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Estado de Minas

Sobrecarregados pelo ensino remoto, professores podem adoecer em massa, alerta psic�loga

Pandemia imp�e longas jornadas, desafios t�cnicos e alto n�vel de cobran�a a educadores, o que pode levar ao esgotamento profissional


30/07/2020 14:26 - atualizado 03/08/2020 08:12

Sobrecarga na pandemia: 53% dos professores brasileiros estão muito ou totalmente preocupados com a própria saúde, diz pesquisa(foto: Youtube/Reprodução)
Sobrecarga na pandemia: 53% dos professores brasileiros est�o muito ou totalmente preocupados com a pr�pria sa�de, diz pesquisa (foto: Youtube/Reprodu��o)
"Estudei ilumina��o, varo madrugadas acompanhando tutoriais de edi��o de v�deo e montando roteiros. Ligo o computador �s 10h e s� desligo por volta de meia-noite”. O relato caberia a um youtuber, mas � de uma professora do 1° ano do Ensino Fundamental. Desde a suspens�o das atividades presenciais nas escolas de Minas Gerais - condi��o imposta pela pandemia do novo coronav�rus - Beatriz Torres encara o que talvez seja o maior desafio de sua carreira, iniciada h� 30 anos: o ensino remoto.

H� cinco meses, ela reinventa m�todos, t�cnicas e recursos para alfabetizar 24 crian�as a dist�ncia, controlar a natural indisciplina dos alunos em ambiente virtual e ainda se certificar de que eles est�o aprendendo. “Fora que estamos falando de uma atividade 80% afetiva. Quem alfabetiza precisa lidar com a crian�a que vem mostrar o dentinho que caiu. O professor precisa estabelecer com ela uma rela��o de confian�a. Ent�o, al�m de dar aula, eu disponibilizo meu WhatsApp aos pais, dou uma aten��o individualizada, sen�o, n�o funciona. E ainda preciso conciliar tudo isso com a rotina familiar”, conta a educadora.

A sobrecarga tem se refletido na sa�de emocional dos professores de Minas e do Brasil. Ao menos duas pesquisas realizadas este ano mostram a dimens�o do problema. Uma delas, realizada pelo portal Nova Escola, ouviu 8,1 mil educadores de todos os estados brasileiros das redes p�blica e privada. Segundo o levantamento, divulgado em 21 de julho, 28% dos entrevistados avaliam a pr�pria sa�de mental como ruim ou p�ssima nesse momento. Entre os profissionais mineiros, o percentual � de 32%. A experi�ncia de trabalho remoto foi classificada como ruim ou p�ssima por 72% dos participantes do estado.

Em maio, outro estudo, conduzido pelo Instituto Pen�nsula, envolvendo 2,4 mil docentes de todo Brasil, delineou um cen�rio semelhante: 53% dos respondentes disseram estar muito ou totalmente preocupados com a pr�pria sa�de. Muitos tamb�m relataram sentimentos como medo, ansiedade e inseguran�a.

Adoecimento

Submetidos a longas jornadas, desafios técnicos e alto nível de cobrança durante a pandemia, professores estão suscetíveis à síndrome de Burnout(foto: Ministério da Ciência e Tecnologia/Divulgação)
Submetidos a longas jornadas, desafios t�cnicos e alto n�vel de cobran�a durante a pandemia, professores est�o suscet�veis � s�ndrome de Burnout (foto: Minist�rio da Ci�ncia e Tecnologia/Divulga��o)
Para a psic�loga e especialista em terapia cognitiva comportamental, Renata Borja, o quadro � prop�cio ao desenvolvimento da chamada S�ndrome de Bournout. O dist�rbio consta na Classifica��o Internacional de Doen�as da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) desde maio de 2019. Os principais sintomas s�o exaust�o, altera��es no apetite e humor, sentimento de incompet�ncia, dores musculares e falhas na mem�ria - resultantes de trabalhos desgastantes, competitivos ou que envolvem muita responsabilidade. Em est�gios mais avan�ados, o esgotamento profissional pode levar � depress�o profunda.

“A vulnerabilidade ao adoecimento varia de pessoa para pessoa. Ele depende de fatores internos e externos. Os internos t�m a ver com os aspectos psicol�gicos de cada um, como hist�ria familiar ou cren�as. Os externos s�o aqueles que geram estresse, como cobran�as e mudan�as repentinas. Tem gente com alta toler�ncia ao estresse e h� quem adoe�a diante de uma press�o m�nima. A pandemia, de qualquer forma, � uma situa��o ca�tica como poucas que j� vivemos”, analisa a terapeuta.

