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Estado de Minas PATRIM�NIO HIST�RICO

Padre faz campanha para alterar pe�as de igreja em Nova Era e irrita fi�is

Parte dos moradores est� indignada com proposta de religioso que chegou h� seis meses e quer trocar m�vel e utens�lios lit�rgicos para embelezar o templo


01/06/2021 04:00 - atualizado 01/06/2021 06:21

Primeiros registros históricos do templo que se tornaria a Igreja Matriz São José da Lagoa, na cidade da Região Central de Minas, remontam aos anos 1750(foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS )
Primeiros registros hist�ricos do templo que se tornaria a Igreja Matriz S�o Jos� da Lagoa, na cidade da Regi�o Central de Minas, remontam aos anos 1750 (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS )
Nova Era – No ano em que os cat�licos do mundo inteiro celebram S�o Jos� como patrono da Igreja, um templo barroco dedicado ao esposo de Maria e pai de Jesus se torna alvo de pol�mica. E rende muito assunto entre a popula��o e em redes sociais. Em Nova Era, na Regi�o Central do estado, a 140 quil�metros de Belo Horizonte, a iniciativa do padre Elvis Jos� Corr�a, h� seis meses titular da Par�quia S�o Jos� da Lagoa, de colocar tr�s pe�as novas na capela-mor, diante do altar esculpido pelo portugu�s Francisco Vieira Servas (1720-1811), vem provocando forte rea��o popular.

 

Com uma campanha em andamento para contribui��o comunit�ria, padre Elvis pretende trocar a mesa da eucaristia (de madeira tipo cavalete, adquirida h� 10 anos) por outra que trar� na frente, em dourado sobre fundo branco, entalhes imitando a ornamenta��o do ret�bulo. Al�m disso, dever� substituir o amb�o (suporte para leitura) e a s�dia (conjunto de tr�s cadeiras para o celebrante da missa e os ajudantes). Na a��o “em prol do novo altar” da Igreja S�o Jos� da Lagoa, localizada no Bairro Manjahy, o l�der cat�lico conclama os paroquianos: “Vamos deixar nossa igreja-m�e ainda mais bela, com o conjunto est�tico no seu estilo de constru��o”.

 

Vozes contr�rias ecoam, inclusive entre especialistas. “N�o podemos aceitar tal descaracteriza��o. Nossa igreja � do s�culo 18, o altar, de Servas, e o tombamento, do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico  Nacional (Iphan), ent�o nada pode ser feito sem autoriza��o”, diz o restaurador-conservador Ricardo Emiliano, nascido em Nova Era e batizado na Igreja S�o Jos� da Lagoa.

 

As peças que o sacerdote quer trocar: a mesa de madeira da eucaristia, suporte para leitura e as três cadeiras para o celebrante da missa e seus ajudantes(foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS )
As pe�as que o sacerdote quer trocar: a mesa de madeira da eucaristia, suporte para leitura e as tr�s cadeiras para o celebrante da missa e seus ajudantes (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS )
A dona de casa Polyana Maria Costa � uma das que tamb�m mostram indigna��o. “Trata-se de uma agress�o ao ret�bulo da nossa igreja. A comunidade n�o foi consultada em momento algum. N�o podemos permitir”, afirma Polyana, vestida com uma camisa com a estampa da igreja e na qual se l� a frase “Valei-nos, S�o Jos�”.

 

Desgostoso com a proposta do padre, Ricardo Emiliano afirma que as pe�as se encontram em �timo estado de conserva��o, sem interferir  na atmosfera barroca do templo. “As cadeiras s�o de palhinha, leves, enquanto as idealizadas pelo padre, revestidas de branco, s�o inadequadas. A ornamenta��o da mesa vai criar um clima fake, algo que destoa do original”, avalia. Ao lado de Polyana, o restaurador mostra o projeto do p�roco impresso em papel e exposto logo na entrada da matriz para ades�o dos devotos. “Veja: est� escrito aqui ‘novo altar’”, apontou.

 

Considerando o gasto com as pe�as totalmente desnecess�rio, ainda mais em tempo de pandemia, o conterr�neo Jos� Bonif�cio Costa, servidor p�blico, avisa que h� urg�ncias na igreja, como reparos na cobertura para evitar goteiras. “O padre diz que a igreja ficar� mais bela. Ficando ou n�o mais bela, o problema � que haver� interfer�ncia, tirando a aten��o para o altar. Queremos a igreja do jeito que ela �. A madeira crua da mesa atual n�o compete com o ret�bulo.”

 

Nas redes sociais, foi postada uma foto do ret�bulo com o alerta do grupo: “Podemos n�o estar reunidos. Mas estamos unidos. Pare! N�o aceitaremos interven��es no nosso bem patrimonial”.

 
 

Estilo pr�prio

Nascido em Portugal, Francisco Vieira Servas (1720-1811) trabalhou como entalhador e escultor em madeira tamb�m na Igreja Nossa Senhora da Concei��o, em Catas Altas, no Santu�rio Senhor Bom Jesus do Matosinhos e Igreja Nossa Senhora da Concei��o, em Congonhas; e Igreja Nossa Senhora do Ros�rio, de Mariana, al�m de outras em Ouro Preto, Itaverava e S�o Jo�o del-Rei. Segundo os especialistas, criou estilo pr�prio na concep��o dos altares, com destaque para um elemento denominado arbaleta (arremate sinuoso).  

