Na estrada com a COVID-19: tr�fego de cargas cai e caminhoneiros sofrem
ANTT aponta redu��o de 32% no transporte de produtos por rodovias em Minas. Motoristas enfrentam dificuldades at� para se alimentar no 'deserto rodovi�rio'
postado em 27/04/2020 06:00 / atualizado em 27/04/2020 08:17
Caminh�o trafega na BR-262 vazia: dificuldade de encontrar servi�os na beira da estrada tornou as viagens mais penosas
(foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
As vias por onde passam a produ��o agr�cola do interior e as remessas industriais dos grandes centros se esvaziaram. Com�rcios fechados e estoques altos fazem caminhoneiros parar. Os que se arriscam passam at� uma semana esperando por fretes. Enfrentam rodovias sem postos, mec�nicas, restaurantes ou borracharias, uma vez que s� o tr�nsito de bens essenciais n�o mant�m a viabilidade desses neg�cios de beira de estrada. Um ter�o das cargas normalmente escoadas pelas principais rodovias que cortam Minas deixou de ser transportada desde o in�cio das medidas de quarentena contra a dissemina��o da COVID-19. � o que mostram apura��es nas rodovias e os dados da Ag�ncia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) obtidos com exclusividade pelo Estado de Minas. De acordo com o levantamento, “a movimenta��o di�ria m�dia de cargas caiu substancialmente, em 32%” desde o isolamento, em medi��o de 23 de mar�o a 10 de abril.
O levantamento inclui as rodovias concedidas BR-262 (BH-Tri�ngulo), BR-040 (BH-Bras�lia) e BR-040 (BH-Rio de Janeiro e Rio de Janeiro-BH), mas n�o computou a mais movimentada, a BR-381 (BH-S�o Paulo), pois o posto foi fechado justamente devido � COVID-19.
O movimento m�dio total de ve�culos pesados, como caminh�es e �nibus, caiu de 35.933,50 para 16.853,75 (-46,9%) em mar�o, levando-se em conta dados de antes dos isolamentos sistem�ticos, at� o dia 19, e ap�s o in�cio dessas pol�ticas, do dia 20 em diante. O movimento di�rio m�dio, que era de 1.904,50 ve�culos pesados, caiu para 1.404,75 (-26,25%) no total.
Preju�zo
Clique para ampliar (foto: Arte EM)
Nas rodovias BR-262 e BR-381, a reportagem do EM ouviu dos caminhoneiros descri��es de muitas dificuldades. O carreteiro paranaense Edson Vieira, de 24 anos, transporta latic�nios de Ponta Grossa (PR) para a Grande BH e tem sentido uma redu��o cont�nua da oferta de servi�os e tamb�m da disponibilidade de cargas. “Puxamos leite, iogurte. � coisa que deveria sair todos os dias, voc� precisa comprar para o seu filho comer. Agora, estamos em quatro ou cinco caminh�es e s� liberam uma carga por dia. Assim, acaba que um fica para tr�s, esperando outra carga ser liberada. Estou esperando desde segunda-feira (quatro dias) e s� deve ser liberada para mim uma carga hoje (quinta-feira), mas at� que carregue e possa levar, talvez s� saia amanh� (sexta-feira). J� fiquei uma semana em Igaratinga, depois de Par� de Minas (Centro-Oeste de Minas), esperando cargas que n�o foram liberadas”, reclama.
A dificuldade de encontrar restaurantes, bares e lanchonetes, obriga os viajantes a levar a pr�pria comida, mas muitas vezes os compartimentos onde carregam seus alimentos, as chamadas caixas de boia, n�o podem ser abertas dentro dos locais de carregamento. “Muitas empresas n�o deixam abrir a caixa de boia. Ent�o, pela seguran�a da carga, voc� acaba tendo de pousar no interior da empresa. No outro dia cedo, voc� tem de tomar um caf�, mas geralmente n�o tem um lugar perto da empresa. Demoram para descarregar, voc� encosta na doca e ficam enrolando, �s vezes � problema da estocagem e quem sofre � o motorista”, desabafa Vieira.
Em parada tradicional de Juatuba, os alimentos s�o vendidos pela janela do estabelecimento, que sente efeitos da queda do movimento (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
Na BR-262, em Juatuba, um dos pontos de parada tradicionais para caminhoneiros de todo o Brasil, que at� pernoitam em seus ve�culos, a lanchonete e posto de abastecimento Ju� atravessa dificuldades. O estabelecimento fechou sua parte interna � entrada de clientes e s� entrega as refei��es, refrescos, salgados e petiscos pelas janelas. Todos os funcion�rios utilizam m�scaras e h� �lcool em gel em abund�ncia, mas a freguesia j� n�o � mais a mesma. De acordo com o subgerente do estabelecimento, Edimar Rosa Gomes, n�o ser� poss�vel manter os empregos dos 60 funcion�rios que atualmente trabalham na empresa.
