
Disparadas no n�mero de ocorr�ncias, seca extrema e vegeta��es extensas destru�das. O panorama do n�mero de inc�ndios em Minas Gerais nos per�odos sem chuva � devastador e deixa autoridades e toda a sociedade em geral em estado de emerg�ncia. Agosto e setembro costumam ser os meses em que as demandas do Corpo de Bombeiros crescem fortemente por causa da expans�o das queimadas, sejam elas clandestinas ou involunt�rias.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estado teve 1.537 focos de inc�ndio nos primeiros 24 dias de agosto. O n�mero representa um crescimento de 108,5% em compara��o com o mesmo per�odo do ano passado, quando os registros foram registrados 737 focos. Tamb�m j� ultrapassa o total de todo o m�s em 2020 – nos 31 dias de agosto do �ltimo ano, foram 1.155 focos. Os dados s�o coletados via sat�lite pelos pesquisadores do Inpe e muitas vezes divergem do balan�o oficial do Corpo de Bombeiros.
Os focos registrados nos primeiros 24 dias de agosto tiveram um crescimento de 18% se comparados com todo o per�odo de julho. Especialistas afirmam que o n�mero de registros neste m�s vai ultrapassar os 2 mil, o que levar� � lideran�a nos �ltimos anos.
Com 58,9% de �rea atingida, o Cerrado foi o bioma mais afetado pelas queimadas neste m�s. Em Minas, a �rea dessa vegeta��o � composta pelas regi�es do Tri�ngulo Mineiro, Alto Parana�ba e Noroeste, que est�o sob estado de alerta devido � escassez de chuvas. S�o mais de 130 dias sem precipita��es. Em segundo lugar, vem a Mata Atl�ntica, que concentrou 40,9% das queimadas, e a Caatinga, com apenas 0,8% dos focos.
"As mudan�as clim�ticas ajudam a explicar toda esse panorama que enfrentamos. Quando vem a chuva, ela � demais. Quando temos seca, ela � extrema"
Ruibran dos Reis, meteorologista do Climatempo
“Em Minas, temos uma caracter�stica peculiar, com a presen�a de serras e montanhas em nosso relevo. Nesses locais, h� a forma��o de corredores de ventos, que aceleram a propaga��o dos inc�ndios. Por isso, nosso estado � muito afetado. Embora a gente n�o enfrente temperaturas t�o elevadas, contamos com vegeta��es secas. Provavelmente, vamos bater os patamares hist�ricos dos �ltimos cinco anos”, explica o tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros.

At� o momento, o Inpe mostra que Uberl�ndia, no Tri�ngulo, lidera a lista de cidades com os maiores focos de inc�ndio em agosto, um total de 42. Una�, com 28, e Curvelo e Paracatu, com 23, v�m logo atr�s no ranking do m�s. No �ltimo fim de semana, foram feitos 242 chamados de socorro em todo o territ�rio de Minas Gerais, com 99% dos casos de origem humana. Aeronaves dos bombeiros e drones t�m sido usados para controlar as chamas em locais de dif�cil acesso, onde os militares n�o conseguem atuar de forma manual.
Em toda parte
Segundo Pedro Aihara, a incid�ncia de inc�ndios se tornou t�o intensa que eles ocorrem nos centros urbanos e nos campos na mesma propor��o: “O inc�ndio na cidade traz como preju�zo imediato a quest�o da vida humana, al�m da destrui��o de edifica��es pr�ximas. � um inc�ndio que, mesmo em �rea pequena, tem potencial de destrui��o muito grande. No caso dos inc�ndios florestais, eles ocorrem em �reas abertas e se propagam muito rapidamente. � um combate extremamente trabalhoso, porque demora dias e � tudo feito manualmente, al�m de afetar toda nossa fauna e flora e a qualidade do ar”.
Se agosto j� � considerado de grande risco para a fauna e a flora, o pr�ximo m�s pode ser ainda mais aterrorizante diante do agravamento da seca: “O m�s que mais nos preocupa � setembro, que historicamente � respons�vel por quase 40% dos inc�ndios no ano. Por causa disso, j� iniciamos opera��es preventivas, buscando a conscientiza��o das pessoas que moram no entorno desses locais, estabelecimento de medidas protetivas como aceiros e treinamento de brigadas”, conta Aihara.
