
As confirma��es dos primeiros casos de COVID-19 no Brasil, no in�cio de mar�o, mudaram a vida do m�dico Carlos Eduardo Amaral. Desde ent�o, como respons�vel pela Secretaria de Estado de Sa�de de Minas, ele fala aos mineiros em coletivas di�rias, no formato remoto. De forma did�tica apresenta estat�sticas da doen�a e sua evolu��o no estado.
Presente na maioria das transmiss�es sobre o tema, que contam com pronunciamento de outros integrantes do Executivo, inclusive o governador Romeu Zema (Novo), Carlos Amaral n�o altera o tom de voz sereno e se esquiva das pol�micas, como as farpas p�blicas trocadas entre Zema e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), sobre o momento exato e como fazer o isolamento social, a abertura do hospital de campanha do Expominas e o gerenciamento de leitos na rede p�blica.
� um defensor do isolamento social, embora considere que atividade econ�mica tenha que ser levada em conta para que haja equil�brio na tomada de decis�es. “De uma forma geral, entendemos que a economia � um dos determinantes da sa�de”, pondera nesta entrevista exclusiva ao Estado de Minas, na qual afirma que a epidemia “n�o � uma corrida de 100 metros”, mas “uma maratona”.
Natural de Juiz de Fora, h� mais de 100 dias Carlos Amaral vive em um hotel na capital mineira, distante da fam�lia, que tem evitado visitar. “�s vezes, me pego com m�scara no quarto de hotel”, diz, garantindo que faz tudo o que prega quanto aos cuidados pessoais. “N�o quero ser um transmissor do v�rus”. A quarentena longe da cidade de resid�ncia � preenchida por uma rotina intensa
de trabalho, com uma m�dia de 13 horas di�rias.
Carlos Amaral assumiu a pasta em 14 de fevereiro de 2019, quando foi cedido para o cargo pelas institui��es onde trabalhava. Formou-se em medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em 1992, � neurocirurgi�o e neurorradiologista intervencionista e m�dico da Funda��o Hospitalar do Estado de MG (Fhemig) desde 1994, al�m de professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), desde 1999, nas cadeiras de anatomia e neurocirurgia. Tem MBAs em Gest�o de Neg�cios e em Gest�o Hospitalar e Seguran�a do Paciente e ocupa a vice-presid�ncia da regi�o Sudeste do Conselho Nacional dos Secret�rios de Sa�de (Conass).
Nesta entrevista, ele diz que haver� leitos suficientes no dia 15, quando est� projetado o pico da COVID-19 no estado, e fala da rela��o com Zema e com o colega Jackson Machado, secret�rio de Sa�de de Belo Horizonte, que se dedica ao desafio de encarar a pandemia na capital mineira, tamb�m entrevistado pelo EM nesta edi��o (leia na p�gina 9). “Nos respeitamos muito e temos os mesmos objetivos”, afirma.
� frente da pasta, qual foi o momento mais dif�cil vivenciado pelo senhor?
O momento mais dif�cil, sem sombra de d�vida, foi a minha chegada � Secretaria Estadual de Sa�de. Naquele momento, em que t�nhamos secretaria desestruturada, uma equipe de servidores com autoestima baixa, uma d�vida enorme com mais de R$ 386 milh�es, que a �ltima nota fiscal tinha sido paga em mar�o de 2017, havia uma falta de credibilidade total em que nenhum fornecedor tinha interesse em se relacionar com a Secretaria Estadual de Sa�de. Para se ter uma ideia, nem passagem a�rea nem gasolina consegu�amos comprar. Quando a COVID-19 chegou, o que foi um grande desafio, n�s j� t�nhamos a d�vida totalmente paga, a credibilidade perante os fornecedores. Isso permitiu que pud�ssemos realizar compras no momento adequado, da forma adequada e no pre�o adequado.
Como tem sido a rotina de trabalho do senhor?
Habitualmente, acordo �s 6h, chego � secretaria por volta das 8h e costumo sair por volta das 21h, quando volto ao meu apartamento. Na verdade, � um quarto de hotel onde eu moro, onde inicio a verifica��o das mensagens de Whatsapp.
O secret�rio desliga o celular em algum momento?
� 100% ligado, at� mesmo porque pode ter uma urg�ncia, em que o secret�rio de sa�de tenha necessidade de atuar.
