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Estado de Minas

Da UFMG para o mundo: os mineiros da Academia Mundial de Ci�ncias

Professores do Instituto de Ci�ncias Biol�gicas e do Instituto de Ci�ncias Exatas est�o entre os sete brasileiros do grupo de 58 novos membros da TWAS


30/01/2022 04:00 - atualizado 30/01/2022 11:33

Fachada do pr%u017Dédio da FUNDEP, no campus Pampulha da UFMG
Fachada do pr%u017D�dio da FUNDEP, no campus Pampulha (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Se pudesse entrar numa c�psula do tempo e voltar algumas d�cadas, reencontrando-se aos 10 anos de idade, a professora Santuza Teixeira diria � menina: “Aproveite muito bem todos os momentos, em cada fase da vida, com todas as suas ang�stias e alegrias”. J� o professor Ado Jorio, frente a frente com sua inf�ncia, tamb�m apontaria uma dire��o: “Continue brincando muito!”. Pois o tempo passou, eles cresceram, se graduaram, realizaram sonhos e t�m agora importante conquista ap�s tantos anos de estudos, dedica��o e empenho a favor da melhoria da condi��o humana.

 

Belo-horizontinos e docentes em �reas diversas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Santuza Maria Ribeiro Teixeira, do Instituto de Ci�ncias Biol�gicas, e Ado Jorio de Vasconcelos, do Departamento de F�sica do Instituto de Ci�ncias Exatas (Icex), foram eleitos para a Academia Mundial de Ci�ncias (The World Academy of Sciences ou TWAS, na sigla em ingl�s), vinculada � Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco). Eles est�o entre os sete pesquisadores brasileiros que integram o grupo de 58 novos membros da academia.

 

Com a pandemia, nunca se falou tanto em ci�ncia, pesquisas, laborat�rios, vacinas, novas tecnologias e futuro da humanidade. Ado Jorio considera extremamente salutar o fato de o assunto estar na ordem do dia e na boca do povo, pois o objetivo da ci�ncia se encontra no desenvolvimento da sociedade e da sua rela��o com o universo. “Aproximar as pessoas da ci�ncia � muito positivo, pois eleva o n�vel educacional dos indiv�duos e serve tamb�m como presta��o de contas. Afinal, a sociedade financia a ci�ncia.”

 

Mas, na contram�o, o negacionismo tamb�m entrou em cena, buscando holofotes. Na avalia��o de Santuza Teixeira, a �nica forma de jogar luz sobre a sala escura dos negacionistas est� em mostrar dados, n�meros e gr�ficos. “Mostrar que existe uma correla��o clara entre a redu��o no n�mero de casos (e n�mero de mortes) e o aumento no n�mero de pessoas vacinadas consiste num modo muito eficiente de convencer algu�m da import�ncia das vacinas. Algo como mostrar a foto do planeta visto do espa�o para convencer algu�m de que a Terra n�o � plana.”

 

Trajet�ria

Os dois rec�m-eleitos para a Academia Mundial de Ci�ncias nasceram em Belo Horizonte e trilharam caminhos mundo afora, sempre com o foco no conhecimento cient�fico. Santuza se destaca por suas pesquisas em parasitologia molecular e pela participa��o no estudo das doen�as parasit�rias. Para ela, o reconhecimento internacional ocorre em clima de tranquilidade, por ter feito escolhas certas e contribu�do “ao menos um pouco” para o avan�o do conhecimento cient�fico na sua �rea.

 

Atualmente, a professora se dedica quase 100%, segundo ela, aos projetos de vacina contra a COVID-19, no Centro de Tecnologia de Vacinas (CTVacinas), e, com a volta gradual de alunos e outros pesquisadores ao ICB, come�a a retomar os projetos sobre doen�a de Chagas.

 

Santuza foi chefe de departamento, coordenadora do CTVacinas, presidente da Sociedade Brasileira de Protozoologia e professora residente do Instituto de Estudos Interdisciplinares Avan�ados na UFMG. Tamb�m membro da Academia Brasileira de Ci�ncias (ABC) e bolsista de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient�fico e Tecnol�gico (CNPq), foi inclu�da, recentemente, na lista das 50 pesquisadoras que mais formam novos cientistas no Brasil.

