Acidente com �nibus na Vilarinho exp�e precariedade no sistema
Eixo se solta e Move superlotado vira em BH. Vinte e nove passageiros se feriram. Cons�rcio ser� alvo de processo administrativo. Pol�cia Civil vai apurar caso
Ver galeria . 16 Fotos�nibus do Move de Ribeir�o das Neves teve um dos eixos deslocados e tombou na Avenida Vilarinho, sentido Centro. Passageiros sofreram ferimentos leves
(foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press )
Susto e perplexidade marcaram a manh� das mais de 90 pessoas que viajavam em um �nibus da linha 524R do Move Metropolitano, que liga o Terminal Justin�polis a Belo Horizonte. Por volta das 7h30, ao passar pela Avenida Vilarinho, uma das principais vias de liga��o dos munic�pios do Vetor Norte ao Centro da capital, em Venda Nova, o ve�culo tombou, parando o tr�nsito por quase quatro horas.
Segundo o Corpo de Bombeiros, entre escoria��es e fraturas, n�o houve mortes ou pessoas com ferimentos graves. Relatos d�o conta de que o ve�culo deu sinais de problemas mec�nicos antes de o eixo se soltar em plena avenida. O tombamento evidencia a situa��o prec�ria na qual os usu�rios do transporte p�blico viajam atualmente, ainda convivendo h� dois anos com o risco de contamina��o pelo coronav�rus com aglomera��o e janelas fechadas. Segundo o Departamento de Edifica��es e Estradas de Rodagem (DEER-MG), o ve�culo viajava com 127% de ocupantes a mais do que o permitido, ou seja, mais que o dobro. O cons�rcio respons�vel pelo ve�culo ser� alvo de processo administrativo.
Os feridos foram encaminhados para o Hospital Risoleta Neves e para UPAs de Venda Nova e Ribeir�o das Neves: n�o houve �bitos
(foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press)
O acidente ocorreu por volta das 7h30 na Avenida Vilarinho. Uma testemunha ligou para o 193 e contou que o �nibus teve um dos eixos desprendidos na via e tombou em frente � esta��o de transfer�ncia do Move Candel�ria, no sentido Centro, quase em frente � obra de uma das caixas de conten��o de �gua para evitar enchentes na Vilarinho. A fachada de um im�vel que estava desocupado tamb�m foi atingida.
Nelson Ivan, de 64 anos, trabalha em uma loja de granitos pr�ximo ao local do acidente e ajudou a socorrer os passageiros na hora em que o �nibus tombou. A c�mera de seguran�a do local mostra o momento em que ele corre para socorrer as v�timas, ap�s o ve�culo passar com um percept�vel balan�o. “Trabalho ao lado. Escutei o barulho e vim correndo para ajudar porque nessa hora n�o tem como n�o ajudar. � muita gente chorando, muita gente machucada e tem que fazer o poss�vel para ajudar as pessoas”.
Socorro
Nelson Ivan, que trabalha na �rea do acidente, ajudou a retirar os passageiros, entre eles um beb� (foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press)
Em meio ao caos, tanto de passageiros desesperados quanto de pessoas que ainda tentavam filmar a situa��o, Nelson conseguiu retirar v�rios usu�rios do ve�culo. Ele comentou a sensa��o de ser um dos her�is do dia. "A gente se sente bem ajudando os outros porque, �s vezes, voc� est� em uma dessa e a pessoa pode ajudar voc� tamb�m. Uma criancinha saiu rindo. Ali que eu me emocionei porque o menino saiu rindo, sem saber o que estava acontecendo. Saber que saiu todo mundo vivo dali � bom demais, s� � ruim quando as pessoas se machucam", contou.
