Nos deslizamentos de fevereiro do ano passado, Rob�sio Marino perdeu quatro parentes: pesadelo revivido (foto: Ramon Lisboa/Em/DA Press)
Enviada especial
Santa Maria de Itabira – Falta de acesso e medo de dormir em casa passaram a ser problemas comuns na zona rural de Santa Maria de Itabira, Regi�o Central de Minas. O temporal que atingiu a cidade no fim de semana transformou estradas em pura lama e bloqueou a passagem para pessoas que moram mais afastadas e necessitam transitar para o trabalho e outros afazeres essenciais na cidade. Desde fevereiro, quando o munic�pio foi arrasado pelas fortes chuvas, os moradores n�o conseguem viver em paz.
Na comunidade Barro Preto, a cerca de 8 quil�metros da regi�o comercial local, tratores e caminh�es ainda tentavam limpar a sujeira e o barro, onde era poss�vel afundar o p�. "Depois da trag�dia de fevereiro, qualquer chuva alaga nossa rua" conta Eloisio da Cruz Silva, de 46 anos, l�der da Associa��o S�o Francisco Quilombola do Barro Preto.
Na Rua Ant�nio Dias, no Bairro Po��o, lama�al � o retrato da dificuldade enfrentada por moradores (foto: Ramon Lisboa/Em/DA Press)
Eloisio vive na comunidade quilombola desde que nasceu e revela que a situa��o piorou. "Antes, passava muita chuva aqui, era normal. Mas acho que, como foi aumentando as casas, a prefeitura fez algumas obras e depois que mexeram, tem uma rede de esgoto entupida. Ent�o, n�o aguenta e vira esse caos de barro na porta das nossas casas", explica.
O bairro � habitado por aproximadamente 1 mil pessoas, segundo o l�der comunit�rio. Diariamente, tr�s �nibus v�o at� o povoado para levar e buscar os moradores que s�o funcion�rios das empresas ao redor – a maioria mineradoras em Itabira, a 30 quil�metros. Como a chuva causou estragos pela estrada rural, o acesso se tornou imposs�vel para certos ve�culos e as pessoas t�m de caminhar cerca de quatro quil�metros at� chegar ao ponto de encontro.
"Muita gente aqui trabalha fora", observa Eloisio. Ele e cinco fam�lias que moram perto da passagem de um riacho n�o se sentem mais seguros em dormir em casa por medo de enchente. "Toda vez que o c�u escurece pra chuva, a gente acaba indo para outras casas aqui na comunidade que s�o mais seguras. De s�bado para domingo, o volume de chuva foi muito grande, muitas pessoas tiveram de sair de casa, e quando a gente volta encontra esse transtorno por aqui."
O quilombola Rob�sio Marino, de 52 anos, perdeu quatro parentes soterrados nos deslizamentos que ocorreram na cidade em fevereiro do ano passado e sente novamente a tristeza ao ver novos estragos com a chuva. “O que aconteceu agora me trouxe essa recorda��o e eu fico muito triste, pensando que, �s vezes, as pessoas esquecem que a gente tem de viver, mas com f� em Deus vamos seguir nossa vida”, lamenta.
Ainda na zona rural, a aproximadamente 10 quil�metros do centro comercial, est� a comunidade de Paiol, que perdeu pela segunda vez o �nico acesso a fazendas de pelo menos seis fam�lias. Com as chuvas deste janeiro, a passagem sobre o C�rrego do Paiol foi levada pela enxurrada e a prefeitura precisou refazer as obras do bueiro que ficava embaixo da passarela. Quando essas obras estavam no fim, no dia 1º, o temporal desfez todo trabalho e destruiu o local.
Enchente
O auxiliar de servi�os gerais Marcelei Oliveira, de 26 anos, presenciou as duas enchentes (em 21 de janeiro de 2021 e no �ltimo fim de semana). “Choveu s�bado o dia inteiro, mas quando foi por volta das 22h, passou uma enchente forte no mesmo tanto do ano passado. Quando foi meia-noite, isso aqui estourou com a for�a na �gua”, descreve. “A �gua passou a um metro acima da estrada, mas, gra�as a Deus, n�o atingiu nenhuma casa, mas d� muito medo medo. � muita �gua mesmo, n�o � pouca n�o, viu?”, conta. Agora, o acesso � prec�rio e s� pode ser feito a p�, desvencilhando-se de obst�culos em meio ao c�rrego.
Para dar aten��o a essa popula��o mais long�nqua, um grupo de agentes da Defesa Civil do munic�pio se mobilizou. De acordo com o vice-prefeito de Santa Maria de Itabira, Andr� Torres, a chuva que atingiu a cidade entre s�bado e domingo acumulou 150 mil�metros em 24 horas. Embora o principal rio da cidade, o Jirau, n�o tenha transbordado, a �gua das encostas encheu as ruas de lama e barro. Desta vez n�o houve registro de deslizamento que tenha afetado as casas, como no ano passado em que seis pessoas morreram soterradas.
Trauma e apreens�o
O vice-prefeito de Santa Maria de Itabira, Andr� Torres, afirmou que a chuva que atingiu a cidade entre s�bado e domingo acumulou 150 mil�metros em 24 horas. Embora o principal rio da cidade, o Jirau, n�o tenha transbordado, a �gua das encostas encheu as ruas de lama e barro. Desta vez n�o houve registro de deslizamento que tenha afetado as casas, como no ano passado em que seis pessoas morreram soterradas.
“Nosso ano novo come�ou com muita lama, muita �gua, muita enxurrada”, descreve. “A gente que viveu aquilo ali de fevereiro do ano passado, qualquer chuvinha deixa apreensivo e causa transtorno tamb�m. Entrou muita �gua no com�rcio e em algumas casas. N�s praticamente nem sa�mos de uma trag�dia, ent�o a popula��o est� muito mexida”, observa. Com a sorte de o drama n�o ter sido igual ou pior ao ano passado, a cidade continua, mesmo tr�s dias depois do temporal, se restabelecendo aos poucos. “A gente vive em constante alerta. Agora � focar na limpeza das ruas. Na zona rural j� temos algumas equipes dando aten��o a popula��o”, afirmou.
Desde o ano passado, 65 fam�lias da cidade tiveram que sair de suas casas por conta do risco de novos deslizamentos. Elas recebem R$ 400 de aux�lio moradia, chamado de “aluguel social”. “Vinte sete pontes foram embora. Sabemos que temos muita coisa pra resolver ainda, mas nossa arrecada��o � baixa e dependemos de ajuda do governo estadual e federal. Desde fevereiro que estamos focados nas pessoas. N�o tivemos mais recursos para outras melhorias, mas estamos em busca”, defendeu.