
Superlotada, sem ter para onde transferir casos graves por falta de vagas em hospitais, a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Barreiro tem hoje o cen�rio mais assustador do colapso do sistema de sa�de em Belo Horizonte, desde o in�cio da pandemia do novo coronav�rus (Sars-Cov-2). A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) afirma estudar formas de melhorar o atendimento nas UPAs e o isolamento nas tendas.
A superlota��o da UPA Barreiro pode ser vista mesmo do lado de fora da unidade, pela grande circula��o de pessoas entrando e saindo. Deixando as proximidades, pessoas revoltadas criticam a espera por horas e reclamam da lota��o exorbitante. Alguns dizem que v�o procurar atendimento particular, apesar de o estrangulamento da sa�de ser em todos os setores.
�s 10h desta quarta-feira (24/03), seis ambul�ncias congestionavam os estreitos acessos � UPA, que tem vagas para quatro, sendo uma do resgate do Corpo de Bombeiros Militar, duas do Samu e tr�s de servi�os terceirizados.
Tr�s delas tinham pacientes dentro, recebendo oxig�nio de respiradores que faltavam na unidade. Todos os ve�culos de socorro tinham seus alertas luminosos ligados, prontos para partir assim que uma vaga se abrisse no colapsado sistema hospitalar.
A tenda de lona montada do lado de fora da UPA para isolar a triagem dos casos suspeitos de COVID-19 dos demais pacientes, estava com seus 20 lugares ocupados, obrigando as pessoas a sentar sem qualquer distanciamento, lado a lado. Contudo, ali dentro tamb�m aguardavam por atendimento pessoas positivas para a infec��o e que por apresentarem piora no estado de sa�de regressaram para atendimento m�dico.

"Estava em casa, porque na UPA s� recebe oxig�nio quem est� em estado cr�tico. Fui monitorando por um ox�metro a concentra��o de oxig�nio no meu sangue, mas exames j� mostraram uma piora nos meus pulm�es. por isso voltei, mas n�o tem mais lugar em separado para ficar", critica o pedreiro.
O forte calor eo sol que incide diretamente sobre a lona da tenda promovem ainda mais a circula��o dos suspeitos e infectados, muitos deles procurando sombras onde outras pessoas est�o, ou mesmo indo at� padarias e lanchonetes que fornecem comida das portas semi-fechadas a todos.

Em macas de rodinhas ou cadeiras de rodas, a todo momento chegam idosos e outros pacientes com bal�es de oxig�nio. O trabalho � tanto que os funcion�rios mal conseguem deixar o interior da unidade para organizar o distanciamento. Chegam nos acessos e janelas e precisam gritar pelos pacientes e acompanhantes que procuram.

"Minha m�e sentia dores, estava com febre, mas mandaram eu trazer ela para a UPA apenas quando sentisse falta de ar. Isso � um erro. Uma informa��o que poderia t�-la matado. Trouxe ela antes e a m�dica disse que ela j� tinha de ter recebido tratamento", critica o motorista. De acordo com ele, a m�e se encontra recebendo oxig�nio em uma sala de seis leitos com 12 pacientes.
Na conta da COVID-19
O desgaste e a superlota��o saturaram tanto o funcionamento da UPA Barreiro que alguns pacientes e acompanhantes denunciam que pessoas sem comprova��o est�o sendo tratadas como doentes COVID-19, incluindo os mortos. "A desorganiza��o aqui � demais. Um vizinho que tem asma e sempre vem quando tem crise, foi levado direto para o hospital, porque acharam que ele tinha COVID-19 sem terem feito nenhum exame", critica o motorista Jeferson Dornelas.
Ainda mais grave � a den�ncia da vendedora Jessica Paloma Ver�ssimo Prado, de 30. A sua m�e, F�tima Aparecida Ver�ssima, de 53, teve COVID-19 no in�cio da pandemia. na segunda-feira passada (15/03), ela foi internada na UPA Barreiro depois de um acidente vascular cerebral (AVC) e acabou morrendo nesta ter�a-feira (23/03), Contudo, no atestado de �bito a causa da morte consta como COVID-19.
"Por causa disso a nossa fam�lia n�o consegue retirar o corpo h� dois dias. As funer�rias n�o podem transportar o corpo. N�o vamos pdoer fazer um vel�rio e nem tratar do corpo como ela merecia. minha m�e est� l�, entre outros corpos, um descaso", critica.

Hospitais lotados e muita dor
Conseguir uma vaga no sistema hospitalar � essa altura dapandemia n�o � garantia de salva��o para os infectados pelo novo coronav�rus. Nos arredores do Hospital Metropolitano Dr. C�lio de Castro, no barreiro, o tr�nsito de ambul�ncias � intenso, mostrando a chegada de mais e mais doentes coma COVID-19. V�rios grupos de parentes e amigos se formam nos quarteir�es do entorno, onde as fisionomias s�o de muita tristesa.
Seis pessoas abra�adas n�o quiseram conversar com a reportagem, declarando apenas que era um momento muito dif�cil para a fam�lia. O irm�o de uma senhora tinha acabado de morrer pela COVID-19, depois de 22 dias internado e ela tinha desmoronado nos bra�os de seus entes.
Do outro lado do passeio,um t�cnico em mec�nica de 22 anos que tem a m�e de 56 internada e intubada sequer conseguia falar direito,em meio a tanto chor. "Ela � faxineira l� no (Bairro) Dona Clara (Regi�o da Pampulha). Eu dizia: m�e, para de pegar esses �nibus lotados. Ela falava que precisava sustentar a gente. A�, adoeceu, teve muita dor, febre e falta de ar. levei ela para a UPA Barreiro e ali ficamos por horas, at� o outro dia quando saiu uma vaga aqui para ela", disse, em meio a choro e solu�os, sem conseguir falar mais nada.
Prefeitura amplia atendimento e estuda mudan�as
Por meio de nota, a Prefeitura informa que Belo Horizonte, assim como todo o pa�s, se encontra em uma situa��o grave em rela��o � pandemia da COVID-19. "As UPAs da capital t�m apresentado aumento na procura por atendimento nas unidades e a Secretaria Municipal de Sa�de trabalha de forma ininterrupta para que todos os pacientes sejam atendidos".