 

Frentes de Trabalho

Ado Jorio � membro titular da Academia Brasileira de Ci�ncias e autor de quatro livros sobre a espectroscopia Raman – t�cnica que permite identificar a estrutura qu�mica de materiais – e outros temas. Hoje, atua em tr�s frentes principais: desenvolvimento de um nanosc�pio, equipamento �ptico compar�vel a um microsc�pio, mas com uma resolu��o que revela imagens na escala do nan�metro (medida 1 bilh�o de vezes menor que o metro), e de equipamentos de diagn�stico precoce do mal de Alzheimer, al�m do estudo de propriedades qu�nticas da luz para protocolos de informa��o qu�ntica.

 

Professor do ICEx, Ado est� h� v�rios anos entre os cientistas mais citados em artigos cient�ficos – em 2016, foi inclu�do na lista dos mais influentes do mundo em levantamento feito pela Thomson Reuters. Recebeu honrarias no Brasil, como a Ordem Nacional do M�rito Cient�fico e a Medalha da Inconfid�ncia, e homenagens no exterior por entidades como a Funda��o Humboldt e o Centro Internacional para a F�sica Te�rica. “� uma grande honra fazer parte da TWAS, que foi criada para apoiar a prosperidade sustent�vel dos pa�ses em desenvolvimento, por meio de pesquisa, educa��o, pol�tica e diplomacia. Espero que essa filia��o me habilite a prestar mais servi�os ao Brasil e ao mundo”, ressalta.

 

Em entrevista ao Estado de Minas, os dois professores falam sobre suas trajet�rias, concilia��o entre trabalho e vida profissional e explicam o momento atual desafiado pela pandemia. Leia a seguir os principais trechos.

 

Como chegar l�

A elei��o para a TWAS come�a com a indica��o dos cientistas pelas academias nacionais de ci�ncias. Contam aspectos como n�mero de trabalhos publicados e, sobretudo, a quantidade de projetos realizados em parceria com grupos de cientistas de outros pa�ses. Durante a 15ª Confer�ncia Geral da TWAS, no in�cio de novembro, foram eleitos 58 novos nomes, dos quais 20 mulheres (34%). A Academia passa a ter 1.343 membros. 

 

 

Professor Ado Jorio, do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais
Professor Ado Jorio, do Instituto de Ci�ncias Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais, eleito para a Academia Mundial de Ci�ncias (TWAS) (foto: Foca Lisboa/UFMG/Divulga��o)

 

Entrevista/Ado Jorio de Vasconcelos - professor do Icex/UFMG

 

"Aproximar as pessoas da ci�ncia � muito positivo"

Ado Jorio de Vasconcelos professor do Icex/UFMG


O senhor acha que, com a pandemia, a ci�ncia ficou mais perto das pessoas em geral, dos leigos? De repente, como o t�cnico da Sele��o Brasileira, todo mundo se tornou um pouco “cientista”... Isso � bom sinal?

O objetivo da ci�ncia � o desenvolvimento da sociedade e de sua rela��o com o universo. Aproximar as pessoas da ci�ncia � muito positivo, pois eleva o n�vel educacional dos indiv�duos e serve tamb�m como presta��o de contas. Afinal, � a sociedade que financia a ci�ncia. A pandemia fez com que a sociedade corresse em socorro da ci�ncia para conter as perdas, e a imprensa fez um excelente papel em evidenciar isso para a sociedade, n�o apenas informando, mas tamb�m educando.

 

O senhor pode explicar um pouco sobre a sua �rea de atua��o?

Trabalho com o desenvolvimento de t�cnicas que usam a luz (�tica) para estudar materiais nanom�tricos ou nanomateriais. Conhecendo a mat�ria no n�vel molecular, que est� na escala dos nan�metros (um milh�o de vezes menor que o mil�metro), podemos desenvolver materiais para a engenharia e para a medicina, novos m�todos de caracteriza��o ou diagn�stico.

 

A chegada � TWAS � pavimentada por um longo caminho, n�o � isso? Como foi a trajet�ria do senhor?

Fiz gradua��o e doutorado em f�sica na UFMG, p�s-doutorado no MIT (Massachusetts Institute of Technology/Estados Unidos) e fui pesquisador e professor visitante na Fran�a, Jap�o, Su��a e Alemanha. No total, morei quatro anos no exterior desenvolvendo meus conhecimentos cient�ficos ap�s minha forma��o no Brasil. Constru� minha carreira como professor na UFMG, iniciando em 2002, e � onde pesquiso e leciono at� hoje. Fundei o Laborat�rio de Nanoespectroscopia, no Departamento de F�sica, do Instituto de Ci�ncias Exatas da UFMG, onde desenvolvo instrumenta��o e pesquisa com �tica de nanomateriais. Servi tamb�m como coordenador de Estudos Estrat�gicos no Inmetro, para o estabelecimento da nanometrologia no Brasil.

