Perito da PRF carrega peda�o do �nibus envolvido no acidente (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
A Ponte Torta, de onde um �nibus que seguia de Alagoas para S�o Paulo despencou ontem, passa por per�cia da Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) na manh� deste s�bado. O tr�nsito flui em meia pista e, por volta das 9h30, havia lentid�o. O trecho fica no km 350 da BR-381, entre Jo�o Monlevade e Nova Era, na Regi�o Central de Minas. Eram mais de 40 pessoas no ve�culo, e o n�mero de mortos chegou a 18, segundo informa��es atualizadas nesta manh� pela Pol�cia Civil.
A reportagem apurou que a �ltima v�tima � um homem de 59 anos que estava internado no Hospital Margarida, em Jo�o Monlevade. Ao todo, 28 ocupantes do �nibus foram levados para a unidade de sa�de, e cinco morreram. Outras 13 pessoas perderam a vida no local do acidente. Os corpos foram levados para o Instituto M�dico Legal de (IML) de Belo Horizonte, cinco sem identifica��o. Tr�s pessoas, entre elas o motorista, sa�ram ilesas porque pularam do ve�culo em movimento antes da queda da ponte.
O cen�rio do desastre, a BR-381, � conhecida em Minas como rodovia da morte, por ser palco de acidentes em s�rie. Ontem, depois de se solidarizar com as fam�lias das v�timas, o governador Romeu Zema (Novo) admitiu que o triste t�tulo pode ter alcance nacional.
Equipes usam trena para medir altura da queda do �nibus (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
A Ag�ncia Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) informou que o �nibus envolvido no acidente n�o tinha autoriza��o para o transporte de passageiros. A ANNT tamb�m revelou que a empresa dona do ve�culo, a Localima Turismo, operava sob liminar judicial. O �nibus saiu do vilarejo de Santa Cruz do Deserto, munic�pio de Mata Grande, no interior de Alagoas, na manh� de ontem, e levava os passageiros para S�o Paulo. O desastre ocorreu �s 13h30, na chamada “Ponte Torta”, pr�ximo ao entroncamento da BR-381 com a BR-262, a oito quil�metros da sede urbana de Jo�o Monlevade e a 1,5 quil�metro do Bairro Jacu�.
A Pol�cia Civil de Minas Gerais abriu inqu�rito para apurar as causas do desastre minutos depois da queda do �nibus. Relatos de testemunhas apontam que as m�s condi��es mec�nicas do ve�culo contribu�ram para o acidente. Segundo testemunhas, o �nibus seguia pela BR-381, no sentido Ipatinga. Ao descer a serra, quando se aproximava da “Ponte Torta”, viaduto sobre o Rio Piracaba e a estrada de ferro Vit�ria Minas, o �nibus perdeu os freios e entrou pela contram�o, descontrolado, chegando a bater no retrovisor de outro ve�culo que viajava no sentido contr�rio.
No “embalo da descida”, o ve�culo passou pela Ponte Torta, mas na subida perdeu acelera��o (possivelmente por um outro problema mec�nico) e come�ou a descer de r�, ainda segundo as testemunhas. Nesse momento, seis pessoas saltaram do ve�culo em movimento – uma delas seria o condutor do �nibus, que n�o foi identificado. Na sequ�ncia, o �nibus despencou do viaduto e pegou fogo.
As informa��es sobre a altura da queda variaram ao longo do dia, entre 15 e 35 metros. Mas a medi��o da per�cia constatou que a altura � de 23 metros entre o viaduto e a �rea onde o �nibus caiu, ao lado dos trilhos da Estrada de Ferro Vit�ria-Minas. Na noite de ontem, equipe da Vale, que opera a ferrovia, trabalhava na libera��o da �rea.
Houve um grande esfor�o das equipes do Corpo de Bombeiros, Servi�o M�vel de Atendimento de Urg�ncia e Emerg�ncia (Samu), Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) e volunt�rios para o socorro �s v�timas, levadas, inicialmente, para o Hospital Margarida, em Jo�o Monlevade. O hospital viveu uma situa��o de caos, j� que estava superlotado, como refer�ncia regional para atendimentos aos pacientes da COVID-19, em alta em Jo�o Monlevade e munic�pios nos �ltimos dias.
