(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas C�NCER DE MAMA

Outubro Rosa: pandemia afetou diagn�sticos precoces do c�ncer de mama

Conhe�a a hist�ria de mulheres que lutam contra a doen�a e recuperaram a autoestima com cirurgias reparadoras


07/10/2021 20:29 - atualizado 07/10/2021 20:29

Decoração no Hospital da Baleia
Outubro Rosa no Hospital da Baleia (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Outubro � um m�s conhecido pela grande campanha de conscientiza��o sobre a import�ncia da preven��o e do diagn�stico precoce do c�ncer de mama. A doen�a afeta, principalmente, as mulheres e � o tipo de c�ncer mais incidente no sexo. Em 2020, foram 66.280 novos casos no Brasil, segundo o Instituto Nacional de C�ncer (Inca). Apesar desses diagn�sticos, devido � pandemia, muitos exames necess�rios para rastrear a doen�a foram adiados, o que afetou a identifica��o de pessoas que poderiam ser tratadas precocemente.
 
Dos 66.280 novos casos de c�ncer de mama, 8.250 foram diagnosticados em Minas Gerais. Quanto � mortalidade, a doen�a foi respons�vel por 18.068 mortes de mulheres em 2019. A estimativa do Instituto � que entre 2020 e 2022, surjam cerca de 67 mil casos para cada ano no pa�s.
 
O movimento 'Outubro Rosa' foi criado na d�cada de 1990 pela funda��o americana Susan G. Komen for the Cure. Com objetivo de espalhar informa��es para a popula��o em geral sobre o c�ncer de mama, todos os anos a campanha se faz presente e incentiva o diagn�stico precoce da doen�a, que � essencial.
 
A m�dica mastologista Cl�udia M�rcia e Silva, coordenadora do servi�o de Mastologista do Hospital da Baleia, explica que s�o dois os objetivos principais na campanha. "O primeiro � a preven��o do c�ncer de mama e o segundo � o diagn�stico precoce. A preven��o consiste em h�bitos saud�veis de vida, que seriam seguir uma boa dieta, sono regular, diminuir o estresse, n�o ingerir muito �lcool e n�o ao tabagismo, por exemplo. Tudo isso ajuda na preven��o do c�ncer de mama e de qualquer outra doen�a".
 
"J� o diagn�stico precoce, que � de extrema import�ncia, a gente sempre bate na mesma tecla que � o nosso objetivo diagnosticar precocemente essa doen�a, porque ela atinge um n�mero muito grande de mulheres no mundo inteiro e se � diagnosticada de antem�o, ter� um tratamento menos agressivo, com cirurgias menos mutilantes e menores. O tratamento complementar com quimioterapia e radioterapia s�o cada vez menores e tudo acontece de uma forma que agrida menos a paciente", explica a mastologista.
 
Ela alerta que a doen�a n�o se concentra apenas em mulheres acima dos 50 anos. "O c�ncer de mama t�m aparecido, tamb�m, entre mulheres mais jovens. N�o � s� em mulheres acima dos 50. Ent�o � de grande import�ncia uma visita ao mastologista todo ano, para fazer os exames que forem necess�rios. A mamografia ainda � o padr�o ouro para esse diagn�stico precoce, mas o profissional tamb�m pode solicitar um ultrassom ou outros exames de imagem que tamb�m ajudam a diagnosticar precocemente", diz.
 
Maria do Rosário na quimioterapia
Maria do Ros�rio Alves Pereira, de 46 anos (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
A trabalhadora rural Maria do Ros�rio Alves Pereira, de 46 anos, descobriu o c�ncer h� dois anos num exame de rotina. Ela fazia mamografias anuais e tinha muito cuidado com a sa�de. "Sempre no m�s de outubro eu aproveitava essas campanhas e fazia a mamografia. E foi em um desses exames que o m�dico viu o tumor. Fiquei desesperada na hora, muito dif�cil receber essa not�cia. Mas ele logo me disse que estava muito no in�cio e que as chances de cura s�o grandes", diz.
 
