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Estado de Minas CASO BACKER

Caso Backer: v�timas completam um ano na luta pela sa�de e por repara��o

Muitas v�timas ainda enfrentam sequelas de intoxica��o provocadas por cerveja com dietilenoglicol


03/01/2021 04:00 - atualizado 03/01/2021 07:47

(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

"Tenho certeza de que eu amo a vida. Batalhei muito e continuo batalhando, eu, o meu corpo, para poder estar aqui hoje"

Luiz Felippe Teles Ribeiro, de 37 anos, engenheiro intoxicado pela Belorizontina


Momento de descontra��o transformado em luto, pesadelo e sede por justi�a ainda n�o aplacada.  Completa um ano o epis�dio de contamina��o de cervejas da Backer por dietilenoglicol na linha de produ��o da f�brica, no Bairro Olhos D'�gua, na Regi�o Oeste de Belo Horizonte, que deixou o Brasil at�nito nos primeiros dias de 2020, antes mesmo da chegada da pandemia do novo coronav�rus, e deu origem a uma complexa investiga��o sanit�ria e policial.

Neste come�o de 2021, o desejo � tamb�m de recupera��o da sa�de de quem sobreviveu � “doen�a misteriosa do Buritis”, que come�ou a assombrar a capital mineira depois da circula��o de mensagens em redes sociais dando conta do adoecimento de moradores ou pessoas ligadas ao bairro, tamb�m na zona Oeste da cidade, com sintomas neurol�gicos e nefrol�gicos similares, mais tarde identificados como uma s�ndrome nefroneural provocada pela subst�ncia t�xica encontrada em diversos r�tulos da Backer. Pelo menos 10 pessoas morreram e outras 16 foram hospitalizadas. Sobreviventes carregam as sequelas da intoxica��o.

� justi�a e recupera��o o que espera Luiz Felippe Teles Ribeiro, de 37 anos, que tomou cerveja Belorizontina, um dos r�tulos da Backer contaminados, no Natal de 2019. Depois de passar os primeiros seis meses de 2020 internado no Hospital Unimed, o engenheiro hoje segue na luta – com apoio da mulher, a farmac�utica Camila Massardi Demartini, de 30 –, ainda sem poder correr com as pr�prias pernas ou ouvir sem ajuda de aparelhos.

Os casos dele e do sogro, o banc�rio Paschoal Demartini, de 55 anos, est�o entre os primeiros a vir � tona e foram pe�as-chaves para que o mist�rio fosse desvendado. Hospitalizado em Juiz de Fora, para onde havia voltado depois de consumir a cerveja nas festas natalinas, Paschoal morreu uma semana depois.

“Tenho algumas dificuldades, limita��es para as coisas simples do cotidiano, como colocar um t�nis, fechar um z�per da cal�a, passar um caf�. Meu sentimento hoje � de incapacidade de fazer as coisas que eu gosto. Um sentimento de impot�ncia, de depend�ncia das pessoas”, desabafa Luiz Felippe, que aos poucos retoma os movimentos. Para o profissional formado em engenharia metal�rgica pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), a rotina que antes era de viagens a trabalho deu lugar a sess�es de fisioterapia, fonoaudiologia e psicologia.

Luiz Felippe conta que depois que saiu do coma, chegou a pensar que a morte estava perto, mas em momento algum desistiu da vida. “Dias ap�s ser internado, fui intubado e s� acordei tr�s meses depois. Pensei que ia morrer. E quase morri. Foi por muito, muito, muito pouco”, disse a v�tima da Backer. “Sou uma pessoa alegre, de muitos amigos, de muito churrasco e que gostava de viajar tanto a trabalho quanto a lazer. Uma pessoa normal, com prazeres da vida normais, e tudo isso me foi tirado. Amo viver, � por isso que estou aqui”, revela.

Ter passado o fim de ano em casa foi uma d�diva. “Tenho certeza de que eu amo a vida. Batalhei muito e continuo batalhando, eu, o meu corpo, para poder estar aqui hoje”, descreveu em entrevista ao Estado de Minas na manh� de v�spera do Natal. “Hoje estaremos reunidos atrav�s de muito trabalho, muita dedica��o, muita for�a conjunta para poder estar aqui neste dia em que se completa justamente um ano que a gente foi envenenado”, disse Luiz Felippe.

