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Estado de Minas COVID-19

Fazendeiro de 103 anos lembra outras pandemias e n�o se apavora com coronav�rus

Armando da Concei��o � testemunha viva de combate a males que dizimaram milhares no mundo e parte da hist�ria de Minas no enfrentamento a doen�as


postado em 12/04/2020 06:00 / atualizado em 12/04/2020 07:50

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)

"N�o me preocupo com doen�as. Elas sempre estiveram no mundo, s�o naturais, estamos sujeitos a isso. O importante � se proteger, manter a sa�de"

Armando da Concei��o, fazendeiro, 103 anos


Armando tinha 2 anos, 5 meses e um dia, quando “ela” chegou ao Brasil. “Eu era uma crian�a do interior de Minas, pobre, de p� no ch�o”, recorda o fazendeiro, batizado Armando da Concei��o que, na quarta-feira, dia 15, completa 104 anos. “Ela”, no caso, era a gripe espanhola, um mal mundial que nestes tempos de pandemia provocada pelo novo coronav�rus traz � tona a mem�ria da doen�a respons�vel pelas mortes de milh�es de pessoas mundo afora, entre janeiro de 1918 e dezembro de 1920. Com seu chapel�o, jeito simp�tico e �tima mem�ria, Armando conta que cresceu ouvindo falar daquela gripe, mas conta que “sabia que estaria imune a tudo”. “Meu primeiro banho, na vida, foi no sangue de tatu”, revela, com seriedade, na varanda da Fazenda Arag�o, na comunidade rural de Campo de Santo Ant�nio, em Taquara�u de Minas, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte.

Houve males bem piores em Minas do que a gripe espanhola, avisa o fazendeiro, citando o sarampo e a varicela, dos quais foi v�tima, embora sem sequelas ou marcas no corpo. Mas nada foi t�o forte quanto a pneumonia contra�da na inf�ncia. A cura veio do emplastro de angu quente com sementes de mostarda. “Colocaram a mistura dentro de um pano, como se fosse uma faixa, e enrolaram meu peito. Era quente demais, n�o sei como n�o queimou o cora��o.”

Ao ver a equipe do Estado de Minas com m�scaras cir�rgicas, assim como o neto Leopoldo Alves, advogado, com a prote��o facial, seu Armando quer saber como est� a situa��o causada pelo coronav�rus. Mas n�o se apavora com as not�cias sobre o avan�o da pandemia. “N�o me preocupo com doen�as. Elas sempre estiveram no mundo, s�o naturais, estamos sujeitos a isso. O importante � se proteger, manter a sa�de”, resume. De fato, em Minas n�o � de hoje que epidemias tiram o sossego da popula��o, conforme pesquisa em fase preliminar do promotor de Justi�a Marcos Paulo de Souza Miranda, integrante do Instituto Hist�rico e Geogr�fico de Minas Gerais (IHGMG).

“A velha Minas Gerais, em seus mais de 300 anos de hist�ria, enfrentou situa��es t�o ou mais dif�ceis que a do coronav�rus. Superou todas, mesmo em �pocas de incipientes conhecimentos m�dicos e epidemiol�gicos”, diz Souza Miranda. Ele destaca que, ao senso comum, tal situa��o pode ser considerada como algo in�dito, momento de incertezas, medo e sofrimento experimentado pioneiramente pela gera��o atual. “Nada mais errado”, resume.

Beber, comer, trabalhar


No cen�rio rural em que vive, com a tradicional casa pintada de azul e branco e muito espa�o para curtir a vida, seu Armando gosta de contar hist�rias e n�o perde o bom humor: “N�o sou t�o velho assim para falar da gripe espanhola, n�o, viu? Mas posso falar do sarampo, da var�ola, esses, sim, terr�veis”, considera. Vi�vo h� nove anos, ele foi casado por 74 anos com Maria da Piedade da Concei��o, tendo 13 filhos, 36 netos e 41 bisnetos e um tataraneto.