 

Qual a mensagem do senhor aos estudantes brasileiros que querem entrar na universidade com o foco nas ci�ncias exatas?

Aproveitem seu tempo na universidade para aprender o m�ximo poss�vel sobre ci�ncia. Busquem realizar o que � chamado na universidade de inicia��o ci- ent�fica. Mesmo que n�o queiram seguir carreira cient�fica, essa inicia��o � um processo de aprendizado sobre como identificar problemas, como formular quest�es, e desenhar trajet�rias para solucion�-las.

 

O senhor considera a COVID-19 um divisor de �guas na hist�ria recente da humanidade? Podemos colher algo de bom desse per�odo?

De forma indireta, sim. A COVID-19 evidenciou problemas latentes de nossa sociedade, desde a grande desigualdade � lentid�o em aceitar mudan�as. Ela � um divisor de �guas, por estar mostrando � humanidade a necessidade de fazer mudan�as. J� estamos colhendo frutos, que v�o desde o esfor�o da imprensa em educar os cidad�os sobre a import�ncia da ci�ncia at� os avan�os em dire��o ao desenvolvimento sustent�vel, com a preocupa��o da humanidade em rela��o � sua harmonia com o meio ambiente.

 

Se o senhor pudesse encontrar, hoje, o menino Ado Jorio, l� pelos seus 10 anos, o que diria a ele?

Eu diria: “Continue brincando muito!”. 

 

Santuza Maria Ribeiro Teixeira
Santuza Maria Ribeiro Teixeira, do Instituto de Ci�ncias Biol�gicas da UFMG (foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS)
 

 

Entrevista/Santuza Maria Ribeiro Teixeira

"Nunca foi t�o urgente o investimento em ci�ncia%u201D

Santuza Maria Ribeiro Teixeira

 

Nunca se falou tanto em ci�ncia, em cientistas, em pesquisas... O momento � oportuno para mais investimentos em estudos e laborat�rios, forma��es de profissionais e incentivo aos jovens?

Vivemos um momento muito especial durante o qual, ao mesmo tempo em que nossa fragilidade como esp�cie ficou ainda mais evidente, nossa capacidade de desenvolver solu��es baseadas no conhecimento cient�fico se mostrou de forma clara e decisiva para o controle de uma pandemia que afetou o planeta de forma nunca vista antes. Nunca o investimento em ci�ncia, em infraestrutura de laborat�rio e forma��o de pessoal foi t�o urgente, especialmente para o nosso pa�s. Precisamos garantir, por exemplo, que o avan�o do conhecimento acumulado sobre vacinas, desde os estudos primordiais de Jenner (Edward Jenner, brit�nico, 1749-1823) e Pasteur (Louis Pasteur, franc�s, 1822-1895) at� o desenvolvimento atual das novas tecnologias de vacinas para COVID-19 possa continuar acontecendo. Tivemos avan�os extraordin�rios, mas muito ainda precisa ser estudado pelas novas gera��es de pesquisadores para que possamos estar mais bem preparados para enfrentar in�meras outras doen�as e ainda as novas epidemias que certamente surgir�o.

 

Se a ci�ncia est� na boca do povo, o negacionismo tamb�m ganha terreno. De que forma � poss�vel jogar luz sobre o obscurantismo e levar mais informa��o �s pessoas, n�o apenas aos brasileiros?

A �nica forma de jogar luz sobre a sala escura dos negacionistas � mostrando dados, n�meros e gr�ficos. Mostrar que existe uma correla��o clara entre a redu��o no n�mero de casos (e n�mero de mortes) e o aumento no n�mero de pessoas vacinadas � um modo muito eficiente de convencer algu�m da import�ncia das vacinas. � como mostrar a foto do planeta visto do espa�o para convencer algu�m de que a Terra n�o � plana. A grande vantagem da ci�ncia � que ela n�o se baseia em opini�es, mas sim em fatos, em experimentos e seus resultados. Eu posso at� n�o gostar de ter uma agulha espetada em meu bra�o, mas o fato de essa agulha inocular uma subst�ncia que deixa o meu sistema imune mais bem preparado para eliminar o v�rus da COVID-19 � uma informa��o muito f�cil de ser explicada, at� mesmo para uma crian�a.