A mulher do engenheiro, a farmac�utica Camila Demartini, n�o conseguiu falar com a reportagem pois ficou tomada de emo��o ao relembrar da data em que a fam�lia estava reunida em momento de celebra��o e tomou a cerveja contaminada.

NEGOCIA��O 


Em agosto, a Backer iniciou o processo de repara��o de danos �s v�timas contratando uma firma especializada na resolu��o de conflitos. Familiares das v�timas afirmam que o di�logo com a empresa � todo feito por meio dos advogados. H� um acordo para o pagamento das custas emergenciais que inclui cl�usula de sigilo imposta pelos advogados da Backer, impedindo que os envolvidos tornem p�blicos os termos da negocia��o.

“Grande parte das v�timas est� dando um voto de confian�a � empresa e acreditando no avan�o da media��o para que sejam devidamente indenizadas. Dessa forma, mostram que nunca houve qualquer revanchismo, mas sim a necessidade de serem plenamente assistidas. Refor�am que continuam confiando nas autoridades envolvidas no caso, seja o Minist�rio P�blico ou o Poder Judici�rio, cuja atua��o � fundamental e decisiva para o necess�rio esclarecimento do caso. Necessitam, portanto, ser integralmente reparadas do grave epis�dio de intoxica��o envolvendo o consumo das cervejas produzidas pela Backer”, informou o advogado de uma das v�timas.

EXPECTATIVA 

“Espero por justi�a criminal, humanit�ria e financeira”, deseja o engenheiro Luiz Felippe. Sem receber nenhuma indeniza��o, reembolso ou ajuda de custo para os tratamentos, ele conta que n�o se incomoda com a retomada dos neg�cios da empresa, j� que espera que eles tenham condi��es de pagar as indeniza��es que a Justi�a estabelecer. Por outro lado, Felippe n�o consumiria nem recomendaria o consumo de produtos da marca. Ele explica que, se pudesse encarar os respons�veis pela fabrica��o da Belorizontina, diria que eles t�m que pagar pelo que fizeram. “Eu n�o guardo rancor, m�goa. N�o tenho nenhum sentimento, s� quero justi�a”, resume.

Ap�s um ano da intoxica��o, a v�tima considera que n�o houve nenhum avan�o por parte da Backer. “Eles n�o assumem a neglig�ncia de que s�o culpados, foi provado pelos laudos, pela per�cia. S�o respons�veis pelo envenenamento pelo qual fui internado, quase morri. Perdi a minha vida social, de certa forma, minha vida normal, porque perdi audi��o, movimentos, meus dedos indicadores n�o dobram at� hoje. Tomei a bebida num momento de lazer. A gente adquiriu (o produto) num supermercado, n�o foi em qualquer fundo de quintal”, relembra.

Apesar de enfrentar as sequelas da intoxica��o, Luiz Felippe � positivo em rela��o a 2021. “Espero que seja um ano de muita recupera��o e da minha vida mais pr�xima ao normal. Porque normal nunca mais vai ser. Eu perdi 100% da minha audi��o. Sou dependente de um aparelho para ouvir. Mas espero retornar �s minhas atividades normais. Trabalho, lazer. Tudo pr�ximo do mais normal poss�vel. � isso que eu espero”, almeja.

A reportagem do EM entrou em contato com a Backer, mas a empresa n�o se manifestou at� a publica��o desta mat�ria.

Detetive movida por dupla dor
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 4/3/20 )

Foi a farmac�utica Camila Massardi Demartini (foto) quem percebeu a coincid�ncia dos graves sintomas apresentados por Paschoal Demartini e Luiz Felippe Teles, respectivamente pai e marido dela, e iniciou uma busca por outras pessoas com o mesmo quadro, por meio de redes sociais. Dessa articula��o entre as v�timas, surgiu a suspeita de contamina��o a partir da cerveja artesanal Belorizontina. “Era a �nica coisa que havia em comum entre todos os pacientes. O fato de terem sido meus dois bra�os arrancados foi o que possibilitou toda essa descoberta. Se n�o fosse isso, talvez at� hoje eu estaria bebendo a cerveja. E voc� tamb�m”, analisou ela, em entrevista ao EM em fevereiro do ano passado. Ela sugeriu � Pol�cia Civil a investiga��o sobre poss�vel contamina��o da cerveja, que terminou se confirmando.

