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Estado de Minas COLAPSO

COVID-19: UPA aglomera infectados, suspeitos e acompanhantes em BH

A UPA Barreiro est� superlotada com tantos atendimentos que os casos suspeitos de COVID-19 se misturam a doentes confirmados, pacientes e acompanhantes


24/03/2021 12:33 - atualizado 24/03/2021 15:11

Tenda de triagem aglomera infectados e suspeitos, que não suportam horas de calor e circulam pela UPA (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A.Press)
Tenda de triagem aglomera infectados e suspeitos, que n�o suportam horas de calor e circulam pela UPA (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A.Press)
Abarrotada de doentes com a COVID-19 que estavam em casa e pioraram. Infectados sentados em bancos lado a lado com casos suspeitos. Todos circulando entre acompanhantes e pacientes diversos, promovendo mais contamina��es.

Superlotada, sem ter para onde transferir casos graves por falta de vagas em hospitais, a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Barreiro tem hoje o cen�rio mais assustador do colapso do sistema de sa�de em Belo Horizonte, desde o in�cio da pandemia do novo coronav�rus (Sars-Cov-2).  A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) afirma estudar formas de melhorar o atendimento nas UPAs e o isolamento nas tendas.

A superlota��o da UPA Barreiro pode ser vista mesmo do lado de fora da unidade, pela grande circula��o de pessoas entrando e saindo. Deixando as proximidades, pessoas revoltadas criticam a espera por horas e reclamam da lota��o exorbitante. Alguns dizem que v�o procurar atendimento particular, apesar de o estrangulamento da sa�de ser em todos os setores.

�s 10h desta quarta-feira (24/03), seis ambul�ncias congestionavam os estreitos acessos � UPA, que tem vagas para quatro, sendo uma do resgate do Corpo de Bombeiros Militar, duas do Samu e tr�s de servi�os terceirizados.

Tr�s delas tinham pacientes dentro, recebendo oxig�nio de respiradores que faltavam na unidade. Todos os ve�culos de socorro tinham seus alertas luminosos ligados, prontos para partir assim que uma vaga se abrisse no colapsado sistema hospitalar.

A tenda de lona montada do lado de fora da UPA para isolar a triagem dos casos suspeitos de COVID-19 dos demais pacientes, estava com seus 20 lugares ocupados, obrigando as pessoas a sentar sem qualquer distanciamento, lado a lado. Contudo, ali dentro tamb�m aguardavam por atendimento pessoas positivas para a infec��o e que por apresentarem piora no estado de sa�de regressaram para atendimento m�dico.

Ayrton Lopes tem a COVID-19 e ao voltar à UPA por ter piorado, não encontra lugar isolado para atendimento(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A.Press)
Ayrton Lopes tem a COVID-19 e ao voltar � UPA por ter piorado, n�o encontra lugar isolado para atendimento (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A.Press)
"Por favor, n�o se aproxime de mim. Estou contaminado pela COVID-19". A frase � a primeira coisa que o pedreiro Ayrton Lopes do Nascimento, de 29 anos, diz ao sair da tenda, quando a reportagem se aproxima dele, mostrando como a falta de espa�os e separa��o promove a aglomera��o de infectados, suspeitos e demais pessoas em atendimento na UPA.

"Estava em casa, porque na UPA s� recebe oxig�nio quem est� em estado cr�tico. Fui monitorando por um ox�metro a concentra��o de oxig�nio no meu sangue, mas exames j� mostraram uma piora nos meus pulm�es. por isso voltei, mas n�o tem mais lugar em separado para ficar", critica o pedreiro.

O forte calor eo sol que incide diretamente sobre a lona da tenda promovem ainda mais a circula��o dos suspeitos e infectados, muitos deles procurando sombras onde outras pessoas est�o, ou mesmo indo at� padarias e lanchonetes que fornecem comida das portas semi-fechadas a todos.

Sem lugar isolado, resta a Ayrton sentar em um banco na entrada da UPA, perto de senhor em cadeira de rodas(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A.Press)
Sem lugar isolado, resta a Ayrton sentar em um banco na entrada da UPA, perto de senhor em cadeira de rodas (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A.Press)
"A lota��o da UPA est� assustadora hoje. � a terceira vez que volto aqui desde que testei positivo para a COVID-19. Tento ficar distante, n�o circular, mas depois de 4 horas de espera para ser atendido, preciso ir ao banheiro, comprar comida e beber �gua. Estou doente, afinal. N�o tem estrutura para mim", reclama Ayrton, que depois de n�o encontrar um lugar teve de se sentar num banco do lado de fora da �rea de isolamento, na entrada da UPA, a poucos metros de um senhor de idade prostrado em uma cadeira de rodas. Mais uma vez um grande risco de cont�gio.

Em macas de rodinhas ou cadeiras de rodas, a todo momento chegam idosos e outros pacientes com bal�es de oxig�nio. O trabalho � tanto que os funcion�rios mal conseguem deixar o interior da unidade para organizar o distanciamento. Chegam nos acessos e janelas e precisam gritar pelos pacientes e acompanhantes que procuram.

Motorista Jeferson Dornelas espera há dois dias por vaga em hospital para a mãe que está em quarto superlotado (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A.Press)
Motorista Jeferson Dornelas espera h� dois dias por vaga em hospital para a m�e que est� em quarto superlotado (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A.Press)
"Aqui se tornou um hospital, um dep�sito de pacientes sem condi��es m�nimas, porque os hospitais n�o t�m vagas", critica o motorista Jeferson Dornelas, de 28. Ele aguarda a transfer�ncia da m�e, a cozinheira Saray Rosa Dornelas, de 50, h� dois dias, mas n�o encontra vagas no sistema hospitalar.