O tratamento da paciente envolve sess�es de quimioterapia e radioterapia e n�o precisou de cirurgia. "O tratamento n�o � f�cil, venho de longe para tratar no Baleia. Mas fui bem acolhida, as enfermeiras cuidam da gente com muito amor. Foi um susto descobrir a doen�a, mas confio em Deus e hoje sei que posso ser curada. Por isso, falo sempre com as mulheres que eu conhe�o para que se cuidem, fa�a os exames, pois quando a doen�a � descoberta no in�cio, tem jeito", explica.
 
Algumas altera��es no corpo da mulher podem ser notadas com uma atitude di�ria, conhecida por 'autoexame'. Veja alguns sintomas que podem ser encontrados nas mamas:
  • Aparecimento de n�dulos
  • Edemas ou altera��es na pele da mama
  • Mamilos invertidos
  • Secre��o na ponta do mamilo
"Essas s�o algumas altera��es que a pr�pria mulher pode encontrar no autoexame. Ele pode ser feito durante o banho, por exemplo". 
 
Veja como realizar o autoexame:
 
Como fazer o autoexame
Autoexame de mama (foto: Arte: Soraia Piva/EM/ D.A Press)

 
"Lembrando que o autoexame n�o substitui a visita anual ao mastologista, mas se a mulher notar alguma altera��o fora da �poca de ir ao m�dico, v� ao servi�o de sa�de para avaliar", refor�ou a m�dica.
 
A an�lise do pr�prio corpo ajudou a pedagoga Eliete Oliveira Santos, de 49 anos, a descobrir o c�ncer em 2009, quando ela ainda tinha 37 anos. "Eu descobri do nada. Estava tomando banho e senti um caro�o na mama. Isso foi num domingo e na segunda-feira fui ao ginecologista, no posto de sa�de, para avaliar", conta.
 
Imediatamente ela fez a mamografia e o m�dico a encaminhou para um profissional da mastologia, que realizou uma bi�psia e confirmou o resultado positivo. "No dia, foi um balde de �gua fria. Eu estava com esperan�a de n�o ser, mas quando peguei o resultado, era c�ncer de mama e ali come�ou todo o processo de medo e inseguran�a com o futuro", diz.
 
"O primeiro passo foi fazer a cirurgia para retirar o n�dulo. No m�s seguinte fiz o esvaziamento parcial das axilas e depois come�ou o processo da quimioterapia. � algo muito dif�cil, com sentimentos misturados. Temos medo do que enfrentar e da quest�o est�tica tamb�m, porque a quimioterapia muda o corpo".
 
Eliete Oliveira Santos em casa
Eliete Oliveira Santos, de 49 anos, atualmente (foto: Arquivo pessoal)
"Mas isso n�o me incomodava, nunca tive medo de perder o cabelo ou engordar, minha preocupa��o era s� conseguir fazer o tratamento, que � bem agressivo. Foram 17 sess�es de quimioterapia. Perdi cabelo do corpo todo, engordei, as unhas ficam roxas, foi um longo processo. Depois fiz 34 sess�es de radioterapia e no final, deu tudo certo, o c�ncer desapareceu", diz Eliete
 
Menos diagn�sticos precoces
 
A pandemia atrasou passos importantes da luta contra o c�ncer, n�o s� o de mama. No Dia Mundial do C�ncer deste ano, a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) declarou que o impacto da COVID-19 no tratamento de c�ncer � "catastr�fico".
 
"Alguns pa�ses tiveram escassez de medicamentos contra o c�ncer e muitos registraram uma queda significativa de novos diagn�sticos de c�ncer, inclusive nos pa�ses mais ricos ", afirmou o diretor da OMS para a Europa, Hans Kluge.
 
Segundo uma estimativa feita pela Funda��o do C�ncer, no Brasil, a mamografia apresentou queda de 84% em compara��o com o ano anterior. Como o diagn�stico antecipado � essencial no combate � doen�a, os atrasos fizeram com que mais pacientes chegassem para tratar a doen�a em est�gio avan�ado.
 
