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Estado de Minas CELEBRA��O

Sobreviventes da COVID-19 celebram Natal p�s-vacina

Esperan�a est� � mesa de quem enfrentou o coronav�rus e ainda luta contra sequelas da doen�a


24/12/2021 04:00 - atualizado 23/12/2021 22:31

Hugo e a noiva Kelly Pereira
Hugo e a noiva, Kelly Pereira, contam os dias para o casamento, que teve que ser adiado quando o noivo contraiu o coronav�rus e sofreu um AVC (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

No card�pio, agradecimento se tornou o prato principal de quem viu a vida por um fio. Em volta da mesa farta, � hora de celebrar uni�o, amor, sa�de como nunca e uma forma de renascimento. N�o. O Natal n�o ser� o mesmo. E o r�veillon tem motivos de sobra para virar um ano realmente novo. Com vacina no bra�o, familiares que tiveram um ente querido entre a vida e a morte por causa da COVID-19 se apoiam na prud�ncia para se reencontrar e festejar juntos a data mais importante do calend�rio crist�o. Esperan�a e f� completam a ceia de quem, sofrendo as sequelas da doen�a, tem pela frente ainda um longo caminho rumo � recupera��o.

“Natal � nascimento. Eu gosto de Natal, � vida longa. Vou comemorar com precau��o, mas vou comemorar at�. � uma nova vida”, diz o m�sico e coordenador comercial Hugo Melo, de 29 anos. A vacina � o passaporte para a fam�lia se reunir serena na casa do pai dele, mas sem deixar de lado o distanciamento social e o uso de m�scaras para celebrar a vida. Na ceia deste ano, dois ingredientes n�o faltar�o: cuidado e esperan�a. E na lista de desejos, a recupera��o de sua sa�de e o casamento s�o os objetivos do ano que vem.

O baterista, que aguarda a terceira dose do imunizante, amarga ainda as sequelas da COVID-19, mas n�o desanima. � em sess�es de fisioterapia e de fonoaudiologia que ele d� tudo de si para recuperar os movimentos do lado esquerdo do corpo e a fala. Canhoto, n�o pode mais escrever. Comunicativo, sua grande preocupa��o quando conversa � se o interlocutor o compreende bem. Na voz, os tra�os n�tidos de quem n�o se deixar� vencer.

'Quando eu estava intubado, uma fisioterapeuta p�s uma m�sica do Jota Quest que diz 'dias melhores pra sempre'. Lembro -me disso. E me agarro a isso at� hoje

Hugo Melo, baterista


Hugo conta que era considerado “o chato” da fam�lia. Obcecado pelas medidas de seguran�a sanit�ria, n�o dispensava m�scara nem �lcool em gel. Mas, aos 29 anos, sem comorbidade e com vida ativa (fazia academia, corria seis quil�metros), passou mal em abril e ficou intubado por 11 dias. A COVID-19 lhe causou uma trombose e, da institui��o de sa�de onde estava internado, foi direto para a reabilita��o no Hospital de Transi��o Paulo de Tarso, na Pampulha, em Belo Horizonte. “A fam�lia n�o me avisou que eu tive um AVC. N�o lembrava nem meu nome. N�o falava, tomava banho com a ajuda de enfermeiros, usava fralda e sonda”, relata o morador de Betim, na Grande BH. “Quando eu estava intubado, uma fisioterapeuta p�s uma m�sica do Jota Quest que diz ‘dias melhores pra sempre’. Lembro-me disso. E me agarro a isso at� hoje.”

O v�rus provocou mais que um estado f�sico debilitado. Deixou em suspens�o os sonhos de uma vida a dois. O casamento, marcado para junho deste ano, teve de ser adiado. Na reabilita��o, um s� pensamento vinha � tona. “Eu me curei da COVID-19, mas das sequelas do AVC n�o. Pedia para a equipe pegar pesado comigo, porque eu ia me casar”, conta. E se a uni�o no civil teve de ser adiada, pelo menos na brincadeira ela aconteceu. No Paulo de Tarso, a equipe organizou uma cerim�nia de festa junina para dar o gostinho do que vir� em breve. A noiva, Kelly Pereira, de 30, assumiu seu papel: se maquiou e se vestiu de branco para alegria e a surpresa do jeca da vez. “Eu n�o sabia e me emocionei demais com o carinho”, conta. E se a vida de Hugo pede seu tempo, a da noiva o acompanha. A administradora largou tudo para se dedicar ao noivo. “� o amor. Minha meta para 2022 � a minha recupera��o e nosso casamento”, afirma, prevendo uma grande festa.

