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Estado de Minas LEGADO

Refer�ncia em BH, quadra do Vilarinho est� � venda ap�s 41 anos

Prov�vel frequentador do local, o "Capeta do Vilarinho" virou not�cia internacional; local passou at� por exorcismo


14/05/2021 13:55 - atualizado 14/05/2021 14:15

Foram 41 anos de história, entre as mais famosas a do Capeta do Vilarinho, que aparecia nas 'madrugadas' nas pistas de dança
Foram 41 anos de hist�ria, entre as mais famosas a do Capeta do Vilarinho, que aparecia nas 'madrugadas' nas pistas de dan�a (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

Uma refer�ncia cultural e esportiva de Belo Horizonte, a quadra do Vilarinho, palco de in�meros eventos e que teria sido frequentada at� por "um capeta", est� � venda. Foram 41 anos levando entretenimento e divers�o, principalmente a um p�blico jovem e de periferia, em tempos de poucos espa�os de divers�o para essa parcela da popula��o.
 
Calcula-se que nessas quatro d�cadas, mais de 5 milh�es de pessoas passaram pelos 3.200 metros quadrados de uma das principais casas de eventos da cidade, na Regi�o de Venda Nova. "Nos tempos de bailes funk, aos domingos, receb�amos entre 2.500 e 3 mil jovens", conta Francisco Filizzola Lima, propriet�rio do espa�o.
 
 
Com uma forte gargalhada, ao ser perguntado se quem comprar as quadras vai levar junto o capeta, Francisco Filizzola conta sobre o "sucesso da jogada de marketing", que teria surgido por acaso. "Entrou na m�dia expontaneamente."
 
Segundo o propriet�rio, uma noite, um dos vigilantes das quadras, "que gostava de uma birita", ligou dizendo que tinha "dois capetas" na quadra. Filizzola, em tom de brincadeira, disse para chamar a pol�cia. O rapaz levou a s�rio e acabou registrando um boletim de ocorr�ncia. 
 
Nos anos 1980, havia um programa de reportagem policial muito ouvido em toda cidade, e a radialista, Gl�ria Lopes, comprou a ideia e jogou a hist�ria no ar. "Foi uma jogada de sorte", reconhece Filizola.
 
O caso foi repassado por outros ve�culos e tomou grandes propor��es. Passou a fazer parte da vida dos frequentadores. "Tinha um dan�arino amigo nosso, que era muito bom, gostava de contar que fez aulas com o capeta."
 
O produtor e criador da revista em quadrinhos Celton, personagem muito conhecido nas ruas da cidade, onde vendia suas obras em sem�foros, fez duas edi��es: a primeira, "O Capeta do Vilarinho", foi a mais vendida. Posteriormente, criou outra hist�ria de que o capeta engravidara uma frequentadora das quadras e foi em busca do filho. "Mas n�o teve sucesso na emboscada."
 
O padre Matias, p�roco de um igreja cat�lica de Venda Nova, tentou exorcizar a "entidade". "Ele chegou todo paramentado, com os instrumentos de exorcismo e me pediu permiss�o para a cerim�nia", conta Francisco Filizzola. "Deixei que entrasse e fizesse o servi�o, � claro."
 
A hist�ria rendeu at� uma nota no New York Times, guardada com cuidado pelo dono das quadras.
 
Depois de tornar o assunto "da hora, na boca do povo", a casa promoveu um envento "Baile Ca�a Fantasma". Quem conseguisse capturar o suposto "capeta", receberia um pr�mio em dinheiro. Uma emissora de r�dio resolveu encampar a ideia, mas o diretor exigiu que Filizzola depositasse uma quantia em dinheiro. "Vai que algu�m acha um capiroto e prende."
 
Francisco Filizzola fez o dep�sito em cheque "sem fundo", admite. A quantia era muito alta, conta entre risos. Mas os "bicho" n�o foi ao baile e continuou solto. "Tudo na vida tem come�o, meio e fim. O mais gratificante de tudo � que, no fim, com tantas alegrias e algumas tristezas, principalmente pelo preconceito, encerro uma etapa da vida com a felicidade que foi um espa�o t�o querido da cidade."
 

Quadras foram sementes que se espalhar�o pela cidade

 
"Vida que segue." Com muito bom humor e tranquilidade, Filizzola considera que "a semente foi plantada e muitas quadras Vilarinho se espalhar�o pela cidade. N�o guardo rancores e nem culpo ningu�m". A pandemia foi o tiro certeiro para a decis�o de colocar o im�vel � venda. O setor de eventos � o que mais sentiu a crise, com suspens�o das atividades desde os primeiros momentos, em mar�o de 2020. E sem previs�o de voltar a atuar.
 
"Tenho um espa�o no qual n�o posso explorar em sua total potencialidade. Apesar do nome, n�o era apenas quadra, t�nhamos v�rios eventos. Nesses anos todos, trouxemos os artistas top do samba nacional, promovemos os primeiros bailes funk da capital. Aqui realizamos formaturas, orden��o de padres e festivais evang�licos. Nos tornamos uma refer�ncia para a cidade."
 
As pr�ticas esportivas, tendo como principal atividade o futebol de sal�o, continuam funcionando, mas n�o cobrem os custos. "N�o acredito que os eventos voltem antes de dezembro de 2022, e, caso aconte�a, vir�o com muitos protocolos." Antes da pandemia, eram 71 funcion�rios, hoje s�o quatro. 
 
Foi refer�ncia a uma popula��o economicamente vulner�vel, com poucas op��es de lazer, que trouxe "in�meras gratifica��es", lembra com carinho o propriet�rio. "Conviver com esses jovens me deixou mais feliz, com melhores rela��es com a vida, bem humorado", revela "seu" Chico.
 
Segundo Francisco, o projeto social Curumim teria nascido nas quadras do Vilarinho. "Partiu de ideia nossa, foi encampada pelo governo e depois transformada em Toriba." Tratava de atrair jovens entre 12 e 18 anos, em vulnerabilidade social, para pr�tica de atividades esportivas, art�sticas e aprendizado de of�cios. 
 
A quadra abrigou jogos de futebol de sal�o,  v�lei, basquete, aulas de artes e of�cios, cursos de DJ, grava��o de MC's. "O que aconteceu foi que parou. O governo federal bancava uniforme e alimenta��o. Em contrapatida, o estado teria que dispor de espa�o f�sico. O estado n�o tinha dinheiro ou n�o teve interesse. Durante um ano, banquei o projeto, depois n�o tive como continuar."
 
O espa�o posto � venda fica no "bico do garraf�o", apelido dado � conflu�ncia de todo o fluxo de ve�culos e pessoas que v�m de bairros de Venda Nova e cidades da Regi�o Metropolitana, como Ribeir�o das Neves e Justin�polis, no sentido Centro de BH, desembocando na conflu�ncia entre a Avenida Vilarinho e a Rua Padre Pedro Pinto, tornou-se t�o famoso que a esta��o do Move leva o nome de "Quadras Vilarinho."
 
Foram muitas as tentativas de fazer com que esse espa�o que abrigasse pol�ticas p�blicas. "Enviamos in�meros projetos a todas as inst�ncias municipais, estaduais e federais. Mas n�o obtivemos resposta. N�o existe uma pol�tica de estado, tendo como refer�ncia esses projetos. S�o pontuais. Existe uma rejei��o grande por parte do estado, por ser periferia. Num bols�o de pobreza. As atividades abra�adas por governos e grandes empresas praticam pol�tica de exclus�o. Mesmo que fosse aprovado, na hora de levantar dinheiro os empres�rios se esquivam, por n�o estar em �rea nobre", lamenta.


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