
Belo Horizonte era uma jovem capital, prestes a completar 23 anos de inaugurada, quando recebeu uma visita que marcou sua hist�ria. H� exato um s�culo, em 2 de outubro de 1920, chegavam � capital mineira os reis da B�lgica, o casal Alberto e Elisabeth, na primeira viagem de um monarca europeu ao Brasil ap�s a Proclama��o da Rep�blica. Para celebrar o centen�rio, muitas festividades estavam programadas ao longo deste ano, mas, devido � pandemia do novo coronav�rus, houve reformula��o nos eventos, destaca o c�nsul honor�rio da B�lgica em Minas, Henrique Rabelo: "Estamos nos adaptando para comemorar este fato hist�rico com atividades culturais, econ�micas e institucionais, j� que as rela��es entre a B�lgica e o Brasil, especialmente Minas Gerais, s�o muito fortes e o futuro, acredito, ser� de oportunidades".
Na manh� de hoje (2), �s 11h30, haver� um ato simb�lico no Pal�cio da Liberdade, na Regi�o Centro-Sul da cidade, com hasteamento das bandeiras da B�lgica, do Brasil e de Minas, na presen�a do governador Romeu Zema e do embaixador da B�lgica no Brasil, Patrick Herman. J� a Orquestra Sinf�nica de Minas Gerais far� apresenta��es virtuais di�rias at� o pr�ximo dia 6, sempre �s 18h, com as obras do maestro belga Arthur Bosmans, enquanto no dia 7 a Federa��o das Ind�strias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) promover� um semin�rio de economia em modo virtual. Interessados na programa��o podem acessar as redes sociais do consulado.
Mesmo n�o sendo mais a sede do governo de Minas, o Pal�cio da Liberdade, na Pra�a da Liberdade, � o lugar mais indicado para lembrar este dia – afinal, o rei Alberto, ent�o com 45 anos, e a rainha Elisabeth, com 44, ficaram hospedados no pr�dio em estilo ecl�tico que, em tempos normais, abre para visitas guiadas. Quem j� fez o tour, p�de ver os m�veis da �poca.
"Praticamente todo o mobili�rio exposto no roteiro do Pal�cio da Liberdade foi adquirido para a visita dos reis da B�lgica. S�o os conjuntos mais importantes � mostra nos espa�os principais, como o sal�o dourado, a sala de m�sica e o sal�o de banquetes. H� tamb�m o chamado Quarto da Rainha ou Sala da Rainha, preparado para Elisabeth receber as pessoas. O c�modo foi destinado ao uso exclusivo da rainha para receber convidados para o ch�, um lanche", conta a presidente do Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iepha), Michele Arroyo. Os reis dormiram no Pal�cio da Liberdade, enquanto a fam�lia do presidente de Minas (ainda n�o se usava a palavra governador), Arthur Bernardes (1875-1955), ent�o residente no local, se deslocou para os vizinhos Palacete Dantas e Solar Narbona.
Os reis belgas ficaram no pa�s entre 19 de setembro e 15 de outubro, visitando ainda o Rio de Janeiro e S�o Paulo. Em Minas, foram, al�m de BH, a Lagoa Santa e Nova Lima, onde conheceram a minera��o de ouro de Morro Velho. "A viagem teve como consequ�ncia uma estreita aproxima��o entre a B�lgica e o Brasil, e o principal fruto foi a cria��o da Companhia Belgo Mineira, em 1921", destaca Rabelo. Sobre o monarca, o c�nsul explica: "Era conhecido como o Rei Her�i ou Rei Soldado devido � atua��o e lideran�a durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Receb�-lo, em 1920, significou uma grande honra para nosso pa�s, pois era uma das figuras internacionais mais importantes daquela �poca".
Aclama��o popular
Conforme as pesquisas feitas pelo consulado, os reis desembarcaram na Esta��o Ferrovi�ria (Pra�a Rui Barbosa, no Centro de BH), sendo recebidos pelo presidente da Rep�blica Epit�cio Pessoa (1865-1942) e por Arthur Bernardes. "Houve uma grande aclama��o popular. Os monarcas ficaram hospedados no Pal�cio da Liberdade, que foi reformado e ganhou nova decora��o para receb�-los. A Pra�a da Liberdade tamb�m foi remodelada e preserva o mesmo estilo at� hoje. As formas arredondadas deram lugar ao formato geom�trico e retil�neo da arquitetura francesa. O espa�o ganhou ares parisienses inspirados nos jardins de Versalhes."
