postado em 18/04/2020 04:00 / atualizado em 22/04/2020 10:36
Cientistas trabalham na pesquisa
de vacina contra o coronav�rus em laborat�rio em Maryland, nos
Estados Unidos, um dos pa�ses empenhados na busca do imunizante (foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP -2013 20/3/20)
O primeiro-ministro do Canad�, Justin Trudeau, foi enf�tico, na semana passada, ao dizer que as pessoas, em todo o mundo, n�o ter�o vidas normais enquanto n�o for descoberta vacina que imunize contra a COVID-19. Nessa dire��o, foi iniciada corrida internacional para a descoberta cient�fica que ter� importante peso para a humanidade, incluindo a sa�de e equil�brio socioecon�mico.
A pedido do Estado de Minas, foi feito levantamento exclusivo sobre os estudos mais avan�ados em todo o mundo. Com a assessoria da virologista Jordana Coelho dos Reis, pesquisadora do Departamento de Microbiologia da UFMG, chegamos a sete estudos para vacinas em fase de testes em humanos. A produ��o de uma nova vacina passa por etapas: testes in vitro, testes em camundongos e ensaio cl�nico, sua �ltima fase.
A base de dados em que s�o cadastrados os ensaios cl�nicos mais importantes em todo o mundo � hospedada pela Biblioteca de Medicina do Instituto Nacional de Sa�de dos Estados Unidos (National Institute of Health – NIH). Trata-se da plataforma clinicaltrial.org. De acordo com os dados p�blicos dessa plataforma, existem, na atualidade, em todo o mundo, sete vacinas contra a COVID-19 em fase de ensaio cl�nico, ou seja, em que j� est�o sendo realizados testes em seres humanos: na China (tr�s), Estados Unidos, Austr�lia, Reino Unido e uma sem identifica��o da localidade no registro.
“As vacinas que o Brasil est� desenvolvendo ainda n�o chegaram em ensaio cl�nico. Os testes em humanos ocorrem depois que os prot�tipos vacinais em estudo apresentam efic�cia in vitro e em modelo animal, quando est�o prontos para ir para o ser humano”, explica Jordana.
A vacina � a melhor maneira de se proteger e lidar com infec��es respirat�rias, de acordo com o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Est�v�o Urbano. “A principal solu��o para qualquer infec��o viral que tenha poder de causar pandemias � a vacina��o em massa. A popula��o desenvolve anticorpos, inclusive com efeito rebanho, em que as vacinadas protegem as n�o vacinadas”, afirma. Com a vacina��o, destaca o especialista, o sistema imune “aprende” a combater e eliminar o micro-organismo. “O v�rus n�o encontra hospedeiro suscet�vel para ele se multiplicar e perpetuar a infec��o. Ent�o, uma vacina seria muito importante, embora pouco prov�vel a curto prazo”, completa Est�v�o.
Na quarta-feira, o diretor-geral da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que tr�s vacinas contra a COVID-19 est�o em fase de testes cl�nicos. No entanto, na plataforma Clinical Trial, est�o registradas sete. Al�m disso, pelo menos outras 70 est�o sendo estudadas, segundo a entidade.
O estudo mais avan�ado � a partir de uma droga originalmente usada na preven��o ao ebola. A pesquisa � liderada por empresa chinesa com o Instituto de Biotecnologia de Pequim e tem financiamento do Minist�rio de Ci�ncia e Tecnologia do pa�s asi�tico.
As bases das vacinas em teste s�o diferenciadas. Em um dos estudos, a vacina de mRNA � constitu�da por uma fita de �cido nucleico (RNA) que cont�m uma mensagem, ou seja, a informa��o para uma prote�na do coronav�rus Sars-CoV-2, chamada Spike. Um outro tipo de vacina envolve a aplica��o de adenov�rus, um v�rus atenuado que n�o causa doen�a em humano. Uma das vacinas se baseia em um adenov�rus modificado expressando a prote�na Spike, o que se chama de quimera viral (h�brido de dois v�rus). O adenov�rus usado pode ser humano ou de chimpanz�s.
