
“Se eu falar que a gente n�o surtou, eu vou estar mentindo”, brinca a analista de suporte Gracielza T�mara Mendon�a Sanches, de 29 anos. Ela � noiva do diretor de arte Rafael Souza Toledo, de 30, com quem mora h� um ano e oito meses. Na rotina normal, eles se encontravam em casa apenas por volta das 22h, quando Graci deixava as aulas do 10º per�odo da faculdade de direito. Agora, sofrem – ou aproveitam – da hiperconviv�ncia. Com o avan�o exponencial do novo coronav�rus, a recomenda��o � clara e permanece: fiquem em casa. H� aqueles que est�o em isolamento ao lado do parceiro e outros que tiveram que se manter separados, enfrentando dificuldades para se verem em meio � pandemia. Para esses casais que est�o juntos, seria uma nova lua de mel? Ou um grande problema? O momento � de ang�stia e o desafio � encontrar o equil�brio para manter um relacionamento saud�vel. E a�? O Estado de Minas conversou com casais e com um psic�logo para dar algumas dicas importantes para este per�odo.

Esta semana, o casal Gra e Rafa usaram as redes sociais para gravar um v�deo compartilhando a rotina de um casal em isolamento social. “Nunca passamos tanto tempo juntos, 24 horas por dia, sem ser em per�odos de lazer. Acordamos no mesmo hor�rio, tomamos caf�. Depois, sentamos um de frente para o outro, cada um com seu computador, para colocar a m�o na massa”, contou Gracielza. O casal afirma que a principal dificuldade � aceitar o fato de os dois estarem em casa, mas n�o dispon�veis um para o outro. Eles tiram � noite, ap�s as tarefas, para se curtirem. “Nos primeiros dias, foi dif�cil. N�o sab�amos muito bem qual era a rotina de trabalho um do outro, as reuni�es que cada um tinha, com quem cada um falava...”, disse a jovem, que, aos poucos, coloca a rotina no eixo e tenta levar o momento com leveza ao lado do companheiro. Entretanto, tanto para ela, quanto para todos, a adapta��o � acompanhada de estresse.
O casal de tatuadores Manoela Lages Serpa de Andrade, de 27, e Matheus Martins Cezar, de 31, se conheceram na adolesc�ncia e se reencontraram h� tr�s meses, quando o namoro engatou. Ao contr�rio de Gra e Rafa, o casal mora em casas diferentes, mas optaram por ficar juntos durante a quarentena. “A gente n�o conversou sobre isso, s� aconteceu naturalmente”, disse Manoela. Eles acreditam que � uma oportunidade para se conhecerem melhor. “A principal vantagem � ter a oportunidade de conhecer melhor a pessoa e ver se quer mesmo ficar com ela”, disse o namorado.

Mas, Manoela encara a situa��o de maneira diferente: “Eu vejo como principal vantagem conhecer os pontos negativos da pessoa e ver como eu lido com eles. � obvio que todo mundo quer algu�m que te trate bem, que seja legal e com interesses em comum. Mas, o que faz voc� ficar ou n�o � saber se os defeitos dela s�o t�o graves que voc� consiga relevar”, acredita. E para ela, serem colocados em situa��es de desconforto torna poss�vel enxergar a natureza da pessoa. “Normalmente, a pessoa tende a ser bem mais agrad�vel. Mas quando sai da sua zona de conforto mostra seu verdadeiro eu”. E completou dizendo que a experi�ncia tem sido muito positiva ao lado de Matheus. Outro ponto colocado pelo casal � a intimidade, que, �s vezes, pode ultrapassar limites e gerar algum “estranhamento” em brincadeiras ou coment�rios.
Confinamento juntos
Os problemas apontados pelos casais � vivenciado por muitos outros – se n�o for a grande maioria absoluta – que tamb�m se adaptam com essa nova rotina. O professor da Escola de Ci�ncia da Informa��o da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutor em Psicologia Social, Cl�udio Paix�o, explica: “Gosto de comparar o isolamento social com um reality show como, por exemplo, Big Brother Brasil, onde pessoas s�o obrigadas a conviver em ambiente restrito. A tend�ncia, como acontece nos realyties, � tentar evitar que as situa��es se agravem. � como criar uma esp�cie de programa onde colocamos muitos ratinhos em uma mesma gaiola. Assim, come�a a disputa por espa�o”. Portanto, a hiperconviv�ncia gera alguns conflitos e a regra n�mero um �: estabelecer o espa�o pr�prio e o espa�o do outro. “Quando os espa�os se chocam, isso � agravado”, completa o pesquisador comportamento humano, especialmente no mundo virtual.
"Primeiro, n�o se sinta ofendido se a outra pessoa quiser ficar sozinha. Segundo, que a outra n�o se sinta ofendida ou temerosa com a sua presen�a e n�o consiga te dizer: 'eu preciso um pouco de privacidade'"
Cl�udio Paix�o, psic�logo
� muito importante propor atividades para serem feitas juntas, assim como n�o se ofender com essa delimita��o de espa�o. “Primeiro, n�o se sinta ofendido da outra pessoa querer ficar sozinha. Segundo, que a outra n�o se sinta ofendida ou temerosa com a sua presen�a e n�o consiga te dizer 'eu preciso um pouco de privacidade'”, esclarece. � importante identificar a demanda do outro, se colocar no lugar do outro, ficar atento ao que o outro se incomoda e, claro, dialogar. “Pergunte a ele: 'est� tudo bem?', 'est� de boa com isso?', 'est� incomodado?' e 'o que eu posso fazer para melhorar?'”, disse.