E qual a impress�o que a capital causou aos reis? O c�nsul responde: "Eles partiram impressionados com a hospitalidade mineira. Foram saudados por toda a popula��o. O escritor Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), na �poca com 17 anos, registrou esse momento no poema A Visita do rei: Vejo o rei passar na avenida Afonso Pena/onde s� passam dia e noite, m�s a m�s e ano, burocratas, estudantes, p�s-rapados/Primeiro rei entre renques de f�cus e aplausos/primeiro rei (verei outros?) na minha vida./N�o tem coroa de rei, barbas formid�veis/de rei, armadura de rei, resplandescente ao sol da Serra do Curral./� um senhor alto, formal, de meia-idade/metido em uniforme belga/ao lado de outro senhor de pince-nez/que conhe�o de retrato: o presidente do estado/N�o vem na carruagem de ouro e rubis das estampas./Vem no carro da Daumont de dois cocheiros/e quatro cavalinhos mineiros bem tratados".
Sabor e arte

Na despedida, os soberanos deixaram o estado com um presente do pintor Hon�rio Esteves (1860-1933). "Receberam um quadro pintado a �leo, Curtume de Jo�o Vidal, que, segundo informa��es do Pal�cio em Bruxelas, esteve no quarto do rei Alberto at� a sua morte em 1934", revelou o c�nsul.
Quatro perguntas para
Henrique Rabelo, c�nsul honor�rio da B�lgica em Minas Geraiss
Na atualidade, como s�o as rela��es comerciais entre o Brasil, especialmente Minas, e a B�lgica?
As rela��es comerciais entre Minas e a B�lgica est�o bastante diversificadas. Importamos, em especial, medicamentos, produtos para a ind�stria de transforma��o e fertilizantes. Exportamos sobretudo commodities, produtos minerais, suco de laranja e caf�. Destaco o caf� das Cooperativas do Sul de Minas, que, pelas suas caracter�sticas de altitude m�dia de 800 metros e acidez c�trica, definitivamente conquistou o mercado belga. Estamos vivendo um momento �mpar nas rela��es diplom�ticas, pois temos um embaixador belga muito din�mico e atento a Minas, Patrick Herman, e em Bruxelas temos um embaixador mineiro, Haroldo Macedo, que est� sempre promovendo a imagem do nosso pa�s.
Que projetos o senhor destacaria, na �rea econ�mica, que selam parcerias entre Minas e a B�lgica?
No in�cio, a siderurgia foi o setor mais importante. Destaque para a Companhia Sider�rgica Belgo Mineira, fundada logo ap�s a vinda dos reis. Depois vieram a Bekaert, Lhoist (Cal) e outras. O Porto do A�u (RJ), onde o Porto de Antu�rpia � acionista, talvez seja o mais recente e importante investimento belga, j� que a maior parte do fluxo de carga esta direcionada para o nosso estado – ind�stria sider�rgica e cimenteira. Por esse motivo o Porto do A�u � conhecido como o "Porto de Minas”. Mas a pauta � bem diversificada. Temos investimentos em tecnologia e biomedicina, startups e at� mesmo empreendimentos imobili�rios. A cerveja tamb�m � um grande elo. Como a B�lgica � refer�ncia na produ��o de cervejas artesanais, v�rios mestres cervejeiros buscam inspira��o nas receitas das abadias e mosteiros belgas. Minas se orgulha muito de ser um grande polo cervejeiro e de ser chamada de "A B�lgica Brasileira”. Para o futuro, com a agenda liberal do nosso Estado, arriscaria nos setores de energia e g�s.
O senhor � consultor do porto de Antu�rpia, um dos maiores pontos de entrada, na Europa, do caf� brasileiro. O que pode nos dizer sobre a presen�a de Minas?
O Porto de Antu�rpia � o maior porto fluvial da Europa, situado no Rio Scalda, a 70 quil�metros dentro do continente. Sua localiza��o privilegiada oferece um �timo acesso aos principais centros industriais europeus. Entre os produtos mineiros exportados destacamos, al�m do caf�, min�rios, produtos agr�colas, castanhas, tabaco, qu�micos, pl�stico, celulose e produtos industrializados. Antu�rpia ainda � um centro de servi�os, os produtos podem ser customizados antes de chegarem ao destinat�rio final.
Que palavra o senhor citaria para definir o futuro nas rela��es Brasil-B�lgica?
Oportunidade.