Da varanda, ele faz quest�o de recitar o nome de filho por filho: Edson (Dinho), recentemente falecido, Iraci, Elson (Nica), Elce, El�zio, Elizia Isabel, Ederval R�mulo, Maria �ngela, Eunice Elena, Marcos Geraldo, Alcides Luiz, o Cidinho, Ilza de F�tima e �ngelo Armando. “Para criar tantos filhos, tem que trabalhar muito, n�? E cuidar da sa�de.”

Apoiado em muletas por pura precau��o, ap�s uma queda na escada, o fazendeiro, natural do munic�pio vizinho de Santa Luzia, tem certeza de que a sa�de para isso se sustenta em tr�s pilares: beber, comer e trabalhar. No �ltimo verbo est� a deixa para recordar outros tempos. Ex-dono de dep�sito de material de constru��o, conta que transportou em seu caminh�o muito “cimento e rolos de arame” para a constru��o de Bras�lia, em 1956.

C�lera, f� e desastre


Souza Miranda informa que, em meados do s�culo 19, foi a vez de o c�lera morbus atingir Minas, fazendo milhares de v�timas em raz�o da diarreia e do v�mito que provocava. � doen�a est� associado “um triste fato ocorrido na cidade de Rio Piracicaba em novembro de 1855”, conforme noticiado no Jornal Bom Senso, de Ouro Preto, naquele m�s: “Em o dia 12 do corrente, com o fim de conjurar por meio de preces ao Todo Poderoso a tempestade do c�lera que j� se tem manifestado em nossa prov�ncia, mais de 4.000 pessoas deste arraial e de suas imedia��es levavam em prociss�o a imagem do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, ali muito venerada, quando (cena desoladora!), ao passarem a ponte sobre o Rio Piracicaba, que divide a povoa��o, dois lan�os desta desabam com horrendo fracasso”.

O peri�dico informava que resultaram “ca�rem no rio mais de 300 pessoas, mulheres em quase sua totalidade! Para logo verificou-se que algumas pessoas tinham morrido do desastre, ficando feridas mais de 80, entre as quais 20 mortalmente. O povo achava-se em consterna��o e privado de v�veres, em conseq��ncia da queda da ponte.”

'Bexiga'


No �ltimo quartel do s�culo 19, a epidemia de var�ola, � �poca conhecida como bexiga em raz�o das bolhas que formava no corpo das pessoas atacadas, foi a que mais castigou os mineiros. No Sul de Minas, a Cidade do Turvo (atual Andrel�ndia) sofreu enormemente com a doen�a, perdendo mais de uma centena de v�timas. “Em raz�o de a doen�a ser altamente contagiosa, recomendava-se que as roupas das v�timas fossem queimadas e as habita��es, desinfetadas com queima de enxofre e caia��o. Como muitos turvenses morreram em locais distantes da cidade, o medo da contamina��o n�o permitiu sequer que os corpos fossem levados ao cemit�rio p�blico, sendo providenciados cemit�rios improvisados na zona rural, que ficaram conhecidos como cemit�rios dos bexiguentos, por servirem de local de descanso dos corpos das v�timas da var�ola.”

Souza Miranda ressalta que, atualmente, h� dois desses cemit�rios, em Cachoeira das Marias e Espraiado: “S�o eles as �ltimas testemunhas da peste que assolou Andrel�ndia em 1891”. Ap�s estudar tantas doen�as e seus efeitos, o pesquisador tira de seus estudos uma mensagem de confian�a: “Esperamos que o conhecimento desses fatos nos sirva de alento para enfrentarmos com f� e esperan�a os desafios que ora vivenciamos. Isso tamb�m passar�”.

Pragas e pestes na hist�ria de Minas

(foto: Túlio Santos/Em/D.A Press)
(foto: T�lio Santos/Em/D.A Press)

"Minas Gerais, em seus mais de 300 anos, enfrentou situa��es t�o ou mais dif�ceis que a do coronav�rus. Superou todas, mesmo em �pocas de incipientes conhecimentos m�dicos e epidemiol�gicos"

Marcos Paulo de Souza Miranda, promotor de Justi�a e pesquisador

 
 
Na pesquisa que conduz com o tema “Doen�as e epidemias na hist�ria de Minas Gerais”, com enfoque at� o fim do s�culo 19, o promotor Marcos Paulo de Souza Miranda, do Instituto Hist�rico e Geogr�fico de Minas Gerais, destaca que pragas, pestes e doen�as sempre estiveram presentes na hist�ria da humanidade, sendo in�meras, por exemplo, as passagens b�blicas que tratam do assunto.

