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Estado de Minas EU SOU FAVELA

J�lio C�sar, l�der comunit�rio: "Favela � sempre vista de forma pejorativa"

Quarto entrevistado da s�rie Eu Sou Favela, J�lio fala sobre a hist�ria das associa��es comunit�rias em BH e de lideran�a no Vera Cruz que inspirou sua gera��o


24/10/2021 06:00 - atualizado 24/10/2021 07:23



No Alto Vera Cruz, Regi�o Leste de Belo Horizonte, um grafite chama a aten��o dos visitantes do bairro que comporta 47 mil habitantes e concentra uma das maiores favelas da capital. O desenho mostra dona Valdete da Silva Cordeiro, ex-presidente da Associa��o Comunit�ria e fundadora do grupo Meninas de Sinh�. Quase uma d�cada depois de sua morte, em 2014, os ensinamentos dela servem de inspira��o para uma legi�o de jovens.

Um deles � J�lio C�sar Pereira Souza, de 44 anos e h� quase 30 no di�logo com o poder p�blico para auxiliar a comunidade mais pobre na busca por direitos b�sicos, como alimenta��o digna, casa pr�pria, saneamento e educa��o.

J�lio C�sar � o quarto personagem da s�rie multim�dia “Eu sou Favela”, produzida pelo Estado de Minas, que mostra o perfil de lideran�as comunit�rias de Belo Horizonte. Como ele, dezenas de pessoas n�o medem esfor�os para que os direitos b�sicos possam chegar � faixa mais vulner�vel da sociedade nas vilas e favelas da capital mineira. 

E � justamente em favor das minorias que Dona Valdete se dedicou durante anos e incentivou J�lio C�sar, ent�o com 17 anos, a entrar para a associa��o. “Ela se foi, mas as ideias permaneceram. Ela sempre dizia que ‘quando o pouco se une, as coisas d�o certo’. Isso est� escrito na entrada da associa��o, junto com a caricatura dela. E n�s adotamos essa ideia no Alto Vera Cruz”, diz, emocionado.

Júlio, líder comunitário no Alto Vera Cruz, sentado em cadeira de plástico sobre a laje de uma casa
'Quando o pouco se une, as coisas d�o certo' � o lema herdado por J�lio (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Baiano de Itamaraju, Julio se mudou para o Alto Vera Cruz em 1982. Cresceu e se especializou em pol�ticas p�blicas. Por meio de seu conhecimento na �rea, conheceu 22 estados e trabalha para entidades como a Confedera��o Nacional das Associa��es de Moradores (Conam), o Conselho Estadual de Sa�de de Minas Gerais e o Conselho Nacional de Sa�de, a Central �nica das Favelas (Cufa), a Frente Favela Brasil, al�m de ser o coordenador em Minas a Federa��o Nacional Anti-Racista. Chegou a estudar psicologia, mas trancou a matr�cula do curso.

Resultados da luta

O envolvimento com as pol�ticas p�blicas o fez ter proximidade com a dura realidade de outras pessoas. “A favela n�o � planejada, j� que a maioria das casas s�o ocupa��es irregulares. As constru��es possuem riscos geol�gicos. Voc� v� esgoto a c�u aberto. Mas lutar por essa mudan�a tem resultados”, afirma o l�der, que, nos anos 1990, iniciou o trabalho em busca de moradia para os que n�o tinham.

“Depois de 1993, surgiu o Plano Diretor de Belo Horizonte, que ajudou na regulariza��o fundi�ria das vilas e favelas. A comunidade mudou muito. Passamos a ter ruas muitas abertas e asfaltadas, escolas, um centro de sa�de novo e um espa�o de pol�ticas p�blicas de assist�ncia social”, afirma. 

"Uma favela � sempre vista de forma pejorativa. Existem muitos preconceitos e racismo estrutural"

J�lio C�sar Pereira Souza



Pelo seu envolvimento com a sa�de, detectou que muitos problemas estavam relacionados justamente �s m�s condi��es na periferia: “Vimos que 60% de doen�as eram ligadas � falta de saneamento b�sico, como leptospirose, xistose e outras doen�as provocadas por vermes. Muitas crian�as adoeciam muito”, comenta.

Legitimidade de reivindicar

No in�cio, a execu��o do trabalho feita por J�lio era complicada, j� que as associa��es de bairro n�o tinham legitimidade para enviar of�cios ao poder Executivo falando sobre demandas.

“Na ditadura militar, as coisas eram resolvidas dentro dos gabinetes. Falava-se com o deputado ou vereador e eles resolviam com o prefeito ou governador. N�o pediam opini�o da comunidade. Resolviam os problemas em troca de favores. A partir do momento que surgiu essa rea��o das lideran�as, que podem fazer conv�nios, emitir of�cios ao poder p�blico, as comunidades passaram a ter mais autonomia”, explica Julio. 

Foto de Júlio César usando boné e máscara com BH ao fundo e a logomarca da série Eu Sou Favela e o título Júlio do Alto
J�lio C�sar, l�der comunit�rio no Alto Vera Cruz, em BH (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
A partir da�, surgiram 45 associa��es na Regi�o Leste de BH. No Alto Vera Cruz, foi criado o Centro de A��o Comunit�ria do Vera Cruz (CACVC), que se tornou a voz da periferia na �rdua luta pelas demandas. Al�m das a��es ligadas � cultura, sa�de b�sica e assist�ncia social, o projeto destina recursos na cria��o de cursos profissionalizantes e pr�-vestibulares comunit�rios para os jovens.

Li��es do dia a dia

Júlio, líder comunitário no Alto Vera Cruz, anda na rua carregando uma cesta básica sobre o ombro
J�lio C�sar garante que lutar por mudan�as para os moradores da regi�o traz resultados para todos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Al�m da igualdade entre moradores ricos e pobres, J�lio tem como maior sonho ver a sociedade livre dos prejulgamentos com a popula��o mais vulner�vel. “Uma favela � sempre vista de forma pejorativa. Existem muitos preconceitos e racismo estrutural. A maioria da popula��o pobre � negra. Nesse per�odo de trabalho, aprendi muito a n�o ser machista, a entender a diversidade e a import�ncia da luta das mulheres. Elas cumprem papel brilhante de guerreiras. Vemos isso no dia a dia”.

J�lio foi pai aos 18 anos. O primog�nito, Pablo Gustavo, tem atualmente 26 e se tornou um dos diretores da associa��o. Em seguida, veio Isabela, de 24, tamb�m atuante nos trabalhos dentro de ocupa��es na cidade. Diariamente, ele os incentiva a ser mais “soldado na guerra”, que n�o tem fim.

A pandemia da COVID-19 fez aumentar as demandas: “O desemprego � muito grande. Hoje, h� subempregos ou trabalhos tempor�rios. E, a partir disso, h� muita evas�o escolar, j� que os alunos s�o obrigados a abandonar os estudos. H� muito esfor�o f�sico e mental durante o dia, o que leva os jovens a praticamente ficar dormindo � noite na aula”.


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