Família de Marcus Vinícius
Marcus Vin�cius com a mulher, Rafaela, e os filhos, Davi e Let�cia: apoio da fam�lia ajudou na recupera��o (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Juntos, com f� e prud�ncia

A ceia da fam�lia do encarregado de estoque Marcus Vin�cius Ara�jo, de 36 anos, ter� chester, maionese, arroz, tutu, farofa, suco e refrigerante. De sobremesa, pav�, pudim e salada de gelatina colorida. Tem tamb�m fam�lia vacinada, sem deixar de lado os gestos de prote��o sanit�ria. Ele j� tomou duas doses e aguarda sinal verde para a de refor�o. Cuidado dobrado, sabores e cores n�o s�o para menos. Todos querem celebrar, mas ningu�m quer nem pensar na possibilidade de reviver uma agonia que parecia sem fim. Marcus Vin�cius passou mal na v�spera do Dia das M�es, em maio.

Confundido com um mal-estar causado por estresse, s� teve o diagn�stico positivo para COVID-19 tr�s dias depois. Ao fim de uma semana de tratamento em casa, sem melhoras, voltou ao hospital, onde ficou internado com 25% do pulm�o comprometido. Tr�s dias depois, o percentual dobrou. Marcus foi transferido para o Hospital Metropolitano Doutor C�lio de Castro, no Barreiro, na capital, com 95% do �rg�o vital afetado. Foram 16 dias intubado e 40 no Centro de Terapia Intensiva (CTI).

Vamos comemorar diferentemente, com alguns familiares apenas, porque o momento ainda exige prud�ncia, mesmo com vacina. Mas estaremos juntos para celebrar essa nova chance

Marcus Vin�cius Ara�jo, encarregado de estoque


“Quando acordei depois de 16 dias, n�o mexia mais o corpo, s� o pesco�o. Tinha v�rios aparelhos ligados ao corpo e os bra�os inchados de tantos exames. Achei que estava tetrapl�gico e s� pensava em como iria cuidar da minha fam�lia naquela situa��o”, conta. A retirada do tubo teve consequ�ncias. Ele teve um choque s�ptico e foi submetido a uma traqueostomia. Pai de Let�cia, de 6 anos, e Davi, de 8, casado com a enfermeira Rafaela Silva Martins Ara�jo, tamb�m de 36, Marcus come�ou uma outra batalha: abandonar o ventilador mec�nico e conseguir respirar por conta pr�pria. “Os m�dicos n�o desistiram de mim em momento algum. Mas, enquanto eu lutava, via muita gente ao meu lado, em estado aparentemente muito menos grave, morrendo”, relata.

Quando finalmente ficou apenas com sonda para se alimentar, foi transferido para o Hospital Paulo de Tarso para reaprender a andar. Sem comorbidade, sem doen�a respirat�ria, o homem que n�o bebe nem fuma tenta ainda entender o que ocorreu. “Cheguei a duvidar de que sairia vivo, principalmente quando n�o podia receber visitas. No Hospital Metropolitano, ouvia os m�dicos dizerem que j� tinham adotado todos os protocolos e s� restava esperar.”

Quando as visitas foram liberadas, a confian�a voltou. “Al�m da fam�lia, a f� � fortalecida pelas palavras que s�o ditas”, diz. At� hoje ele guarda as fotos das crian�as que Rafaela colou na parede da enfermaria. Marcus ainda n�o voltou a trabalhar e faz fisioterapia para adquirir resist�ncia. Hoje, comemora o fato de n�o ter quase nenhuma sequela, salvo se fizer esfor�os extremos.

O morador de Santa Luzia, na Regi�o Metropolitana de BH, tenta hoje se fortalecer psicologicamente e se livrar do trauma. Para ele, este fim de ano n�o � como os outros. “Encaro como uma nova data de anivers�rio. Vamos comemorar diferentemente, com alguns familiares apenas, porque o momento ainda exige prud�ncia, mesmo com vacina. Mas, estaremos juntos para celebrar essa nova chance. Todos sofreram muito”, diz. O olhar sobre a vida tamb�m n�o � mais o mesmo. “As prioridades mudam. Tem que correr na vida, mas nem tanto. Temos que cuidar da gente e, acima de tudo, n�o perder a f�. N�o podemos ter medo de viver, desde que com cuidado”, brinca.


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