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Estado de Minas ENTREVISTA: ALO�SIO HENRIQUE SOUZA

'Sentimos dor e temos medo, mas � nossa miss�o', diz bombeiro ferido em inc�ndio

Militar que teve 13% do corpo queimado em combate ao fogo na Serra da Moeda fala sobre o incidente, gerenciamento de riscos e prepara��o para enfrent�-los


18/10/2020 04:00 - atualizado 18/10/2020 08:22

(foto: leandro couri/em/d.a press)
(foto: leandro couri/em/d.a press)
Em meio ao cerrado ou a vegeta��o mais densa, o calor intenso das labaredas que avan�am ao sabor do vento e do combust�vel a ser consumido est� longe de ser o �nico inimigo.

Em uma temporada especialmente cr�tica para inc�ndios florestais, militares que combatem as chamas em �reas verdes de Minas enfrentam os terrenos �ngremes e inst�veis em desfiladeiros, precisam lidar com insetos, evitar animais pe�onhentos e suportar a sede, as feridas, o cansa�o.

Para isso, contam com treinamento intenso, mas nem sempre ele � suficiente para escapar das amea�as do fogo. Que o diga o sargento Alo�sio Henrique Souza, de 45 anos.

Nem os 27 anos de exerc�cios no Corpo de Bombeiros nem a experi�ncia de lidar com desafios do tipo adquirida no Pelot�o de Combate a Inc�ndios Florestais (PCIF) do Batalh�o de Emerg�ncia Ambientais e Resposta aos Desastres (Bemad) o livraram da armadilha das chamas que consumiam a Serra da Moeda, ao Sul da Grande BH, em meados do m�s passado. Eram 6h30 da manh� de 15 de setembro, uma ter�a-feira, quando uma ventania repentina mudou a dire��o das labaredas, pegando o combatente de surpresa.

"S� tenho a agradecer ao comando dos Bombeiros, � PM, � equipe da aeronave P�gasus, que fez meu transporte, e a todo o Setor de Queimados do Hospital Jo�o XXIII"

O resultado: queimaduras em 13% do corpo e a confirma��o de uma m�xima que profissionais como ele conhecem bem: n�o � poss�vel eliminar o risco em situa��es como essa, mas apenas gerenci�-lo. Em entrevista ao Estado de Minas, um dos muitos her�is que se arriscam para controlar queimadas no estado revela os momentos de terror que enfrentou, fala do apego � f� para lidar com a profiss�o e agradece aos colegas que lhe deram suporte no momento em que mais precisava.

Por que o senhor escolheu ser bombeiro e o que mais lhe encanta na profiss�o?
Eu costumo dizer que � Deus quem guia as nossas vidas. Se hoje sou bombeiro, essa oportunidade �nica foi-me concedida por Ele. Nosso lema � salvar, ainda que com o sacrif�cio de nossas vidas.

Quais as maiores dificuldades do combate di�rio?
Temos no Brasil e no mundo um alto �ndice de bombeiros e brigadistas mortos no combate a inc�ndios florestais. Locais de dif�cil acesso, combate noturno, caminhadas em longas dist�ncias, transportando materiais pesados... Muitas vezes, s�o v�rios dias consecutivos com longas horas sofrendo os efeitos da desidrata��o, devido � exposi��o a altas temperaturas. � um trabalho �rduo. Mas Deus est� no comando.

O senhor sente medo? Como lidar com isso?
Sim, claro. Sentimos dor e temos medo. Mas essa � a nossa miss�o, fomos preparados para esses momentos e confiamos na nossa capacita��o. Temos vidas a salvar. � muita adrenalina estar na linha do fogo, mas temos que ter calma, seguran�a e ao mesmo tempo ser extremamente eficientes. � o momento de colocar em pr�tica as t�cnicas de combate a inc�ndios florestais.

Como foi o acidente que o senhor sofreu?
Apesar de toda experi�ncia na linha de frente, tenho o entendimento de que a nossa atividade � de alto risco. Naquele dia, eu estava enfrentando diretamente as chamas de um foco que colocava em risco uma �rea ainda n�o queimada. Quando estava em pleno combate, houve uma mudan�a brusca do vento e as chamas vieram altas em minha dire��o. Naquele momento, me desloquei para a �rea de seguran�a, mas o local ainda estava com uma temperatura muito alta. Fiquei exposto ao alto calor e sofri queimaduras em aproximadamente 13% do corpo. Como estava devidamente equipado, com prote��o espec�fica para inc�ndios florestais, e acima de tudo, gra�as ao maravilhoso Deus, sobrevivi. Com a equipe que estava comigo, nada aconteceu.

Como tem sido a recupera��o?
A recupera��o da queimadura � muito dolorosa. Sofri por cerca de duas semanas, mas gra�as a Deus estou me recuperando bem. S� tenho a agradecer ao comando do Corpo de Bombeiros, � Pol�cia Militar, � equipe da aeronave P�gasus, que fez meu transporte, e a toda equipe do Setor de Queimados do Hospital de Pronto-Socorro Jo�o XXIII. Pe�o que Deus aben�oe todos os que me deram suporte.

Qual o sentimento do senhor ao ter que combater o fogo que muitas vezes � provocado pelo homem?
Tristeza. Porque deste fato temos plena certeza: mais de 96% dos inc�ndios florestais s�o causados por a��es humanas. A gente se entristece com as queimadas e a perda da natureza. Porque coloca em risco o equil�brio do meio ambiente, propicia a perda da biodiversidade, da fertilidade do solo, devasta��o de florestas, polui��o do ar, redu��o da qualidade de recursos h�dricos e a destrui��o de seres vivos.

No que o senhor pensa durante as opera��es?
Combater e extinguir o inc�ndio da forma mais r�pida e segura poss�vel, pois, quanto mais r�pida a resposta, menor a destrui��o. E penso tamb�m na minha fam�lia. Minha esposa, Elaine, e meus dois filhos, Gabriel e Yasmim. Sinto muita falta deles, principalmente quando ficamos muitos dias em combate.

Qual o senhor acredita que seria a solu��o para um combate mais eficaz?
A a��o conjunta de todos os �rg�os envolvidos � que gera o �xito da opera��o. A primeira linha de combate � a preven��o, mas como j� disse uma vez, evitar que aconte�am todos os focos � uma meta inating�vel. Ter uma equipe qualificada, de pronta-resposta, � importante, mas penso que as quest�es relacionadas aos inc�ndios florestais podem ser evitadas por movimentos de conscientiza��o, educacionais e a��es mais r�gidas dos �rg�os de fiscaliza��o.


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