 

A chegada � TWAS � pavimentada por um longo caminho, n�o � isso? Como foi a trajet�ria da senhora?

S�o quase 40 anos desde o dia em que me formei em ci�ncias biol�gicas. Na verdade, essa trajet�ria foi sendo definida � medida que o caminho ia sendo trilhado, e uma s�rie de acasos foram me levando a fazer escolhas sem muita certeza de que eram certas. Quando estava me formando na gradua��o na Universidade de Bras�lia (UnB), os cientistas come�avam a desenvolver uma nova tecnologia chamada na �poca de engenharia gen�tica e eu me encantei com ela. A possibilidade de conhecer a fundo os processos moleculares que acontecem nas nossas c�lulas e poder manipular esses processos me fascinou quando tinha 20 e poucos anos. Depois, cursar o mestrado e o doutorado para aprender melhor a estudar os genes das c�lulas e ao mesmo tempo tentar usar esse conhecimento para ajudar a controlar um mal como a doen�a de Chagas me parecia um projeto de vida muito interessante. Em seguida, eu n�o consegui enxergar outra profiss�o t�o boa quanto essa, que me permitia n�o s� continuar estudando para sempre, mas tamb�m trabalhar em uma universidade onde eu podia ao mesmo tempo fazer pesquisas e ensinar. Tenho que ressaltar que a experi�ncia de fazer pesquisa no exterior antes de me fixar na UFMG foi fundamental. Ci�ncia n�o pode ter fronteiras.

 

A elei��o � tamb�m uma vit�ria para as cientistas. Ainda h� preconceito, no meio cient�fico, em rela��o �s mulheres?

Como sempre digo, essa pergunta precisa ter data para acabar. Quando fazia o doutorado na Su��a, em 1990, participei de muitos debates sobre esse assunto. As coisas n�o mudaram t�o r�pido assim, certamente o preconceito no meio cient�fico em rela��o �s mulheres ainda persiste em muitos pa�ses, incluindo nos Estados Unidos, que eu conhe�o bem, e no Brasil. Fazer ci�ncia exige de fato uma dedica��o maior do que aquela que se espera de pessoas em muitas outras profiss�es, portanto o homem ou a mulher que escolhe essa carreira precisa fazer escolhas e encontrar formas de compatibilizar seus outros interesses, sejam eles a maternidade ou tocar em uma banda de rock. Eu n�o tive nenhuma dificuldade em ser mulher, m�e e cientista e chegar aonde eu queria. Mas, infelizmente, muita gente ainda acha, incluindo muitas mulheres, que, sendo mulher e m�e, voc� pode at� ter uma carreira cient�fica, mas n�o deve almejar o topo da carreira.

 

Qual a mensagem da senhora para estudantes brasileiros que querem entrar na universidade com o foco nas ci�ncias biol�gicas?

O que eu digo para meus alunos � que tenho enorme inveja deles. Que est�o come�ando uma carreira em uma �rea que est� avan�ando de forma extraordin�ria e que, no curto prazo, ter� um impacto na vida do planeta que n�o sabemos ainda dimensionar exatamente. Est�o sendo desenvolvidas agora as novas tecnologias de vacinas, de terapia g�nica, de produ��o de alimentos e obten��o de imagem, s� para citar alguns exemplos, tecnologias que ir�o permitir entender cada vez melhor como os organismos funcionam, como podemos proteg�-los, como devemos interagir melhor entre n�s, os seres vivos, e cuidar melhor do nosso planeta. Fazer parte desse processo � um privil�gio dos estudantes de biologia de hoje.

 

Se a senhora pudesse encontrar, hoje, a menina Santuza Teixeira, l� pelos seus 10 anos, o que diria a ela?

Diria a ela para aproveitar muito bem todos os momentos, em cada fase da vida, com todas as suas ang�stias e alegrias. Diria para seguir sua intui��o, mas que deveria olhar tamb�m para as pessoas adultas e descobrir o que nelas o atrai e o que nelas voc� n�o gosta. Diria para prestar aten��o em algumas e perguntar como elas fizeram as escolhas que fizeram, se mudaram de ideia, ou se ainda mudariam de ideia. Talvez, se tivesse feito essas perguntas a um professor de reda��o, teria seguido a carreira de escritora, ou � professora de teatro, poderia ter me tornado artista. Ter prestado aten��o no meu tio cientista, o professor Beraldo, deve ter me ajudado com minhas escolhas. 


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