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Estado de Minas CASO BACKER

Caso Backer: saiba como a pol�cia detectou causa de contamina��o de cerveja

Inqu�rito apontou vazamentos de subst�ncia ligada � morte de sete consumidores de refrigerador para tanque de bebida. Onze pessoas foram indiciadas


postado em 10/06/2020 06:00 / atualizado em 10/06/2020 07:45

Os delegados Flávio Grossi e Wagner Pinto apresentaram os resultados junto com o médico-legista Thales Bittencourt. MP tem 15 dias para dizer se vai oferecer denúncia (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D. A Press)
Os delegados Fl�vio Grossi e Wagner Pinto apresentaram os resultados junto com o m�dico-legista Thales Bittencourt. MP tem 15 dias para dizer se vai oferecer den�ncia (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D. A Press)


A Pol�cia Civil de Minas Gerais indiciou 11 pessoas por les�o corporal, homic�dio e intoxica��o no caso de contamina��o de cervejas da marca mineira Backer. A corpora��o constatou que um vazamento em um tanque provocou a contamina��o das cervejas por mono e dietilenoglicol, subst�ncias t�xicas usadas no resfriamento do produto, contrariando as instru��es do pr�prio fabricante do equipamento. A ingest�o do l�quido de apenas uma garrafa da Belorizontina, a marca que deu in�cio � investiga��o, contendo dietilenoglicol, seria suficiente para matar uma pessoa. Mas como a cerveja foi contaminada? � autorizado o uso de subst�ncias t�xicas para a refrigera��o da bebida? Por que a maior parte dos casos foi no Buritis? Detalhes da investiga��o, conduzida pela 4ª Delegacia de Pol�cia Civil do Barreiro, tendo � frente o delegado Fl�vio Rossi e o superintendente de pol�cia t�cnico-cient�fica, m�dico-legista Thales Bittencourt, foram passados em coletiva de imprensa ontem. O inqu�rito foi encaminhado ao Tribunal de Justi�a, mas ainda n�o havia sido recebido ontem pelo Minist�rio P�blico, a quem caber� decidir se den�ncia ser� ou n�o oferecida � Justi�a. O prazo � de 15 dias.
 
Os primeiros casos de uma s�ndrome nefroneural, inicialmente tratada como "doen�a misteriosa do Buritis", vieram a p�blico por meio de grupos de WhatsApp ainda no in�cio de janeiro, pouco depois das festas de Natal e r�veillon, quando � grande o consumo de cervejas. Investiga��es sanit�ria e policial foram abertas. Em 13 de janeiro, a Pol�cia Civil informou ter identificado as subst�ncias t�xicas monoetilenoglicol e dietilenoglicol na linha de produ��o da cervejaria, em Nova Lima, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. Os laudos tamb�m acusaram os dois agentes qu�micos em garrafas de cerveja recolhidas na f�brica e em casas de pacientes com sintomas da intoxica��o. O consumo foi ligado � s�ndrome nefroneural – conjunto de sintomas nefro e neurol�gicos – manifestada por pessoas que consumiram a cerveja.
 
Ao longo dos cinco meses de investiga��es, o n�mero de v�timas registradas no inqu�rito chegou a 42, mas 13 foram retiradas da lista – tr�s por se recusarem a fazer exames e 10 por fatores m�dicos ou de inconsist�ncia na apura��o para lig�-las ao caso –, explicou ontem, j� no in�cio da entrevista, o delegado Fl�vio Grossi. Assim, a Pol�cia Civil trabalha com 29 v�timas, sete das quais morreram. Al�m disso, ainda h� den�ncias envolvendo 30 supostas v�timas em an�lise: "Essas pessoas n�o ser�o abandonadas", afirmou.

O que aconteceu


Sabotagem, erro de procedimento na f�brica ou contamina��o dolosa eram as tr�s linhas sobre as quais a pol�cia se debru�ava para desvendar o motivo da presen�a de subst�ncias t�xicas em lotes das cervejas da empresa mineira. “No in�cio das investiga��es, como n�o podemos fechar hip�teses, havia at� a possibilidade de contamina��o dolosa, para o aumento da produ��o, por exemplo, como tamb�m a de sabotagem. Conseguimos concluir que, na verdade, ocorreram crimes culposos (quando o autor n�o tem inten��o nem assume o risco de matar) no que tange � contamina��o”, detalhou o delegado Fl�vio Grossi.
 
O fato � que um vazamento liberou dietilenoglicol nas cervejas produzidas pela Backer. Segundo o delegado Fl�vio Grossi, a corpora��o conseguiu comprovar – f�sica e quimicamente – a exist�ncia de um vazamento no tanque de cerveja. Fl�vio Grossi explicou que a apura��o foi multiprofissional, envolvendo qu�micos, engenheiros e peritos. Primeiro, foi preciso entender como a cerveja � feita. “O malte � levado para um processo que produz o mosto (cerveja antes da fermenta��o). O mosto � resfriado e levado por tubula��es ao tanque de fermenta��o. O tanque � resfriado com l�quido anticongelante e o produto, posteriormente, embalado para consumo. Deve-se resfriar os tanques de forma que n�o haja vazamento: � uma grande geladeira chamada de chiller”, detalhou.
O vazamento que contaminou as cervejas foi identificado justamente no chiller. Segundo Fl�vio Grossi, houve falha na solda do tanque, adquirido pela empresa no fim do ano passado. “O l�quido (t�xico) jorrava e se misturava com a cerveja”, informou. As investiga��es determinaram que o vazamento come�ou em setembro de 2019, quando foi adquirido o tanque JB10. Entretanto, o delegado disse tamb�m que foram encontrados outros pontos de vazamento na mesma adega.