"Minha m�e sentia dores, estava com febre, mas mandaram eu trazer ela para a UPA apenas quando sentisse falta de ar. Isso � um erro. Uma informa��o que poderia t�-la matado. Trouxe ela antes e a m�dica disse que ela j� tinha de ter recebido tratamento", critica o motorista. De acordo com ele, a m�e se encontra recebendo oxig�nio em uma sala de seis leitos com 12 pacientes.

Na conta da COVID-19 


 O desgaste e a superlota��o saturaram tanto o funcionamento da UPA Barreiro que alguns pacientes e acompanhantes denunciam que pessoas sem comprova��o est�o sendo tratadas como doentes COVID-19, incluindo os mortos. "A desorganiza��o aqui � demais. Um vizinho que tem asma e sempre vem quando tem crise, foi levado direto para o hospital, porque acharam que ele tinha COVID-19 sem terem feito nenhum exame", critica o motorista Jeferson Dornelas.

Ainda mais grave � a den�ncia da vendedora Jessica Paloma Ver�ssimo Prado, de 30. A sua m�e, F�tima Aparecida Ver�ssima, de 53, teve COVID-19 no in�cio da pandemia. na segunda-feira passada (15/03), ela foi internada na UPA Barreiro depois de um acidente vascular cerebral (AVC) e acabou morrendo nesta ter�a-feira (23/03), Contudo, no atestado de �bito a causa da morte consta como COVID-19.

"Por causa disso a nossa fam�lia n�o consegue retirar o corpo h� dois dias. As funer�rias n�o podem transportar o corpo. N�o vamos pdoer fazer um vel�rio e nem tratar do corpo como ela merecia. minha m�e est� l�, entre outros corpos, um descaso", critica.

Jéssica diz não poder enterrar a mãe por causa da certidão de óbito de COVID-19:
J�ssica diz n�o poder enterrar a m�e por causa da certid�o de �bito de COVID-19: "ela teve um AVC", contesta (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A.Press)
Segundo a filha da v�tima, a m�e n�o fez qualquer exame de COVID-19, mas seu estado de sa�de foi piorando desde o AVC. "Ela teve uma parada respirat�ria. A m�dica levou ela para dentro e depois de meia hora veio me dizer que a minha m�e tinhafalecido. Disse que sequer teve tempo de ler o prontu�rio dela. Mas assinalou COVID-19 na causa da morte. Chamei a pol�cia, mas n�o quiseram fazer ocorr�ncia,dizendo que s� a Justi�a muda o laudo de um m�dico", protesta a vendedora.

Hospitais lotados e muita dor

 

 

Conseguir uma vaga no sistema hospitalar � essa altura dapandemia n�o � garantia de salva��o para os infectados pelo novo coronav�rus. Nos arredores do Hospital Metropolitano Dr. C�lio de Castro, no barreiro, o tr�nsito de ambul�ncias � intenso, mostrando a chegada de mais e mais doentes coma COVID-19. V�rios grupos de parentes e amigos se formam nos quarteir�es do entorno, onde as fisionomias s�o de muita tristesa.


Seis pessoas abra�adas n�o quiseram conversar com a reportagem, declarando apenas que era um momento muito dif�cil para a fam�lia. O irm�o de uma senhora tinha acabado de morrer pela COVID-19, depois de 22 dias internado e ela tinha desmoronado nos bra�os de seus entes.

Do outro lado do passeio,um t�cnico em mec�nica de 22 anos que tem a m�e de 56 internada e intubada sequer conseguia falar direito,em meio a tanto chor. "Ela � faxineira l� no (Bairro) Dona Clara (Regi�o da Pampulha). Eu dizia: m�e, para de pegar esses �nibus lotados. Ela falava que precisava sustentar a gente. A�, adoeceu, teve muita dor, febre e falta de ar. levei ela para a UPA Barreiro e ali ficamos por horas, at� o outro dia quando saiu uma vaga aqui para ela", disse, em meio a choro e solu�os, sem conseguir falar mais nada.

Prefeitura amplia atendimento e estuda mudan�as


Por meio de nota, a Prefeitura informa que Belo Horizonte, assim como todo o pa�s, se encontra em uma situa��o grave em rela��o � pandemia da COVID-19. "As UPAs da capital t�m apresentado aumento na procura por atendimento nas unidades e a Secretaria Municipal de Sa�de trabalha de forma ininterrupta para que todos os pacientes sejam atendidos".

Na �ltima segunda-feira, 22 de mar�o, a Prefeitura anunciou novas medidas para ampliar e agilizar a assist�ncia, como a abertura de nove unidades de atendimento 24h n�o COVID que ir�o apoiar as UPAs, atendendo a pacientes que n�o estejam com sintomas respirat�rios, com quadros de m�dia e baixa complexidade. "Tamb�m foi aberto o Cecovid-19 Norte, em funcionamento desde s�bado, dia 20, na UPA Norte, todos os dias, 24 horas. Conta com oito leitos de observa��o, uma unidade de decis�o cl�nica e 10 leitos de emerg�ncia".

Segundo a nota, a tenda instalada na entrada da unidade "foi uma estrat�gia adotada para ampliar o atendimento da recep��o e evitar aglomera��es entre os usu�rios. A Secretaria Municipal de Sa�de j� estuda solu��es para que seja oferecido aos pacientes um atendimento com mais comodidade. A Prefeitura refor�a que as medidas de preven��o devem ser mantidas pela popula��o, com uso da m�scara higieniza��o das m�os e distanciamento social".


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