Transporte a�reo
Hoje, guindaste retirou �nibus do local da queda, sobre a linha f�rrea (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Ainda na tarde de ontem, tr�s v�timas gravemente feridas no acidente foram transferidas para o Pronto-Socorro do Hospital Jo�o XXIII, em Belo Horizonte. Elas foram removidas pelo helic�ptero Arcanjo, do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), depois de atendidas no Margarida. Uma das v�timas em estado grave transferidas para a capital � uma crian�a de 11 anos, que foi intubada. Tamb�m foram removidos um idoso com trauma na coluna e e traumatismo craniano, e outra crian�a na faixa de 8 a 10 anos.
Salto
Veja o que se sabe sobre o acidente (clique para ampliar) (foto: Arte EM)
Um dos passageiros que conseguiram escapar ilesos ao pular do �nibus em movimento relatou como foi a a��o que salvou sua vida. O sobrevivente, identificado com o C�cero, disse que percebeu quando o �nibus perdeu o freio na descida e passou pela ponte sobre o Rio Piracicaba. “Percebi que tinha algo errado e fiquei em posi��o de movimento”, relatou o passageiro, explicando que j� se preparou para saltar do �nibus em movimento.
Ele disse ainda que, ap�s o �nibus atravessar a ponte e embalar na subida, o pr�prio motorista revelou o que tinha acontecido. “Faltou freio. Pula, que faltou freio. S� que o motorista foi o primeiro a pular. Ele pulou, acho que umas cinco pessoas pularam. Eu fui o �ltimo. Gra�as a Deus, consegui, estou aqui ileso, sem nenhum arranh�o.”. Ele informou ainda que um dos motoristas do �nibus – que n�o dirigia no momento do acidente – tamb�m morreu na trag�dia.
Sem autoriza��o para o servi�o
Bombeiros recolhem os pertences das v�timas do acidente (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
O �nibus envolvido no acidente de ontem na BR-381, em Jo�o Monlevade, n�o tinha autoriza��o para transportar passageiros. A informa��o � da Ag�ncia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que tamb�m disse � imprensa que a empresa dona do ve�culo que caiu de ponte na Regi�o Central de Minas operava sob liminar judicial.
De acordo com a ANTT, a empresa est� cadastrada junto ao �rg�o e recebeu autoriza��o para prestar servi�os com passageiros ap�s obter uma liminar na Justi�a. Apesar disso, o ve�culo que caiu da ponte na BR-381 n�o tinha autoriza��o para transportar pessoas. “A empresa est� cadastrada na ANTT e tem um Termo de Autoriza��o para presta��o de servi�o regular concedido pela Justi�a, por liminar. No entanto, o ve�culo em quest�o n�o estava habilitado para prestar o servi�o de transporte de passageiros", disse o �rg�o.
Multas
Desgovernado, o �nibus, que saiu de Alagoas e ia para S�o Paulo, sofreu queda de 23 metros antes de pegar fogo (foto: Josagno Mota/Divulga��o
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O Estado de Minas mostrou que o ve�culo em quest�o j� havia sido multado por transporte ilegal. Em 5 de julho de 2019, o �nibus foi penalizado por "transitar efetuando transporte remunerado de pessoas quando n�o licenciado para esse fim", o que configura transporte irregular de passageiros. Na ocasi�o, foi gerada uma multa no valor de R$ 130,16, que ainda n�o foi quitada. A multa foi lavrada na BR-251, em Montes Claros, no Norte de Minas.
Al�m disso, h� outras duas autua��es relacionadas ao �nibus, sendo uma em que o ve�culo teria passado direto por um posto de pesagem e uma outra em que foi constatada irregularidade no veloc�metro. Ambas foram registradas em Minas Gerais e ainda n�o se transformaram em multa. As infra��es s�o graves e podem gerar pena de R$ 195,23. A reportagem n�o conseguiu contato com a Localima Turismo, dona do ve�culo.
