Bombeiros confirmam cinco mortes em soterramento em Santa Maria de Itabira

A chuva ainda de intensidade n�o definida causou o transbordamento do Rio Girau. As rodovias MG-120 e MG-129 ficaram com v�rios pontos interditados. Na noite de ontem, al�m de procurar pelos quatro soterrados e de auxiliar nos resgates de pessoas ilhadas, os bombeiros e agentes da prefeitura local e de Itabira, na mesma regi�o, se esfor�avam para tentar desobstruir essas passagens com retroescavadeiras.

“A cidade est� sob as �guas, situa��o desse tipo n�s nunca vivemos. Tem diversos pontos com queda de casas, situa��es de soterramento", afirmou ontem o coordenador da Defesa Civil de Santa Maria de Itabira, Eduardo Martins.

O subtenente Anderson Ferreira, do Corpo de Bombeiros de Itabira, deu mais detalhes sobre o trabalho na �rea inundada. "Estamos com mais de 50 bombeiros empenhados nessa ocorr�ncia. Duas aeronaves e m�dicos tamb�m. Pedimos s� para que as pessoas n�o acessem a cidade, a zona quente", afirmou.

Doa��es

De acordo com a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais (Cedec), dois caminh�es com cerca de 800 itens, sobretudo colch�es e kits de higiene pessoal, j� chegaram � regi�o afetada. “Estou em contato di�rio com o Corpo de Bombeiros e Defesa Civil Estadual, acompanhando a situa��o nos munic�pios afetados pelas fortes chuvas. Em Santa Maria de Itabira, helic�pteros foram deslocados para ajudar nos trabalhos de resgate”, publicou Romeu Zema nas redes sociais.

A Prefeitura de Itabira tamb�m auxilia com doa��es. At� as 15h, Santa Maria de Itabira j� tinha recebido da cidade vizinha 2.380 litros de �gua mineral, 598 de �gua sanit�ria, 107 de �lcool, 52 de cloro, 123 de desinfetante e 352 de detergente. Al�m disso, foram obtidos 854 quilos de alimentos, como cestas b�sicas e caixas de leite. O apoio tamb�m contou com itens de higiene pessoal para os atingidos.

“A Vale, no dia 21 de fevereiro de 2021, informa que suas barragens do Complexo Itabira, em Minas Gerais, mant�m-se dentro dos par�metros de seguran�a adequados mesmo diante das chuvas intensas dos �ltimos dias. Ressalta-se que n�o h� qualquer altera��o de n�vel de emerg�ncia das estruturas e nem foi realizado nenhum acionamento de sirenes”, esclareceu a empresa em nota.

Enquanto Santa Maria de Itabira vive um drama, outras cidades de Minas Gerais tamb�m enfrentam quadros complicados por causa da combina��o entre as fortes chuvas e a falta de infraestrutura. S�o os casos de Manhua�u e Carangola, na Zona da Mata; Montes Claros, na Regi�o Norte do estado; e Divin�polis, na Regi�o Centro-Oeste.

Em Carangola, os bombeiros j� realizaram 42 salvamentos de pessoas ilhadas at� o fechamento desta edi��o. Chuvas fortes atingem a cidade desde sexta, quando o rio do munic�pio teve seu n�vel aumentado e invadiu casas da popula��o ribeirinha. Duas pessoas se afogaram, mas conseguiram sobreviver. S�o oito pessoas desalojadas, 18 desabrigadas e 3 mil afetadas no total. N�o h� abastecimento de �gua em Carangola. H� risco, sobretudo, para um grupo de quatro pessoas que est�o em um local de dif�cil acesso com risco iminente de desabamento no munic�pio.

Chuvas intensas no s�bado causaram problemas principalmente nos bairros Vila Regina e Boa Vista, em Montes Claros. Na virada para domingo, um novo temporal causou alagamentos em casas dos bairros Independ�ncia e Carmelo. N�o houve v�timas, apenas danos materiais, segundo os bombeiros.

O Corpo de Bombeiros tamb�m atendeu a uma ocorr�ncia de soterramento em Manhua�u no fim de semana. Na resid�ncia, estavam quatro moradores: um pr�-adolescente de 12 anos, um adolescente de 17 e um casal de adultos. Por causa do desabamento, o homem e os dois filhos conseguiram sair com vida e sem ferimentos. Contudo, a mulher, de 42, morreu no local. O corpo da v�tima foi recuperado pela Defesa Civil Municipal de Divino, na mesma regional. (GR)

A Prefeitura de Governador Valadares disparou desde a noite de s�bado o alerta laranja, que considera o risco de enchente no Rio Doce. Ontem, pela manh�, um novo boletim previu que �s 18h de domingo o n�vel do rio atingiria 1,90 metro. Nesse hor�rio, a medi��o na r�gua da esta��o de tratamento de �gua do SAAE chegou a 1,93 metro.

