postado em 18/05/2020 04:00 / atualizado em 18/05/2020 07:38
Ado��o do isolamento com rapidez em mar�o e o fechamento do com�rcio ajudaram na evolu��o mais controlado da doen�a na capital mineira, segundo estudo da Fiocruz (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press %u2013 20/3/20)
Fileiras de caix�es esperam enterros simult�neos. Necrot�rios abarrotados aguardam a libera��o de v�timas, enquanto outras mais chegam com suas fam�lias desesperadas. Um reflexo da escalada de 96 mortos pela COVID-19 em Belo Horizonte. As unidades de sa�de abarrotadas obrigam profissionais a trabalhar � exaust�o para atender 1.973 doentes, muitos sem leitos ou entubados, dividindo ventiladores mec�nicos. Outros, � espera de que algu�m se cure ou morra para com essa m�quina voltar a respirar. Esse quadro catastr�fico seria a realidade da capital mineira, caso as medidas de isolamento n�o tivessem sido tomadas e a cidade mantivesse um ritmo de mortes e infectados pelo novo coronav�rus (Sars-Cov-2) igual ao do Brasil.
Sem as a��es da quarentena, quando considerada a velocidade que tomaram os n�meros da doen�a respirat�ria no Brasil e em BH at� 28 de mar�o, em vez de 23 mortos at� aquele momento a capital teria, ao ritmo no qual os n�meros da doen�a crescem no pa�s, 317% a mais de �bitos, ou seja, 96. O balan�o de ontem da Secretaria de Estado de Sa�de de Minas Gerais traz 31 mortes verificadas na cidade desde o in�cio da pandemia. Se os n�meros municipais tivessem crescido na mesma propor��o dos nacionais, teria havido agora 209% de �bitos a mais.
Os dados foram avaliados com as respectivas estimativas pela Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz), baseados no chamado fator de crescimento da epidemia. Ainda na compara��o dos n�meros de pessoas contaminadas pelo novo coronav�rus verificados at� 28 de mar�o, o estudo mostra que o universo de 487 pessoas doentes no per�odo teria pulado 305% (para 1.973). Tomando -se como refer�ncia o �ltimo dia 15 de maio, esse n�mero teria chegado a 1.088 infectados, aumento de 81%.
Estudo da Fiocruz comparando a progress�o da doen�a pelo pa�s ajuda na defini��o de medidas contra o v�rus (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
O estudo da Fiocruz mostra, portanto, que pelo menos 73 pessoas foram poupadas da morte em BH pelo avan�o do novo coronav�rus at� 28 de mar�o, uma vez que a capital n�o apresentou uma progress�o de casos como a m�dia nacional. Autora do estudo a Funda��o Oswaldo Cruz explica que o fator de crescimento da doen�a � um m�todo que permite comparar os dados do Brasil e dos estados tamb�m com o cen�rio de outros pa�ses, analisando a propaga��o dos casos diariamente.
Esse fator � constru�do considerando-se como o n�mero de casos aumenta ao longo do tempo, informa a funda��o. Para o comparativo levou-se em conta o fator de progress�o ap�s os diagn�sticos de dentro do per�odo de isolamento, que no Brasil, por exemplo, seria no dia 28 de mar�o, e na China, em 29 de fevereiro. Utilizando-se essa metodologia comparativa, a no��o clara que se tem � a de que tanto BH quanto Minas Gerais vivem uma realidade de controle da COVID-19 melhor do que outros estados, capitais e pa�ses.
O destaque � a capital mineira, que se tivesse um ritmo de propaga��o do novo coronav�rus semelhante ao de Minas, estaria com 360% a mais �bitos, registrando 106 v�timas em vez de 23 no per�odo analisado. Ante as capitais mais supercontaminadas, a diferen�a mostra a situa��o alarmante que essas comunidades vivem. Se a infec��o afetasse a BH como em Manaus, seriam 521 mortos (alta de 2.165%) e 477 v�timas (aumento de 1.973%) se acompanhasse a evolu��o de Fortaleza. Ao se comparar a situa��o de BH diante da progress�o da doen�a na China no per�odo semelhante de epidemia, os mortos poderiam chegar a 1.038, n�mero 4.443% maior.
Modelagens como essa s�o importantes para auxiliar no planejamento de estrat�gias de combate � dissemina��o do v�rus e para avaliar o trabalho que vem sendo feito, segundo o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estev�o Urbano Silva. “Modelos sofrem com muitas vari�veis. Por exemplo, h� quem diga que a curva de Minas j� passou e outros que nem est� perto. A grande vantagem � antecipar um problema”, afirma.
Investiga��o
A compara��o de realidades, no entanto, seria mais complexa. “A investiga��o das causas � que nos trazem um bom modelo de combate. Sabemos que BH est� melhor que S�o Lu�s e que S�o Paulo, mas o que levou um local a ficar pior ou melhor? Por exemplo, BH teve um timming mais adequado de distanciamento, mas ser� que foi s� isso que justificou? Precisamos identificar quais os outros fatores”, diz Estev�o Urbano Silva.