 

Templo de meados do s�culo dezoito

 
De acordo com registros hist�ricos, a Igreja Matriz S�o Jos� da Lagoa foi constru�da em Nova Era antes de 1754. Em 3 de setembro daquele ano, Domingos Francisco Cruz, morador na �rea de minera��o denominada Passagem (hoje Bairro Santa Maria), por meio de escritura p�blica lavrada no cart�rio do Arraial de Nossa Senhora da Concei��o de Catas Altas (Diocese de Mariana), fez ao “Glorioso Patriarca S�o Jos�” a doa��o de “uma ro�a (na freguesia S�o Miguel do Piracicaba) para patrim�nio de sua nova capela”. Na escritura e em peti��o, h� refer�ncia � capela como j� existente, “constru�da pelos moradores h� quase um ano e nela se celebra o Santo Sacrif�cio da Missa em altar”.

O templo recebeu sua primeira b�n��o em 10 de novembro de 1768, pelo padre Ant�nio Pereira Moura Vasconcelos. O sino maior data de 1795.

Interven��es continuaram at� o in�cio do s�culo 20, e talvez uma das �ltimas transforma��es tenha sido a escada em espiral, feita por um marceneiro. A maior mudan�a na constru��o ocorreu em 1848, quando da passagem de capela para par�quia.

Em 11 de agosto de 1923, a energia el�trica chegou �  Matriz S�o Jos� da Lagoa. H� registro de que, em 1941, foram feitas obras de reconstru��o e restaura��o, pois o edif�cio estava danificado e adulterado. Na d�cada de 1980, teve in�cio uma grande obra de restaura��o que durou 25 anos e recebeu intensa participa��o da comunidade.
 
Padre Elvis Corrêa diz que há adesão à campanha de troca de mobiliário e que peças a serem substituídas destoam do estilo arquitetônico da matriz(foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS )
Padre Elvis Corr�a diz que h� ades�o � campanha de troca de mobili�rio e que pe�as a serem substitu�das destoam do estilo arquitet�nico da matriz (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS )
 

P�roco procura o Iphan e diz que h� "confus�o"

 
Respons�vel pela Matriz S�o Jos� da Lagoa e por 24 capelas, padre Elvis recebeu a equipe do EM na casa paroquial e na Igreja S�o Caetano, no Centro da cidade. Adiantou que, na pr�xima quarta-feira (2/6), por videoconfer�ncia, ter� uma reuni�o com a superintendente do Iphan em Minas, D�bora do Nascimento Fran�a, para tratar do assunto.

Na avalia��o do p�roco, est� havendo uma confus�o, pois ele sustenta que jamais quis interferir no altar e na arquitetura do templo, tombado em 1953 pelo Iphan. “A proposta � trocar a mesa da eucaristia para haver mais harmonia no interior da igreja, valorizar o acervo. N�o esperava uma rea��o assim de algumas pessoas e asseguro que a campanha que estamos fazendo tem �timo resultado, com grande participa��o.”

Padre Elvis, cuja par�quia est�  vinculada � Diocese de Itabira e Coronel Fabriciano, ainda n�o disp�e de um or�amento para a proposta, mas conta que a mesa ser� feita em S�o Jo�o del-Rei, na Regi�o do Campo das Vertentes. Sobre goteiras e infiltra��es na igreja, observa que, nas chuvas deste ano, n�o verificou qualquer estrago. De todo jeito, afirma que vai buscar recursos para manuten��o do templo.

De acordo com o Iphan, a par�quia precisa aprovar os projetos na superintend�ncia em Minas, “o que n�o foi feito at� o momento”. Assim, esse ser� um dos principais pontos tratados na reuni�o.

Interpreta��es equivocadas

Nas redes sociais, o padre postou uma nota: “Diante de interpreta��es equivocadas sobre a Campanha dos Devotos de S�o Jos�, esclarecemos que o vocabul�rio dos objetos lit�rgicos e do espa�o celebrativo prev� que o uso da palavra ‘altar’ � referido � mesa onde � celebrada a eucaristia. A palavra ‘amb�o’ � referida � estante onde s�o proclamadas as leituras, e todo o conjunto � denominado de presbit�rio. Portanto, o objetivo da campanha n�o � em hip�tese alguma alterar ou destruir as obras de arte do portugu�s Francisco Vieiras Servas ou quebrar e substituir o ret�bulo-mor onde fica a imagem de S�o Jos�, mas, sim, a mesa de madeira colocada provisoriamente para o padre celebrar de frente para o povo.

E mais: “Essa mesa provis�ria n�o � tombada, e destoa do conjunto. O amb�o, feito de madeira de uma forma contempor�nea e provis�ria, tamb�m n�o comunga com o estilo arquitet�nico da Matriz S�o Jos�”. 


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