"A sensa��o de n�o poder v�-la causa uma grande ansiedade e medo do que pode acontecer"
Jackson Rodrigues, 32 anos, que est� passando o per�odo de quarentena longe da namorada, Amanda
Apesar de parecer dif�cil encontrar o equil�brio, a hiperconviv�ncia tamb�m pode trazer vantagens para a rela��o. Isso porque, de acordo com o especialista, a hiperconvencia exige um acordo ou um contrato psicol�gico. E alguns casais, talvez pela primeira vez, sejam confrontados com a necessidade de estabelecer isso. “�s vezes, est�o casadas h� anos e n�o tiveram a oportunidade de viver em um espa�o cotidiano durante tanto tempo sem interven��o sem elementos externos. E isso � importante”, pontua.
Confinados separados
O supervisor de customer experience Jackson Rodrigues, de 32, e a banc�ria Amanda Martins da Silva, de 29, representam outro exemplo de forma de se relacionar em tempos de isolamento social: � dist�ncia. “Estamos sobrevivendo”, enfatiza ele. Eles se conheceram por meio de aplicativo de relacionamento em 2017. E, desde o primeiro encontro, em um bar de rock, n�o se separaram mais – at� a chegada do novo coronav�rus. N�o est� sendo f�cil. “A principal dificuldade � n�o sabermos quanto tempo isso vai durar. A sensa��o de n�o poder v�-la causa uma grande ansiedade e medo do que pode acontecer. Tememos por nossas vidas e de nossos familiares.”
Eles t�m usado o recurso virtual para manter a rela��o. Compartilham ao longo do dia o que est�o fazendo, o que est�o comendo, trocando fotos, indicando filmes e s�ries um ao outro. Est�o at� planejando uma viagem para quando este per�odo passar. Mas, ap�s quase 20 dias sem contato presencial, na �ltima segunda-feira, eles quebraram o isolamento e se encontraram. “Ficamos os 10 primeiros minutos em um abra�o”, disse o casal.
"A principal vantagem � ter a oportunidade de conhecer melhor a pessoa e ver se quer mesmo ficar com ela"
Matheus Martins Cezar, 31 anos, tatuador, namorado de Manuela
Igor Rodrigues Simi�o, jogador de futebol, de 21, e Mariana Franco de Aguiar, estudante de arquitetura, de 21, est�o juntos h� cinco anos e tamb�m passaram a se encontrar com bem menos frequ�ncia. “Eu tenho uma rotina pra cumprir aqui em casa, assim como ele tem na dele... Eu tenho aula virtual e ele, nesse per�odo, treina dentro de casa”, disse Mariana. Eles n�o passavam mais de dois dias sem se ver. Agora, se encontram uma ou duas vezes na semana. “Nessa quarentena, estamos nos vendo at� com uma frequ�ncia boa em rela��o a muitos casais. Por�m, estamos conscientes dos cuidados que devemos tomar nessa pandemia. A dificuldade � sentir falta da pessoa que est� do seu lado sempre”, disse Igor.
"Eu vejo como principal vantagem conhecer os pontos negativos da pessoa e ver como eu lido com eles"
Manoela Lages Serpa de Andrade, 27 anos, tatuadora, namorada de Matheus
O professor do departamento de psicologia da UFMG Cl�udio Paix�o explica que, assim como a rela��o em confinamento, a rela��o � dist�ncia pode dar muito certo ou bastante errado. Tudo vai depender da forma de se comunicar: “Eu vejo uma evolu��o dos contatos virtuais. Antes, troc�vamos mensagens de texto. Depois, as pessoas passaram a trocar mensagens durante todo o dia. Agora, temos uma nova forma de se comunicar: conversas separadas. Hoje, as conversas virtuais acontecem quando podem com grande hiato entre os di�logos. H�, inclusive, pessoas que desaparecem ao longo do dia e retomam no dia seguinte, e n�o existe mais o relato de 'como foi o seu dia'. Isso porque as pessoas sabem que ela pode pegar um aplicativo de transporte, um �nibus ou um carro para encontrar a outra em algum momento. Mas, agora que voc� tem um distanciamento for�ado, em que encontrar presencialmente significa se expor ao risco da contamina��o, isso gera um distanciamento que n�o � apenas f�sico. � um distanciamento provocado pelo receio de fazer mal ao a outro ou se prejudicar. � pesado”, explicou o especialista.
Mas h� formas de manter uma boa rela��o durante este per�odo: converse, se esforce para passar um pouco sobre o cotidiano. Ele tamb�m sugere conversar sobre as pautas discutidas no momento. Tamb�m podem assistir coisas juntas ou combinarem de ler o mesmo livro. “E n�o deixe o outro sem resposta. Manter sempre o outro em conex�o”, acrescenta. E, principalmente, conversar sobre sentimentos.
O psic�logo tamb�m acredita ser saud�vel a pr�tica do sexo virtual, de conversas “picantes”. Vale qualquer atividades que possibilita o contato e criam v�nculos. “Mas, � aquela hist�ria: 'quando um n�o quer, dois n�o namoram'. Ent�o, se eu quero ter um relacionamento � dist�ncia, eu tenho que estimul�-lo. At� porque, se fizer isso, quando o presencial vier, a experi�ncia vai ser muito mais rica”, concluiu.
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