
Passados os primeiros momentos de perplexidade gerados pela pandemia da COVID-19, a popula��o e a economia v�o se adaptando � nova realidade. O setor de materiais de constru��o, considerado em Belo Horizonte como atividade essencial e em funcionamento durante o isolamento social, experimentou no in�cio do ano um t�mido crescimento, mas aponta para resultados mais otimistas � medida que "as coisas v�o se acomodando".

Empres�rio do setor, Cristiano Lana Vasconcelos calcula que nos meses de mar�o e abril, in�cio da quarentena, houve um crescimento, em m�dia, de 5%, e no �ltimo bimestre, de 15%. Propriet�rio da CNR Materiais de Constru��o, uma rede que re�ne sete lojas em Belo Horizonte, Contagem, Nova Lima e Betim, Cristiano divide essa percep��o em dois momentos: o primeiro, segundo o empres�rio, foi logo em seguida ao decreto de isolamento social. Aumentaram as demandas de hospitais e unidades de sa�de, que precisaram se readequar e ampliar seus espa�os de atendimento. "At� ent�o, n�o havia muita clareza do que estava por vir", as incertezas, tanto das autoridades quanto da popula��o, colocaram um freio no setor de reformas e constru��o particulares e fizeram subir a demanda das institui��es de cuidados � sa�de.

O segundo momento, observa Vasconcelos, come�ou a ser sentido entre junho e julho. "As pessoas j� estavam h� algum tempo em casa e perceberam as necessidades de pequenos reparos, de troca de alguns equipamentos" e, na impossibilidade de retomada da rotina de trabalho anterior � pandemia, "at� mesmo aquela reforma sempre adiada, que podia esperar mais um pouco, teve oportunidade de ser realizada".
A varia��o das vendas ocorreu de forma diferenciada em cada uma das cidades onde as lojas est�o instaladas, devido �s diferentes formas de enfrentar a pandemia pelas prefeituras. As lojas da empresa em Belo Horizonte, onde o setor foi classificado como essencial, n�o chegaram a fechar. "Apenas criamos estrat�gias de atendimento obedecendo as recomenda��es das autoridades de sa�de, preservando a integridade de funcion�rios e clientes", explica.
PEQUENOS CONSERTOS Para Val�ria Barbosa de Medeiros, propriet�ria do Dep�sito G�vea, no Bairro Jardim Am�rica, Regi�o Oestede BH, a classifica��o do setor como essencial gerou “um certo al�vio”. O p�blico alvo da comerciante � formado por clientes da regi�o onde o estabelecimento est� situado, basicamentee pequenas obras, que exigem materiais em menores quantidades. "N�o atendemos grandes construtoras".
Como a loja ainda tinha material para reposi��o em estoque, como torneiras, pias, vasos sanit�rios e chuveiros, a din�mica de vendas n�o mudou muito. "S�o muitos pr�dios na regi�o, e as pessoas, obrigadas a ficar em casa, passaram a se reinventar, aprendendo por conta pr�pria procedimentos de pequenos reparos."
Val�ria considera ser este um momento de "reflex�o, de se reinventar, de colocar o p� no freio e repensar modos de vida, de com�rcio, de rela��es humanas". A empres�ria acredita que esse panorama persistir�. “Tive que diversificar meus produtos, as f�bricas desaceleraram as entregas e fizeram remanejamento de pessoal." O dep�sito encontra-se ainda desfalcado de materiais mais pesados, constata. A empresa agora atende presencialmente, sem aglomera��es, com "todos os cuidados e obedecendo as orienta��es das autoridades sanit�rias", garante.
TELHADOS “BOMBANDO” H� 15 anos no setor de constru��o e reforma de telhados, Caio Renilton Gon�alves, de 45, da CR Telhados, usa o termo "bombou" para quantificar o agendamento de servi�os durante a pandemia. Ele garante que n�o h� mais espa�o em sua agenda at� dezembro. No momento vem tocando duas obras: uma no Bairro Ribeiro de Abreu e outra, de grande porte, em Santa Luzia. "Parece que a quarentena fez o pessoal investir mais. N�o paramos um dia sequer". Ele atribui tamb�m ao isolamento social a percep��o dos clientes da necessidade de alguma reforma, amplia��o ou mesmo de constru��o.
Caio Gon�alves disse que n�o h� dificuldades em encontrar material, e acredita que seus clientes tiveram mais tempo de planejar as compras, de pesquisar melhor. O empres�rio assegura que seu trabalho n�o p�e em risco a sa�de. "N�o h� aglomera��o, trabalhamos em locais abertos, ventilados, no alto da constru��o. Usamos m�scaras e �lcool em gel sem levar risco aos clientes e oper�rios." As formas de pagamento s�o negociadas, para dar "um respiro ao contratante", garante.
Hora de investir no conforto