A estrada da morte e das obras inacabadas
A estrutura da ponte n�o se encontra em boas condi��es. A reportagem flagrou uma rachadura na liga entre dois blocos de concreto. Ao fundo, o �nibus que caiu (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Seis anos de ansiedade, com vidas perdidas e muitos sustos no caminho. Desde o governo de Fernando Henrique Cardoso at� Jair Bolsonaro, a melhoria e a duplica��o da BR-381 s�o temas frequentes em campanhas eleitorais na expectativa de dar uma solu��o ao grave problema. Mas at� ent�o quase nada realmente saiu do papel. Dos 303 quil�metros que comp�em o trecho do acidente com o �nibus, pouco mais de 35 foram duplicados.
O governador Romeu Zema (Novo) se solidarizou com as v�timas da trag�dia de ontem envolvendo um �nibus em Jo�o Monlevade e reconheceu que a rodovia precisa de reparos urgentes. Ele disse que h� diversas obras aprovadas para a estrada no Minist�rio da Infraestrutura e que, apesar da lentid�o dos projetos, a duplica��o da BR-381 �, hoje, a maior interven��o do governo federal em Minas. Para o governador, o trecho onde ocorreu o acidente ontem j� pode ser considerado a “estrada da morte” em n�vel nacional (leia mais abaixo).
O governo federal pretendia conceder a administra��o da rodovia � iniciativa privada, mas adiou a decis�o para o ano que vem. O Minist�rio da Infraestrutura enviar� ao Tribunal de Contas da Uni�o (TCU) os estudos de concess�o da rodovia. A consulta p�blica da proposta de edital prev� R$ 9,1 bilh�es em investimentos e R$ 5,6 bilh�es em custos operacionais para o per�odo de 30 anos de concess�o. Entre as principais obras est�o previstas a duplica��o de 595,4 quil�metros da rodovia (inclusive no trecho depois de Valadares), 42,4 quil�metros de faixas adicionais e a constru��o de 54 passarelas.
Acesso comum dos mineiros �s praias do Esp�rito Santo, o trecho que vai de Belo Horizonte a Governador Valadares conta com algumas obras de duplica��o em ritmo lento. A �ltima delas foi inaugurada em agosto em Nova Uni�o pelo ministro da Infraestrutura, Tarc�sio Gomes de Freitas, atendendo a uma reivindica��o antiga de motoristas que passavam pelo trecho. A interven��o foi feita apenas dos quil�metros 411 a 419, passando pelo Vale do A�o. A previs�o n�o foi cumprida de que, at� dezembro, 66 quil�metros da rodovia estariam prontos.
O governo federal havia liberado no m�s passado mais nove quil�metros de pista duplicada no trecho de Rio Una at� Caet� (lote 7), comportando as cidades de Bar�o de Cocais, Bom Jesus do Amparo, Nova Uni�o e Caet� . A interven��o total inclui a remodela��o dos t�neis Ant�nio Dias e Prainha, al�m da constru��o de passarelas, dois viadutos e tr�s pontes.
Obras tamb�m foram anunciadas para duplicar o lote 3.1 de 28,7 quil�metros), entre Jaguara�u e Ant�nio Dias. Com previs�o de inaugura��o em fevereiro de 2017, o trecho ainda n�o foi conclu�do, com uma parte ainda parada – apenas 12,7 quil�metros foram conclu�dos de fato. O novo prazo dado pelo Governo Federal venceu na ter�a-feira.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Tr�nsito (DNIT) � respons�vel por quatro de um total de 11 lotes das obras de duplica��o e melhoramentos no segmento localizado entre Belo Horizonte e Governador Valadares. O Estado de Minas questionou o Minist�rio da Infraestrutura a respeito do atraso na entrega das obras, mas n�o obteve retorno at� a publica��o da mat�ria.
Aten��o redobrada
Os longos trechos em obras podem causar novos acidentes, j� que motoristas imprudentes n�o conseguem se livrar dos obst�culos na pista. “Quando transitar por um trecho em obras os motoristas devem redobrar a aten��o, diminuir a velocidade e respeitar a sinaliza��o”, recomenda o porta-voz da PRF, inspetor Aristides Amaral J�nior.