O uso de subst�ncias t�xicas


Ainda segundo o delegado, n�o � poss�vel responsabilizar os propriet�rios da cervejaria pela falha na solda do tanque, mas o ponto � o uso do dietileno ou monoetilenoglicol na produ��o. Fl�vio Grossi afirma que foram identificadas duas modalidades da culpa: neglig�ncia e imper�cia. “Esse vazamento ocorreu porque havia um furo no tanque no alinhamento da solda. A quest�o a se destacar n�o � a ocorr�ncia do vazamento, mas o uso de uma subst�ncia t�xica (em linha de produ��o) destinada � alimenta��o. Ela n�o poderia ocorrer”, enfatiza.
 
E mais: o pr�prio manual do fabricante deixa isso claro e, segundo o delegado, bastaria uma simples leitura dele para saber que aqueles equipamentos devem funcionar apenas com anticongelantes n�o t�xicos, como o �lcool. "O tanque exigia consumo de subst�ncia n�o t�xica e a usada era t�xica. O chiller indicava tamb�m uso de subst�ncia n�o t�xica. Essas subst�ncias (n�o t�xicas) poderiam circular e, mesmo vazando, n�o haveria efeito danoso �s v�timas. (...) Se os manuais dos fabricantes fossem seguidos, n�o estar�amos aqui. No m�ximo, ocorreria diferen�a de sabor ou aumento de teor alco�lico", disse Grossi.

Entrada do t�xico


A investiga��o tamb�m responde a outra pergunta que vem sendo feita desde que a contamina��o veio � tona. Como o dietilenoglicol, que a empresa afirma n�o usar, embora sempre tenha admitido a utiliza��o do tamb�m t�xico monoetilenoglicol, foi parar na produ��o? Exames necropsiais constataram a presen�a da subst�ncia no corpo de pessoas que perderam a vida depois de consumir a Belorizontina e tiveram s�ndrome nefroneural. "Em todas, tamb�m foi constatada a presen�a do t�xico dietilenoglicol. Cem por cento de produtividade nas necropsias", afirmou o superintendente de pol�cia t�cnico-cient�fica, Thales Bittencourt.


 
Durante as apura��es, detalhou a pol�cia, foi encontrado um tambor na �rea de descarte, no qual se lia “mono”, de 2018. No entanto, dentro dele havia dietilenoglicol. Foram analisados 10 tambores na f�brica da Backer, sendo que havia nove com mono e um com dietilenoglicol. "De fato, a cervejaria sempre comprou monoetilenoglicol. Isso � constatado em v�rias etapas da cadeia de compra. Ela n�o comprou voluntariamente o dietilenoglicol”, disse Fl�vio, antes de explicar a proced�ncia da outra subst�ncia.
 
Segundo ele, o dietilenoglicol foi rastreado em an�lise de notas fiscais emitidas por uma empresa do interior de S�o Paulo, que comprava as duas subst�ncias de grandes fornecedores em volumes maiores e as revendia para uma fornecedora menor, que fica em Contagem, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. Em um momento espec�fico, investigadores encontraram uma inconsist�ncia: “Em agosto, a empresa comprou 5.600 quilos de monoetilenoglicol e 5.600kg de dietilenoglicol. A gente acredita que no dia 27 ela realiza uma mistura e, no dia 29, fornece para a qu�mica de Contagem, que posteriormente fornece para a cervejaria. No dia 9, o tanque em investiga��o entra em opera��o", disse o delegado. A substitui��o do l�quido, por parte da fornecedora, ser� alvo de uma segunda investiga��o, mas, segundo o delegado Fl�vio Grossi, ela n�o interfere na conclus�o do atual inqu�rito, j� que nem mono nem dietilenoglicol deveriam estar presentes no tanque.

Por que no Buritis


Durante a apresenta��o do resultado do inqu�rito, a Pol�cia Civil explicou ainda o motivo de um ter�o das v�timas de intoxica��o ligada � ingest�o de dietilenoglicol, 10 no total,  terem sido identificadas no Bairro Buritis, Regi�o Oeste de Belo Horizonte. Ele explicou que, em geral, as grandes redes de supermercados compram as cervejas e as remetem aos centros de distribui��o, mas um estabelecimento no Buritis recebeu uma entrega direta. “Na black friday, a rede fez uma compra na cervejaria e ela entregou para um supermercado da rede no Buritis”, explicou.