O cen�rio impressionou quem passava pelo local e os coment�rios eram de incredulidade por n�o haver mortes. Havia pe�as espalhadas por v�rios metros. Seis viaturas do Corpo de Bombeiros, com 22 militares, e cinco ambul�ncias do Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia (Samu) trabalharam no atendimento �s v�timas. Ap�s uma triagem feita pelos m�dicos, 29 pessoas com escoria��es e suspeita de fraturas foram levadas para servi�os de sa�de, sendo duas para o Risoleta Neves, pr�ximo ao local, e outras 27 para Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Venda Nova e Ribeir�o das Neves. Policiais militares e agentes da BHTrans estiveram no local e o tr�nsito foi interditado, sendo desviado pela Rua Padre Pedro Pinto.
O pai, Wanderson, correu para o local em busca da crian�a e da esposa (foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press)
Ao saber do acidente, amigos e familiares de passageiros foram para a Avenida Vilarinho. Um deles foi o lanterneiro Wanderson Rodrigues dos Santos, de 32, que saiu do Bairro Areias, em Ribeir�o das Neves, para encontrar a fam�lia. A m�e dele estava no ve�culo, assim como a esposa e o filho de apenas 10 meses, que ela levava para uma consulta m�dica. A m�e dele estava a caminho do hospital, para passar o dia com a av� de Wanderson, que est� internada. “Sa� para trabalhar e recebi a liga��o da minha esposa de que tinha ocorrido um acidente. Chegando aqui, me deparei com esse cen�rio”, comentou. "� agradecer a Deus que deu outra oportunidade para todo mundo come�ar de novo. Dar mais valor �s vidas, aos familiares, pessoas pr�ximas, porque a vida da gente � um sopro. Meu filho, gra�as a Deus teve uma segunda chance. Meu filho poderia estar vitimado dentro do carro uma hora dessa", desabafou com o pequeno Davi, que ria no colo do pai. No in�cio da tarde, ele informou que a fam�lia acabava de deixar o atendimento m�dico e todos estavam bem.
A t�cnica de refrigera��o Denise de F�tima, de 38, estava no �nibus e confirmou. "Na primeira curva ele (o �nibus) estalou. Na segunda curva, quando parou na primeira cabine, ele deu outro estalo. O motorista desceu, olhou e disse que n�o era nada. Quando fez a curva na Vilarinho, estalou de novo. O povo come�ou a falar 'vai ter que parar' quando o coletivo chegou ao ponto antes da esta��o Candelaria", relata. "Ele (o motorista) acelerou e o �nibus capotou", completou. Denise bateu a cabe�a e sofreu um incha�o na testa. Ela foi atendida e a orienta��o era de que procurasse um m�dico caso aparecesse algum outro sintoma.
Revoltada com a situa��o, ela cobrava responsabilidade.“A culpa � da empresa, que n�o presta um bom servi�o nos carros, manute��o correta e coisa parecida. Do motorista tamb�m, porque ele sabia que o �nibus estava com defeito. N�o foi s� um, foram v�rios estalos. Era para ele ter parado, feito todo mundo descer”, afirmou.
Vers�o do motorista
No local do acidente, o Estado de Minas tentou falar com o motorista e representantes da empresa que estavam ao lado dele, mas ningu�m quis dar entrevista. Eles se limitaram a responder que “estava tudo bem” ao serem questionados. O condutor n�o aparentava ferimentos. Ele conversou com respons�veis pela vistoria do Departamento de Edifica��es e Estradas de Rodagem (DEER-MG), policiais civis e militares. O motorista chegou a fazer o teste do baf�metro com a Pol�cia Militar. Segundo o Corpo de Bombeiros, o condutor afirmou que "estava na velocidade normal na via, percebeu altera��o na dire��o puxando para a esquerda, logo depois escutou um estalo e a dire��o travou, puxando o �nibus para a esquerda e depois para a direita, momento no qual o ve�culo acabou tombando. Aparentemente houve a quebra do ‘fac�o’ e consequente colapso do eixo traseiro", disse corpora��o, ainda pela manh�.
O �nibus foi destombado por volta das 11h, ap�s o eixo ser retirado da via e colocado em um caminh�o. O motorista foi autorizado a entrar para pegar alguns pertences. Do lado de fora, havia pessoas esperando para recuperar objetos de passageiros que ficaram para tr�s, a pedido deles. Mais um perito da Pol�cia Civil chegou para avaliar a situa��o por outro �ngulo. Ap�s o reboque, o tr�nsito foi totalmente liberado �s 11h15.