Entre os principais fatores que impactam a sa�de emocional dos professores na quarentena, Renata aponta as transforma��es bruscas impostas pelo ensino remoto, que exigiram o desenvolvimento de habilidades e compet�ncias em grande velocidade. “Muitos professores n�o estavam habituados a lidar com a tecnologia e foram pressionados a aprender diversas t�cnicas rapidamente. A curva de aprendizado leva um tempo, que eles n�o tiveram. Soma-se a isso o fato de que muitas escolas sequer ofereceram cursos ou treinamentos adequados, os profissionais precisaram se virar sozinhos. Tudo isso gera sensa��o de fracasso, impot�ncia, frustra��o, entre outras emo��es muito negativas ”, avalia a psic�loga.

Grande carga de responsabilidade, alto n�vel das cobran�as, al�m da rotina familiar que, com o home office, acabou por atropelar o trabalho, completam a atmosfera estressante dos educadores. “Muitos j� pedem licen�as e afastamentos para cuidar da sa�de. N�o � f�cil mesmo encarar tudo isso. Trabalhar em casa com filhos, poucos computadores dispon�veis, medo de perder o emprego e ainda o receio da pr�pria pandemia exige muito do profissional”, pondera Renata.

Foco nas emo��es

'Que tal focar nas suas habilidades e não nas suas deficiências?' propõe a psicóloga Renata Borja aos educadores sob pressão(foto: Raquel Moreno/Divulgação)
'Que tal focar nas suas habilidades e n�o nas suas defici�ncias?' prop�e a psic�loga Renata Borja aos educadores sob press�o (foto: Raquel Moreno/Divulga��o)
A sa�da para n�o pirar durante a pandemia pode estar no que Renata Borja chama de modula��o emocional. De acordo com a especialista, trata-se da capacidade que qualquer pessoa pode desenvolver para lidar com emo��es fortes - sobretudo as negativas, que levam � in�rcia e ao desvio de foco.

A primeira atitude que o profissional pode tomar nesse sentido, ensina a psic�loga, � se cobrar menos e ter mais compaix�o por si mesmo, al�m de parar julgar as pr�prias emo��es.”’Ah, mas eu n�o deveria estar sentindo raiva’. Mas est� sentindo. Sinta. O que importa n�o � o que a gente sente, mas como lidamos com esses sentimentos”, orienta.

O pr�ximo passo, segundo a especialista, � aprender a usar as emo��es de forma assertiva. “Dentro do limite adequado, elas funcionam como um est�mulo. A raiva, por exemplo, traz foco quando est� sob controle. E que tal usar esse sentimento para focar naquilo que, nesse momento, eu consigo fazer, e n�o para me revoltar com o que eu n�o consigo? A terapia pode ajudar nesse equil�brio”, prop�e.

Novos tempos, novos h�bitos

Renata tamb�m sugere adapta��es na rotina para melhorar a qualidade de vida e, consequentemente, a sa�de emocional dos educadores sobrecarregados pelo ensino remoto. Veja o que � poss�vel fazer desde j�.

Pe�a ajuda

“Esse � o ponto mais importante: n�o espere ficar gravemente adoecido para procurar ajuda profissional. Altera��es bruscas de humor, cansa�o excessivo, taquicardia e dores de cabe�a frequentes costumam ser os primeiros sinais da s�ndrome de Burnout. Diante deles, o professor deve acionar o m�dico ou o psic�logo de sua confian�a”

Planeje-se

“Estabele�a metas di�rias e, pelo menos, mensais, por�m realistas. Foque nas suas habilidades, n�o nas suas defici�ncias. Sem planejamento, � quase imposs�vel vencer o estresse”.

Lazer e atividade f�sica

“Proporcione a si mesmo momentos constantes de lazer. J� os exerc�cios f�sicos, v�o ajudar na produ��o de serotonina e endorfina, reguladores naturais do humor”

Exercite a espiritualidade

“S�o momentos valiosos de encontro da pessoa com ela mesma, que ajudam no processo de autoacolhimento. Quem n�o cr� em nada pode praticar medita��o, por exemplo. O efeito � similar”



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