Os indiciados


A Pol�cia Civil n�o divulgou os nomes dos indiciados. Isso porque, segundo a assessoria de imprensa da corpora��o, configura abuso de autoridade. De acordo com a Lei 13.869, de 5 de setembro de 2019, autoridades n�o devem constranger o detento “e exibir seu corpo a curiosidade p�blica" ou divulgar imagem ou nome de algu�m apontando-o como culpado. Entretanto, a pol�cia informou tratar-se de uma testemunha que mentiu; o chefe da manuten��o, por omiss�o; seis respons�veis t�cnicos, por homic�dio culposo, les�o corporal culposa e por agirem com culpa na contamina��o; e, por fim, tr�s gestores da Backer indiciados por atos na p�s-produ��o. Tr�s s�cios foram autuados no artigo 64 do C�digo de Defesa do Consumidor, por n�o realizar recall em produto que poderia apresentar risco ao consumo, e tamb�m pelo artigo 172, que trata de contamina��o de produto aliment�cio, por manter as cervejas em estoque.

O outro lado


Por meio de nota, a assessoria da cervejaria mineira disse que “reafirma que vai honrar com todas as suas responsabilidades junto � Justi�a, �s v�timas e aos consumidores”. Sobre o inqu�rito policial, a Backer informou que “t�o logo os advogados analisem o relat�rio, a empresa se posicionar� publicamente”. (Colaborou Cristiane Silva)


Cronologia da investiga��o



Confira o passo a passo da apura��o policial do Caso Backer

» 5 de janeiro
Investiga��es do caso Backer t�m in�cio na 4ª Delegacia de Pol�cia Civil do Barreiro, ap�s a circula��o de mensagens em redes sociais sobre a interna��o, em hospitais da capital, de pessoas que teriam consumido a Belorizontina.

» 6 de janeiro
Amostras da cerveja Belorizontina s�o encaminhadas ao Instituto de Criminal�stica.

» 7 de janeiro
Morre Paschoal Demartini Filho, de 55 anos, que havia sido internado com s�ndrome nefroneural ap�s consumir a Belorizontina. Foi o primeiro de sete �bitos registrados no decorrer do inqu�rito.

» 8 de janeiro
Resultados das an�lises das amostras indicam a presen�a de dietilenoglicol na bebida.

» 9 de janeiro
� institu�da uma for�a-tarefa composta pela Pol�cia Civil de Minas Gerais, pelo Minist�rio P�blico de Minas Gerais, pela e Secretaria Estado de Sa�de e pelo Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento (Mapa) para investigar o caso, que vai v�rias vezes � empresa nos dias seguintes.

» 10 de janeiro
Mapa determina a interdi��o da cervejaria Backer, fabricante da Belorizontina.

» 11 de janeiro
Cervejas recolhidas na Backer e cedidas por parentes das v�timas s�o levadas de avi�o para o Distrito Federal, onde passam por teste de carbonata��o, que verificou n�o terem sido violadas antes de submetidas a exames que detectaram a presen�a de mono e dietilenoglicol no l�quido. O teste deu a certeza de que a contamina��o ocorreu dentro da f�brica.

– Amostras de sangue das v�timas internadas detectam a presen�a de dietilenoglicol e um metab�lito da subst�ncia, o �cido diglic�lico.

» 13 de janeiro
Relat�rio de necropsia constata a intoxica��o de Paschoal Demartini por dietilenoglicol. No decorrer das investiga��es, m�dicos legistas identificaram em necropsias de v�timas altera��es neurol�gicas e renais em exames compat�veis com a intoxica��o pelo dietilenoglicol.

» 16 de janeiro
A PCMG vai at� fornecedora do l�quido refrigerador � Backer, em Contagem, na Grande BH, onde recolhe amostras de produtos qu�micos e documentos da empresa.

» 17 a 29 de janeiro
Pol�cia ouve 26 pessoas, entre parentes dos intoxicados (foto) e representantes da empresa, o que permitiu compreender como as v�timas foram contaminadas e a atua��o de cada investigado na produ��o cervejeira.

» 27 de fevereiro
Tanques de fermenta��o da cervejaria come�am a ser analisados pela for�a-tarefa.

» 6 de mar�o
Produto fluorescente � colocado no compartimento do l�quido refrigerante e percorre as tubula��es da f�brica, permitindo a identifica��o de dois grandes pontos de vazamento de dietilenoglicol e monoetilenoglicol. No per�odo subsequente, os policiais analisam a produ��o da cervejaria e os dados colhidos.

» 9 de junho 
A pol�cia informa que encontrou um grande vazamento na bomba do chiller. Tamb�m foram encontrados v�rios vazamentos nos canos que levam o monoetileno para os tanques de matura��o e fermenta��o denominados como JB. Foram encontrados vazamentos dentro dos tanques, onde jorrava subst�ncia t�xica na cerveja. Ap�s as misturas, a cerveja contaminada era engarrafada e levada para o consumo

– Onze pessoas foram indiciadas

– O inqu�rito � encaminhado ao Minist�rio P�blico, que tem 15 dias para apresentar ou n�o a den�ncia � Justi�a


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