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Estado de Minas DESASTRE DE BRUMADINHO

Fam�lias mant�m esperan�a de encontrar 11 'joias' que continuam soterradas

Essas v�timas n�o foram localizadas ap�s a trag�dia que completa exatos dois anos hoje


25/01/2021 06:00 - atualizado 25/01/2021 11:51

Dois anos após o rompimento da barragem, 11 pessoas continuam desaparecidas(foto: Arquivo pessoal/Divulgação)
Dois anos ap�s o rompimento da barragem, 11 pessoas continuam desaparecidas (foto: Arquivo pessoal/Divulga��o)

 

Angelita, Cristiane, Juliana, Lecilda, Luis Felipe, Maria de Lurdes, Nathalia, Olimpio, Renato, Tiago e Uberlandio. Estes s�o os nomes do “time” da saudade em Brumadinho, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. S�o 11 fam�lias que nunca mais puderam ver — nem ao menos enterrar — seus entes queridos. Essas v�timas n�o foram localizadas ap�s a trag�dia que completa exatos dois anos hoje, quando mais de 600 pessoas foram arrastadas por uma avalanche de rejeitos de min�rios e lama causada pelo rompimento da Barragem B1 da Mina C�rrego do Feij�o, de propriedade da Vale. A torcida � para que n�o haja um apito final nas buscas enquanto todos n�o tiverem a dignidade da despedida. Em nota, a Vale informou que mant�m o apoio ao Corpo de Bombeiros nas buscas.

 

As v�timas, chamadas de “joias” pelos bombeiros, totalizam 665, segundo levantamento da Vale. Foram localizadas 395 pessoas com vida. Os corpos identificados pelo Instituto M�dico-Legal (IML) chegam a 259, sendo 123 funcion�rios da mineradora e 136 terceirizados ou moradores da comunidade. At� hoje, n�o foram localizados oito oper�rios da Vale e outras tr�s pessoas – entre terceirizados e moradores da comunidade. O Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais trabalha nas buscas desde o dia do rompimento. Nenhum corpo � identificado desde 28 de dezembro de 2019.

 

A falta do encontro e identifica��o desses corpos � o vazio que pulsa no cora��o dos familiares das 11 v�timas. � assim, por exemplo, com Josiana Rezende, irm� de Juliana Resende, que luta incansavelmente por justi�a e para que todos sejam encontrados. “A Ju era significado de amor, de perseveran�a, de luz na nossa casa. Ela realmente iluminava. Era muito amiga, generosa, bondosa, e todos a viam dessa forma. O cora��o perdeu um peda�o. Esse peda�o n�o vai ser preenchido. � exatamente isso pra mim. Falta um peda�o no meu cora��o”, lamenta a irm�.

 

Cobran�a por justi�a


(foto: Luiza Rocha/Esp.EM/DA Press)
(foto: Luiza Rocha/Esp.EM/DA Press)

"A Ju era significado de amor, de perseveran�a, de luz na nossa casa. Era muito amiga, generosa, bondosa. Falta um peda�o no meu cora��o"

Josiana Rezende, irm� de Juliana, cujo corpo ainda n�o foi encontrado



Josiana, conhecida como “Joj�”, � vice-presidente da Associa��o dos Familiares de V�timas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem da Mina C�rrego do Feij�o (Avabrum). Sua irm� deixou dois g�meos �rf�os de pai e m�e, j� que a trag�dia tamb�m levou o marido de Juliana, Dennis Augusto, ambos funcion�rios da Vale. Apesar do sofrimento, Joj� participa ativamente das reuni�es com o Corpo de Bombeiros e profissionais do IML, cobrando das autoridades o andamento das buscas.

 

Para Josiana, que tamb�m est� sempre disposta a ajudar nos eventos em homenagens �s v�timas que ocorrem todo dia 25, a esperan�a n�o acaba enquanto o ciclo n�o for fechado. “Essa aus�ncia dela em todos os momentos � muito complicada. No que se agarrar? Hoje nos filhos dela. � a motiva��o de manter as buscas, de seguir em frente. Meu pai fala que no meio disso tudo eles t�m dado um colorido na nossa vida. O tempo passa muito r�pido. A gente s� percebe quando v� que os meninos j� est�o fazendo 3 anos e at� hoje nessa situa��o de espera”, diz.

 

A vida, hoje, � reviver o rompimento da barragem. Seja numa forma de repara��o, de honrar as “joias”, de cobrar por justi�a ou de dar alento �s 11 fam�lias. O pedido � para que haja um lugar digno em mem�ria de Juliana. “No dia de Finados, � muito dif�cil n�o ter onde ir. Minha m�e vai todo ano limpar o t�mulo da minha av�, e isso ela n�o tem para fazer da filha dela”, conta. Mesmo sabendo que Juliana n�o volta mais para casa, o desejo sob l�grimas � de dizer mais uma vez: “Eu te amo”. “Eu queria poder abra�ar ela de novo, ouvir a voz, sentir o cheirinho, conversar, ouvir a risada, ver ela brincando com os meninos dela. Mas o fundamental � eu dizer o quanto eu a amo. N�o que eu n�o dissesse, mas seria a oportunidade de falar o que eu sinto por ela”, ressalta Josiana.