Depois de entrar na fase de ensaios cl�nicos, os estudos podem levar ainda de dois a cinco anos para, enfim, as vacinas estarem dispon�veis. “As vacinas demoram muito para ser desenvolvidas, em espa�o de anos. Para a vacina do ebola, por exemplo, foram cinco anos, o que � um tempo m�dio bom. Foi at� r�pido. Esfor�os mundiais est�o em curso para encurtar o tempo de produ��o da vacina contro o Sars-CoV-2 para um a tr�s anos”, afirma. A necessidade de tempo para realizar a pesquisa cient�fica � fundamental. "As descobertas cient�ficas precisam de muito tempo, muito planejamento e estrat�gia para que as vacinas funcionem da maneira que a gente quer. �s vezes, vai para estudo cl�nico e n�o funciona, apesar de in vitro ter dado muito certo”, explica Jordana.
Apesar de ser chamado de novo coronav�rus, a vacina para o Sars-CoV-2 j� poderia ter sido encaminhada. A pesquisadora lembra que j� havia duas variantes do v�rus circulando, os coronav�rus Sars e o Mers. “O Sars causa a s�ndrome respirat�ria grave. Tivemos um surto na regi�o asi�tica. O Mers tem taxa de letalidade de 40%. Se o Mers se espalhasse, a crise seria mais grave. No entanto, a transmissibilidade n�o se compara ao Sars-CoV-2”, diz Jordana. A pesquisadora afirma que o mundo precisa se preparar para v�rus letais, investindo em pesquisa e desenvolvimento de vacinas e antivirais antes que as pandemias ocorram.
A melhor chance
Al�m da vacina, outra forma de combate ao v�rus s�o os tratamentos antivirais. “O v�rus � um organismo dif�cil de ser tratado com medica��es espec�ficas. A preven��o � sempre mais efetiva. Prote��o pela vacina � muito mais valorosa, quando se pensa em massa populacional”, afirma Est�v�o Urbano.
Fora a vacina, a outra forma de imunizar a popula��o seria que cada indiv�duo se infectasse para criar anticorpos. No entanto, essa op��o � completamente descartada pelos infectologistas como medida de sa�de p�blica em raz�o de a taxa de mortalidade da COVID-19 ser alta. “� inaceit�vel. Pela sele��o natural, algumas pessoas sobreviveriam e outras morreriam. Da� que vem a import�ncia da medida do distanciamento social. Na tentativa de evitar que, na aus�ncia de vacina e de imunidade, as pessoas, ao se infectar, fiquem sem assist�ncia m�dica”, conclui o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia.
Os virologistas recha�am a exposi��o deliberada ao v�rus e refor�am que ainda n�o h� droga que minimize os efeitos da infec��o. “A vacina � a �nica forma que a gente tem de conseguir controlar a pandemia”, diz o virologista Fl�vio Fonseca, pesquisador do CTVacinas, da UFMG. Ele contesta a defesa de que possa ser criada a imunidade de rebanho e a popula��o tenha que ficar exposta ao v�rus. “Esse racioc�nio n�o se encaixa. Imagina 1% da popula��o brasileira morrer, considerando que somos 200 mi- lh�es. Ent�o, 1% equivaleria a 2 milh�es de pessoas", diz.
Mesmo que se encontre um medicamento para tratamento, o f�rmaco n�o impede que a pessoa repasse a doen�a. “Os medicamentos n�o impedem o tamanho da epidemia s� mitigam os efeitos causados na pessoa doente. A vacina � a �nica solu��o para o controle da pandemia”, argumenta.
"A principal solu��o para qualquer infec��o viral que tenha poder de causar pandemias � a vacina��o em massa"
Est�v�o Urbano,
presidente da Sociedade Mineira de Infectologia
"Esfor�os mundiais est�o em curso para encurtar o tempo de produ��o da vacina contra o Sars-CoV-2 para um a tr�s anos”
Jordana Coelho dos Reis,
virologista e pesquisadora do Departamento de Microbiologia da UFMG
"Os medicamentos n�o impedem o tamanho da epidemia, s� mitigam os efeitos causados na pessoa doente. A vacina � a �nica solu��o para o controle da pandemia"
Fl�vio Fonseca,
virologista e pesquisador do CTVacinas, da UFMG
O que � o coronav�rus?
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
Como se prevenir?
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Quais os sintomas do coronav�rus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19: