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Estado de Minas COVID-19

'Sinto mais medo fora do hospital', diz m�dica mineira que trabalha em S�o Paulo

Thaisa Belligoli conta como � a rotina na cidade que tem o maior n�mero de mortes pelo novo coronav�rus no Brasil


postado em 18/05/2020 04:00 / atualizado em 18/05/2020 08:03

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)


A m�dica Thaisa Belligoli Senra Freire tem 34 anos. Cinco anos ap�s concluir a resid�ncia, foi surpreendida com o cen�rio da pandemia da COVID-19, que contaminou mais de 241 mil pessoas e matou 16 mil no Brasil desde fevereiro. “Nunca imaginei algo assim”, comentou � reportagem do Estado de Minas. 

A mineira de Belo Horizonte trabalha em tr�s hospitais de S�o Paulo como anestesiologista. Foi a capital paulista que registrou o primeiro caso de coronav�rus no Brasil, ainda em fevereiro. De l� para c�, em todo o estado j� s�o mais de 62 mil casos confirmados e 4.782 mortes, segundo dados do governo. � o epicentro da doen�a no pa�s. Com uma rotina de trabalho intensa, a m�dica conseguiu responder ao contato da reportagem no dia seguinte. Foi quando enviou um relato, do ponto de vista pessoal, do que tem visto no dia a dia de atendimento aos pacientes e nas ruas da metr�pole onde mora. 

H� medo, perdas, momentos de alegria e muita vontade de ajudar. Thaisa tamb�m d� um recado a toda a popula��o: “Se cuidem e cuidem dos outros”. 

Leia a seguir o depoimento da m�dica mineira


"Trabalho nos hospitais Infantil Sabar�, 9 de Julho e Israelita Albert Einstein, onde passei a atuar tamb�m nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), devido � elevada taxa de infec��o pela COVID-19 e consequente aumento de leitos na UTI, com quadro de intensivistas menor que o necess�rio para assist�ncia aos pacientes dessa inesperada pandemia. Por essas raz�es e pela nossa experi�ncia com pacientes cr�ticos em situa��es de urg�ncia e emerg�ncia, manejo das vias a�reas e da ventila��o mec�nica – pr�prias dos anestesiologistas –, fomos convidados pelos diretores a ajudar no tratamento.

Fiquei muito temerosa, n�o s� pela possibilidade da minha pr�pria contamina��o, mas, principalmente, pelo aumento do risco que levaria para meu lar, onde tenho esposo, uma filha de 2 anos e um filho de sete meses. Por outro lado, n�o conseguiria cruzar os bra�os diante da situa��o que estamos vivendo e pelo juramento que fiz ao receber o t�tulo de m�dica. Aceitei o desafio.”

Medo e miss�o

“Confesso que inicialmente pensei em desistir. Senti medo, ang�stia e me perguntei v�rias vezes se minha decis�o foi coerente, aumentando os meus riscos e, consequentemente, os riscos para minha fam�lia. Perguntava-me: 'E se eu morrer? E se eu os contaminar e eles morrerem?'. Nesse mesmo dia, um paciente olhando para mim disse: 'Voc� � essencial aqui n�o s� pela profiss�o, mas pela sua pessoa. Consigo ver seu lado humano'. Adquiri for�a. Vi que podia fazer diferen�a cuidando das pessoas que demandavam assist�ncia � sa�de t�o comprometida naquele momento.”

Perdas e vit�rias

“Era grande o n�mero de infectados graves, jovens doentes, impossibilitados de ir ao banheiro sem oxig�nio, exames investigat�rios alterados, pacientes sufocados, isolados no leito, lutando para respirar, longe da fam�lia, com medo de morrer e n�o ver mais seus entes queridos. Perguntavam-me se sobreviveriam, se voltariam � normalidade ou ficariam com alguma sequela, ainda que emocional. Tudo isso me estimulava ainda mais a tentar ajud�-los.
Presenciei jovens sem comorbidades (outras doen�as) serem entubados e evolu�rem a �bito, como tamb�m idosos evolu�rem bem e voltarem para suas casas. Tivemos um colega de trabalho entubado com toda a equipe comovida e chorosa. Assisti um funcion�rio de idade recebendo alta ap�s beirar a morte. Todos devemos nos cuidar.”

Rotina pesada

“Atualmente, como o movimento no centro cir�rgico diminuiu bastante, minha rotina basicamente � com a assist�ncia aos pacientes infectados, tanto nos cuidados na UTI quanto no transporte para tomografia dos pacientes entubados devido � COVID-19. Al�m disso, fa�o parte do time de entuba��o, de forma que somos acionados por todos os setores do hospital para entubar pacientes com a doen�a. Tamb�m continuo fazendo anestesia nos pacientes que s�o submetidos a cirurgias de urg�ncia.”

Deixei de passar v�rios momentos com minha fam�lia enquanto estava estudando em busca de novos conhecimentos relativos � COVID-19, fazendo reuni�es on-line com a equipe para discutir as melhores condutas. Mas a recompensa de ver uma alta hospitalar � grande, pela medicina e pela postura profissional.”

Cuidados e receio

“Trabalho com todo EPI (Equipamento de Prote��o Individual) necess�rio, n�o nos falta nada nos hospitais onde atuo. Continuo temerosa, mas sinto mais medo fora do hospital. Sei com quem estou convivendo e o tempo todo estou concentrada nos cuidados para n�o ser contaminada. J� na rua, no supermercado, na padaria, n�o tenho a mesma seguran�a, considerando que a chance de me infectar pode ser maior.

Por fim, se cuidem e cuidem dos outros. Fiquem em casa todos que n�o forem essenciais ao trabalho neste momento de infec��o t�o contagiosa e grave.”


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