Investiga��o
Em nota enviada ao EM � tarde, a Pol�cia Civil informou que o condutor do ve�culo foi conduzido pela Pol�cia Militar e ser� ouvido na Central Estadual de Plant�o Digital. As investiga��es para determinar as circunst�ncias e causas do fato ser�o de responsabilidade da Divis�o Especializada em Preven��o e Investiga��o de Crimes de Tr�nsito (DEPICT). “Uma equipe de investigadores compareceu ao local e j� iniciaram os trabalhos para levantamento de poss�veis imagens do acidente, assim como, coletar nomes das testemunhas que possam auxiliar na elucida��o dos fatos”, diz o texto. A nota informou ainda que a per�cia compareceu ao local para os trabalhos iniciais e um laudo ser� produzido e anexado ao inqu�rito. “A ocorr�ncia do fato ainda n�o foi finalizada pela Pol�cia Militar”, completou o texto.
Danos
O im�vel atingido pelo �nibus pertence a Patr�cia de Paula, de 45, que acompanhou a parte final do trabalho. Ela disse que o espa�o estava em reforma e seria alugado. A not�cia do acidente chegou pelo filho dela, que estava a caminho do trabalho e passou na porta do local no momento do acidente. “Na hora que eu recebi a not�cia foi um choque. Quando ele falou que o �nibus tombou e entrou, a gente j� pensa nas v�timas, mas gra�as a Deus n�o teve nenhuma morte”, comentou. Segundo ela, a empresa propriet�ria do �nibus prometeu ressarcir todos os danos, reconstruindo o muro e providenciando um bloqueio para evitar a invas�o por criminosos.
Processo administrativo
Pelo relato do Corpo de Bombeiros e das pr�prias placas instaladas dentro do ve�culo, o �nibus que tombou ontem estava superlotado. Um dos informativos, que mostra o n�mero dele, diz que a capacidade de passageiros � para 26 pessoas sentadas e 51 em p�, totalizando 77 pessoas. Em outra placa, com detalhes de f�brica, como a data da fabrica��o e modelo, consta que o ve�culo pode transportar 79 pessoas.
Em Belo Horizonte, desde 2020, a regra � que, em fun��o da pandemia da COVID-19, os ve�culos do transporte coletivo podem circular com apenas 10 passageiros de p�. Conforme o Decreto Nº 17.362, de 22 de maio de 2020, da Prefeitura de Belo Horizonte, esse n�mero s� pode dobrar em caso de �nibus do Move articulados.
“(...)o Cons�rcio Linha Verde, respons�vel pela opera��o da linha do Move Metropolitano, na qual circula o ve�culo de placa: OXK 3643, n�mero de ordem: 29319524 R, e que se encontrava fazendo o itiner�rio da linha 524R, ser� alvo de um processo administrativo punitivo e dever� prestar esclarecimentos sobre o ocorrido. Em condi��es normais, o limite m�ximo de passageiros permitido nesse ve�culo � de 77 pessoas (26 sentadas e 51 de p�). Segundo a delibera��o do Comit� COVID-19, a lota��o m�xima do ve�culo, neste momento, deveria ser de 41 pessoas (26 sentadas e 15 de p�)”, diz a nota. No entanto, havia 93 pessoas no �nibus, 52 a mais do que o permitido.
“O Cons�rcio tamb�m dever� prestar esclarecimentos sobre a situa��o de manuten��o da frota em opera��o. Em paralelo, a fiscaliza��o do DER-MG vai promover uma vistoria completa na linha”, diz o DEER-MG, que ainda indicou uma medida para reduzir a lota��o dos ve�culos. “A Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra) informa que a partir de 1º de fevereiro a oferta de linhas do transporte metropolitano ser� retomada no padr�o pr�-pandemia. Ou seja, as empresas n�o circular�o mais com hor�rios reduzidos em nenhum dos itiner�rios”, finaliza a nota. Ao acionar o departamento, o Estado de Minas tamb�m perguntou sobre reclama��es feitas pelos usu�rios das linhas metropolitanas, mas n�o houve resposta.
