
O Parque Nacional da Serra da Canastra, onde fica a nascente do Rio S�o Francisco, no Centro-Oeste do estado, � importante h�bitat da esp�cie. O lobo-guar� tamb�m � atra��o tur�stica no Santu�rio do Cara�a, no parque nacional hom�nimo, situado na Serra do Espinha�o, entre os munic�pios de Catas Altas e Santa B�rbara, na Regi�o Central do estado.
De acordo com o bi�logo e especialista em can�deos Rog�rio Cunha de Paula, do Instituto Chico Mendes de Conserva��o da Biodiversidade (ICMBio), estimativas apontam a exist�ncia de 24 mil lobos-guar�s no Brasil, quantidade preocupante quando se fala em reprodu��o. "Menos da metade deles consegue se reproduzir, pois grande parte dos indiv�duos s�o jovens ou idosos. Desse total, menos de 5% vivem em ambientes conservados, ou seja, a maioria est� em locais impactados pela a��o humana", afirma o especialista.

Rog�rio de Paula destaca que o lobo-guar� faz parte do Plano de A��o para a Conserva��o de Can�deos, coordenado pelo ICMBio. Entre as a��es espec�ficas para a preserva��o da esp�cie est�o: a instala��o de redutores de velocidade e de passagens subterr�neas, para frear as mortes de animais por atropelamento nas rodovias, “melhoria da rela��o com propriet�rios rurais para diminuir a ca�a e persegui��o ao animal” e melhoria das condi��es de h�bitat da esp�cie.
Por ser uma esp�cie predominantemente de �reas abertas e campestres, o lobo-guar� tem grande presen�a nas �reas protegidas do cerrado, ocorrendo tamb�m em muitas partes conservadas de mata atl�ntica, explica o representante do ICMBio. Mas, devido ao desmatamento, o animal buscou ref�gio em outras �reas, sendo encontrado na “periferia do bioma amaz�nico” e em terras mais altas do Pantanal. Nos Pampas, a esp�cie se encontra praticamente extinta”.
O especialista salienta que a estampa do lobo-guar� na nota de R$ 200 ser� importante para a conserva��o e divulga��o da esp�cie, que ainda � pouco conhecida da sociedade. “A circula��o da esp�cie na nota poder� trazer grande visibilidade e acreditamos que isso gere maior engajamento de diversos setores para incorporar as a��es para melhorar seu estado de conserva��o. No m�nimo, a esp�cie, junto com seus problemas, passar� a ser mais conhecida da sociedade em geral”, acredita Rog�rio de Paula.
A opini�o do representante do ICMBio � compartilhada pelo ambientalista Eduardo Gomes, diretor da organiza��o n�o governamental (ONG) Instituto Grande Sert�o (IGS), de Montes Claros, no Norte de Minas. “A divulga��o do lobo-guar� na nota de R$ 200 � important�ssima do ponto de vista ambiental, porque ele representa muito, n�o somente a fauna do cerrado, como tamb�m as agress�es sofridas por esse ecossistema t�o importante e o Brasil”, avalia Gomes.
O ambientalista observa que o lobo-guar� � encontrado em toda a Serra do Espinha�o, sendo visto em lugares como o munic�pio de Itacambira, no Norte do estado, onde ele fotografou um exemplar da esp�cie “passeando” livre na natureza, recentemente. No Norte de Minas, o lobo-guar� pode ser visto em �reas de preserva��o, como as reservas ambientais do Rio Pandeiros e do Vale do Perua�u (regi�o de Janu�ria), informa o diretor do Instituto Grande Sert�o.
Equil�brio
“O lobo-guar� � um agente dispersor de esp�cies nativas do cerrado (frut�feras). O animal equilibra a cadeia alimentar no cerrado e, mais importante, a sua presen�a indica que temos um bioma preservado”, afirma M�rio L�cio dos Santos, supervisor da Unidade Regional de Florestas e Biodiversidade Alto M�dio S�o Francisco (URFBio/ AMSF), do Instituto Estadual de Florestas (IEF).Ele lembra que o lobo-guar� � uma esp�cie muito amea�ada, sobretudo pela redu��o do seu h�bitat, por conta do desmatamento. “O cerrado vem sendo substitu�do pelo plantio de soja e outras monoculturas e tamb�m (� derrubado) para a produ��o de carv�o. Isso gera uma press�o sobre a popula��o do lobo-guar� e faz com ela esteja criticamente amea�ada”, alerta M�rio L�cio.
Atra��o tur�stica no Cara�a

O antigo Col�gio do Cara�a (Santu�rio de Nossa Senhora M�e dos Homens) sedia, hoje, duas pousadas, a “Santu�rio e a “Engenho” – que, juntas comportam 230 pessoas, mas, atualmente, em decorr�ncia da pandemia do novo coronav�rus, apenas a primeira est� funcionando, assim mesmo com 40% da capacidade.
Todas as noites, os turistas hospedados no Cara�a s�o contemplados com a visita do lobo-guar�. O gerente-geral do Santu�rio do Cara�a, M�rcio M�l, explica que a “tradi��o” existe desde 1982. Na ocasi�o, relata, algumas lixeiras come�aram a aparecer reviradas e um dos padres que viviam no santu�rio pensou que a bagun�a vinha sendo feita por cachorros e passou a acompanhar a situa��o mais de perto. “Certo dia, ele ficou esperando escondido e descobriu que quem mexia nas lixeiras era o lobo. A partir desse momento ele come�ou a colocar bandejas de carne nos port�es da frente da casa e aos poucos os lobos foram se aproximando do adro da igreja, onde todas as noites os turistas esperam pela visita. Essa pr�tica de alimentar os lobos no Cara�a s� persiste at� hoje porque o seu h�bito de ca�a n�o foi comprometido”, assegura M�rcio M�l.
De acordo com o gerente, atualmente, vivem na �rea da reserva dois representantes da esp�cie, um macho e uma f�mea adultos. “Eles costumam se acasalar uma vez ao ano. Quando nascem, os filhotes tamb�m aprendem a subir at� o adro da igreja. Quando atingem a idade adulta (pr�ximo de 1 ano e 6 meses), o filhote vai brigar com o pai (no caso de macho) e com a m�e (no caso da f�mea) para dominar a �rea, e quem perde � expulso do local”, descreve M�rcio.
Ele ressalta a import�ncia da escolha do lobo-guar� para a ilustrar a nota de R$ 200. “Essa homenagem � de grande import�ncia para a fauna brasileira. S� o an�ncio de que o lobo-guar� vai estampar as c�dulas j� chamou a aten��o de todos. Ser� uma forma de as pessoas conhecerem melhor o animal e iniciar discuss�es importantes sobre a preserva��o da fauna brasileira”, observa.
M�rcio M�l lembra ainda que, ao promover o contato entre os turistas e o lobo-guar�, o Santu�rio do Cara�a “exerce importante papel de educa��o ambiental e conscientiza��o sobre fauna e flora”. “A experi�ncia de presenciar esse animal fora de jaulas e cercas, em seu ambiente natural, induz os turistas a repensar a import�ncia da conserva��o ambiental para a manuten��o das esp�cies”, acredita o gerente do complexo. (LR)