Segundo dados do Instituto Estadual de Florestas (IEF), compilados no Boletim Informativo da For�a Tarefa Previnc�ndio, foram registrados 426 inc�ndios em unidades de conserva��o estaduais entre 1º de janeiro e 25 de agosto de 2021. O montante representa 121 inc�ndios a mais do que o registrado no mesmo intervalo (1º de janeiro a 25 de agosto) da m�dia hist�rica de inc�ndios florestais.
A m�dia hist�rica considerada pelo IEF vai de 2013 a 2020 e � usada como base comparativa devido � grande varia��o anual em rela��o a �reas queimadas e � influ�ncia direta da condi��o clim�tica nas ocorr�ncias de inc�ndios florestais.
Atualmente, o IEF � respons�vel por 93 unidades de conserva��o no estado. Em nota ao Estado de Minas, o �rg�o esclarece que tanto ele, quanto o Corpo de Bombeiros s�o respons�veis, na mesma propor��o, pelo combate aos inc�ndios. "O IEF s� contabiliza e atua na preven��o e combate dos inc�ndios florestais registrados no territ�rio e entorno das unidades de conserva��o estaduais. Por outro lado, o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), �rg�o tamb�m membro da For�a-Tarefa Previnc�ndio, � respons�vel por atuar em ocorr�ncias de inc�ndio em �reas urbanas, lotes vagos e �reas verdes diversas, incluindo as unidades de conserva��o".
As queimadas afetam tamb�m mais de 1 mil esp�cies de animais que s�o encontrados nos tr�s biomas do estado. Desses, um levantamento do Instituto Estadual de Florestas (IEF) mostra que os filhotes e os r�pteis sofrem mais com a a��o do fogo, j� que t�m mais dificuldade de se locomover nas situa��es de perigo.
Chuvas em queda
O crescimento dos inc�ndios em Minas Gerais � explicado pela baixa frequ�ncia de chuvas desde o ano passado. O meteorologista Ruibran dos Reis, do Climatempo, explica que h� pelo menos seis meses o n�vel de precipita��o se encontra em estado cr�tico: “Tivemos um per�odo chuvoso ruim em 2020 e 2021. O solo n�o saturou e n�o tivemos disponibilidade de �gua.
Historicamente, a esta��o chuvosa termina em abril, mas tivemos apenas novembro, dezembro e janeiro ruim de chuva. Em seguida, choveu bem em fevereiro e depois parou, praticamente. Desde mar�o, n�o temos chuvas significativas”.
Ele entende que a crise h�drica � o resultado de uma s�rie de varia��es intensas no clima em todo o estado: “Somos afetados pelos fen�menos El Ni�o e La Ni�a, mas hoje nos encontramos numa situa��o neutra. As mudan�as clim�ticas ajudam a explicar toda esse panorama que enfrentamos. Temos hoje uma variedade muito grande no clima. Quando vem a chuva, ela � demais. Quando temos seca, ela � extrema. Ou est� muito frio ou � muito calor. Passamos a viver sob extremos”.
Baixa umidade
A massa de ar quente e seco que atua sobre Minas Gerais segue elevando as temperaturas. Com isso, a taxa de umidade relativa, que pode contribuir para uma melhor qualidade do ar, permanece em queda.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em regi�es mais quentes, o n�vel de umidade est� abaixo dos 20%, o que � considerado cr�tico pelos meteorologistas. No Norte e Tri�ngulo Mineiro, onde as temperaturas ultrapassam os 30°C, os �ndices de umidade do ar est�o em 15%.
Em situa��es como essa, os m�dicos recomendam bastante hidrata��o. Ontem, o c�u permaneceu de claro a parcialmente nublado com n�voa seca na maior parte de Minas, exceto na faixa Leste, onde o tempo ficou fechado.
Em Belo Horizonte, a previs�o para hoje � de m�nima de 13°C e m�xima de 29°C, com umidade do ar variando entre 20% e 90%.
