Descompasso de dados sugere ampla subnotifica��o da COVID-19 em Minas
Forte salto de casos e mortes por s�ndrome respirat�ria desde mar�o indica que alcance da pandemia em Minas vai muito al�m dos casos confirmados
Movimento em �rea de hospital da capital mineira para recebimento de pacientes com suspeita de COVID-19: evolu��o da epidemia coincide com alta de 1.473% nos casos de SRAG no estado (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press - 13/7/20)
Larga diferen�a entre o total de casos e mortes de pacientes que apresentaram s�ndrome respirat�ria aguda grave (SRAG) neste ano em rela��o � m�dia verificada em 2018 e 2019 pode indicar que a aparente situa��o de controle da COVID-19 em Minas Gerais � uma imagem distorcida pela subtestagem da doen�a provocada pelo novo coronav�rus no estado. Segundo dados do sistema InfoGripe do Minist�rio da Sa�de, a m�dia dos �ltimos dois anos foi de 2.698 pacientes com SRAG de janeiro a 8 de agosto. Neste ano, em que ocorre pandemia do novo coronav�rus (Sars-Cov-2), o n�mero saltou para 42.452, um volume 1.473% superior � m�dia de 2018 e 2019.
A discrep�ncia tamb�m � enorme no total de mortes. Na m�dia dos dois �ltimos anos, houve 396 �bitos de pacientes que tiveram a s�ndrome no per�odo. Neste, 7.484. Um salto de 1.789%. A Secretaria de Estado de Sa�de de Minas Gerais (SES-MG) n�o relaciona a COVID-19 ao aumento de SRAG e afirma fazer exames suficientes, em 90% dos casos de pacientes internados, enquanto a Sociedade Mineira de Infectologia observa prov�vel congru�ncia de pacientes.
Ontem, a reportagem do Estado de Minas mostrou que o estado � o segundo em todo o Brasil com menor propor��o de diagn�sticos fechados sobre pacientes internados com s�ndrome respirat�ria aguda grave (SRAG) registrados no InfoGripe em 13 de agosto. E que Minas pode ter um volume de doentes graves da COVID-19 at� 40% superior ao confirmado, considerando-se a proje��o da propor��o de resultados positivos para a doen�a entre pacientes que apresentaram a s�ndrome (80%) sobre os casos com testes sem resposta. Um dos quadros ligados ao coronav�rus, a SRAG � provocada tamb�m por outros micro-organismos, como o v�rus influenza.
Para verificar se a evolu��o da COVID-19 coincide com a disparada de casos de SRAG no estado, a reportagem compilou os dados das semanas epidemiol�gicas do ano e os dividiu em grupos de quatro semanas, com o objetivo de aproxim�-los de resultados mensais. E constatou que as evolu��es coincidem no tempo.
Em 16 de mar�o, foi notificado o primeiro caso de infec��o pelo novo coronav�rus em Minas Gerais, data que se insere na 12ª semana epidemiol�gica, ou no terceiro conjunto do agrupamento feito pelo EM. Como os sintomas podem levar at� 14 dias para se manifestar, essa contamina��o pode ter ocorrido um pouco antes, mas dentro do mesmo agrupamento quadrissemanal. Para esse per�odo, a m�dia de SRAG de 2019 e 2018 � de 49,7 pacientes e a de 2020 j� estava em 1.771 (+3.463%), antes mesmo de medidas de observa��o e cuidados estarem solidificados nas redes de sa�de mineiras.
Dois dias depois, em 18 de mar�o, as aulas foram suspensas em todo o estado. Dois dias depois, foi publicado decreto de calamidade p�blica, seguido de suspens�o da maioria das atividades n�o essenciais. As contamina��es por coronav�rus desse per�odo s� se manifestariam de cinco a 14 dias depois, j� no quarto agrupamento de semanas epidemiol�gicas. Nesse per�odo, os pacientes mineiros com SRAG somavam 4.286, superando em 4.688% a m�dia dos dois �ltimos anos, que era de 89 casos.
Vaiv�m
Considerando que Belo Horizonte tem n�meros de mortos e doentes expressivamente maiores que os da maioria das cidades mineiras, � importante verificar os impactos das medidas tomadas na capital nos conjuntos de quatro semanas epidemiol�gicas. A primeira flexibiliza��o do com�rcio e das atividades na capital mineira ocorreu em 25 de maio, dentro da 22ª semana epidemiol�gica, no sexto agrupamento de quatro semanas, dentro do qual tamb�m ocorreu a amplia��o da abertura de estabelecimento (em 8 de junho). �quela altura, o n�mero de doentes com SRAG no estado chegou a 8.460, superando em 5.964% a m�dia de 139 de igual per�odo em 2019 e 2018. No agrupamento seguinte (s�timo), poss�veis reflexos de contamina��o do per�odo anterior s�o revelados pelo maior n�mero de notifica��es de SRAG, 13.713. Nos dois anos anteriores, a m�dia do per�odo foi 121, ou seja, houve uma alta de 11.205% em 2020.
A capital mineira voltou ao est�gio de isolamento, com a permiss�o apenas de com�rcio e atividades essenciais em 26 de junho, dentro da 26ª semana epidemiol�gica. A nova flexibiliza��o parcial semanal, com tr�s dias de abertura e quatro de fechamento, ocorreu a partir de 6 de agosto, na 32ª semana epidemiol�gica e oitavo agrupamento. Tamb�m um per�odo de alta, mas menos forte, com registro de 8.497 casos de SRAG, 9.436% a mais que os 89 dos dois anos anteriores.
