Mineiros t�m alto risco para quadros graves da COVID-19, diz estudo
Estado � o terceiro do pa�s com maior percentual de pessoas suscet�veis ao agravamento da doen�a, entre elas idosos e hipertensos, aponta a Fiocruz
postado em 03/07/2020 06:00 / atualizado em 03/07/2020 07:18
Idosa e hipertensa, Maria Elo�sa defende o maior isolamento, com fechamento das atividades econ�micas
(foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
O perfil de sa�de dos mineiros n�o permite movimentos errados na hora de expor a popula��o ao novo coronav�rus (Sars-Cov-2) sob pena de gerar uma das maiores ondas de procura por hospitais do pa�s. Segundo levantamento feito pela Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz), Minas Gerais � o terceiro estado com maior percentual de pessoas com comorbidades e situa��es que podem levar aos mais graves quadros da COVID-19 (veja a tabela). Com base na Pesquisa Nacional da Sa�de (IBGE), os cientistas reuniram dados de seis agravantes, que s�o a idade avan�ada, do- en�as card�acas, hipertens�o, diabetes, doen�as pulmonares e pessoas com pelo menos uma enfermidade cr�nica n�o transmiss�- vel para identificar as popula��es mais fr�geis.
Nesses quesitos, em m�dia, os mineiros s� s�o menos vulner�veis que os ga�chos e paulistas. Com base nesse cen�rio e na situa��o da pandemia no pa�s, a funda��o emitiu uma nota t�cnica em que refor�a a necessidade de distanciamento social, principalmente em capitais como Belo Horizonte, que, por medida de seguran�a, retrocedeu na flexibiliza��o de atividades ec�nomicas, e que acabar�o sendo destino de muitos doentes do interior. “Em face de toda a incerteza, parece oportuno que as medidas de isolamento sejam pensadas de maneira conjunta, e � preciso estar atento especialmente � press�o do servi�o de sa�de, uma vez que a redu��o da curva nas capitais pode significar a interioriza��o da epidemia, o que possivelmente vai trazer, em m�dio prazo, uma explos�o da demanda por servi�os de m�dia e alta complexidades nas capitais novamente”, informa a Fiocruz.
Observando os dados selecionados pela funda��o, Minas Gerais se destaca negativamente como o estado com a maior popula��o com doen�as card�acas do Brasil, com um percentual de 6,28% dos moradores acima dos 18 anos sendo portadores dessa condi��o. A m�dia nacional � de 4,18%. Somado a isso, os mineiros s�o a segunda popula��o de mais hipertensos do pa�s, com uma impressionante taxa de 24,5%, atr�s apenas do Rio Grande do Sul, com 25,34%, sendo que, na m�dia, 22,6% dos brasileiros s�o hipertensos. De acordo com artigo cient�fico do m�dico Xiaobo Yang publicado na revista Lancet, ap�s estudos em Wuham, o centro da pandemia na China, 23% dos pacientes que desenvolveram condi��es graves da doen�a eram hipertensos.
“Enquanto a gente n�o tiver certeza e essa doen�a ainda esti- ver aqui, podendo matar tantos idosos e doentes como n�s, a medida de manter tudo fechado � nossa �nica prote��o”, afirma a auxiliar de servi�os gerais aposentada Maria Elo�sa de Melo, de 67 anos, que al�m de idosa faz tratamento para controlar a hipertens�o. Muitas pessoas que fazem tratamento na capital tamb�m apoiam a cautela na abertura de atividades por medo de levarem a COVID-19 para a sua comunidade. “Preciso trazer meu marido a BH para consultar por ter um c�ncer. Tem de arriscar, n�o tem como ele se tratar onde moramos. Nossa cidade chegou a ter sete casos, mas todos j� se curaram. N�s acabamos sendo expostos, estamos no grupo de risco e ainda tem a chance de levar o v�rus para a nossa cidade, que � pequena”, pondera a professora estadual de Alvin�polis Aldina do Couto Matoso, de 52, que tamb�m faz uso de rem�dios contra press�o alta.
Mais perigo
Os mineiros ainda re�nem mais condi��es adversas, sendo a quarta popula��o do Brasil com maior quantidade de pacientes com pelo menos uma doen�a cr�nica n�o transmiss�vel, o que acomete 20,65% da popula��o acima de 18 anos. � tamb�m o quarto no ranking percentual de idosos, que chegam a representar 19,4% do total da popula��o. O risco entre os idosos j� foi destacado pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), com base em trabalhos de pesquisadores da Universidade de Hong Kong , que determinaram que pacientes acima dos 59 anos t�m cinco vezes mais chances de morrer do que aqueles entre 30 e 59 anos. Isso, devido ao fato de suas respostas imunol�gicas serem menos eficientes e mais lentas do que as das pessoas mais jovens.
Ainda acima da m�dia bra- sileira e na oitava posi��o nesse quesito, 7,19% dos habitantes adultos de Minas Gerais s�o diab�ticos. O �ndice m�dio do Brasil � de 7,05%. Segundo o mesmo artigo da Lancet com dados de levantamentos em Wuham, o diabetes estava presente em 16% dos pacientes que desenvolve- ram formas mais graves da CO- VID-19 e precisaram ser internados.
