Funcionalismo de Minas ficou cinco anos com o sal�rio parcelado (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Depois de longos cinco anos, os servidores p�blicos do estado de Minas Gerais voltaram a receber o sal�rio integral, no quinto dia �til, nesta sexta-feira (6/8). O feito foi muito comemorado entre os funcion�rios, que se endividaram e passaram por grandes inseguran�as nesse per�odo.
Paula Oliveira, de 35 anos, � servidora p�blica desde 2014 e mais da metade do tempo trabalhado ela recebeu o sal�rio parcelado.
"Eu entrei em 2014 e dois anos depois a gente passou receber parcelado. Acho que o momento mais cr�tico foi no in�cio, porque precisamos nos adaptar e n�o sab�amos de onde tirar o dinheiro para pagar as despesas que a primeira parcela n�o dava conta de cobrir", disse.
Para n�o ficar no vermelho, ela precisou usar a reserva de dinheiro que tinha feito para outros planos pessoais.
Paula Oliveira e o marido, Alexandre Sironi, ir�o planejar uma comemora��o do casamento (foto: Arquivo pessoal)
"Eu sempre fui muito organizada e o que me ajudou foi ter uma reserva financeira. Tinha reservado para outros planos pessoais e precisei tirar disso para pagar as contas fixas, que n�o tinham como alterar data. Deu para mudar o vencimento do cart�o de cr�dito, telefone e internet. Mas, �gua, luz e IPTU n�o tinha jeito".
No in�cio do parcelamento, as dificuldades tamb�m foram grandes para o professor da rede estadual M�rcio Ant�nio de Castro, de 51 anos.
"Eu lembro que o parcelamento foi na �poca do Pimentel [ex-governador de Minas]. Come�ou atrasando e depois passaram a parcelar. No in�cio foi muito dif�cil, porque nossa vida financeira j� estava organizada de acordo com o pagamento", afirmou.
M�rcio tinha efetivado um plano h� pouco tempo, quando come�ou a receber o sal�rio parcelado.
"Eu tinha apartamento para pagar, n�o dava para ficar negociando muito. Isso foi bem complicado. Inclusive, sei que boa parte dos servidores pegou empr�stimo. Eu consegui alterar todos os vencimentos de cart�es e do boleto da outra faculdade que estava cursando, mas financiei o apartamento pela Caixa, n�o dava para atrasar parcelas", explicou o professor.
D�vidas
Ao longo dos anos, tanto o M�rcio quanto a Paula conseguiram formas para n�o fazer d�vidas. Por�m, esse caminho n�o apareceu para todos os servidores p�blicos de Minas, como aconteceu com a professora de educa��o f�sica Joseline de Andrade, de 41 anos.
Joseline de Andrade e o marido, Samuel Almeida, abriram uma marcenaria (foto: Arquivo pessoal)
Ela precisou fazer diversos empr�stimos para pagar suas contas, entretanto, o que era uma ajuda acabou virando pesadelo. Al�m de n�o pagar as contas nas datas de vencimento, os juros iam aumentando e novos empr�stimos eram feitos para tentar pagar a d�vida anterior.
"Bola de neve. � isso que viram as contas quando voc� n�o pode contar com seu pr�prio pagamento. As contas v�o chegando e com prazos. Nesses anos, precisei fazer empr�stimo. Um n�o, v�rios, no plural mesmo. Foram contas atrasadas, juros e aluguel. � muito complicado trabalhar e n�o saber se vai receber", desabafou a servidora.
Em meio � crise financeira, a sa�da para Joseline foi montar o pr�prio neg�cio, para completar a renda como professora. Ela e o marido, Samuel Almeida, abriram uma marcenaria no fim de 2016, logo ap�s o parcelamento de sal�rios ter in�cio.
"Abrir a marcenaria e, com certeza, ajudou muito. Se n�o fosse esse trabalho extra que temos, a gente n�o ia dar conta. Meu marido saiu do emprego h� dois anos e fica por conta da marcenaria. E eu ajudo quando n�o estou dando aula" explica Joseline.