Esse mesmo ritmo � notado nas mortes por SRAG dos per�odos em compara��o. Com os aumentos e redu��es de �bitos seguindo exatamente os movimentos de abertura e fechamento de com�rcio e atividades. O maior n�mero de mortes ocorreu no s�timo agrupamento de quatro semanas: 2.552 �bitos de pacientes com s�ndrome respirat�ria, um volume 12.596% superior aos 20, em m�dia, de 2019 a 2018.
(foto: Arte EM)
Controle de surtos
Surtos de COVID-19 em Institui��es de Longa Perman�ncia de Idosos (ILPI) t�m sido monitorados de perto pelo governo de Minas, afirma o secret�rio de Estado da Sa�de, Carlos Eduardo Amaral. Segundo ele, at� o momento, foram contabilizados 87 surtos em asilos de 53 munic�pios mineiros. A orienta��o do governo � de aplica��o de testes e separa��o dos que est�o contaminados. At� ontem, o estado havia confirmado 4.436 mortes e 181.158 casos da doen�a. Em Belo Horizonte, s�o 855 �bitos e 29.690 casos. O �ndice de transmiss�o da doen�a subiu para 1,01, mas houve queda na ocupa��o de UTIs, para 63%, e de leitos de enfermaria, para 48,5%. No Brasil, o n�mero de �bitos chegou a 111.100, e o de casos a 3.456.652 de acordo com o Minist�rio da Sa�de.
Sa�de evita correla��o sem teste
O aumento de pacientes com quadros de SRAG em ritmo semelhante ao do surgimento de casos de COVID-19 j� pode ser tido como fator de alerta para gestores da sa�de p�blica, observa o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Estev�o Urbano Silva. “(S�ndrome respirat�ria e COVID-19) Andam juntas, o problema � que estamos diagnosticando pouco. Temos muito mais casos em Minas Gerais, e o estado est� muito pior no diagn�stico”, diz o m�dico. Contudo, Estev�o Urbano afirma que n�o se pode fazer sempre uma rela��o direta do quadro somente com a doen�a provocada pelo novo coronav�rus. “� necess�rio acompanhamento e avalia��o, afinal, esse aumento tamb�m � natural no inverno. Por isso a import�ncia de se comparar com o hist�rico”, frisa.
A SES-MG � cautelosa sobre a correla��o de aumento de SRAG com a circula��o do coronav�rus. “A classifica��o por associa��o ao SARS-CoV-2 s� pode ser atribu�da por meio de evid�ncia laboratorial ou cl�nico-epidemiol�gica, por exemplo, um caso que esteja diretamente vinculado a outro laboratorialmente confirmado. Ali�s, deve-se ressaltar que o exame por si s�, sem interpreta��o do profissional m�dico e com apontamento das situa��es cl�nicas n�o � capaz de resultar em classifica��o instant�nea do caso, se confirmado ou descartado”.
A secretaria assinala, ainda, que v�rios outros agentes podem causar SRAG. “Importante destacar, ainda, que diversas doen�as respirat�rias podem evoluir para quadro de s�ndrome respirat�ria aguda grave (SRAG), desde uma asma, bronquite, passando por uma pneumonia, tuberculose, intoxica��o ex�gena, edema agudo de pulm�o, c�ncer, al�m das gripes e do pr�prio coronav�rus.”
Com a dificuldade de diagn�sticos, mesmo a orienta��o do Minist�rio da Sa�de para que amostras sejam coletadas e testes realizados em todos os casos de SRAG hospitalizados e �bitos suspeitos acaba tendo efeito limitado. Dos 23.515 exames em pacientes mineiros com esse quadro, 6.718 (28,6%) ainda esperam pelo diagn�stico da COVID-19. O estado s� est� � frente na conclus�o de testes conclu�dos do Mato Grosso, que tem 5.489, dos quais 1.909 (34,8%) ainda est�o indefinidos.
Minas � o oitavo em resultados indefinidos para �bitos com SRAG, atr�s de Alagoas, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Piau� e Maranh�o. Dos 4.186 pacientes que perderam a vida desde o in�cio do ano com a SRAG, 268 (6,4%) seguem sem resultados conhecidos. Ao todo, os �bitos com COVID-19 confirmada s�o oficialmente de 3.698 (94%), sendo que com essa propor��o projetada sobre os testes n�o definidos o estado chegaria a 3.950, uma amplia��o de 252 (6,8%) dos mortos pelo novo coronav�rus, com base no boletim do InfoGripe de 13 de agosto.
Em maio, a reportagem do Estado de Minas alertou que o volume de diagn�sticos para COVID-19 pendentes em pacientes e �bitos de Minas Gerais era proporcionalmente um dos piores do Brasil, sendo o nono em defasagem de diagn�sticos de quadros de SRAG e o oitavo pior em termos de mortes. Pelos dados dispon�veis, Minas Gerais tem a menor incid�ncia de COVID-19 do Brasil, com taxa de 795,6 casos positivos por grupo de 100 mil habitantes e a unidade da Federa��o onde menos pessoas morreram proporcionalmente, com taxa de �bitos de 18,6 por 100 mil habitantes.
O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte. V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.