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Estado de Minas SISTEMA PRISIONAL

''Viver honestamente n�o tem pre�o'', diz detento que deixou pres�dio durante a pandemia

Detento que estava no semiaberto, e foi beneficiado com o regime domiciliar durante a pandemia, aproveita a oportunidade e se dedica ao trabalho


25/10/2020 11:05 - atualizado 25/10/2020 12:15

Paulo (nome fictício), de 33 anos, foi beneficiado com o regime domiciliar durante a pandemia, em Montes Claros(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A press)
Paulo (nome fict�cio), de 33 anos, foi beneficiado com o regime domiciliar durante a pandemia, em Montes Claros (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A press)
 

Um percentual de presos que receberam a liberdade como medida de seguran�a sanit�ria durante a pandemia do novo coronav�rus (COVID-19) acabou cometendo algum delito e voltou para o c�rcere. Para evitar que isso ocorra, ï¿½ preciso que o Estado crie meios para ressocializar os detentos, de forma que sejam qualificados e entrem no mercado de trabalho. Mas essas pessoas tamb�m precisam ser conscientizadas de que a vida no crime n�o compensa e queiram sair dela.   

  

A opini�o � de Paulo (nome fict�cio), de 33 anos, beneficiado com a liberdade durante a pandemia em Montes Claros, Norte de Minas. Ele estava no regime semiaberto e passou para o sistema domiciliar. Aproveitou a oportunidade de trabalho numa barbearia em um bairro da cidade, onde j� trabalhava quando estava no semiaberto. 

 

Ele conta que esteve ligado ao crime por cerca de uma d�cada – dos 18 aos 28 anos, em S�o Paulo, onde foi preso v�rias vezes por roubos e assaltos. Esteve detido em diversas cadeias, onde conheceu de perto o poder de uma fac��o que atua nas penitenci�rias. Resolveu mudar de vida e retornou � terra natal, no Norte de Minas. 

 

Mas acabou sendo descoberto como foragido e foi preso novamente. Depois de um per�odo trancafiado, quatro meses antes da pandemia, passou a cumprir pena no sistema semiaberto e a trabalhar como barbeiro. 

 

Viver honestamente n�o tem pre�o”, afirmou, em entrevista a EM, na qual preferiu o anominato por causa do preconceito. Ele elogia a decis�o do Poder Judici�rio de mandar para casa os presos do regime semiaberto, a fim de evitar a propaga��o do coronav�rus e a contamina��o de outros detentos e dos servidores do sistema prisional.

 

O que voc� achou da medida da Justi�a que colocou pessoas do semiaberto em regime domiciliar durante a pandemia do coronavirus?

 

Foi uma situa��o em que o juiz olhou para sa�de de todos. Pra mim, foi bom. O juiz pensou em preservar a sa�de de todo mundo. 


Qual o seu hist�rico de vida? 

 

Dos 16 aos 28 anos foi “muco-vuco” mesmo. Hoje, gra�as as Deus, sou regenerado. N�o fa�o mais nada de errado. Estou a� trabalhando, gra�as a Deus, vivendo na forma certa, para n�o acontecer nada que me leve nos caminhos (ruins) que sei que j� conhe�o, que j� passei e n�o quero mais pra mim.

 

Mais de 8% das pessoas que receberam o benef�cio da liberdade durante a pandemia acabaram cometendo algum delito e voltaram para ao c�rcere.  Como voc� v� a situa��o dessas pessoas?  Porque elas n�o conseguem sair do mundo do crime? 

 

Na minha opini�o, o Estado n�o d� uma condi��o bacana para ressocializar e profissionalizar essas pessoa. O cara sem profiss�o, sem estudo, n�o vai ter o emprego digno. S� vai ter com muito esfor�o. Mas, se o Estado ajudasse um pouco, seria diferente. E tamb�m teria que ter esfor�o da pr�pria pessoa. Sen�o, n�o adianta o estado colaborar e a pr�pria pessoa n�o querer. Primeiro, a pr�pria pessoa tem que querer o melhor pra ela. Que essa vida (no crime) a� s� vai trazer desgaste, s� perda. Hoje est� em cana, amanh� pode estar morto, entendeu? A vida do crime � bem vaga. Quando voc� sai (de casa), n�o sabe se volta, ou se vai voltar numa cadeira de rodas ou se vai preso. A gente tem que aprender a viver. 

