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Estado de Minas COVID-19

Efeitos da pandemia na emerg�ncia: quem se fere mais e menos em tempos de isolamento?

Com menos v�timas do tr�nsito, demanda geral do maior pronto-socorro de Minas despenca, mas agress�es e acidentes com �lcool seguem em alta


15/06/2020 06:00 - atualizado 15/06/2020 07:24

(foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press - 2014)


Um retrato de efeitos do distanciamento social, tirando de dentro das alas da principal porta de entrada para casos de urg�ncia e emerg�ncia de Belo Horizonte: o isolamento a que foram submetidas milhares de pessoas – n�o apenas na capital, mas em todo o estado – fez despencar praticamente pela metade o n�mero geral de atendimentos no Hospital de Pronto Socorro Jo�o XXIII, o maior de Minas Gerais. A redu��o foi de 8.304 para 4.160, na compara��o dos meses de abril de 2019 e 2020, considerado o pico do distanciamento social em BH. Os dados que mais puxaram para baixo as estat�sticas foram os relativos a v�timas de desastres de tr�nsito, no comparativo com mesmo per�odo. Em abril do ano passado, foram 776 v�timas. Neste ano, 399. Por outro lado, acidentes com �lcool dispararam e a viol�ncia dom�stica preocupa.

Em rela��o aos crimes violentos, os n�meros tiveram menores varia��es. Por�m, m�dicos perceberam aumento no n�mero de casos de mulheres agredidas que buscam por socorro. Queimaduras tamb�m chamam a aten��o, e uma das explica��es � a m� utiliza��o do �lcool – subst�ncia ainda mais presente na vida dos brasileiros em tempos de pandemia, especialmente em sua vers�o mais perigosa, a l�quida. Apesar da queda nos atendimentos em geral, a �rea especializada em suporte a queimados est� lotada e pacientes internados em outros setores aguardam o surgimento de vagas. 

“Antes da pandemia do novo coronav�rus, as principais ocorr�ncias eram  de v�timas de acidentes automotivos, com destaque para os desastres envolvendo motocicletas. Al�m desses, um alto n�mero de pacientes v�timas de agress�o por arma de fogo, assim como pessoas com queimaduras”, afirma o cirurgi�o-geral Leonardo Belga Ottoni Porto, que atua na unidade. Em 2019, deram entrada no HPS 8.694 feridos em acidente de tr�nsito, 2.895 por agress�o e 1.304 com queimaduras. 

O cen�rio come�ou a mudar a partir de 20 de mar�o deste ano, quando grande parte dos belo-horizontinos passou a se recolher em casa, diante da pandemia que j� avan�ava tirando milhares de vidas na Europa. Belo Horizonte foi a primeira capital a fechar o com�rcio no pa�s, conforme orienta��es da Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS). “Com a pandemia e o isolamento social, percebemos um aumento na chegada de v�timas de queda da pr�pria altura – principalmente idosos – aumento em tentativas de autoexterm�nio e um aumento do n�mero de v�timas de queimaduras, em crian�as e em adultos”, disse. Ele tamb�m afirma que houve acr�scimo no n�mero de mulheres agredidas, paralelamente � diminui��o no n�mero de acidentes envolvendo carros, �nibus, motos e pedestres.

Em abril, no cora��o de Belo Horizonte, a Pra�a Sete, que tinha movimenta��o de mais de 400 mil pessoas por dia, teve o tr�fego reduzido em at� 71%. Expandida para a cidade, essa realidade se traduziu na queda no n�mero de acidentes nas ruas. Em abril do ano passado, o HPS atendeu a 33 ciclistas, 124 ocupantes de autom�veis de passeio, 448 ocupantes de motocicletas, 40 ocupantes de �nibus e 131 pedestres. Este ano, no mesmo per�odo, foram 18 ciclistas, 47 ocupantes de autom�veis de passeio, 264 ocupantes de motocicletas, seis ocupantes de �nibus e 64 pedestres.

“Mas, vale ressaltar que o n�mero de atendimentos a motociclistas continua sendo o mais alto, e foi o que menos caiu. Possivelmente porque, com as ruas vazias, eles abusam da velocidade”, avalia o m�dico. O que tamb�m pode ajudar a explicar a situa��o � o fato de que o isolamento social fez com que aplicativos de transporte aumentassem a carteira de clientes na capital, atendendo a pedidos de refei��es desde o caf� at� o jantar. Estima-se que o delivery de alimentos tenha crescido at� 20% na cidade com a crise do coronav�rus.

 CAUTELA Apesar da percep��o de aumento em �ndices como o que se refere � queda de idosos, no geral os acidentes dom�sticos tamb�m tiveram redu��o durante o per�odo de isolamento. Talvez consequ�ncia de precau��o da popula��o em rela��o aos riscos divulgados de se usar o servi�o de sa�de, devido � possibilidade de cont�gio pelo novo coronav�rus.

“Percebemos uma grande redu��o no volume de atendimento no hospital. Isso coincidiu com o per�odo maior isolamento social que ocorreu, principalmente, ao longo de abril. Em maio percebemos um pequeno aumento novamente no volume de atendimento dos plant�es. Talvez, pelo tempo de distanciamento social, as pessoas foram se cansando e come�aram a abandonar o isolamento”, avalia o cirurgi�o Leonardo Porto.