“Perdemos 70% do nosso movimento. N�o d� para manter o quadro de funcion�rios numa situa��o dessas. H� 30 dias come�amos a atender as pessoas s� do lado de fora. Muitos reclamaram. Queriam usar os banheiros de dentro. A� quebramos a parede externa e abrimos um acesso. Estamos tentando de tudo, mas a situa��o est� desesperadora”, lamenta. No posto de abastecimento e servi�os, o fato de ser um dos poucos que ainda est� aberto acabou por aglutinar os caminhoneiros e viajantes que ainda encontram �nimo para circular. “No posto, o movimento ainda est� menos fraco. Tem dias bons, dias ruins. Vamos ver at� onde conseguimos seguir abertos. Temos de ter esperan�a, mas est� dif�cil essa situa��o”, afirma.
Sem servi�os no deserto rodovi�rio
Carlos Aparecido e Edson Vieira apontam dificuldades para comer e inseguran�a para solu��o de eventuais problemas com os ve�culos
(foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
Os 700 quil�metros de estradas entre Belo Horizonte e Arapor�, munic�pio do Tri�ngulo Mineiro na divisa com Goi�s, se tornaram uma aventura incerta. Devido aos efeitos do isolamento e dos fechamentos de com�rcios, viajantes praticamente n�o encontram infraestrutura de apoio ao longo das rodovias, deixando sua seguran�a muitas vezes na m�o da sorte. Na semana passada, a carreta bitrem carregada de etanol conduzida pelo caminhoneiro Davison dos Santos, de 36 anos, teve um dos seus pneus esvaziado e precisava de reparos para seguir viagem. “Como n�o encontrava nada aberto, precisei rodar 120 quil�metros at� achar um borracheiro em Nova Serrana (Centro-Oeste de Minas). E ele j� tinha fechado, precisamos tirar o cara de dentro de casa para conseguir o reparo para seguir viagem. A inseguran�a tem sido total. Desse jeito n�o est� valendo a pena rodar. Melhor ficar em casa”, desabafa o condutor de BH.
As rodovias desertas dentro do territ�rio mineiro ampliaram os desafios j� consider�veis dos caminhoneiros que transportam mercadorias e abastecem o estado. Com as medidas de afastamento social por causa da dissemina��o do novo coronav�rus (Sars-Cov-2), quanto mais distante dos centros urbanos, menos servi�os abertos nas beiras de estradas. Segundo caminhoneiros encontrados pelas BRs 262 e 381 pela reportagem do EM, isso ocorre porque, nesses locais, os comerciantes ainda podem contar com o movimento urbano e n�o apenas com o da rodovia.
“A gente se preocupa com as coisas que podem acontecer. Mangueiras estragam, pneu pode furar. Sempre tem alguma coisa para fazer. O caminh�o � uma m�quina. A gente sempre tem uma coisa ou outra para quebrar o galho, mas n�o pode contar com isso. Precisamos de mec�nica, de borracharia e de ter a seguran�a de que v�o estar funcionando”, disse o carreteiro Carlos Aparecido Pinheiro, de 50, de Ponta Grossa (PR). Ele descarregou na quarta-feira sua carga de iogurtes em Sabar�, na Grande BH, e aguardava por um novo frete para o retorno.
Mais caro
Mesmo onde ainda h� servi�os sendo oferecidos, como a entrega de marmitas pelas janelas, os pre�os chegam a ser exorbitantes. “Em vez de nos ajudar, muitos comerciantes est�o querendo lucrar explorando os caminhoneiros. Onde j� se viu? Tem lugar que voc� compra dois marmitex e dois refrigerantes por R$ 50. Assim n�o compensa mesmo rodar. Quase n�o tem carga. Os custos aumentaram e a incerteza tamb�m”, reclama o caminhoneiro Marcos de Castro Zandora, de 40, que transportava etanol de Belo Horizonte para Frutal, no Tri�ngulo.
Ao longo das rodovias BR-381 e BR-262, a reportagem encontrou tamb�m restaurantes onde n�o havia exig�ncia de m�scaras, controle de lota��o e espa�amento entre clientes para reduzir as chances de cont�gio da COVID-19. Em contraste, na pequena barraquinha de madeira e lona do senhor Ant�nio M�rcio Santiago, de 67, o �lcool em gel � ofertado a todos que param, um alento no trecho de Mateus Leme da BR-262. “A gente chegou a parar. Mas temos fam�lia, filhos para criar. Foi s� reabrir que os caminhoneiros voltaram. Est� uma bagun�a para eles na rodovia afora. Por isso, como sabem que estamos abertos, v�m aqui comprar os produtos da ro�a, comer mingau de milho verde, frango caipira”, conta.
O que � o coronav�rus?
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
Como se prevenir?
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Quais os sintomas do coronav�rus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19: