
Moradores dos bairros devastados e de outras �reas do Vale do Rio Paraopeba afirmam ser pegos de surpresa, em plena pandemia do novo coronav�rus, com cortes no fornecimento de �gua ou seu recebimento sem qualidade ou garantia, al�m de n�o ter perspectivas sobre a continuidade dos aux�lios emergenciais e a disponibilidade de recursos para serem indenizados. “A gente n�o sabe de nada. Quer�amos decidir nossa vida, mas tomaram a vida da gente”, reclama A�lton.
Para cobrar mais transpar�ncia da Vale, a mineradora respons�vel pela estrutura que se rompeu, e do poder p�blico, os atingidos e suas assessorias t�cnicas lan�aram um manifesto, que foi entregue � Justi�a. O texto representa a vontade dos atingidos no curso da repara��o que vem sendo negociada em audi�ncias do governo do estado com a empresa.
Uma dessas assessorias, a Associa��o Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas), reuniu uma “matriz de medidas reparat�rias emergenciais de 365 p�ginas depois de ouvir 3.823 pessoas em Brumadinho. No trabalho foram elencados os principais danos sofridos e como os atingidos desejam ser reparados, bem como participar das decis�es. A falta de informa��es e de garantias � o que mais tem sido cobrado pelos entrevistados.
As principais informa��es faltantes ou mal disseminadas, segundo essa matriz, s�o referentes � seguran�a das barragens remanescentes, �s condi��es t�xicas e ecol�gicas do Rio Paraopeba, �s interrup��es e � qualidade da �gua distribu�da �s comunidades. Ao mesmo tempo, querem garantia de acesso a �gua de qualidade, direito a moradia a quem perdeu sua casa ou teve im�veis e estruturas danificados, recebimento e a manuten��o de estruturas de sa�de, assist�ncia social, saneamento, educa��o, seguran�a alimentar, trabalho, cultura e lazer para as comunidades atingidas pelo rompimento, entre outras necessidades.

INFORMA��O
Pelo perfil dos atingidos atendidos pela Aedas s�o evidentes as dificuldades de acesso a informa��es por falta de condi��es financeiras e t�cnicas. Ao todo, entre os atendidos, 54,7% n�o exercem qualquer atividade remunerada, a maioria mulheres (58%), que com frequ�ncia precisam atender a obriga��es dom�sticas, quando n�o sustentam completamente a fam�lia. Os programas de transfer�ncia de renda ou aux�lio social chegam a 18,6% do n�mero total de pessoas atingidas que participaram do registro familiar; desses, 47% recebem o Bolsa-Fam�lia.
A necessidade de �gua tamb�m � latente. Apenas 45% recebem fornecimento formal de �gua por rede. Do restante, 34% usam po�os artesianos, 15% �gua de nascentes e 6% dependem ainda de caminh�es-pipa. Entre as pessoas atingidas com acesso a �gua por rede, apenas 32% declararam receb�-la regularmente, ao passo que para 68% o abastecimento � irregular, com interrup��es em diferentes per�odos da semana. Chega a 62% o �ndice de quem declara se sentir inseguro quanto ao uso da �gua fornecida pelas redes.

�xodo esvazia C�rrego do Feij�o
H� momentos em que se encontra mais oper�rios da Vale – mineradora que operava as barragens – circulando ou fazendo obras do que pessoas locais. Menos � noite, quando as ruas ficam praticamente vazias. Somando-se a isso os relatos de problemas de infraestrutura comuns aos demais territ�rios, a situa��o para muitos � descrita como de abandono, o que se agravou com a pandemia do novo coronav�rus, j� que as condi��es sanit�rias s�o fundamentais para evitar essa doen�a e outras mais.


O drama do passado se soma a problemas que, na vis�o dele, fazem com que as pessoas deixem a comunidade. “A vida se tornou um inferno. Obras todos os dias. Ru�do de geradores das obras funcionando por 24 horas. Os comerciantes foram embora. N�o temos mais a�ougue, venda, lanchonete, padaria, farm�cia: para tudo precisamos ir a Brumadinho”, afirma. A viagem � de 50 minutos de �nibus por 15 quil�metros, mas s� h� dois hor�rios, de manh� e de tarde.
O agricultor Clenilson Geraldo de Paila, de 39, perdeu o acesso a sua horta pela avalanche de lama que destruiu estradas, rede el�trica e impede o uso da �gua. Na sua casa, no C�rrego do Feij�o, o drama da falta de �gua tamb�m impede que o recurso seja usado por ele, a mulher, a filha e o sogro. “Nos dias em que n�o falta, vem uma �gua de cor marrom, depois de cor branca. N�o nos apresentam an�lises. Assim, n�o a usamos para nada e temos de nos virar racionando a �gua mineral que a Vale fornece. Vivemos com aux�lio emergencial, mas n�o sabemos at� quando. Enquanto isso, indeniza��o nem cheiro”, critica.
Efeitos expandidos
Hoje, 446 fam�lias est�o fora de suas casas desde o desastre de Brumadinho, enquanto 432 perderam a habita��o em Mariana e Barra Longa, �reas atingidas pelo rompimento da Barragem do Fund�o, operada pela Samarco e pertencente � Vale e � BHP Billiton, em novembro de 2015. Dessa vez, no entanto, as indeniza��es t�m sido feitas mais rapidamente.