A pedagoga e educadora M�rcia Maria Silva Machado da Cunha, de 54 anos, funcion�ria do Col�gio Tiradentes, passou a trabalhar de forma remota, em sua pr�pria casa. � medida que foi permanecendo em casa, percebeu que v�rios gastos do dia a dia, como combust�vel para ir ao trabalho ou alimenta��o fora da resid�ncia, foram praticamente cortados. Da� surgiu a ideia de aproveitar a economia para implementar uma reforma em sua casa. "Mesmo com o trabalho home office exigindo muito mais, foi a oportunidade de poder acompanhar as obras bem de perto e ficar mais pr�xima de minha m�e, que tem 91 anos."
M�rcia diz que n�o foi dif�cil comprar materiais ou encontrar os profissionais para tocar a constru��o. Apenas na primeira semana encontrou alguns empecilhos para aquisi��o dos implementos necess�rios. "Havia alguma incerteza de como tudo funcionaria", relata. Ap�s pesquisas e indica��es contratou a m�o de obra que deu in�cio aos trabalhos em 17 de junho, com previs�o de t�rmino para �ltima semana de agosto. E n�o � uma interven��o pequena: "Uma �rea que funcionava como lavanderia e copa conjugada vai virar cozinha americana, a antiga cozinha virou sala, e a dispensa uma lavandeira."
O aposentado Juscelino Ribeiro, de 72, resolveu aproveitar o momento da quarentena para fazer "uns acertos" em sua casa, no Bairro Conc�rdia. Trata-se de uma constru��o com mais de 50 anos, que j� passou por v�rias modifica��es. "Minha inten��o � regularizar a situa��o na prefeitura, uma vez que cada acr�scimo ao longo dos anos precisa de um projeto e uma autoriza��o. Coisas que n�o t�nhamos o h�bito de fazer." Ribeiro pensa em deixar tudo regularizado para os herdeiros. "� para que n�o tenham problemas com invent�rios num futuro, espero, bem distante", brinca. Ele tem quatro filhos.
Juscelino explica por que "justo agora" decidiu realizar essas obras corretivas: "Primeiro porque, com a quarentena e o isolamento social, n�o temos muito o que fazer. Se � pra ficar em casa, j� que n�o h� locais de encontros nem muitas visitas, estou aproveitando para acompanhar de perto os trabalhos".
Ele disse que a orienta��o da prefeitura � de criar um "condom�nio", j� que o lote, que originalmente abrigava uma �nica resid�ncia, hoje tem mais dois im�veis. Precisou mudar e fechar port�es de acesso, trocar posi��o da entrada da garagem e demolir um "puxadinho" na �rea de servi�o.
Outra motiva��o para o aposentado foi contribuir para amenizar os impactos da crise. "� um momento muito duro para todos. H� muitos desempregados. Neste momento, � uma forma de ajudar quem precisa sustentar seus familiares. S�o poucos os que trabalham na obra, mas n�o deixa de ser um alento nesta hora t�o dif�cil pela qual passamos."
J� a administradora Teresa Borges decidiu comprar um apartamento usado por encontrar um "pre�o bem acess�vel", nesse per�odo de "certo desaquecimento da economia". Aproveitou os baixos juros de financiamento e adquiriu um im�vel no Centro de BH, que era de uma amiga. Ela conta que � um apartamento antigo, precisando de reformas. "Ainda estamos em negocia��o, mas como a propriet�ria � minha amiga, ela liberou para as obras e reformas".
Teresa confessa que ainda est� amedrontada com a situa��o de precisar sair para comprar e escolher materiais. "Obra mesmo � na cozinha, no banheiro e �rea de servi�o. O resto s�o pequenos reparos, como pintura e troca de janelas". A administradora disse n�o ter pressa e, por enquanto, toca a obra com apenas um pedreiro. "Se precisar, ponho mais um, para n�o aglomerar". A obra mais pesada depende de materiais que podem ser comprados pela internet. "Mais tarde vir� a parte de azulejos, decora��o, e ent�o exige uma escolha presencial. Confesso que estou temerosa, mas j� mais tranquila em rela��o ao in�cio da pandemia, quando nada sab�amos". A expectativa � de que a obra fique pronta em 60 dias. (EG)
Peso-pesado
A constru��o civil contribui com cerca de 5% do Produto Interno Produto (PIB Brasil) e 9% do PIB de Minas Gerais. O setor gera quase 2 milh�es de empregos no Brasil e mais de 100 mil postos de trabalho em Minas. Junto com o agroneg�cio, foi o setor que, segundo dados do Caged, mais contratou trabalhadores com carteira assinada durante a pandemia, informa o Sinduscon-MG. “A constru��o civil � a mola propulsora da economia. Podemos, em curto prazo, criar 2 milh�es de postos de trabalho no Brasil”, diz o presidente do Sinduscon-MG, Geraldo Linhares.