Como come�ou o parcelamento
Em janeiro de 2016, a primeira folha de pagamento dos servidores p�blicos de Minas Gerais foi feita com um aviso: a partir de fevereiro do mesmo ano os sal�rios seriam escalonados.
Os vencimentos de at� R$ 3 mil seriam pagos no quinto dia �til, enquanto quem ganhava at� R$ 6 mil iria receber duas parcelas. J� os servidores com sal�rio superior a R$ 6 mil receberiam de tr�s vezes.
Toda a mudan�a foi feita pelo ex-governador Fernando Pimentel (PT), durante uma situa��o considerada emergencial, devido � crise enfrentada pelo poder Executivo estadual.
No in�cio, a previs�o era que os sal�rios fossem divididos apenas por 90 dias, mas somente em agosto de 2021 todo o funcionalismo voltou a receber integralmente.
O governador de Minas, Romeu Zema, regularizou o pagamento dos servidores estaduais (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Quando eleito, o atual governador Romeu Zema (Novo) afirmou que chegaria as contas do estado 'no lugar'. Durante dois anos e meio de mandato, ele permaneceu parcelando os sal�rios, por�m, com a chegada da pandemia, os servidores da sa�de e seguran�a passaram a receber o valor integral.
Ainda assim, faltavam mais de 300 mil servidores para serem pagos da mesma forma. At� que em 19 de julho deste ano, o an�ncio que muitos queriam ouvir foi feito.
"Depois de cinco anos e meio, acabou o pesadelo do funcion�rio p�blico de Minas Gerais. A partir deste m�s de agosto, todo funcion�rio passar� a receber no quinto dia �til. N�s estamos aqui arrumando a casa, equilibrando as contas. E eu fico muito satisfeito. Agora que estamos colocando o trem em cima dos trilhos, vamos aceler�-lo", disse o governador em uma sequ�ncia de v�deos publicados em rede social.
A certeza da not�cia tamb�m foi dada por Zema no in�cio de agosto. Atrav�s do Twitter, ele confirmou que os pagamentos seriam feitos de forma integral, para todos os servidores, nesta sexta (6/8).
"Aten��o para a escala de pagamento de agosto dos servidores p�blicos de Minas: todos receber�o integralmente no dia 06, pr�xima sexta. Depois de mais de 5 anos de atraso e parcelamentos, o sal�rio dos servidores ser� pago no 5º dia �til do m�s a partir de agosto", dizia na mensagem.
Aten��o para a escala de pagamento de agosto dos servidores p�blicos de Minas: todos receber�o integralmente no dia 06, pr�xima sexta. Depois de mais de 5 anos de atraso e parcelamentos, o sal�rio dos servidores ser� pago no 5� dia �til do m�s a partir de agosto. #Gest�oDeVerdade
Com o sal�rio na conta, os servidores voltaram a pensar nos planos guardados h� anos e que precisavam da seguran�a financeira para serem realizados.
"N�o cheguei a fazer d�vida de cart�o ou empr�stimo. Eu tive o benef�cio de j� ter quitado bens, como o carro. Com o pagamento em dia, conseguimos olhar pra frente com mais garantia financeira para tomar uma decis�o. Agora posso pensar nos planos de casamento com mais seguran�a", afirma a servidora Paula Oliveira.
J� a professora Joseline de Andrade pretende fazer uma reserva de emerg�ncia, para evitar novas surpresas.
"Ter o sal�rio no prazo vai ser uma diferen�a muito grande. Saber quando vamos receber � essencial. O objetivo agora � fazer uma poupan�a, mesmo estando apertada, para evitar que outros imprevistos me peguem na saia justa".
"Terminei de pagar minha �ltima negocia��o h� dois meses. Cada d�vida quitada � uma ben��o, foram anos assim. O parcelamento nos deixou na m�o demais, mas agora � uma fase nova, vamos ver como vai ser", disse a professora.
Paula tirou uma li��o importante durante os anos de parcelamento. "Conseguimos aprender muito sobre planejamento e como se auto gerenciar nos momentos de crise", finaliza a servidora p�blica.
*Estagi�ria sob supervis�o do editor �lvaro Duarte