Solidariedade salva moradora de Capelinha da depress�o; veja o que ela faz
Aposentada coleta cartelas vazias de rem�dio e lacres de latas para trocar por cadeira de rodas, que ser�o emprestadas para moradores necessitados da cidade
Cartelas usadas de medicamentos s�o vendidas para reciclagem (foto: Felipe Pereira/Especial para o EM)
No segundo semestre de 2019, a professora aposentada Sandra Helena Lopes se viu � frente de uma luta muito complicada: contra a depress�o. Foram dias sem comer e sem dormir direito.
A moradora de
Capelinha
, cidade no alto do Vale do Jequitinhonha, tinha na leitura a �nica companhia, e n�o � exagero quando falamos que ela "devorava" livros.
Lia quase 30 por semana. Um dia, pesquisando na internet, descobriu que havia um projeto em Ara�atuba, cidade do interior de S�o Paulo, que trocava cartelas de rem�dios vazias por
cadeiras de rodas
.
"A� eu tive uma ideia. Por que n�o fazer a mesma coisa aqui em Capelinha? Na manh� seguinte, liguei para o pessoal de Ara�atuba para buscar todas as informa��es", conta Sandra ao
Estado de Minas
.
Come�ava a� um projeto que repercute at� hoje na cidade de 34 mil habitantes. Para preencher o vazio que a incomodava, Sandra decidiu ench�-lo de
solidariedade
– n�o que isso fosse exatamente uma novidade na vida dela, mas ganhava um novo sentido.
Ela decidiu sair �s ruas para pedir aos vizinhos cartelas usadas.
A aposentada Sandra Helena Lopes (foto: Arquivo pessoal)
"N�o foi f�cil no come�o. As pessoas n�o estavam aceitando muito bem isso, diziam que n�o tinham tempo para separar as cartelas", lembra.
Aos poucos, a ideia foi ganhando forma, mas o trabalho ainda era "de formiguinha". A professora procurou urnas que poderiam servir para arrecadar os materiais de forma efetiva. Conseguiu apoio do com�rcio local para bancar a fabrica��o delas.
A professora conta que s�o necess�rios
700 quilos
de cartelas para que elas sejam trocadas por uma cadeira.
"Eu pensei comigo mesma que '700 quilos era pouca coisa'. Mas, Deus do ceu, � coisa demais! � muito volume para pouco peso", brinca.
Tanto que apenas hoje, quase dois anos depois, ela est� pr�xima de juntar os 700kg para trocar pela primeira cadeira. O peso real ser� computado nos pr�ximos dias. Al�m das cartelas, Sandra tamb�m passou a juntar lacres de latas de refrigerante e cerveja.
S�o necess�rias 140 garrafas PET de dois litros para que a "troca" pela cadeira aconte�a. Hoje, ela tem 58.
Ap�s juntar todo o material, os lacres e cartelas ser�o vendido, e o dinheiro usado para a compra da cadeira. A ideia inicial seria mandar tudo para Ara�atuba, mas, por conta do alto valor do frete, Sandra ainda busca uma op��o mais vi�vel.
A chance mais prov�vel � que uma cooperativa de Belo Horizonte compre os recicl�veis, apenas quando houver um peso que valha a pena a viagem – j� que s�o 433km de estrada de BH a Capelinha.
Parte do material que, por enquanto, est� estocado na casa de Sandra (foto: Sandra Helena Lopes/Arquivo pessoal)
Para quem v�o as cadeiras?
A veia de solidariedade de Sandra n�o fica apenas nesse projeto. Integrante da pastoral da sa�de de Capelinha, frequentemente visita pessoas que precisavam das cadeiras de rodas para se locomover.
Como o hospital e o asilo da cidade j� tinham os equipamentos apenas para uso interno em quantidade suficiente, ela decidiu que vai "emprestar" as cadeiras para pessoas que n�o t�m condi��es financeiras de comprar os equipamentos, que podem custar at� R$ 1 mil.
O empr�stimo � algo comum quando se fala de cadeira de rodas, j� que o uso geralmente tem prazo determinado.
"Considero que essa � a forma mais inteligente, j� que podem acontecer situa��es de a pessoa n�o precisar mais da cadeira e jog�-la fora, ou ent�o a pr�pria morte. Ent�o, acredito que fazendo o 'empr�stimo', absolutamente gratuito, conseguimos ampliar o acesso para outras pessoas", justifica.
S� que algo a surpreendeu: a campanha se espalhou nas cidades vizinhas, como Itamarandiba, e Sandra recebeu a doa��o de tr�s cadeiras de rodas novas.
H� aproximadamente 20 dias, tamb�m recebeu uma cadeira de banho. Elas j� est�o sendo emprestadas, mas o objetivo maior ainda � trocar todos os recicl�veis.
Sandra fala com um orgulho imenso sobre o projeto que desenvolveu. E, repetidas vezes, fala em empatia, amor ao pr�ximo e desprendimento. Nunca tirou um centavo sequer para si, e nem pretende.
"Deus tem me pago bastante. N�o sei te contar como, nem quando, nem de que jeito, mas � maravilhoso ajudar o pr�ximo. N�o tenho mais depress�o, estou �tima. Pena que a pandemia veio e me trancou em casa, mas n�o vejo a hora de poder voltar a bater pernas para buscar mais material", finaliza.