"Ano passado deixou muito a desejar e, agora, a gente tem um n�mero muito maior de pacientes com a doen�a avan�ada, porque a pandemia impediu que elas sa�ssem para a realiza��o dos exames. Ent�o, este ano que as coisas est�o um pouco melhores, procure o mastologista, fa�a uma mamografia", diz a mastologista Cl�udia M�rcia.
 
"Como � uma doen�a que, na maioria das vezes, n�o causa dor no in�cio, as pessoas v�o deixando crescer at� que elas procurem ajuda, mas � preciso fazer o controle. A partir dos 40 anos � recomendado fazer a mamografia anualmente e em casos de pacientes com parentes de primeiro grau (m�e, irm� ou filha) diagnosticadas com c�ncer, essa idade antecede os 40. � recomendado procurar um mastologista com a idade de 10 anos antecedentes ao que este parente foi diagnosticado" explica.
 
Autoestima
 
Durante o tratamento do c�ncer, al�m da sa�de f�sica, outro ponto precisa ser bem avaliado, a sa�de mental, que � interferida pela autoestima. Para aquelas que precisam fazer o esvaziamento de uma das mamas ou de ambas, mesmo que seja para o seu pr�prio bem, existem os problemas de aceita��o do corpo.
 
Como parte do tratamento, est� a reconstru��o mam�ria, que inclui cirurgias de repara��o dos seios. A mastologista Cl�udia M�rcia explica que essas opera��es s�o um direito das mulheres e que, atualmente, em muitos casos o implante � realizado na mesma cirurgia de mastectomia.
 
"Colocar a pr�tese � uma cirurgia mais r�pida, em que qualquer complica��o fica mais f�cil de corrigir. A tend�ncia atualmente � colocar a pr�tese mam�ria ao mesmo tempo que se faz a mastectomia. Hospitais p�blicos, como Hospital da Baleia, oferecem essa op��o para paciente, tanto pelo SUS quanto de conv�nio", diz.
 
Embora importante, a reconstru��o n�o � realizada de imediato em casos mais avan�ados da doen�a. "Isso s� n�o acontece quando a doen�a est� no est�gio mais avan�ado e a gente precisa fazer outros tipos de tratamento antes que ela (mulher) passe pela reconstru��o mam�ria".
 
"Nesses casos, � preciso passar, primeiro, pela radioterapia e depois esperar cerca de seis meses e come�a o processo. Antes da pr�tese, ela coloca outro material que se chama expansor. Seu objetivo � esticar a pele, isso vai sendo feito semanalmente pelo cirurgi�o pl�stico, que injeta uma quantidade de soro no expansor e, aos poucos, a pele vai esticando. Quando ela chegar num tamanho adequado o expansor � retirado e d� espa�o para a pr�tese definitiva", explica a m�dica.
 
Nos dias 4 e 5 de outubro, o Hospital da Baleia realizou a opera��o de 25 mulheres que receberam uma pr�tese mam�ria doada pela empresa Motiva Implantes e as cirurgias de reconstru��o foram realizadas pela equipe da Cirurgia Pl�stica da institui��o. Todas as mulheres selecionadas terminaram o tratamento h� alguns anos, n�o dispunham de condi��es financeiras para custear uma cirurgia reparadora particular e estavam na fila do SUS aguardando a pr�tese.
 
Este mutir�o de cirurgias tamb�m aconteceu em 2020 e uma das pacientes selecionadas foi C�ssia Teot�nio Alves Oliveira, de 41 anos. Sua luta contra a doen�a come�ou cedo, aos 18 anos. "A gente aprende, com o tempo, a lidar melhor com essa condi��o, no in�cio ficamos em choque para falar, mas hoje parece que quanto mais eu falo, com mais vida fico. Depois de tantas adversidades, olho para tr�s e vejo que � um milagre. Estou nessa luta desde os meus 18 anos. Hoje estou com 41", diz.
 
Cássia Teotônio no Hospital da Baleia
C�ssia Teot�nio Alves Oliveira, de 41 anos (foto: Andr� Gon�alves/ Hospital da Baleia )
"Tive linfoma de Hodgkins, com 18. Depois uma recidiva, em 2006, de um linfoma mais agressivo e em seguida o c�ncer de mama, em 2010. Mas por causa de uma s�rie de problemas pessoais com meu antigo relacionamento, s� voltei ao m�dico dois anos depois, em 2012. O n�dulo que antes era pequeno se multiplicou. Nos exames, nem apareciam mais as gl�ndulas mam�rias, s� os n�dulos".
 