Como tem sido a rotina do senhor de cuidados contra a COVID-19? O senhor teve de abdicar de algum momento compartilhado com sua fam�lia?
Tudo que eu prego, eu fa�o. Mantenho distanciamento. Mantenho o uso de m�scara. Inclusive, �s vezes, me pego com m�scara dentro do quarto do hotel. Fa�o limpeza das m�os, tenho cuidado com aglomera��es. Evitei ir para minha casa, nos primeiros meses, por conta de n�o se ter uma ideia exata de como seria a transmiss�o da COVID no estado. Mesmo hoje, quando vou para Juiz de Fora, fico somente em casa e praticamente n�o saio � rua.
Em algum momento, o senhor teve medo de se contaminar?
N�o tive medo de me contaminar. Entendo que a COVID-19 � uma doen�a, uma virose, que vai pegar grande parte da sociedade e, neste contexto, temos que fazer o correto, sabendo que qualquer um de n�s pode ser contaminado. O que para mim � principal � que eu me cuido como cidad�o. N�o quero ser um transmissor do v�rus. Isso � o mais importante.
O senhor visitou hospitais de refer�ncia no atendimento � doen�a. Alguma cena foi marcante?
Visitei v�rios hospitais naturalmente, por causa do cargo que ocupo. Pela necessidade imperativa de eu me preservar, at� mesmo para diminuir o risco de ficar afastado da lideran�a da sa�de no estado, evito comparecer �s �reas assistenciais, mas o que tem me chamado muita aten��o � que tenho visto uma equipe de sa�de muito engajada e ciente de suas responsabilidades.
O senhor � m�dico, neurocirurgi�o. Como tem visto a atua��o de colegas que est�o na linha de frente no enfrentamento � COVID-19?
Trabalhei em terapia intensiva durante muitos anos e, inclusive, em 2009, no (enfrentamento) � H1N1.Era plantonista de terapia intensiva, ou seja, entendo muito bem o medo e a inseguran�a, muitas vezes, do profissional de sa�de. O que tenho visto hoje � uma equipe de profissionais de sa�de muito dedicada. Todos t�m no��o da import�ncia do trabalho que realizam no atendimento de cada pessoa e tamb�m no contexto da sociedade. Para mim, a grande maioria dos profissionais de sa�de � vocacionada. Os profissionais sabem o que fazem, onde est�o e t�m no��o da import�ncia do trabalho.
Nos pronunciamentos p�blicos, o senhor sempre � sereno no tom de voz e nas pondera��es. A que o senhor atribui esse tra�o de personalidade?
Isso � um comportamento natural meu, mas que, por outro lado tamb�m, (reflete) a minha �rea de atua��o como m�dico e neurocirurgi�o. Essa atua��o nos induz a entender que � importante a gente ter bom senso, ter no��o de que as coisas, muitas vezes, s�o imprecisas e, principalmente, precisamos aprender a lidar com imprecis�o. � isso que nos faz melhorar, nos faz amanhecer a cada dia, aprendendo mais e sendo uma pessoa melhor.
No entendimento do senhor, qual foi o maior acerto do governo de Minas no enfrentamento � COVID-19
Entendo que tivemos v�rios acertos. O primeiro foi ter permitido que, na chegada da epidemia, n�s tiv�ssemos uma Secretaria Estadual de Sa�de com as contas saneadas. Isso permitiu que pud�ssemos fazer compras com pre�os adequados, no momento adequado. Al�m disso, temos intera��o muito grande com o governador e isso para a Secretaria Estadual da Sa�de torna todas as a��es, todas as medidas que precisamos indicar muito mais f�ceis de serem adotadas. Junto ao governador, conseguimos indicar o isolamento no momento oportuno. Isso fez com que contiv�ssemos o grande aumento de casos e permit�ssemos a estrutura de sa�de do Estado – isso n�s entendemos como sendo a Uni�o, o Estado, munic�pios e prestadores – tivesse a capacidade de se adaptar � epidemia, haja visto que, at� o momento, j� expandimos em 70% o n�mero de leitos de terapia intensiva no estado.
O senhor enxerga alguma falha at� o momento do governo nesse enfrentamento?
Talvez a maior falha que tenhamos � a dificuldade de comunica��o. Dificuldade de passar para a sociedade os nossos in�meros acertos, de forma que eles sejam percebidos pela sociedade.