Viatura da Polícia Civil chega à fábrica da Backer: inquérito detectou vazamento de substância tóxica em tanques de refrigeração de cerveja
Viatura da Pol�cia Civil chega � f�brica da Backer: inqu�rito detectou vazamento de subst�ncia t�xica em tanques de refrigera��o de cerveja (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 8/1/20)

De adultera��o a homic�dio culposo

Dez pessoas morreram no ano passado em decorr�ncia de intoxica��o depois de consumir cervejas Belorizontina contaminadas por mono ou dietilenoglicol, de acordo com o inqu�rito policial. As subst�ncias t�xicas, usadas no processo de refrigera��o, vazaram para o interior de tanques de cerveja e, segundo o inqu�rito, sua utiliza��o n�o era recomendado pelos fabricantes dos equipamentos. Pelo menos outras 16 v�timas foram hospitalizadas. Em 16 de outubro, a Justi�a de Minas Gerais acatou a den�ncia contra s�cios e funcion�rios da Cervejaria Tr�s Lobos, empresa dona da marca de cervejas Backer. Onze pessoas passaram � condi��o de r�us.

Dessas, tr�s –  Ana Paula Silva Lebbos, Hayan Franco Khalil Lebbos e Munir Franco Khalil Lebbos  – s�o s�cios da cervejaria. Eles foram denunciados por vender chope e cerveja que sabiam poder estar adulterados pelo uso de subst�ncia t�xica no seu processo de produ��o e por causarem dano irrepar�vel � sa�de p�blica, entre outros crimes previsto no C�digo de Defesa do Consumidor. Al�m de receber a den�ncia, o juiz Haroldo Andr� Toscano de Oliveira, da 2ª Vara Criminal de Belo Horizonte, tamb�m retirou, naquela data, o sigilo sobre o processo.

Outros sete funcion�rios da empresa , entre engenheiros e t�cnicos, foram denunciados por homic�dio culposo, les�o corporal culposa e atitude omissiva, entre outros crimes. Segundo a den�ncia, tr�s desses engenheiros exerciam a profiss�o de modo irregular, sem registro no Conselho de Qu�mica e Engenharia. Os denunciados por esses crimes s�o os respons�veis t�cnicos Paulo Luiz Lopes Ramon Ramos de Almeida Silva, Sandro Luiz Pinto Duarte; Christian Freire Brandt, Adenilson Rezende de Freitas e �lvaro Soares Roberti, al�m do chefe da manuten��o da empresa, Gilberto Lucas de Oliveira. Paulo Luiz Lopes morreu ap�s sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) em 5 de novembro.

Charles Guilherme da Silva, funcion�rio de uma fornecedora de insumos para a cervejaria, responde ao crime de falso testemunho, por ter apresentado informa��es falsas na fase de investiga��o do caso. Segundo a den�ncia, ele pretendia prejudicar a empresa na qual trabalhava ap�s desaven�as trabalhistas.

A den�ncia havia sido apresentada em 4 de setembro pelo Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MP-MG). "Os engenheiros e t�cnicos respons�veis pela produ��o de cerveja assumiram o risco de fabricar produto adulterado, impr�prio a consumo, que veio a causar a morte e les�es corporais graves e grav�ssimas a in�meras v�timas", diz a pe�a de acusa��o, assinada pela promotora de Justi�a Vanessa Fusco.

De acordo com os autos, “o uso indevido dos produtos t�xicos aliado � prec�ria condi��o de manuten��o da linha de produ��o das bebidas alco�licas causaram um dano irrepar�vel � sa�de p�blica”. Ap�s fiscaliza��o pelo Minist�rio da Agricultura, foi constatada a contamina��o de ao menos 36 lotes de cerveja com a subst�ncia t�xica dietilenoglicol, um agente anticongelante que vazou de um dos tanques utilizados na fabrica��o da bebida. O Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento indica que a empresa apresentava falha na produ��o dos produtos desde janeiro de 2019.

TRAG�DIA NO COPO

10 
pessoas morreram de intoxica��o depois de beber cervejas da Backer

16 
consumidores da Belorizontina foram internados e sobreviveram � intoxica��o por mono e dietilenoglicol


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