Sobrepeso e obesidade: grupo de risco para COVID-19
Brasil tem mais de 55% da popula��o acima do peso, o que representa um problema de sa�de p�blica e agrava estado de pacientes infectados pelo v�rus
Mais da metade da popula��o brasileira est� acima do peso. A obesidade atinge um a cada cinco brasileiros, segundo dados da Pesquisa de Vigil�ncia de Fatores de Risco e Prote��o para Doen�as Cr�nicas por Inqu�rito Telef�nico (Vigitel) de 2018, divulgada em julho de 2019. O aumento � gradativo em todas as faixas et�rias, tanto em homens quanto em mulheres, crian�as e idosos no Brasil. De 18% a 20% s�o portadoras de obesidade.
A doen�a � o principal fator de risco para pessoas com menos de 60 anos infectadas pelo novo coronav�rus, conforme dados do Minist�rio da Sa�de. Isso significa que elas apresentam quadros mais graves da doen�a, que se desenvolve mais rapidamente para a s�ndrome respirat�ria aguda grave (SARS) e outras complica��es. Em Minas Gerais, no boletim epidemiol�gico divulgado ontem, dia 27, eram contabilizadas 234 mortes de pacientes obesos com o novo coronav�rus.
O alerta foi dado logo no in�cio da pandemia, mas ganha novamente destaque diante do n�mero de �bitos e de casos de destaque. No exterior, o primeiro-ministro brit�nico, Boris Johnson, recuperado da COVID-19, desde que saiu da UTI declarou que perdeu seis quilos. Por l�, dois em cada tr�s brit�nicos est�o acima do peso. O caso � t�o urgente que foi divulgada uma s�rie de estudos, j� que quem est� acima do peso tem 40% mais risco de morrer. Para obesos, a probabilidade � at� 90% maior. Os dados s�o da Ag�ncia de Sa�de do Reino Unido.
O jornalista da SporTV Rodrigo Rodrigues, de 45 anos, diagnosticado com a COVID-19, com sobrepeso, teve o quadro agravado no fim de semana e precisou ser submetido a uma cirurgia. Ele est� internado em uma UTI de um hospital no Rio de Janeiro depois de confirmada uma trombose venosa cerebral.
(foto: Arte EM)
O m�dico Adauto Versiani Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional Minas Gerais (SBEM-MG) e membro do corpo cl�nico do Hospital Fel�cio Rocho, explica que obesidade � uma doen�a cr�nica que pode levar a outras doen�as como diabetes, hipertens�o e colesterol alto. “Tem componente familiar, gen�tico e comportamental, com as pessoas comendo mal cada vez mais e n�o praticando atividade f�sica. Ent�o, � entrada de mais caloria no organismo sem gasto. O que leva a uma propor��o epid�mica. No Brasil, mais de 55% da popula��o est� com sobrepeso, ou seja, com o �ndice de Massa Corporal (IMC) acima de 25% e abaixo de 30%. A taxa de 30% confirma a obesidade”, destaca o especialista.
O IMC (veja ferramenta de como calcular) � a medida mais simples e barata, segundo o endocrinologista, de descobrir em grandes estudos a popula��o obesa. Ele alerta que � poss�vel ter um homem forte, com muita massa magra, peso aumentado, mas sem sobrepeso. Mas, na maioria das vezes, a pessoa visualmente acima do peso est� com sobrepeso. A medida aumentada indica ac�mulo de gordura nos tecidos, principalmente a visceral (da barriga) que pode produzir citocinas que causam inflama��o em diversos tecidos respons�veis pelos quadros das doen�as j� citadas, al�m de apneia do sono, infarto e derrame.
“A COVID-19 come�a na primeira fase com um quadro respirat�rio, simulando uma pneumonia vir�tica e, na segunda fase, � a chamada tempestade de citocinas. O v�rus induz o sistema imunol�gico a dar uma resposta incontrol�vel de produ��o de citocinas inflamat�rias para tentar combater a inflama��o promovida pelo novo coronav�rus. Imagina uma paciente nesta tempestade j� tendo o organismo inflamado?”, enfatiza Adauto Versiani.
