medicamentos que cont�m hidroxicloroquina e cloroquina seja autorizada apenas com receita m�dica. A entidade argumenta que a compra e o uso indiscriminado deste medicamento n�o � recomendada, al�m de apontar desabastecimento destes produtos pela compra desnecess�ria. No Brasil, a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) disse que os estudos sobre uso de medicamentos com essas subst�ncias ainda n�o s�o conclusivos. "A automedica��o pode representar grave risco � sa�de e o consumo desnecess�rio pode acarretar desabastecimento dessas f�rmulas, prejudicando pacientes que delas fazem uso cont�nuo para tratamento de doen�as reum�ticas e dermatol�gicas, al�m de mal�ria", afirma o CFM em nota enviada ontem � Anvisa.
Chintya faz um apelo: "Em primeiro lugar, que as pessoas n�o se automediquem! Esse medicamento � muito forte e pode gerar efeitos colaterais graves! Todo medicamento deve ser utilizado apenas sob orienta��o m�dica." Al�m do mais, pede mais responsabilidade no compartilhamento de not�cias: "Vamos buscar fontes confi�veis e checar as informa��es que recebemos! Temos o minist�rio da sa�de a n�vel Federal, as secretarias de sa�de a n�vel estadual e ainda as secretarias municipais de sa�de tamb�m! O SUS lan�ou um aplicativo de coronavirus que est� dispon�vel gratuitamente para celulares! Vamos nos utilizar dessas fontes", acrescentou. At� o fechamento desta edi��o, ela conseguiu a doa��o de duas caixa.
Tupinamb�s informou que est� em processo a elabora��o de um protocolo para dar in�cio � pesquisa, coordenada pela UFMG, sobre o uso da cloroquina - droga para combater a mal�ria - no tratamento da COVID-19. “Daqui a tr�s a seis meses, teremos not�cias interessantes sobre esse estudo”, afirmou o infectologista, professor da UFMG desde 2002, que tamb�m informou que os estudos sobre esse tratamento espec�fico ainda s�o recentes. Na China, em dezembro passado, e, recentemente, na Fran�a.
Carlos Starling, tamb�m renomado infectologista, com mais de 30 anos de carreira, refer�ncia nacional e internacional na �rea, disse que o uso da cloroquina se restringe, por enquanto, a um “contexto de estudos cl�nicos”. “Com pouqu�ssimas pessoas”, afirmou Starling. Ele tamb�m advertiu sobre os efeitos colaterais do medicamento e seu efeito t�xico, caso n�o seja receitado por um especialista. "Pode intoxicar. O uso (do rem�dio da mal�ria) n�o est� nos protocolos oficiais”, enfatizou o m�dico.