Ela relata que passou pela cirurgia de retirada das mamas, mas n�o deu certo. "Fiz o esvaziamento, tirei as duas mamas, s� que deu tudo errado, tive necrose, inflama��o cr�nica, enfim. Uma s�rie de problemas que me fizeram sofrer de 2013 a 2019. At� que fui indicada para o Hospital da Baleia e recebi o tratamento adequado".
 
Ficar sem as mamas foi um per�odo dif�cil para C�ssia, que afirma ter passado por uma revolu��o interna, at� que fosse poss�vel aceitar sua condi��o. "Quando estamos na quimioterapia, n�o sentimos de imediato. Mas quando come�am as rea��es do processo, voc� acha que est� perdida, n�o tem o que fazer e vai morrer. Mas na realidade, � s� o primeiro impacto. Aos poucos foi acontecendo a revolu��o dentro de mim, de aceitar a minha situa��o. N�o rebelar, aceitar e entender".
 
Para C�ssia, era dif�cil relatar as dificuldades que passou ao longo dos anos. Al�m disso, se olhar no espelho depois de retirar as mamas n�o era uma atitude cotidiana. "Hoje eu n�o me importo mais de falar que fraquejei. Quando fiquei sem a mama, n�o conseguia me olhar no espelho, fiquei muito fr�gil e muito mal. Mas teve um dia que eu parei na frente do espelho e falei 'C�ssia, voc� est� viva'".
 
"Eu n�o fazia os curativos, era o meu marido, mas neste momento, consegui tocar a mama, apesar de n�o t�-la mais. Entendi que era normal estar me sentindo mal, porque sou humana. Aprendi que temos as nossas fases e � necess�rio percorrer o caminho. A partir deste dia, passei tocar o local da cirurgia", afirma C�ssia, emocionada.
 
Quando foi selecionada para colocar o implante no mutir�o do ano passado, ela diz que ficou motivada a continuar. "Isso me fez acreditar que n�o seria mais uma mulher faltando um peda�o. Eu teria minha mama de volta. Me emociono, viu! Ainda farei uma (cirurgia) reparadora, mas estou muito feliz".
 
Para a pedagoga Eliete Oliveira, a cirurgia chegou alguns anos depois do t�rmino do tratamento, mas ela diz ter ficado tranquila enquanto aguardava. "Mudei h�bitos alimentares desde que descobri o c�ncer, tive uma vida tranquila no per�odo que estava sem as mamas. Nunca tive reincid�ncia de c�ncer, mas continuo fazendo controle. Em 2019 fiz uma mamoplastia e no meio deste ano, a lipoenxertia".
 
Ela lembra que algumas pe�as de roupa ficaram sem serventia durante anos, mas agora se sente livre para us�-las. "Eu tinha muita vergonha de usar roupa gola alta, porque ressalta muito a mama, roupa de alcinha tamb�m me incomodava. Mas de todas as pe�as, o biqu�ni � o principal. Era louca para usar um, depois da cirurgia coloquei e fiquei super feliz", diz empolgada.
 
Segundo a mastologista Cl�udia M�rcia, a autoestima da paciente � t�o importante no processo, quanto o tratamento farmacol�gico. "A gente deve se preocupar muito com a sa�de da mulher, mas tamb�m com a beleza, que faz parte da sa�de mental. Emocionalmente a mudan�a das pacientes � enorme".
 
"Tamb�m � importante lembrar que a sexualidade da mulher � necess�ria em qualquer momento da vida, indiferente da idade, que inclusive, n�o � fator determinante para saber se ela deve ou n�o fazer a reconstru��o. Ao oferecer essa possibilidade � paciente, ajuda demais na autoestima, no tratamento da doen�a, na sua melhora e, at�, na cura", finaliza.
 
*Estagi�ria sob supervis�o do subeditor Eduardo Oliveira 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)