O senhor, desde o in�cio, defende o isolamento social como a melhor medida para barrar o avan�o do novo coronav�rus. No entanto, h� uma press�o para a reabertura da economia. Como m�dico, o senhor considera que os pedidos de abertura da economia levam em conta a prote��o das vidas de pessoas mais vulner�veis, que est�o na linha de frente desses servi�os essenciais e que usam o transporte p�blico?
A epidemia tem que ser avaliada com o misto entre a capacidade que temos, atrav�s do isolamento social, de reduzir o n�mero de casos e tamb�m a capacidade assistencial que conseguimos desenvolver ao longo do preparo. O isolamento social tem v�rias formas. � fundamental que entendamos que, em algum momento, ele ter� que ser reduzido e, em outros ampliado, isso faz parte da epidemia. De uma forma geral, entendemos que a economia � um dos determinantes da sa�de. Ent�o, tomar atitudes com que venhamos a comprometer severamente a economia � a mesma coisa que afirmar que, no futuro, teremos um comprometimento da sa�de por falta de um de seus determinantes, que � o econ�mico. De uma forma geral, esse equil�brio tem que ser pensado. Tudo que fazemos, todas as medidas que tanto a Secretaria de Sa�de quanto o governo do estado tomam, � buscando esse equil�brio entre a economia e a preserva��o de vida que, para n�s, � fundamental. Outra afirmativa importante � que a epidemia ter� per�odo longo. E ent�o, n�o podemos lidar como se fosse uma corrida de 100 metros. A epidemia ser� uma maratona, em que toda a sociedade ter� que se adaptar a ela.
H� uma diverg�ncia entre a Prefeitura de Belo Horizonte e o governo de Minas em rela��o ao Hospital de Campanha no Expominas? Quais as raz�es das diverg�ncias?
O hospital de campanha foi montado pelo governo de Minas para seguir o plano de conting�ncia do estado. Dessa forma, todas as a��es, como momento de abertura, est�o vinculadas ao planejamento do estado. Ent�o, efetivamente, n�o h� diverg�ncia entre o estado e a prefeitura, uma vez que esse hospital � do estado e est� dentro do plano de conting�ncia dessa esfera.
Estamos nos aproximando do pico, em 15 de julho. Qual � a maior preocupa��o em rela��o a esse dia? Os leitos de UTI ser�o suficientes para a maior demanda assistencial desde o in�cio da pandemia?
Todas as proje��es que fizemos at� o momento t�m se revelado acertadas. Nesse contexto, as proje��es mostram que se tivermos o n�mero de casos que foram projetados, teremos leito para atender a toda popula��o. A maior preocupa��o que temos � que a realidade possa ser diferente das proje��es e, a� sim, a gente tem um pouco de dificuldade na condu��o da epidemia.
Quando estaremos livre da COVID-19 em Minas?
N�s s� estaremos livre da COVID quando tivermos uma vacina. Caso contr�rio, teremos que aprender a conviver com as limita��es que s�o impostas pela dissemina��o do v�rus. Como dizemos, � um novo normal. Esse novo normal n�o significa isolamento intensivo ao longo de toda a epidemia, mas � fundamental que a popula��o, agora, e para o futuro, aprenda a se cuidar e a ter uma rela��o de forma a diminuir a transmiss�o de microorganismos.
Como � a rela��o entre o senhor e o governador Romeu Zema?
A minha rela��o com o governador � �tima. Admiro o governador, o vejo como uma pessoa simples, um homem probo, de princ�pios e com as melhores inten��es. Efetivamente, s� estou no governo e larguei a minha vida em Juiz de Fora por confiar muito na pessoa do governador.
Como tem sido as conversas entre o senhor e o secret�rio de BH, Jackson Machado?
A minha rela��o com Jackson � boa. Temos conversas t�cnicas, amistosas. Nos respeitamos muito e temos os mesmos objetivos, que � prestar e favorecer uma aten��o � sa�de que � de qualidade para os belo-horizontinos.
O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?
Como se prevenir?
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.V�deo: Flexibiliza��o do isolamento n�o � 'liberou geral'; saiba por qu�
Quais os sintomas do coronav�rus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas g�stricos
- Diarreia
Em casos graves, as v�timas apresentam:
- Pneumonia
- S�ndrome respirat�ria aguda severa
- Insufici�ncia renal
V�deo explica por que voc� deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o v�rus
Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�ncia
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