No Brasil, segundo seus estudos, entre 1777 e 1780 se abateu sobre o Rio de Janeiro uma terr�vel gripe que, al�m de provocar forte quadro febril, atacava o sistema nervoso e locomotor de suas v�timas, causando-lhes deformidades. “Conhecida como zamparina, em alus�o � cantora italiana Anne Zamperini, ent�o artista de grande sucesso em Lisboa, a doen�a chegou a Minas Gerais trazida por soldados mineiros que haviam sido remetidos para o Rio de Janeiro a fim de refor�ar o contingente em preparo para enfrentar a coroa espanhola, que havia invadido o Sul do nosso pa�s”, conta o promotor. “Especula-se que Aleijadinho (Antonio Francisco Lisboa, o mestre do Barroco), que havia sido remetido ao Rio naquele tempo para auxiliar nas obras de fortifica��o, tenha sido acometido por esse mal”, acrescenta.

Mais tarde, em 1788, o “mal de S�o L�zaro”, nome pelo qual era chamada a lepra ou hansen�ase, provocava grande temor em Vila Rica (atual Ouro Preto), a ponto de as autoridades locais determinarem a expuls�o dos doentes da sede. “Em maio daquele ano, 19 leprosos foram exilados para as bandas do Arraial de S�o Bartolomeu, onde deveriam permanecer segregados.”

J� em 1792, uma terr�vel epidemia de gripe, com alto grau de letalidade, acometeu a regi�o de Diamantina, contagiando parte significativa da popula��o e fazendo com que o Senado da C�mara da Vila do Pr�ncipe (atual Serro) mandasse fazer fogueiras pelas ruas “por causa da grande epidemia de deflux�es que quase todos geralmente padecem... deflux�es perigosas, de que quase todos ou a maior parte dos moradores se achavam tocados e se queixam...” Segundo a medicina da �poca, explica Souza Miranda, a montagem de fogueiras, com a combust�o de determinadas ervas e madeiras, tinha o poder de purificar o ar e diminuir a dissemina��o das doen�as.

Nesse sentido, em 1808, ap�s uma mort�fera epidemia de doen�a desconhecida abater sobre a cidade de S�o Jo�o del-Rei, a C�mara convocou todos os professores de medicina e cirurgia do munic�pio para que indicassem os meios de combate � peste. “Com base nas indica��es m�dicas, foi publicado um edital determinando que os moradores fizessem fogueiras todas as noites, nas quais deveriam ser queimadas ervas arom�ticas (rosmaninho, manjeric�o-do-campo, pinheiros, coqueiros-da-serra e sassafr�s), al�m de queimar p�lvora em casa, lan�ar vinagre em ferro em brasa, tomar ponches e vinagradas”, descreve.

Gripe a bordo 


A gripe espanhola chegou ao Brasil em 16 de setembro de 1918, com os mais de 200 tripulantes do navio brit�nico Demerara. Vindo de Lisboa, Portugal, a embarca��o fizera uma escala em Dacar, no Senegal, e depois aportara no Rio de Janeiro. A estimativa � de que, no mundo, a doen�a tenha matado entre 20 milh�es e 50 milh�es de pessoas e infectado cerca de 500 milh�es ou um quarto da popula��o.

O que � o coronav�rus?

Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.



Como a COVID-19 � transmitida?

A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

Como se prevenir?

A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.

Quais os sintomas do coronav�rus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas g�stricos
  • Diarreia


Em casos graves, as v�timas apresentam:

  • Pneumonia
  • S�ndrome respirat�ria aguda severa
  • Insufici�ncia renal

Mitos e verdades sobre o v�rus

Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o coronav�rus � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.

Para saber mais sobre o coronav�rus, leia tamb�m:

Especial: Tudo sobre o coronav�rus 

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