 

 

“A gente esconde a dor e vai pra luta”

 

(foto: Luiza Rocha/Esp.EM/DA Press)
(foto: Luiza Rocha/Esp.EM/DA Press)

"O dia 25 para o mundo n�o significa nada, mas para n�s � como se o dia 25 de janeiro de 2019 fosse hoje, ainda estamos presos l�"

Nat�lia de Oliveira, quer perdeu a irm� Lecilda na trag�dia



Ap�s dois anos do rompimento, Brumadinho mudou. O clima interiorano, tranquilo e amig�vel, deu lugar, em 2019, a um cen�rio de guerra. Hoje, pelas ruas de Brumadinho, o que ficou foi saudade. “Esse crime arrancou da gente muito mais que um familiar. N�o d� pra contar em quantos vel�rios a gente foi. �s vezes, quando eu vou na rua, sinto tanta falta de algumas pessoas. Tenho muita saudade do Rog�rio, que era um atleticano fan�tico. No dia em que o Cruzeiro foi rebaixado, ele foi a primeira pessoa que eu lembrei. Ele n�o est� aqui para ver isso. A gente sempre sente falta das pessoas, isso d�i muito porque eles partiram juntos e deixaram um monte de cora��o despeda�ado pela aus�ncia deles”, relembra a professora Nat�lia de Oliveira.

 

Nat�lia perdeu a irm�, Lecilda de Oliveira, analista de opera��es da Vale. Com a fala no presente, Nat�lia conta que “Lecilda � alegria em pessoa”. O �ltimo sorriso se foi h� exatamente dois anos. “Ela � um presente e era presente na vida de todos. Eu nunca tinha imaginado um dia da minha vida sem a ‘Le’. Ela fazia exames peri�dicos, comia s� o politicamente correto, fazia exames, caminhava, toda saud�vel, cheia de vida, cheia de sonhos. Estava tudo t�o bem. A perda dela doeu demais. Nunca conversei com ela pensando que seria a �ltima vez”, desabafa.

 

Tamb�m integrante da Avabrum, a professora descobriu que a for�a surge da necessidade. “A gente esconde a dor e vai pra luta”. “A gente sabe que hoje est�s buscando os ossos, n�o existe mais essa Lecilda da foto. Ela acabou, de certa maneira. Mas a gente quer colocar ela em um lugar digno. O meu sonho � que neste ano seja feita uma for�a-tarefa e todas as ‘joias’ sejam encontradas pra gente poder descansar”, almeja Nat�lia.

 

Durante estes dois anos, Nat�lia enfrentou outros problemas em casa e ainda assim convive com a dor e o cansa�o da espera. O marido sofreu infarto e ficou internado por causa da COVID-19. “Saber que o amor seu morreu, sabe que n�o vai voltar, ela nunca mais vai me ligar. Nestes dois anos, aconteceram tantas coisas na minha vida, coisas que eu teria ela para dividir e me apoiar, eu n�o tenho mais. Foi me tirado. O dia 25 para o mundo n�o significa nada, mas para n�s � como se o dia 25 de janeiro de 2019 fosse hoje, ainda estamos presos l�.”

 

“Dinheiro nenhum paga a vida do meu filho”
 

(foto: Jair Amaral/EM/DA Press )
(foto: Jair Amaral/EM/DA Press )

"O que eu mais sofro � porque eu n�o pude enterrar meu filho. Qual m�e vai aceitar enterrar o filho debaixo da lama?"

L�cia Mendes, que perdeu o filho Tiago Tadeu na trag�dia


L�cia Mendes � m�e de Tiago Tadeu Mendes da Silva, mec�nico industrial da Vale. “Um menino trabalhador, muito honesto, muito direito, pai de fam�lia”, descreve a m�e, enfermeira. Tiago trabalhava em Sarzedo e havia sido transferido para C�rrego do Feij�o 20 dias antes da trag�dia. Rec�m-formado, ele estava feliz com a proposta de ser engenheiro na empresa. A alegria que foi soterrada pela lama faz falta para os filhos. Quando Tiago morreu, uma estava com 4 anos e o beb� com apenas 7 meses. “A menina � a que mais sofre porque conviveu com ele. Ela fala comigo: ‘Vov�, voc� est� triste por causa do papai, n�o precisa ficar, a montanha matou ele, mas ele foi pro c�u’. � muito dif�cil ouvir isso”, conta L�cia, que era muito pr�xima do filho. “Ele me faz falta em tudo. Continuei trabalhando para n�o ficar em casa e entrar numa depress�o profunda.”

 

A vida da m�e que perdeu um filho nunca mais conseguiu ser a mesma. “A cicatriz nunca vai sair. O que eu mais sofro � porque eu n�o pude enterrar meu filho. Nem o corpo dele a Vale me devolveu. As buscas n�o podem terminar. Temos que encontrar nossas 'joias'. A gente quer eles. Qual m�e vai aceitar enterrar um filho debaixo da lama? A gente n�o aceita”, diz indignada.

 

Passados dois anos da trag�dia, permanece a dor, n�o amenizada com as indeniza��es pagas pela mineradora. “Dinheiro nenhum do mundo paga a vida do meu filho. Daria tudo, queria morar numa casinha de papel�o no meio da rua, mas eu queria ele. N�o � dinheiro, a puni��o da Vale n�o � indenizar. O neg�cio � prender os assassinos”, desabafa a professora Nat�lia. “Tem que ser encontrada as 11 ‘joias’, n�o existe fam�lia alguma suportar ser o cemit�rio aquele min�rio maldito. � nosso direito. N�o existe dor maior no mundo pensar que o cemit�rio do seu filho � naquela maldi��o”, lamenta. 


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