O "HPS"


Refer�ncia na Regi�o Hospitalar de Belo Horizonte, no Bairro Santa Efig�ncia, Regi�o-Centro Sul da capital, o Hospital Jo�o XXIII foi criado em 1973, para atender a uma demanda que a rede de sa�de ent�o existente j� n�o suportava. Tornou-se sin�nimo de “pronto-socorro” na cidade, tanto que � popularmente conhecido simplesmente pela sigla “HPS”. Ao longo dos anos, se consolidou como centro de excel�ncia no atendimento a v�timas de politraumatismo, queimaduras, intoxica��es e situa��es cl�nicas e cir�rgicas com risco de morte.

(foto: Arte EM)


�lcool vira vil�o das queimaduras 


J� o n�mero de atendimento a v�timas de queimadura com �lcool disparou no Hospital Jo�o XXIII. Isso embora o total de queimados tenha diminu�do, por exemplo, no m�s de abril na compara��o com o mesmo m�s do ano passado – o que indica que o l�quido inflam�vel tem tido maior participa��o no conjunto de v�timas. A cirurgi� pl�stica Kelly Danielle de Ara�jo, coordenadora do Centro de Queimados da unidade, que � refer�ncia no setor, afirma que os principais motivos de queimaduras atendidas antes do isolamento social eram as causadas por l�quido quente.



Com a quarentena e as crian�as em casa, elas permanecem, assim como os acidentes com panelas no fog�o, ferro de passar, fios e tomadas de eletricidade e manipula��o de produtos qu�micos. Mas a m�dica chama a aten��o para o aumento das queimaduras por �lcool, tanto em crian�as quanto em adultos. Isso porque o l�quido inflam�vel passou a ser mais presente na casas com o novo coronav�rus.

“Considerando que o �lcool se localiza em v�rios ambientes da casa, sendo na forma de gel ou at� mesmo na forma l�quida – que representa maior risco ainda –  as pessoas o manipulam v�rias vezes ao dia, e seguem a rotina com h�bitos como acender o fog�o ou fumar. Preocupa-nos demasiadamente essa situa��o”, alerta a cirurgi� Kelly de Ara�jo.

Ela explica que esse � um dos motivos para o HPS estar com a unidade de queimados lotada. “Temos queimados em outros setores do hospital aguardando o surgimento de vaga na unidade especializada, e h� uma fila de pacientes externos aguardando transfer�ncia”, disse.

Apesar da percep��o de quem est� na linha de frente, o hospital n�o mant�m um levantamento espec�fico para acidentes com �lcool. Mas, na compara��o do per�odo um pouco antes de 19 de mar�o, quando foi autorizada a venda de �lcool l�quido 70% em farm�cias, devido � pandemia, e o per�odo um pouco depois, a especialista notou um aumento de um quarto nas queimaduras pelo combust�vel. Isso considerando apenas os queimados em m�dia e grande escalas internados no servi�o. “Nem contabilizamos a� os pacientes com pequenas les�es, que n�o necessitam de interna��o hospitalar, apenas acompanhamento ambulat�rial”, acrescenta.

Dano maior


A m�dica destaca a necessidade de cuidado extra, j� que a queimadura por �lcool tende a ser mais grave do que a causada por �gua fervente. “Acomete camadas mais profundas da pele e tem a caracter�stica de manter tal aprofundamento ainda por mais dias ap�s a data do acidente”, afirma.

Por esse motivo, a especialista ressalta n�o haver necessidade do uso do �lcool – gel ou l�quido – em ambiente domiciliar. “A  pr�pria Anvisa (Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria) j� emitiu nota em que informa que dentro de casa pode ser feita a limpeza das m�os com �gua e sab�o, e a limpeza da casa e m�veis com solu��o de �gua sanit�ria e �gua”, afirma.

A cirurgi� faz ainda um outro alerta: o �lcool l�quido � muito inflam�vel e pode causar explos�o, podendo ferir outras pessoas que estiverem no ambiente e provocar inc�ndio. E o produto em gel, como demora a secar, permanece podendo se incendiar por mais tempo. 

Viol�ncia dom�stica provoca preocupa��o


O perfil da viol�ncia tamb�m mudou durante a pandemia. “Destacamos o n�mero de agress�es por arma branca. Isso chama muito a aten��o. � o tipo de viol�ncia que vemos muito em per�odo de reuni�es familiares, como o Natal”, afirma o cirurgi�o Leonardo Porto. No per�odo de distanciamento social, a percep��o � de que se trata de um tipo de viol�ncia que se intensificou n�o apenas entre familiares como tamb�m entre vizinhos. Ao lado dos ataques com objetos cortantes, os provocados por arma branca foram os que menos ca�ram durante o per�odo de distanciamento.

Ocorr�ncias de traumas na cabe�a ou face de mulheres vitimadas por parceiros tamb�m aumentaram, na percep��o de m�dicos. Em rela��o � viol�ncia contra a mulher, Leonardo Porto avalia que os atendimentos cresceram nos �ltimos dois meses. “� o tipo de atendimento que aumentou notavelmente”, afirma o especialista. Entretanto, o HPS n�o tem estat�sticas espec�ficas por g�nero. 



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