As �guas do rio come�aram a entrar no Bairro S�o Tarc�sio, historicamente o primeiro bairro da cidade a ser inundado, sempre que o Rio Doce sai do seu leito. O bairro � considerado o 'marco zero' da cidade. A povoa��o do distrito de Figueira, que deu origem ao munic�pio de Governador Valadares, come�ou no S�o Tarc�sio.

A Coordenadoria Municipal de Prote��o e Defesa Civil de Governador Valadares (COMPDEC), informou que a eleva��o no n�vel do Rio Doce ocorre em raz�o das fortes chuvas na bacia do rio, desde Ponte Nova, onde choveu muito na quinta e sexta-feira. A tend�ncia � que o rio continue subindo, mas n�o h� previs�o de sair do leito, por enquanto.

“Santa Maria de Itabira amanheceu no notici�rio pela trag�dia que se abateu sobre a cidade: as fortes chuvas fizeram encostas ca�rem sobre algumas casas e o Rio Girau, que � s� um filete de �gua em tempos de seca, se agigantou e tomou a cidade. Muita gente perdeu o pouco que tinha. Duas mortes foram confirmadas e pelo menos quatro pessoas ainda est�o desaparecidas.

Toda trag�dia � uma trag�dia, e toda morte � sentida. Mas no interior o choro � coletivo. Nas grandes cidades, as mortes s�o quase sempre an�nimas. S�o pessoas distantes que partiram. A dor n�o � t�o grande para todo mundo. No interior, a cidade se sente enlutada como um todo. Por ser um munic�pio de 10.836 habitantes, segundo o IBGE de 2018, as v�timas da chuva s�o amigos, parentes e conhecidos.

O autor que subscreve este texto conhece bem a cidade. Nasci em Itabira em 1989, porque Santa Maria n�o tinha – e ainda n�o tem – maternidade. Sempre morei na cidade, onde fiz meus melhores amigos e guardo lembran�as incr�veis da inf�ncia. A mudan�a para Belo Horizonte veio em 2007 para estudar. Pais, av� materna, tias e bons amigos ainda est�o por l�. Uma tia viu a casa rec�m-reformada praticamente submersa. O im�vel onde morei na inf�ncia, hoje alugado, virou continua��o do rio.

Santa Maria ainda � a t�pica 'Cidadezinha Qualquer' de Carlos Drummond de Andrade – n�o d� pra dizer que ela tenha sido a inspira��o do poeta itabirano, porque s� surgiu em 1943, treze anos depois da publica��o do livro 'Alguma Poesia'. O munic�pio da regi�o Central, a 30 quil�metros de Itabira e a 130 quil�metros de Belo Horizonte, ainda tem 'casas entre bananeiras / mulheres entre laranjeiras / pomar amor cantar'.

Embora alguma modernidade tenha chegado � cidade, Santa Maria vive no ritmo do poema de Drummond: 'Um homem vai devagar / Um cachorro vai devagar / Um burro vai devagar / Devagar... as janelas olham/ Eta vida besta, meu Deus'. Neste domingo, isso mudou. A vida besta, parada, tranquila, virou vida triste para todo mundo. Santa Maria virou not�cia e ganhou as manchetes pela sua dor.

Na madrugada de domingo, as informa��es j� corriam pelos grupos de WhatsApp. A �gua invadiu as casas dos bairros que margeiam o Rio Girau: Lambari, Nova Santa Maria, Centro, Conselho e Po��o. Muita gente acordou sentindo a �gua no corpo. J� n�o dava tempo de salvar nada: eletrodom�stico, guarda-roupa, carro, TV, cama, roupas. Uma vida toda indo embora com o rio. Im�veis no Bairro Po��o, que fica pr�ximo a uma encosta, foram soterrados. Na manh� de ontem, o Corpo de Bombeiros conseguiu resgatar sobreviventes. Escolas ficaram destru�das; o com�rcio no Centro da cidade foi atingido.

Santa Maria � conhecida na regi�o por ser continua��o da MGC-120, onde precisa passar quem vai para as regi�es de Guanh�es, Ferros, �gua Boa, Rio Vermelho. A estrada ficou interditada pelos deslizamentos de terra.

Na cidade, nasceu o compositor mineiro Jos� Duduca de Morais, autor do hino de Minas Gerais. A letra fala em 'lavradores de pele tostada, boiadeiros vestidos de couro... / Oper�rios da ind�stria pesada, garimpeiros de pedra e de ouro... / E poetas de doce mem�ria e valentes her�is imortais... / Todos eles figuram na hist�ria do Brasil e de Minas Gerais'. Agora, esses homens citados por De Morais, ao lado de outras mulheres valentes, ter�o a miss�o de reconstruir Santa Maria de Itabira.” (Thiago Madureira)