Neste cen�rio, destaca, o paciente pode caminhar para quadros trombo-emb�licos. Trombose que pode dar em qualquer veia do corpo, como ocorreu com o profissional do SporTV, que foi uma trombose venosa cerebral.
Ansiedade
Com a pandemia, � esperado o aumento da ansiedade e ang�stia, seja pela preocupa��o com a sa�de diante do risco da COVID-19, economia e pol�tica. Ent�o, lembra o endocrinologista, muitas pessoas descarregam a tens�o no que lhes d�o prazer imediato: a comida. Principalmente no consumo do a��car, que libera a serotonina, melhora o humor, ela fica feliz, mas o efeito � fulgaz.
“Para enfrentar a pandemia, as pessoas t�m dois caminhos a seguir: o do copo cheio ou do copo meio vazio. Ou decide aproveitar a quarentena para comer de forma mais saud�vel, beber mais �gua, diminuir o �lcool, tomar sol, fazer exerc�cio, melhorar o sistema imunol�gico para, quando tudo passar, estar pronto para encarar as tenta��es. Ou ela escolhe chutar o balde e ter� consequ�ncias que podem ser graves”, avisa Adauto Versiani.
Endocrinologista Adauto Versiani explica que obesidade � uma doen�a cr�nica que pode levar a outras doen�as como diabetes, hipertens�o e colesterol alto (foto: Arquivo Pessoal)
Carlos Rodrigues de Alencar, m�dico do trabalho e coordenador de sa�de e seguran�a do Hermes Pardini, enfatiza que, em pacientes com suspeita da COVID-19, a obesidade � avaliada em conjunto com outros fatores de risco. “Hoje, a indica��o � que pacientes com IMC acima de 40 (obesidade grau III) sejam avaliados em servi�os de refer�ncia, independentemente da apresenta��o cl�nica inicial. Isso quer dizer que, mesmo com sintomas leves, devem ser avaliados em servi�os geralmente hospitalares, que possibilitem a realiza��o de exames laboratoriais e de imagem rapidamente.”
J� em pacientes com obesidade em um grau I ou II, refor�a Carlos Rodrigues de Alencar, existe tamb�m um aumento do risco, que � dif�cil quantificar devido � obesidade estar frequentemente associada a outras condi��es de risco, como diabetes e hipertens�o. “Esses pacientes merecem tamb�m uma aten��o maior, mas podem ser tratados ambulatorialmente caso apresentem sintomas leves.”
Popula��o adulta
No Brasil, mais de um quinto da popula��o brasileira � obesa, segundo estudo da Organiza��o para a Coopera��o e Desenvolvimento Econ�mico (OCDE) divulgado em outubro de 2019. O documento revela que a propor��o de obesos na popula��o adulta brasileira passou de 12,7% em 1996 para 22,1% em 2016. No mesmo per�odo, a m�dia da OCDE passou de 15,4% para 23,2%. O levantamento � baseado em crit�rios definidos pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), que levam em conta o c�lculo do �ndice de Massa Corporal (IMC). No pa�s, 25,4% das mulheres adultas s�o obesas, enquanto o n�mero de homens � de 18,5%. E quase 11% das crian�as s�o consideradas obesas. A m�dia na OCDE � de 9,9%. O n�mero de crian�as pr�-obesas no Brasil chega a 17,2%.
Estudos pelo mundo
» Pesquisadores franceses, do Instituto Lille Pasteur, examinaram 124 pessoas internadas por conta do Sars-Cov-2 de 27 de fevereiro a 5 de abril de 2020. Os resultados mostraram que 47,6% eram obesas (ou seja, apresentavam �ndice de massa corporal, o IMC, maior que 30) e 28,2% tinham obesidade grave (IMC maior que 35). Os cientistas notaram que 85 pacientes (68,6% do total) utilizaram ventila��o mec�nica, sendo que a propor��o foi maior entre os obesos graves (85,7%).
» Investiga��o americana, conduzida na Universidade de Nova York, avan�ou com 4.103 pacientes da cidade. Entre eles, 44,6% eram card�acos, 39,8%, obesos, e 31,8%, diab�ticos. Enquanto 51,3% (2.104) foram acompanhados em casa, 48,7% (1.999) precisaram de hospitaliza��o. Os estudiosos comprovaram que os casos mais graves eram associados
� obesidade.