 

Por que muitas pessoas, mesmo com a oportunidade de sair, permanecem no mundo do crime?

 

Porque as pessoas vivem muito do momento. Ent�o, o momento para eles (os envolvidos no crime) � prazeroso. Ent�o, a pessoa, come�a a se acostumar com isso. O momento � mais prazeroso, apesar das dificuldades e da humilha��o que ele vai passar. Ela n�o pensa no amanh�, no que vai acontecer. Ela pensa no momento que est� vivendo hoje, que est� bacana, que est� legal. Ent�o, as pessoas vivem muito de momento. Tudo que tem � de momento, um carro, uma moto, mesmo que sejam conquistados dessa forma (criminosa). Mas � uma situa��o de momento: voc� tem uma coisa hoje, mas amanh� n�o tem mais.  At� a vida voc� pode ter hoje e amanh� n�o ter mais. 

 

� melhor viver honestamente? 

 

Com certeza. Vivendo honestamente, voc� vai ter uma vis�o por parte da sociedade. Voc� vai ter respeito. Antigamente, eu n�o tinha respeito. Ali�s, eu tinha respeito em cima do medo, porque eu roubava, fazia isso ou aquilo. As pessoas me respeitavam n�o porque gostavam de mim, porque me admiravam. Mas porque tinham medo. Ent�o, era um respeito muito ruim. N�o era um respeito bom. Hoje em dia, tenho respeito. As pessoas me respeitam pela pessoa que eu sou, pelo car�ter que eu tenho, entendeu? N�o por medo e sim pela pessoa que eu sou.   

 

E qual a mensagem que voc� transmite para as pessoas que, ainda acham que viver de maneira desonesta no mundo do crime � mais f�cil? 


Ent�o, eu falo por mim. Deus � a base de tudo. Sem Deus voc� n�o � nada. Ent�o, vai chegar o momento em que a pessoa (envolvida no crime) n�o vai ter ningu�m mais, que foi o meu caso. (Chegou um momento) que eu n�o tive mais ningu�m. Olhava para um lado e para o outro e n�o tinha ningu�m. N�o tinha fam�lia, n�o tinha filho para me visitar, n�o tinha tio, n�o tinha tia.... A�, voc� vai parar numa jaula trancado e n�o ter ningu�m para voc� ligar, n�o ter ningu�m para voc� escrever, que voc� sabe que n�o vai retornar. Por qu�? Porque tudo que voc� fez ocasionou aquilo a�. Ent�o, vai chegar um momento que voc� n�o vai ter ningu�m. S� vai ter Deus. Ent�o, tem que se apegar com Deus. 

 

O mundo f�cil do crime n�o existe, ent�o? 

 

N�o existe isso. Isso � ilus�o. Quanto mais cedo o cara acordar (quanto a isso), mais ele vai viver. Tomara que o cara (envolvido no crime) acorde cedo. Tomara que ele tenha esse choque de mente, que caia na mente dele (que) “acabou por aqui”, “j� era”. N�o espere o acontecer o que aconteceu comigo, que perdi tudo.   

 

Neste caso, pela sua experi�ncia, � melhor viver honestamente? 

 

Com certeza. � dif�cil. Tudo � dif�cil. Nada � f�cil. Mas, voc� viver honestamente n�o tem pre�o. Voc� dormir a acordar sem aquele medo de ser pego em casa, (de) levar uns tapas na orelha por voc� ter feito algo (errado) na noite passada. Voc�, deitar no seu travesseiro e falar assim: “estou em paz” - isso n�o tem pre�o n�o.

 


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