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Estado de Minas REGI�O CENTRAL DE MINAS

Santa Maria de Itabira: o medo em uma cidade traumatizada com a chuva

Arrasada por deslizamento de terra e enchente h� 11 meses, Santa Maria de Itabira ainda n�o se recuperou da trag�dia e revive os dias de desespero


04/01/2022 06:00 - atualizado 06/01/2022 16:03

Rua cheia de lama
Chuva no dia 1� de janeiro deixou ruas de Santa Maria de Itabira enlameadas novamente e a possibilidade de deslizamentos de terra das encostas assusta os moradores no Bairro Po��o (foto: RAMON LISBOA/EM/D.A. PRESS)
 
Santa Maria de Itabira - Chuva, lama e afli��o. Onze meses depois de um temporal que arrasou a cidade, causou estragos nas ruas e deslizamentos que soterraram seis pessoas, Santa Maria de Itabira, na Regi�o Central de Minas, vive um novo drama. No �ltimo s�bado, primeiro dia do novo ano, uma chuva insistente se agravou no fim da noite, quando a press�o da �gua foi suficiente para alagar as ruas e causar novas quedas de encostas. Foi motivo de desespero para muitos moradores de um lugar que ainda n�o se reconstruiu. S�o pessoas que n�o querem repetir o drama de 65 fam�lias que continuam fora de suas casas desde fevereiro do ano passado.

Ponte interditada
Ponte sobre o Rio Jirau, que foi tomada pelas �guas em 2021, est� interditada para o tr�nsito de carros at� hoje, prejudicando moradores e comerciantes da cidade (foto: RAMON LISBOA/EM/D.A. PRESS)


Dois dias depois do temporal, as ruas ainda est�o tomadas de barro e sujeira por todo lado. O Centro do munic�pio, onde fica o com�rcio e servi�os �teis para a popula��o, precisou de muito trabalho manual e de maquin�rios para abrir caminhos. Ontem, ainda era poss�vel ver tratores ajudando na limpeza e servidores municipais juntando na enxada montantes de lama. Na Rua Sebasti�o Bretas, a principal da cidade, o com�rcio foi prejudicado pela enxurrada que passou na noite de s�bado para domingo.

Mulher em cima da ponte
(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A. PRESS)

A gente observa a popula��o que saiu das suas casas temendo novas enchentes

T�nia Lage, de 66 anos, professora



“J� estava chovendo o dia todo, mas por volta das 21h30 come�ou a piorar. Come�ou tampando as canaletas at� tampar o meio da rua e encher aqui tudo”, relembra Marcelo Rodrigues, de 31 anos, propriet�rio de um bar que estava aberto e assistiu o momento do caos. “Sempre que d� uma chuva forte d� isso. Na hora que fui embora ainda estava chovendo, mas estava abaixando. Deu bastante trabalho pra limpar. A noite toda, muita �gua, lama. Pelo menos n�o perdemos nada. Se eu n�o estivesse aqui provavelmente teria perdido algumas coisas”, alivia.

Homens sentados
(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A. PRESS)

Qualquer chuva � um susto porque n�s sabemos o que passamos em 2021

Reinaldo das Dores Santos, prefeito de Santa Maria de Itabira



A professora T�nia Lage, de 66 anos, descreve que o sentimento � de tristeza e recome�o com mais uma chuva preocupante. “A zona rural foi devastada, as montanhas, tudo. A �nica diferen�a para o ano passado � que o rio n�o transbordou dessa vez e n�o tivemos morte, gra�as a Deus. Mas a gente observa a popula��o que saiu das suas casas temendo novas enchentes”, conta a moradora, que depende de uma das pontes interditadas. “Desde que a �gua passou por cima dessa ponte, est� causando problemas. � o acesso principal. Os comerciantes reclamam muito.”
 
Segundo a prefeitura, choveu cerca de 150 mil�metros em 24 horas. O prefeito Reinaldo das Dores Santos diz que “todo mundo est� assustado, e com raz�o”. “A situa��o do clima hoje mudou muito. Vamos torcer para que n�o se repita, mas qualquer chuva a terra desce. Enquanto a terra n�o firmar, vai ter sempre essa lama e desconforto para a popula��o”, justifica, lembrando da trag�dia do ano passado. “Qualquer chuva � um susto porque n�s sabemos o que passamos em 2021”, acrescenta.
 
Desde o ano passado, uma das pontes de maior acesso – mencionada por dona T�nia – foi interditada por falha na estrutura causada pela correnteza do vale do Rio Jirau, um curso de �gua que corre entre morros �ngremes. A prefeitura afirma que aguarda o repasse de R$ 1,2 milh�o prometido pelo governador Romeu Zema. “Nossa cidade de 11 mil habitantes, com uma topografia p�ssima e arrecada��o de R$ 30 milh�es no ano, se a gente n�o tiver ajuda do governo estadual e federal � imposs�vel. A gente tem sentimento, minha casa tamb�m foi inundada. Mas minha maior preocupa��o hoje � com aquilo que n�o tem volta: a vida. Hoje nossa aten��o � para isso.”