Tr�s perguntas para
Paulo Augusto C. Miranda, endocrinologista cooperado da Unimed-BH
1) A pessoa com sobrepeso ou obesa tem maior risco de contrair a COVID-19 e de desenvolver outras doen�as infecciosas?
Obesos e diab�ticos t�m risco maior de desenvolver formas graves da COVID-19. � interessante observar que, algumas vezes, as duas condi��es se sobrep�em em um mesmo paciente. As pessoas portadoras de obesidade t�m risco maior para desenvolvimento de doen�as infecciosas, formas graves de doen�as respirat�rias virais, como a influenza, que � a gripe, e outras infec��es pulmonares que se tornam mais comuns. A COVID-19 segue um padr�o, que j� se observa em estudos anteriores, mostrando esta maior suscetibilidade do obeso a ter infec��es virais ou eventualmente bacterianas em forma mais grave do que na popula��o em geral.
2) Quais s�o as consequ�ncias mais graves?
A obesidade, muitas vezes, � acompanhada por um estado inflamat�rio subcl�nico, maior predisposi��o a doen�as cardiovasculares e tromb�ticas, al�m do pr�prio peso ser uma sobrecarga no arcabou�o tor�cico o que vai fazer com que a ventila��o seja prejudicada. Al�m dos fatores relacionados � imunidade e ao desencadeamento de respostas inflamat�rias sist�micas, a gente tem maior dificuldade para a ventila��o da pessoa portadora de obesidade. Isso se somando vai levar a um maior risco de dificuldade de ventila��o, redu��o do aporte de oxig�nio e, por consequ�ncia, maior risco da forma grave da COVID-19. E sabemos que em casos de situa��o de ventila��o mec�nica, a mortalidade por COVID-19 aumenta de forma significativa.
3) H� estudos comprovando esta rela��o perigosa e grave?
N�s j� temos levantamentos epidemiol�gicos tantos europeus, norte-americanos como tamb�m relatos de observa��es nacionais que demonstram esta associa��o. De forma interessante, observa-se que o papel da obesidade como o desenvolvimento de formas graves da COVID-19 se faz entre as pessoas mais jovens. Quando se tem o grupo que j� � de maior risco, pessoas acima de 60 anos, o risco associado � obesidade, nos primeiros levantamentos, tem uma redu��o da obesidade como fator de risco isolado, a� � preciso analisar individualmente. Mas na popula��o abaixo de 60 anos, ela � mais relevante. Aumento de tr�s vezes se comparado � popula��o em geral. Um ponto importante para ressaltar � que h� dificuldade desse levantamento em an�lise de prontu�rio porque n�o � incomum que o relato do peso, o IMC, esteja faltando na descri��o de evolu��o desses pacientes no Brasil e no mundo todo. Mostrando a import�ncia de nos atentarmos para a obesidade como doen�a, a necessidade de relatar de maneira adequada para uma melhora tanto da observa��o epidemiol�gica quanto de tratamento.
Plano ingl�s
A obesidade � t�o grave, preocupa��o de v�rios pa�ses do mundo e da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), que o governo do primeiro-ministro brit�nico Boris Johnson anunciou ontem um plano de luta contra o sobrepeso no Reino Unido com financiamento de 10 milh�es de libras (cerca de US$ 12,5 milh�es), segundo o jornal The Guardian. O plano “Em melhor sa�de” tem como objetivo ajudar 35 milh�es de pessoas (mais da metade da popula��o do pa�s) a perder peso e a viver de forma mais saud�vel. O plano foi divulgado depois que um estudo da PHE revelou, no s�bado, que pessoas obesas t�m risco adicional de 40% de morrer pelo coronav�rus. Entre as medidas est�o a proibi��o total de publicidade on-line de alimentos n�o saud�veis e antes das 21h na TV; a obriga��o de restaurantes e de locais que entregam comida de tornarem p�blico o n�mero de calorias de suas refei��es; ou ainda que as lojas fa�am o mesmo em suas garrafas de bebida alco�lica.
O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte. V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.