A �nica condi��o m�dica considerada cr�tica para pacientes do novo coronav�rus em que os mineiros figuraram em situa��o melhor do que a m�dia nacional se refere �s doen�as pulmonares. Esse tipo de quadro est� presente em 1,31% da popula��o de Mi- nas, o 14º pior resultado, mas ainda assim melhor do que o nacional, de 1,78%.
Particularidades do sistema de sa�de de cada estado s�o componentes importantes na decis�o de relaxamento das medidas de isolamento, assim como outras, segundo informa a Fiocruz. “Antes de implementar qualquer diretriz de relaxamento, a capacidade de teste do pa�s precisa ser substancialmente aumentada, levando em considera��o as dimens�es continentais do Brasil, com suas diferen�as regionais em demografia, clima, urbaniza��o, estrutura de sa�de e aspectos socioecon�micos. O que se observa � uma gradual abertura da oferta de servi�os e circula��o de pessoas, com a flexibiliza��o do bloqueio”.
De acordo com boletim dessa quinta-feira da SES sobre a COVID-19, 82% das 1.059 pessoas que morreram em decorr�ncia da doen�a no estado tinham uma ou mais comorbidades. A hipertens�o foi constatada em 360 pacientes e doen�as card�acas em 345. A grande maioria dos que morreram, 74%, tinha 60 anos ou mais de idade.
(foto: Arte EM)
Isolamento continua na receita
A situa��o das capitais estaduais traz especial preocupa��o para os pesquisadores da Funda��o Oswaldo Cruz, pois, ainda que detenham estruturas mais organizadas, elas servir�o de apoio muito rapidamente para uma escalada de casos da COVID-19 no interior. No caso de Minas Gerais, com o agravante de a popula��o reunir condi��es mais cr�ticas que outras unidades da Federa��o no que se refere �s comorbidades. Al�m disso, Belo Horizonte n�o figura entre as capitais com regress�o ou controle da doen�a e, por isso, sua flexibiliza��o precisa ser cautelosa.
“Em BH, a doen�a n�o foi controlada, est� num est�gio mais inicial de progress�o, o mesmo acontecendo em Minas Gerais. Por isso, o isolamento tem de ser muito bem aplicado, bem como a busca por pessoas que tiveram contato com casos suspeitos, para um afastamento preventivo”, sugere o m�dico M�rcio Bittencourt, do Centro de Pesquisa Cl�nica e Epidemiol�gica do Hospital Universit�rio da USP e professor da Faculdade Israelita de Ci�ncias da Sa�de Albert Einstein.
A avalia��o da Fiocruz refor�a a an�lise do especialista, uma vez que a funda��o afirma que em todas as capitais o n�mero de casos vem aumentando, ainda que isso n�o esteja ocorrendo na mesma velocidade. “Esse comportamento de progress�o � semelhante em todas as localidades. Apenas o comportamento (velocidade da progress�o) nas capitais tem sido diferente.
Enquanto algumas capitais ainda est�o em fase inicial do crescimento exponencial, outras j� atingem fase de redu��o da curva. “Essa queda tem sido mais pronunciada em Bel�m, Boa Vista, Fortaleza, Macei�, Manaus, Natal, Porto Velho, Recife, Salvador e S�o Lu�s. A trajet�ria da pandemia no Brasil continua sendo de aumento de casos diariamente. Em alguns estados, isso tem se traduzido em sistemas de sa�de e servi�os funer�rios atingindo um ponto cr�tico de press�o”, informa.
M�ltiplas realidades
Apesar de fazer uso de medicamentos contra press�o alta, Alda Maria diz n�o ter medo da COVID-19, mas n�o sai sem m�scara (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
Os n�meros gerais mostram vulnerabilidade, mas o entendimento da Secretaria de Estado de Sa�de (SES-MG) � de que h� v�rias situa��es diferentes em Minas e, por isso, as autoridades da �rea dividiram o estado em faixas de flexibiliza��o. "N�o � poss�vel ter uma mesma realidade. O que se tem no Norte de Minas � diferente do Sul de Minas. Vale do A�o e Tri�ngulo do Norte, no momento, merecem uma aten��o especial. Por isso, a import�ncia da ades�o ao programa Minas Consciente e n�o de uma s� medida para todo o estado", disse o subsecret�rio de Gest�o Regional da Sa�de, Darlan Ven�ncio Thomaz Pereira, em audi�ncia na Assembleia Legislativa.
Mesmo com uma curva em descenso nas capitais, o sistema de sa�de n�o pode relaxar sob risco de colapso no atendimento aos pacientes que vir�o do interior com a progress�o natural da infec��o para as cidades menores. Contudo, muita gente n�o sabe sequer que est� no grupo de risco. Como a aposentada Alda Maria de Magalh�es, de 56 anos, que veio de Patos de Minas se consultar na Santa Casa para tratamento de coluna e faz uso constante de medicamentos para controle da hipertens�o. “N�o tenho medo da COVID-19, porque n�o tenho diabetes. Saio tranquila, de m�scara e �lcool em gel. Na minha cidade est� muita gente na rua, facilitando, sem medo, aglomerando, precisavam ter mais cuidado. A maioria n�o usa m�scara”, disse.
O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte. V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.