Usu�rios reclamam at� de falta de freio
O acidente com o �nibus da linha 524 (Terminal Justin�polis/Belo Horizonte), que tombou ap�s perder o eixo na Avenida Vilarinho, em Venda Nova, no in�cio da manh� de ontem chamou aten��o para as condi��es do Move Metropolitano, que servem usu�rios da Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. A reportagem do Estado de Minas entrevistou passageiros desses �nibus e encontrou uma lista de reclama��es, sendo a principal delas a superlota��o dos ve�culos, como a constatada no ve�culo que se acidentou. Superlota��o, goteiras e at� falta de freio est�o entre as reclama��es dos passageiros.
A nota diz ainda que goteiras s� podem ser identificadas quando chove e, nesses casos, “o ve�culo � recolhido logo ap�s o t�rmino da viagem para passar pelos
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
devidos reparos”. E completa: “Todos os ve�culos que operam o servi�o metropolitano passam por revis�es peri�dicas e, quando algum problema � detectado, o carro � recolhido para passar pelas repara��es cab�veis”. Leia abaixo depoimentos de passageiros.
“Pra come�ar, parece um carnaval. Voc� entra l� dentro e n�o consegue conversar com ningu�m de t�o cheio. Entrar num �nibus desse e numa lata de sardinha � a mesma coisa. A �nica diferen�a � que eu sou humano e a sardinha � peixe. E os motoristas t�m que andar controlando, j� cansei de ouvir motorista falar que o �nibus n�o tinha freio. Tem que controlar nas descidas. Se deixar pegar velocidade, (o �nibus) n�o para”.
Jair Jos� da Silva, de 65 anos, aposentado
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
“A situa��o � prec�ria. Se chove, molha tudo l� dentro. No calor, o ar-condicionado n�o funciona e a gente passa mal. As cadeiras balan�ando, os ferros �s vezes voc� segura e cai”, pontua. “� muito cheio, lotado, �s vezes n�o tem nem lugar pra segurar direito. J� aconteceu comigo de (o �nibus) estragar no meio do caminho. � a maior dificuldade pra pegar outro porque est� tudo lotado tamb�m. � muito dif�cil. A gente paga passagem cara e sofre demais. N�o � f�cil n�o”
Janair Ferreira Gusm�o, de 49 anos, empregada dom�stica
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
“Dependo de tr�s coletivos para ir ao trabalho e outros tr�s para chegar em casa. O pior � o Move Metropolitano. Ele � superlotado o dia inteiro e quando est� chovendo, molha dentro do �nibus. “Al�m disso, tem briga e tumulto dentro da esta��o. Empurra-empurra, bagun�a o tempo todo”
Cristina Brito de Souza, de 43 anos, diarista
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
“A situa��o � p�ssima. S� passagem cara e transporte ruim. A gente fica horas esperando. No final da esta��o do Move � outra demora. � p�ssimo o transporte, o �nibus � muito cheio. Depois das 16h vai superlotado. Uso todos os dias para trabalhar e me preocupa com certeza, principalmente agora com esse acidente em Venda Nova.”
Adenor Lacerda Rodrigues, 44 anos, ajudante de carga e descarga
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
“Moro em Santa Luzia e vejo o �nibus lotado o tempo todo. Pego �s 4h30 para ir trabalhar, que � quando est� mais vazio, mas na volta, no pico da tarde, � muito dif�cil de sentar. Tinha de melhorar, aumentar a quantidade de �nibus. Ainda mais com o coronav�rus. Pra qu� esse tanto de gente? Fico com medo. Tem vez que cai chuva e tem goteira dentro do Move”
Isa Soares Pereira Santos, 41 anos, auxiliar de servi�os gerais