Ainda que com mortes mais aceleradas que BH, Minas Gerais tem uma realidade extremamente confort�vel se comparada � de outras unidades da federa��o, como mostra o estudo da Funda��o Oswaldo Cruz. Os 97 mortos dentro do per�odo comparado at� o fim de mar�o poderiam ter se elevado a 133 (+37%) se a doen�a se propagasse como no Rio de Janeiro, a 135 ( 39%) se o comparativo fosse com S�o Paulo, e a 153 ( 57%) no ritmo nacional. A quantidade de doentes poderia ser ainda mais elevada em Minas se o cont�gio fosse semelhante ao ritmo no Brasil, pois seriam 1.755 infectados, uma alta de 98,5% se comparada aos 884 doentes contabilizados no per�odo.
Estrutura e rigor na luta contra o v�rus
Para o subsecret�rio municipal de Promo��o e Vigil�ncia � Sa�de de BH, Fabiano Pimenta, o somat�rio de a��es e caracter�sticas f�sicas, populacionais e de gest�o permitiram a BH um controle maior da infec��o. “Normalmente, doen�as de transmiss�o respirat�ria acabam muito ligadas � densidade populacional. Mas h� munic�pios como Fortaleza, que tem densidade maior que BH, de 8.300 habitantes por quil�metro quadrado (km2), para 7.500 por km2. J� o Rio de Janeiro tem uma densidade um pouco menor, de 5.600 habitantes por km2. Por outro lado, somos a terceira regi�o metropolitana do pa�s. Isso � um par�metro que mostra que as medidas tomadas aqui t�m alguma influ�ncia at� o presente momento. Temos munic�pios com proximidade demogr�fica, mas estamos numa situa��o menos grave”, afirma.
A precariedade de munic�pios onde h� uma extrema contamina��o tamb�m � um fator que pode ajudar a explicar os n�meros melhores de BH no enfrentamento da epidemia, segundo Pimenta. “Na situa��o de Manaus, por exemplo, entra a quest�o de categorias econ�micas, tipos de habita��o, disponibilidade de �gua para a lavagem das m�os, mas tudo precisaria de um estudo aprofundado para determinar exatamente o que influi mais. BH tem uma cobertura de abastecimento de �gua abrangente e isso corre aliado a medidas preventivas. N�o adianta ter consci�ncia do que fazer e n�o tem condi��o de aplicar”, disse.
O subsecret�rio elenca as medidas e condi��es que considera terem conferido a BH um maior controle sobre a infec��o. “Come�ou com a orienta��o da etiqueta da tosse, de se evitar aglomera��es, lavar as m�os. Uma op��o clara da prefeitura e do prefeito pela preserva��o da vida com a suspens�o dos alvar�s de com�rcios n�o essenciais. A obrigatoriedade das m�scaras, tudo antes de se ter um crescimento exponencial de casos”, cita.
Pimenta destaca tamb�m a abrang�ncia da rede assistencial de BH, do SUS e o sucesso da campanha de vacina��o contra a gripe. “BH est� com cobertura excepcional e isso auxilia o profissional m�dico no diagn�stico preferencial da COVID-19, pois os sintomas da gripe s�o muito parecidos. A primeira fase foi a das pessoas de maior risco com 100% de ades�o, sem a aglomera��o de pessoas pela capilaridade da rede de sa�de e as parcerias com farm�cias e outros postos extras para evitar contato com pessoas sintom�ticas nas unidades de sa�de”. (MP)
Posi��o longe de ser 'confort�vel'
No in�cio de maio, o secret�rio estadual de Sa�de de Minas Gerais, Carlos Eduardo Amaral, declarou que o n�vel de cont�gio pelo novo coronav�rus no estado seria semelhante ao da Coreia do Sul. Contudo, levando-se em conta os mesmos per�odos de propaga��o, se Minas tivesse uma prolifera��o como o pa�s asi�tico, registraria 80 mortes em vez de 97, n�mero 18% inferior, nas estimativas da Funda��o Oswaldo Cruz. N�o se trata de nehnhuma posi��o confort�vel. A progress�o de Belo Horizonte se assemelha mais a um patamar pr�ximo da Nova Zel�ndia, e, se assim fosse, teria registrado 21 v�timas no per�odo, em vez de 23 (-9%).
Se o Brasil tivesse uma progress�o semelhante � da Argentina, que � o segundo maior pa�s da Am�rica do Sul, o n�mero de mortos no per�odo seria 10% menor, contabilizando 2971 em vez de 3.313. Por outro lado, se Minas Gerais e BH tivessem o mesmo ritmo dos vizinhos do Mercosul, os �ndices de letalidade seriam piores, com MG chegando a 112 ( 15%) e BH a 69 ( 200%). (MP)
OS CEN�RIOS
Como subiriam as mortes por COVID-19 na capital mineira, se ocorresse na cidade o mesmo ritmo da velocidade da doen�a no Brasil e em outros estados*
» 96 ao ritmo de crescimento no Brasil
» 521 na velocidade de crescimento de Manaus
» 477 na evolu��o dos �bitos em Fortaleza
» 106 na propor��o em que t�m crescido os �bitos em Minas
N�mero atual de mortes em BH ** 31
Casos confirmados de contamina��o em BH** 1.129
Fonte: (*) Funda��o Oswaldo Cruz
(**) Secretaria de Estado de Sa�de de Minas Gerais
PONTOS A FAVOR
O que contribuiu para os n�meros melhores de BH, segundo os infectologistas
» Ado��o r�pida do isolamento social
» Densidade populacional menor que as de outras capitais, medida na raz�o de habitantes por quil�metro quadrado
» Cobertura abrangente sistema de �gua
» Medidas de isolamento social adotadas
» Precariedade de alguns servi�os em outras capitais, o que favoreceu BH na compara��o