O temor de que o drama se repita

mulher no muro da casa
(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A. PRESS)

A gente vive com medo. Eu sa� carregada pelo bra�o de um rapaz que me tirou daqui. Quando come�a a chover, sai todo mundo daqui, � um desespero s�

Marlene Aparecida de Oliveira, de 57 anos, moradora da Rua Ant�nio Dias, no Bairro Po��o, onde cinco pessoas morreram soterradas no ano passado


 
“A gente vive com medo. Eu sa� carregada pelo bra�o de um rapaz que me tirou daqui de dentro porque a �gua estava subindo numa velocidade t�o forte que rapidinho aqui encheu de lama”. O relato � de Marlene Aparecida de Oliveira, de 57 anos, moradora da Rua Ant�nio Dias, no Bairro Po��o, onde cinco pessoas morreram soterradas no ano passado. Com a chuva do �ltimo fim de semana, a rua voltou a virar um mar de lama e as casas voltaram a se tornar locais de risco.

Homem mostra contas da casa
(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A. PRESS)

Naquele dia, foi uma chuva t�o forte que desceu o morro todo matando tr�s pessoas na casa ao lado da minha. Como vou viver aqui?

Rog�rio de Morais, de 55 anos, que foi obrigado a abandonar a casa em 2021 por causa da chuva



Marlene mora com o marido na casa da frente e aos fundos est� o filho. O terreno da fam�lia fica embaixo de uma encosta que pode ceder a qualquer momento. “D� muito medo, mas a gente n�o tem outro espa�o. A gente n�o sabe o que vem do fundo, qualquer chuva que tem pode correr de l� de cima �gua, terra, vem tudo”, lamenta com os olhos marejados. Marlene espera uma a��o efetiva das autoridades e tranquilidade no clima. “A gente n�o tem outro lugar pra ir. Temos que pedir apoio para ter seguran�a”, reclama. “Se o c�u escurecer de novo, eu jamais vou ficar em casa. Eu corro risco. A natureza n�o avisa. Quando come�a a chover, sai todo mundo daqui, � um desespero s�.”
 
Em 21 de fevereiro de 2021, o munic�pio ficou sob as �guas. Ruas obstru�das, pontes condenadas, carros arrastados, casas inundadas e quase todas as constru��es atingidas. As chuvas constantes causaram deslizamentos que mataram seis pessoas (uma na zona rural). Em uma cidade de cerca de 11 mil habitantes, a 140 quil�metros de Belo Horizonte, qualquer �gua que cai no c�u � motivo de lembrar das vidas que foram embora.
 
“Aqui, quando chove, ningu�m dorme”, conta Maria Anast�cia, de 68 anos, conhecida pelos colegas como “Nen�m”. Ela mora na mesma casa desde crian�a – h� 66 anos – e conta que nunca tinha acontecido uma trag�dia como no ano passado e este ano. “Nunca teve essa coisa que estou vendo agora”, observa. Em 2021, sua casa foi interditada pelo risco de novos desabamentos.
 
Naquela �poca, ela recebeu apoio de R$ 400 mensais da prefeitura – valor pago como aux�lio-moradia para que os moradores encontrassem outra resid�ncia para viver. O problema � que ela n�o tem condi��o de arcar com o restante das despesas. “A dona da casa que eu estava alugando aumentou o aluguel para R$ 1 mil. Tive que voltar para minha casa mesmo interditada”. Nen�m sabe que corre risco com a decis�o. “Quando est� chovendo eu saio daqui, mas espero que fa�am alguma coisa por n�s.”
 
Primo de dona “Nen�m”, Rog�rio de Morais, de 55 anos, enfrentou na manh� de ontem o perigoso barro sobre a rua de casa para acessar sua antiga moradia que est� interditada pela Defesa Civil. “Minha casa est� abandonada aqui. Desde fevereiro que n�o venho e mesmo assim est�o me cobrando IPTU, energia el�trica e �gua. Cheguei e tinha carta do Serasa com indiciamento da Cemig. Como? Se ningu�m mora aqui desde fevereiro?”, ele indaga. Dentro da casa de Rog�rio, s� tem lama. N�o h� rede el�trica, sequer l�mpadas, m�veis ou eletrodom�sticos.
 
“A casa est� vazia desde 21 de fevereiro. Naquele dia, foi uma chuva t�o forte que desceu o morro todo matando tr�s pessoas na casa ao lado da minha. Como vou viver aqui? Como vou reformar uma casa dessa? O barrac�o est� condenado”, questiona. Ele faz parte das 65 fam�lias que ainda dependem do aluguel social. “A rua � imposs�vel de acessar e s� tem uma �nica boca de lobo. Um servi�o p�ssimo de drenagem de �gua. Daqui a pouco esse morro vai descer inteiro. N�o tenho coragem de ficar aqui.”
 
O �nico com�rcio que sobreviveu na Rua Ant�nio Dias � a loja de utilidades de Thamara Ketelen Nunes, uma adolescente de 16 anos que toca o neg�cio com a m�e. As duas moram por l� e acompanharam de perto a trag�dia do ano passado com o temor presente de novas chuvas. “Na tempestade que deu aqui de s�bado para domingo entrou muita �gua e barro. Perdemos algumas roupas e capinhas de celular que n�o d� pra vender mais. Aqui, a maioria das coisas temos que deixar no alto, sen�o perde tudo”, conta. “A gente nem est� dormindo em casa porque quando chove a gente morre de medo do barranco.”


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