“Este sentimento que nos maltrata � forte como o amor.” O primeiro verso da poesia Saudade, escrita em 1984 pela ent�o adolescente Giovana Paolucci, traduz perfeitamente, agora, o que vai no cora��o dela. Diante do fechamento do col�gio do Instituto Metodista Izabela Hendrix, em Belo Horizonte, onde ela cursou o ensino m�dio na d�cada de 1980, as lembran�as afloram e emocionam. “A gente fica triste demais... fiz muitos amigos l�, era um ensino de qualidade, uma escola onde a religi�o nunca foi imposta ou interferiu na rela��o entre alunos e dire��o”, conta Giovana, casada, m�e de um menino e formada em administra��o e direito.
Na sala de casa, ela mostra com carinho o Varal de poesia, livro comemorativo dos 80 anos da escola, fundada em 1904, reunindo os poemas da turma que estudou no pr�dio da Rua da Bahia, perto da Pra�a da Liberdade, na Regi�o Centro-Sul da capital. “A saudade nos consome aos poucos. E chega um dia que nos deixa loucos. Saudade! Que sentimento.”
Depois de ler essa estrofe, Giovana, de fam�lia cat�lica, revela que, ao se mudar de Bras�lia (DF) para BH, os pais dela optaram por uma escola com ensino diferenciado independentemente da religi�o. “Posso dizer que amei estudar no Izabela. Foi um per�odo muito bom, tive �timos professores: a Luc�lia, de ingl�s, o Evaldo, de matem�tica, o Edson, de biologia. Lembro-me tamb�m do diretor, Ulisses Panisset. Muitos colegas est�o a� pelo mundo, seguiram seus caminhos, mas o que nos une � essa hist�ria”, afirma.
Para a designer gr�fica Rhyana Patr�cia Neves, de 35 anos, casada, uma filha, a uni�o no Izabela permanece com a for�a de uma fam�lia, tanto que ela integra grupos de ex-colegas no WhatsApp em contato direto. Natural de Montes Claros, no Norte de Minas, veio para BH com a fam�lia e estudou no col�gio do infantil ao ensino m�dio, num total de 12 anos, de 1991 a 2003. As boas lembran�as est�o na mente e em v�rios cantos da casa, a exemplo de fotos, escritos e um colar de ouro, com o s�mbolo da escola, que recebeu ao concluir o ensino m�dio, um presente para os alunos que estivessem na institui��o uma d�cada ou mais. “Os meninos ganharam uma caneta linda, e as meninas o colar”.
A qualidade do ensino sempre satisfez as exig�ncias de Rhyana: “Era uma escola tradicional, preparando os alunos n�o apenas para o vestibular, mas para a vida. Havia um laborat�rio �timo, e aula de anatomia no ensino m�dio, algo que n�o se via por aqui. Tenho saudade das aulas. E a gente falar que sente falta das aulas � meio dif�cil, n�?”, brinca. Ressaltando que o col�gio fez parte do seu amadurecimento como ser humano, das mudan�as em v�rias fases e tamb�m do conhecimento para vida profissional, a designer conta que na �poca de elei��es faz quest�o de acompanhar o marido ao local de vota��o, que � realizada no pr�dio do Izabela Hendrix. “Gosto muito de voltar ao col�gio, de estar naquele ambiente.”
Considerado um dos professores mais queridos pelos alunos, Evaldo de Castro, de 73, de matem�tica, lamenta o encerramento das atividades do col�gio do Izabela e v� como grande perda para a capital. “Acho que o carinho dos alunos � porque comecei muito cedo a trabalhar no Izabela, aos 21, quase um menino. Ocupei v�rios cargos em mais de 30 anos, sendo, inclusive, respons�vel pela prova do vestibular.”
Mas nem tudo s�o flores: “T�nhamos nossas discuss�es, diverg�ncias salariais, por�m tudo sempre correu com muito respeito. Pelo tanto tempo que passei no col�gio, posso dizer que o Izabela era minha casa, form�vamos uma fam�lia”, conta o professor.
Novos rumos
Em comunicado divulgado na segunda-feira, o Instituto Metodista Izabela Hendrix, entidade mantenedora do col�gio e do centro universit�rio, informou que manter� o centro universit�rio com seus 24 cursos presenciais e 10 a dist�ncia. Haver� amplia��o de oferta de cursos. Em 2021, estar�o dispon�veis mais duas gradua��es – farm�cia e engenharia biom�dica.No comunicado, a institui��o esclareceu que “nos �ltimos anos houve desafios financeiros intensos, comprometendo a sustentabilidade do col�gio. Mudan�a em gest�o, enxugamento de quadro administrativo, medidas n�o operacionais, aperfei�oamento de uma proposta pedag�gica cada vez mais enriquecedora e atrativa, bem como redu��o nas mensalidades n�o foram suficientes para solu��o da crise financeira engendrada h� quase duas d�cadas, passando a comprometer processos e outras unidades”, diz o texto. (Com Elian Guimar�es e Junia Oliveira/Especial para o EM)